Por Jorge Fernandes Isah
Nas aulas anteriores, vimos que os dons espetaculares ou apostólicos ou da segunda-bênção ou miraculosos foram específicos e circunscritos a um determinado momento histórico, o período da Igreja Primitiva, e tinha por objetivo revelar a Pessoa do Senhor Jesus, sua obra, ressurreição e "validar" a mensagem e o ministério apostólico, e, por fim, sancionar o cânon, a Escritura Sagrada, que ainda não estava concluída, do ponto de vista formal.
Analisamos
que a ideia de um "segundo batismo" do Espírito Santo se baseia em um
texto que nada tem a ver com isso, o qual é Mateus 3:11, e que para se
crer em um "batismo de fogo" como os pentecostais e carismáticos estão
convencidos, é preciso fazer-se uma ginástica e tanto, um malabarismo,
forçando e excluindo o contexto dos 10 versos anteriores para se
concluir que João, o Batista, está a falar de outro batismo no Espírito
Santo.
Estudamos
também que eles eram sinais, e os sinais não têm função quando a
realidade se apresenta completamente. Eles são indicativos, que apontam
para uma realidade, mas quando esta se apresenta acabada, plena, não
há necessidade deles. Como disse, na aula passada, fazendo uma
analogia, se vou a primeira vez a um consultório médico me guiarei
pelas placas das ruas e a numeração dos edifícios. Ainda, no prédio, me
guiarei pela sinalização dos andares e salas. Encontrado o
consultório, eles não mais são necessários. Assim são os sinais
espetaculares, eles apontam para Cristo, obra, mensagem e mistério, e,
por fim, para a Bíblia, como palavra infalível, inerrante e divinamente
inspirada de Deus. Eles foram também usados para revelar o novo Pacto,
ou Aliança de Deus, não somente aos judeus, mas aos samaritanos e
gentios, de forma que a mensagem do Evangelho estava, naquele momento,
disponível a todos os homens de todas as nações e não era mais algo
exclusivo do povo de Israel. Logo, esses sinais não são mais
necessários, pois toda a revelação está pronta e acabada e, como
advertência da própria Escritura, aí de quem tirar ou incluir uma
palavra que seja [Ap 22.18-19].
Na
pregação do último domingo, o Pr. Luiz Carlos, dando continuidade ao
estudo do livro de Atos 19:2-7, abordou também a questão dos dons
sobrenaturais, clarificando e trazendo novos elementos para o
entendimento de que esses dons foram restritos àquele período e não
mais são necessários atualmente.
Por
isso, vamos proceder a um estudo dos capítulos 12, 13 e 14 de 1
Coríntios, onde Paulo fala acerca dos dons espirituais. E entenderemos a
motivação que levou o apóstolo a escrever aos Coríntios sobre a
necessidade que eles tinham de compreender, e não manterem-se
ignorantes, quanto à função e ação dos dons na igreja.
Primeiramente,
ele alerta para o desconhecimento, da igreja de Corinto, quanto ao uso
dos dons espirituais. Ao dizer não querer que os irmãos sejam
ignorantes, ele acusou-os de não terem o conhecimento adequado no uso
dos dons, e de que a forma como o faziam não era correta. Já, no início,
Paulo os chama a humildade, revelando que eram gentios, não incluídos
inicialmente no Pacto, e guiados aos ídolos mudos [v.2]. Provavelmente,
eles se sentiam, de alguma maneira, superiores e, talvez, até mesmo
sobre os judeus, por causa dos dons, ou sobre aqueles que não tinham
esses dons, e o apóstolo trata de mostrar-lhes o que eram, como viviam,
e de que agora suas vidas eram outras, transformadas pelo poder de
Cristo e pela mensagem do Evangelho, não podendo então se entregarem ao
pecado da arrogância e superioridade espiritual. Não vejo outro motivo
para Paulo deixar tão clara a condição na qual os coríntios haviam
vivido a maior parte de suas vidas, e de que, agora, chamados ao
Cristianismo, se exaltariam, fazendo-se superiores, por causa dos dons
que Deus lhes entregara e que era para benefício de toda a igreja, e
não para a vaidade e glória pessoais.
Por
isso, ele alerta sobre a necessidade deles compreenderem e entenderem
que "ninguém que fala pelo Espírito de Deus diz: Jesus é anátema, e
ninguém pode dizer que Jesus é o Senhor, senão pelo Espírito Santo"
[v.3]. É possível que eles desprezassem irmãos que reconheciam Cristo
como Senhor, mas não exerciam nenhum dom sobrenatural.
Então,
ele fala da diversidade de dons, em que Deus os distribuiu
generosamente à igreja, contudo, um só era o o Espírito que os
distribuía [v.4]. Paulo está a dizer que nenhum dom é superior ao
outro, no sentido de que um deles é "menos" de Deus que o outro, ou o
outro é "mais" de Deus do que o primeiro. Paulo percebeu uma certa
vaidade nos irmãos que, tal qual acontecera com eles em relação ao
apóstolo, Apolo, Pedro e Jesus, provavelmente se vangloriavam do dom que
tinham, desprezando o dom alheio. Assim, aquele que falava em línguas
se considerava maior, mais espiritual, e o que falava duas ou três
línguas se considerava ainda maior e mais espiritual. O que Paulo está
dizendo à igreja é que todos os dons são iguais, desde que para a
edificação da igreja, e todos procedem do mesmo Deus; de forma que
aquele que não tem um dom espetacular, por exemplo, falar em línguas ou
profetizar, é também movido pelo Espírito, o qual o usa como e quando
quer, operando tudo em todos, de forma que a manifestação é dada a cada
um, para o que for útil [v.4-7].
Um
parênteses: a forma de que Paulo se utiliza nos versos 4-6, falando
que o Espírito é o mesmo, O Senhor é o mesmo, e Deus opera tudo em
todos, dá a medida de unidade e diversidade, tanto na Trindade, como no
Corpo de Cristo. De forma que temos personalidades distintas, o
Espírito Santo, Cristo e o Pai mas que são um. Assim também é a igreja,
onde há muitos membros, e muitos dons distribuídos a esses membros, mas
um só corpo. E a esta unidade diversa, ou diversidade unitária, que
muitas vezes é tão enigmática, de difícil compreensão, que não devemos
esquecer, e lembrarmo-nos de que sem a cabeça, Cristo, o corpo não
sobreviveria; estamos unidos a ele, e é por ele que se manifesta cada um
dos membros, segundo o poder divino de operar.
Muitos
contemporâneos alegam que não crer nos dons sobrenaturais é o mesmo
que limitar a Deus, e Deus não pode ser aprisionado. É verdade, mas
lembremos que Deus é imutável, mas a imutabilidade divina não quer
dizer que ele está estático, imóvel; pelo contrário, Deus está agindo
neste momento em cada uma das menores partículas existentes no Cosmos,
pois sem a sua ação, nem mesmo essas partículas, muitas invisíveis e
desconhecidas ao homem, sobreviveria. Portanto, Deus é um agente ativo
em toda a sua obra, contudo, penso que devolver a pergunta ao
inquiridor o deixaria também em situação desconfortável, pois, o fato
de confundir imutabilidade com inoperância, não pode significar que ao
não "remover" certos fatos e acontecimentos como as pragas do Egito
operadas através de Moisés, o milagre de multiplicar azeite e pão
através de Elias, o Sol parar e o abrir do Jordão através de Eliseu,
fatos que não mais aconteceram e que não se mantiveram nos dias
atuais, não seria o mesmo que engessá-lo? Ou seja, por que Deus não
opera mais milagres e feitos como esses? Estaríamos acusando-o de
estaticidade? E, se esses milagres não persistiram, no decorrer da
história, por que os feitos dos apóstolos persistiriam? A resposta é
simples, Deus tem um propósito para todas as coisas, e cada uma delas
acontecerá dentro do propósito divino. A continuidade dos dons
sobrenaturais após o séc. I é algo que não tem propósito, pois o poder
de Deus se manifesta de maneira diferente, através da proclamação do
Evangelho de Cristo pela igreja, pela reverência e obediência à sua
santa palavra. Os mesmos motivos que justificariam, ao ver dos
pentecostais e carismáticos, a atualidade dos dons apostólicos, têm de
ser também para corroborar que o Sol pare, o Mar Vermelho se abra, e a
água seja transformada em vinho. Do contrário, ambos não concorrem para o
fim desejado, e são improcedentes.
Continuando, Paulo descreve os dons dados à igreja pelo Espírito Santo:
1) Palavra de Sabedoria;
2) Palavra de Ciência;
3) Fé;
4) Dons de cura;
5) Operação de maravilhas;
6) Profecia;
7) Discernir espíritos;
8) Variedade de línguas;
9) Interpretação de línguas.
Há ainda outras duas listas formuladas pelo apóstolo que são:
- Em Romanos 12:6-8:
- Em Romanos 12:6-8:
1) Profecia;
2) Ministério;
3) Ensino;
4) Exortação;
5) Repartir;
6) Presidir;
7) Misericórdia.
- Em Efésios 4:11:
1) Apóstolos;
2) Profetas;
3) Evangelistas;
4) Pastores
5) Doutores
Nestas
listas, temos dons miraculosos ou extraordinários e dons que não são
miraculosos ou ordinários. Elas têm o objetivo de mostrar que a lista de
1Coríntios não é a definitiva mas ilustrativa, sendo, ao meu ver, uma
relação necessária e especifica para que os coríntios compreendessem
que Deus age de muitas formas, e de que apenas uma forma, como eles
supunham, não trazia a compreensão necessária acerca de como Deus se
manifestava.
Portanto, entendamos o que sejam esses dons, mais detidamente, a partir da próxima aula.
Notas: 1- Aula realizada na EBD do Tabernáculo Batista Bíblico
2 - Para entender mais sobre o assunto, ouça e baixe o áudio em Aula 74 - Dons III.MP3
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