quarta-feira, 25 de dezembro de 2013
sábado, 21 de dezembro de 2013
Estudo sobre a Confissão de Fé Batista de 1689 - Aula 56 - Dons apostólicos: "Batismo de fogo?"
Por Jorge Fernandes Isah
Entendido quem eram os apóstolos, qual a sua missão, e o período em que agiram, conforme exposto na aula anterior, retomemos a questão dos dons apostólicos ou dons do Espírito Santo. Mas antes, quero fazer uma ressalva. Os pentecostais e carismáticos em geral afirmam que há dois batismos: um para a salvação e outro pelo Espírito Santo, como um "batismo extra" ou superior. É difícil entender que algo tão fundamental na fé cristã como a salvação, e pela qual Cristo encarnou tornando-se o Verbo Divino, não seja catalogado como algo proveniente do Espírito Santo. Ainda que não digam diretamente que a salvação não depende do Espírito, parece que o Consolador realiza uma obra menor ao salvar e uma obra grandiosa ao conceder certos dons a certos salvos. Mas dentro do escopo de toda a Escritura, o que é mais importante? Ou o que ela mais quis evidenciar? De certa forma estabeleceu-se uma espécie de restrição a uma parcela de crentes que, relegados a um plano inferior não são acalentados com dons especiais. É uma subcategoria de crentes, somenos graduados, que ainda não experimentaram o máximo de Deus.
Contudo,
não é o que Paulo diz: "Porque, assim como o corpo é um, e tem muitos
membros, e todos os membros, sendo muitos, são um só corpo, assim é
Cristo também. Pois todos nós fomos batizados em um Espírito, formando
um corpo, quer judeus, quer gregos, quer servos, quer livres, e todos
temos bebido de um Espírito" [1Co 12:12-13]. Ora, o que o apóstolo está
relatando é que todos nós, como membros do Corpo de Cristo, fomos
batizados e temos bebido de um só Espírito. Isso acontece no momento em
que, reconhecendo a nossa condição pecaminosa e afrontadora a Deus,
considerando-nos seu inimigo e merecedores do castigo eterno, recebemos a
Cristo como Senhor e Salvador de nossas vidas, arrependendo-nos dos
pecados cometidos, reconciliando-nos com Ele. É claro que nada disso é
possível sem a ação direta do Espírito Santo, o qual nos convence,
regenera e transforma a fim de sermos feitos filhos adotivos do Pai por
intermédio da obra redentiva e conciliadora do Filho. Logo, se o crente
já tem o Espírito, para que precisa buscá-lo novamente através de uma
"segunda bênção"?
Porém,
Paulo novamente diz que "há um só corpo e um só Espírito, como também
fostes chamados em uma só esperança da vossa vocação; um só Senhor, uma
só fé, um só batismo; um só Deus e Pai de todos, o qual é sobre todos, e
por todos e em todos vós" [Ef 4.4-6]. É possível alguma dúvida? Ou
claramente nos é revelado que há um batismo somente, e que o mesmo Deus
age em todos nós na mesma intensidade e proporção? Com isso não estou a
dizer que produziremos todos a mesma obra, da mesma maneira, mas também
não se pode dizer que tal obra ou dom é superior porque Deus está mais
evidente em um crente e não tão evidente em outro, ou está mais presente
em um e nem tanto em outro. Deus não pode, em sua essência, estar menos
ou mais em qualquer lugar, porque ele é uno, indiviso, completo, e ser
mais ou menos presente é simplesmente impossível para ele. Ou ele está
ou não está. Não há meio termo ou como fracioná-lo, pois não está
sujeito a variações nem é a soma de partes. E se somos templo do
Espírito Santo, o qual habita em todo o eleito [1Co 6.19]. como esperar
que haja um novo batismo pelo mesmo Espírito?
Ainda
que se diga que a falta de um segundo batismo não representa
necessariamente a ausência do Consolador, é muito estranho supor que
seja preciso uma segunda ação divina onde a primeira não foi suficiente
para produzir os dons contingentes à segunda, ou seja, que todos
deveriam receber em comum, na primeira.
Os
proponentes do segundo batismo apegam-se a uma interpretação equivocada
de Mateus 3.11, no qual João o Batista diz: "E eu, em verdade, vos
batizo com água, para o arrependimento, mas aquele que vem após mim é
mais poderoso do que eu; cujas alparcas não sou digno de levar; ele vos
batizará com o Espírito Santo, e com fogo". Segundo o que muitos
apreendem, Cristo batizará os seus com o Espírito, mas também com o
fogo. O problema é o que vem a ser esse "fogo"? A confusão começa quando
tentam relacionar esse trecho com Atos 1.5, onde Cristo diz: "Porque,
na verdade, João batizou com água, mas vós sereis batizados com o
Espírito Santo, não muito depois destes dias", associando o fato de, no
Pentecostes, serem "vistas por eles línguas repartidas, como que de
fogo, as quais pousaram sobre cada um deles" [At 2.3]. Uma interpretação
simplista pode levar a esse equívoco, porque eles se esquecem de citar o
complemento da fala de João o Batista: "Em sua mão [de Cristo] tem a
pá, e limpará a sua eira, e recolherá no celeiro o seu trigo, e queimará
a palha com fogo que nunca se apagará" [Mt 3.12]. O que lhes parece?
João está a falar de um segundo batismo ou de juízo? Não estaria João
comparando a obra de Cristo com a de um plantador de trigo?
Uma
análise, mesmo superficial, da fala de João mostra-nos que a inserção
de um "batismo de fogo" é algo completamente estranho ao texto.
Primeiramente, ele está batizando no rio Jordão, onde iam ter com ele
Jerusalém e toda a Judeia; e os batizados confessavam os seus pecados.
Em seguida, ele viu que muitos fariseus e saduceus vinham ao seu
batismo, o que lhe inflamou a dizer: "Raça de víboras, quem vos ensinou a
fugir da ira futura?" [Mt 3.7]. E o que seria a ira futura? Não estaria
falando do inferno, reservado para satanás, seus anjos e os réprobos,
"onde o seu bicho não morre, e o fogo nunca se apaga" [Mc 9..4]? Em
seguida, ele diz que o machado está posto à raiz, e que toda a árvores
que não produz frutos será cortada e lançada no fogo do inferno. A mesma
imagem encontra-se presente na parábola do joio e do trigo, proposta
pelo Senhor, na qual ele tem a missão de separá-los, colhendo o
primeiro, atando-o em molhos e queimando-o [novamente temos o fogo como
símbolo de juízo], para, em seguida, ajuntar o trigo no seu celeiro [Mt
13.24-31].
João
está a dizer aos fariseus e saduceus que ele é aquele cuja missão
destina-se a apontar não para si mesmo mas para Cristo. Diante da
pergunta dos judeus: "Quem és tu?" [Jo 1.19], ele confessou que não era o
Cristo, mas a voz do que clama no deserto. Inquirido novamente do
porquê batizava então, já que não era o Cristo, nem Elias, nem o
profeta, respondeu: "Eu batizo com água; mas no meio de vós está um a
quem vós não conheceis. Este é aquele que vem após mim, que é antes de
mim, do qual eu não sou digno de desatar a correia da alparca" [Jo
1.26-27].
Com
isso, qualquer inferência de que o "fogo" ao qual João evoca é uma
segunda forma de batismo, se torna estranha a toda a sua declaração. Ele
está, primeiramente, revelando aos fariseus a pessoa de Cristo e seu
ministério, e, em segundo lugar, alertando-os da ira futura que
sobreviria a eles, através do fogo, numa alusão evidente do juízo ao
qual eles estariam sujeitos, quando presumiam-se de si mesmos que eram
filhos de Abraão. O sentido de "filhos de Abraão" é essencialmente
espiritual, como o pai a quem Deus prometeu uma descendência, o próprio
Cristo, através do qual a sua família seria mais numerosa do que as
estrelas do céu e os grãos de areia na praia [Gn 22.17-18].
Cristo
é revelado por João como aquele que separará os bodes das ovelhas, o
joio do trigo, a árvore que dá frutos das que não dão. Qualquer
tentativa de fugir deste ensinamento é forçar o texto a dizer o que não
diz, e que João, divinamente inspirado, não disse.
Notas: 1) Aula realizada na EBD do Tabernáculo Batista Bíblico
2) Baixe o áudio desta aula em Aula 73 - Dons II.MP3
quinta-feira, 12 de dezembro de 2013
sexta-feira, 6 de dezembro de 2013
Estudo da C.F.B. 1689 - Aula 55 - Dons apostólicos: Há apóstolos, hoje?
Por Jorge Fernandes Isah
Desde o início do século passado, com as manifestações carismáticas surgidas na Rua Azuza, em Los Angeles, em 1906, pelas mãos do ministro negro, William Joseph Seymour, que o Cristianismo, em nome de um "reavivamento", tem ensaiado uma série de experiências que remontam aos primórdios da Igreja Primitiva, mais especificamente o período apostólico, no séc. I. Mas, esses dons teriam realmente voltado? Ou eles estariam circunscritos a um momento histórico específico, e o que temos, hoje em dia, nada tem a ver com o Espírito Santo, pois houve um hiato de quase dois mil anos entre aquele e este período? Seriam as formas atuais as mesmas das realizadas antigamente? E estariam em conformidade com os relatos bíblicos e aplicados convenientemente como relatam os registros sagrados?
Desde o início do século passado, com as manifestações carismáticas surgidas na Rua Azuza, em Los Angeles, em 1906, pelas mãos do ministro negro, William Joseph Seymour, que o Cristianismo, em nome de um "reavivamento", tem ensaiado uma série de experiências que remontam aos primórdios da Igreja Primitiva, mais especificamente o período apostólico, no séc. I. Mas, esses dons teriam realmente voltado? Ou eles estariam circunscritos a um momento histórico específico, e o que temos, hoje em dia, nada tem a ver com o Espírito Santo, pois houve um hiato de quase dois mil anos entre aquele e este período? Seriam as formas atuais as mesmas das realizadas antigamente? E estariam em conformidade com os relatos bíblicos e aplicados convenientemente como relatam os registros sagrados?
Primeiramente,
devemos definir o que vem a ser dons apostólicos, mas antes disso, quem
são os apóstolos e qual era a sua missão. A palavra apóstolo significa
enviado ou mensageiro, aquele que anuncia algo ou alguém, e, no Novo
Testamento, a missão deles era a de anunciar Cristo e o seu Evangelho;
e, para isso, teriam de ser comissionados pelo próprio Senhor, chamados
por ele para exercerem essa missão, não sendo possível que alguém se
autointitule ou denomine-se a si mesmo com tal, sem sê-lo. Não há, na
Escritura, um só apóstolo que não tenha recebido o seu mandato
diretamente do Senhor, como nos revela o evangelista: "E, quando já era
dia, chamou a si os seus discípulos, e escolheu doze deles, a quem
também deu o nome de apóstolos" [Lc 6.13], e que não tenha convivido com
ele e testemunhado a sua ressurreição ]At 1.21-22].
Alguém
pode dizer que os apóstolos tinham o poder de nomear outros apóstolos e
que esses poderiam nomear outros e mais outros, continuamente, numa
espécie de apostolado sucessório, aos moldes do que a Igreja Católica
reivindica para o papado. Contudo, não se tem, na Bíblia, qualquer
referência a essa ordem sucessória, e os que hoje tentam reclamar para
si mesmos algum apostolado nada mais fazem do que repetir o erro
romanista, ao qual dizem oporem-se mas acabam por defendê-lo e inseri-lo
em suas práticas não-bíblicas.
Alguém
ainda pode insistir que Matias, o apóstolo nomeado a substituir Judas
Iscariotes, não foi diretamente nomeado por Cristo. Mas, espere um
momento, para quem propõe a ação do Espírito Santo em eventos no mínimo
discutíveis como os levantados pelo movimento carismático atual, pois
estão muito aquém ou além do texto bíblico, por que não reconhecer a
ação do Espírito de Deus na escolha do novo apóstolo? Houve oração e
clamor para que ele, que conhece todos os corações, mostrasse qual,
dentre José e Matias, seria o escolhido, "para que tome parte neste
ministério e apostolado... E, lançando-lhes sorte, caiu a sorte sobre
Matias" [At 1.23-26]. Alegar que coisas estranhas à Palavra são
supostamente manifestações do Consolador [o qual é o Espírito de Cristo]
e de que ele não interviria em algo tão vital para a expansão do
Evangelho, parece-me um contra-senso.
Ainda
alguém pode alertar para o fato de Paulo não ter convivido com Jesus, e
ainda assim, foi feito apóstolo. Realmente, ele não foi testemunha
direta do ministério terreno do Senhor [ainda que tenha sido
indiretamente], mas, de uma forma especial e exclusiva, foi chamado pelo
próprio Cristo, sendo testemunha ocular da sua ressurreição. É o que
ele nos diz: "Paulo, apóstolo (não da parte dos homens, nem por homem
algum, mas por Jesus Cristo, e por Deus Pai, que o ressuscitou dentre os
mortos)" [Gl 1.1], e, ainda, ao falar das aparições de Cristo: "E por
derradeiro de todos me apareceu também a mim, como a um abortivo. Porque
eu sou o menor dos apóstolos, que não sou digno de ser chamado
apóstolo, pois que persegui a igreja de Deus" [1Co 15.8-9], e, mais uma
vez: " Porque aquele que operou eficazmente em Pedro para o apostolado
da circuncisão, esse operou também em mim com eficácia para com os
gentios" [Gl 2.8]. Ora, temos que Paulo se colocou em posição de
igualdade no ministério apostólico de Pedro, apenas com a distinção
quanto aos seus ouvintes, o alvo da sua pregação.
Logo,
não se pode falar em apóstolos modernos, pois nenhum dos que assim se
intitulam preenchem as características necessárias: o chamado direto de
Jesus, sobretudo, como testemunhas irrefutáveis da sua ressurreição.
O
Segundo ponto a ser analisado é sobre a sua missão. Lembre-se de que à
época, os apóstolos estavam num período de transição entre a antiga e a
nova aliança, e de que a igreja estava sendo formada. Eles, como
emissários de Cristo, confirmariam indubitavelmente a verdade de que
muitos sabiam, ainda que vagamente, acerca de Jesus, sua missão, morte e
ressurreição, como um fato indiscutível e impreterível, levando-a tanto
a judeus como a gentios. Toda a obra apostólica se baseava nesse
fundamento, de que Cristo não somente era o Messias mas o Filho de Deus.
O aspecto final dessa missão foi que os apóstolos, inspirados pelo
Espírito Santo, escreveram e legaram à igreja, em todos os tempos, a
santa e bendita palavra de Deus. Nem uma só linha do Novo Testamento foi
redigida por alguém que não fosse apóstolo ou estivesse diretamente
ligado a um deles, no caso, eram seus discípulos que, orientados pelas
fontes primárias e sob a supervisão do Espírito, relataram os fatos
relacionados à pessoa de Jesus e seu ministério.
Com
isso, chega-se facilmente à conclusão de que não há mais revelações
divinamente inspiradas a serem transmitidas à Igreja, visto que o Cânon
encontra-se concluído, não necessitando a nenhum crente nenhuma outra
orientação que não esteja contida na Escritura Sagrada; o que nos leva a
reconhecer que o ministério apostólico transcorreu em um determinado
momento da história, e de que a missão daqueles homens chegou
definitivamente ao fim, sem que houvesse sucessores ou novos
mensageiros. Até, porque, a Igreja está edificada "sobre o fundamento
dos apóstolos e dos profetas, de que Jesus Cristo é a principal pedra de
esquina; no qual todo o edifício, bem ajustado, cresce para templo
santo no Senhor; no qual também vós juntamente sois edificados para
morada de Deus no Espírito" [Ef 2.20-22], e, se uma casa não pode ter
mais do que uma fundação, onde nelas são construídas paredes, colunas,
vigas, telhado, piso, etc, como seria possível outro fundamento além
daquele onde são dispostos o princípio da fé, de que Cristo é a pedra de
esquina? Além de desnecessário é absurdo, e representaria a "invenção"
de outra fé, de um outro "cristianismo", o que muitos têm se
especializado e empenhado em produzir.
Outra
conclusão facilmente alcançável é: a igreja, quando se afasta desse
entendimento, ainda que seja minimamente, se torna alvo acessível para a
investida dos falsos-mestres e profetas e seus absurdos doutrinários.
Invariavelmente acabam por apostatar a fé, negando a verdade e
penetrando a mentira, instalando-se nela como uma genuína aberração
religiosa, agindo ímpia, incrédula e dolosamente na admissão e difusão
de ideias contrárias e excludentes à fé uma vez dada aos santos. Se no
AT havia o ministério em que os profetas de Deus expunham publicamente a
falácia e malignidade dos falsos-profetas, hoje, cabe-nos, como Igreja,
denunciá-los e expô-los como charlatões e falseadores da verdade. O
princípio para isso é um só, orientarmo-nos e deixar-nos guiar pela
Escritura, através da qual o Espírito Santo nos falará e conduzirá em
toda a verdade.
[Continua na próxima aula]
Nota: 1- Aula realizada na EBD do Tabernáculo Batista Bíblico
2 - A foto desta postagem é um "Autorretrato como o apóstolo Paulo" [Rembrandt, 1661].
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