Página de doutrina Batista Calvinista. Cremos na inspiração divina, na inerrância e infalibilidade das Escrituras Sagradas; e de que Deus se manifestou em plenitude no seu Filho Amado Jesus Cristo, nosso Senhor e Salvador, o qual é a Segunda Pessoa da Triunidade Santa

terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

Estudo sobre a Confissão de Fé Batista de 1689 - Aula 15: Os Nomes de Deus - Parte 2


 







Por Jorge Fernandes Isah

 


OS NOMES DE DEUS NO NOVO-TESTAMENTO

THEÓS
Esta é a palavra grega que designa o nome deus, de uma forma genérica, podendo referir-se ao Deus bíblico como aos deuses pagãos. Ainda podendo se  referir a toda pessoa que detém algum tipo de autoridade. Como o Senhor nos diz em João 10.34, referindo-se ao Salmo 82.6, em que Deus chama a "deuses" os juízes de Israel, aqueles que foram escolhidos para julgar retamente, mas o faziam injustamente, por isso, Deus os repreende.

Esta palavra abrange os designativos de Deus do Antigo Testamento, porém, faz-se necessário uni-la a outras palavras para definir corretamente o sentido que os autores do Novo Testamento quiseram atribuir ao termo, ou seja, ela sempre terá de estar acompanhada de uma outra palavra que a qualifique. Mas ela sempre trará em si as atribuições que os nomes do Antigo Testamento davam a Deus, no sentido em que foram escritas, como Todo-Poderoso, Governador e Redentor.

KYRIOS
Este título é atribuído a Deus no Antigo Testamento e significa "Senhor". É um título que Théos recebe, qualificando-o; de forma que ele se relaciona com os nomes Adon e Yahweh do Antigo Testamento, indicando que Deus é governador, possuidor de todas as coisas, cujo poder é inigualável, mas também é aquele que promete a redenção ao seu povo, o salvador.

Kyrios é o título tanto do Pai como do Filho, como do Espírito Santo. Interessa-me, porém, estudá-lo, especificamente, em relação ao Filho. Em Filipenses 2, lemos que Deus exaltou a Cristo dando-lhe um nome acima de todos os nomes. Ao cumprir fielmente a obra pela qual foi enviado ao mundo, a morte na cruz para remir, e dar a vida eterna àqueles que o Pai lhe deu [Jo 17.2] e que foram predestinados antes da fundação do mundo [Ef 1.4-5]. Ressurreto, Paulo nos diz que diante dele todos os joelhos se dobrarão e todas as línguas proclamarão que Jesus Cristo é o Kyrios. Este é, certamente, o nome que está acima de todos os nomes, apresentando o senhorio universal e inquestionável de Cristo, diante do qual todos estão sujeitos. Com isso, não estou a dizer que Cristo irá reinar, mas que ele já reina, não apenas nos salvos, mas em todas as esferas do universo físico e espiritual.

O mais fantástico é que bastaria apenas a análise deste nome para se ter a certeza de que Cristo tem a mesma essência e natureza divinas que o Pai e o Espírito Santo têm. Diante da afirmação de que Cristo é o Kyrios, nenhum homem poderia reconhecer a falsa doutrina unitarista. Mas como aprouve a Deus destruir a sabedoria dos sábios e aniquilar a inteligência dos inteligentes [1Co 1.19], há muitos grupos religiosos que se autodenominam "cristãos" mas  que não reconhecem que o Filho é "a imagem do Deus invisível", em quem toda a plenitude habita [Cl 1.15,19].

Sendo a Bíblia a palavra de Deus, a verdade proclamada pelo próprio Deus, não há porque não crer no que ela expressa claramente. E o que ela nos diz a respeito de Jesus é que ele é um com o Pai, "o resplendor da sua glória, e a expressa imagem da sua pessoa" [Hb 1.3].

Então, há grupos, entre nós, que acreditam possível crer em Cristo como Redentor mas não crer que ele seja Senhor. Infelizmente eles estão mais preocupados com o que poderá acontecer-lhes no futuro, do que com suas vidas presentes. Há muitos que afirmam não ser necessário nenhum tipo de regeneração, de santificação, pois a salvação é exclusivamente pela graça. Acontece que o sentido de graça por eles defendida é distorcido, implicando na negação de uma série de textos que afirmam ser necessário nascer de novo, ter a mente de Cristo, estar em um constante processo de santificação, a fim de se tornar a imagem e semelhança do nosso Senhor. 

Sem Cristo, como Senhor, é impossível se falar em graça e redenção. Não podemos compartilhá-lo e escolher apenas um dos seus aspectos. Afinal, não somos nós que o escolhemos, mas ele é quem nos escolheu. Portanto, se não o temos como Senhor de nossas vidas, também não o temos como Redentor. Não há como seccioná-lo; Cristo é uno em si e na união com a Trindade. Sem tê-lo não se tem nada. Se não se é servo, também não se é salvo. Quando se tenta anular um único ponto de sua essência e obra, não há graça nem perdão divinos, mas apenas uma fé morta em si mesma, como Tiago inspiradamente definiu [Tg 2.17].

O título Kyrios vem derrubar tanto a tese dos unitaristas como dos adeptos do não-senhorio de Cristo, pois ele reina sobre tudo e todos; pior para quem não reconhece o seu poder, glória, majestade e divindade, pois esses são súditos rebeldes, que não querem servi-lo, os quais estão destinados à condenação e ao fogo eternos. Ao contrário de nós, que fomos feitos servos e reconhecemo-nos como tais, dispostos a honrar e servir ainda que inutilmente ao nosso Senhor.

PATER
Outro título de Deus, e que nos foi dado conhecer por Cristo, é o de Pai. Ainda que Deus seja chamado de Pai da nação de Israel no Antigo Testamento, apenas através de Cristo pudemos nos reconhecer como filhos adotivos, de que temos um Pai. No Salmos 103.13, o salmista usa a analogia do pai que se compadece dos seus filhos para indicar que Deus se compadece dos que o temem. Não há uma alusão direta sobre a nossa paternidade, pois muitas vezes ela nos é transmitida por outros homens, como Abraão, Isaque e Jacó, que são os patriarcas, os quais são chamados de "pai" de muitos, de incontáveis indivíduos, aos quais Deus constituiria o seu povo.

Apenas no Novo Testamento, através do relacionamento do Pai com o Filho, é que tomamos o real conhecimento e entendimento da nossa filiação a Deus; não por nossos méritos ou por nossa vontade, mas pela vontade de Deus que nos constituiu filhos pelo seu poder e graça, por intermédio de Cristo [Jo 1.12-13].

E, maravilhosamente, este foi o desejo do Senhor Jesus que nos ensinou a chamar o Seu Pai de Pai, fazendo-nos também filhos como ele é. No Sermão do Monte somos exortados a orar assim: "Pai nosso...". Bendito o Filho que nos deu o Pai, e bendito o Pai que nos deu o Filho, e assim, formemos uma família baseada na relação eterna que eles têm entre si; e pela qual saímos da escravidão, do jugo do pecado, para sermos feitos filhos por adoção, e podermos clamar: "Aba Pai". Paulo utilizou essa expressão em Gálatas 4.6, juntando o nome grego Páter à palavra aramaica Abba [ambas têm o mesmo sentido de "pai", o que traduzindo seria "pai querido ou papai"] dando a ideia terna de proximidade entre o pai e seus filhos, de que participamos também  das coisas que o Pai reservou para o Seu Filho, Cristo, pelo qual somos herdeiros.

Reconhecer que Deus é Todo-Poderoso, Altíssimo, Soberano, Senhor, Governador, é fundamental, pois eles nos remetem aos atributos de Deus, à forma como ele se fez conhecer através da revelação especial. Mas, reconhecer que somos filhos, quando não há nada em nós que nos possa levar a sê-lo, apenas a graça, misericórdia e amor infinitos e eternos de Deus para com nós,  deve nos encher de uma alegria também infinita e eterna; na certeza de que não há nada que nos possa fazer conhecê-lo mais intimamente do que a sua condição de Pai. De forma que reconheceremos tudo o que ele nos deu, e propiciou-nos ter, pelo amor com que nos amou e que excede todo o entendimento. Sejamos gratos, tendo em nós os mesmos sentimentos de Cristo [Fp 2.5], para que ele esteja em nós, assim como o amor com que é amado pelo Pai também esteja em nós [Jo 17.25-26]. E assim, através do Filho Amado, sejamos um com Deus, o Pai.

Nota: [1] Aula realizada na E.B.D. em 15.01.2012;
[2] Baixe esta aula em Aula 15.MP3;
[3] Por favor, se houver algum erro na inscrição em grego e latim no topo desta postagem, avise-me.

domingo, 5 de fevereiro de 2012

Exposição de Atos 10: Sem tempo para Deus?

Por Pr. Luiz Carlos Tibúrcio

Infelizmente, este arquivo foi gravado em formato WAV, o que impossibilita a postagem do áudio diretamente aqui na página. Como os conversores de arquivos WAV em MP3 não deram o resultado esperado, truncando-e adicionando ruídos e outros sons, optei em colocar o link para o 4Shared, onde você poderá ouvir e baixar esta mensagem.
Portanto, vá à VOICE077.WAV, ouça e, se quiser, baixe o áudio para o seu computador ou dispositivo móvel

Cristo o abençoe!
Jorge

quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

Estudo sobre a Confissão de Fé Batista de 1689 - Aula 14: Os Nomes de Deus - Parte 1





















Por Jorge Fernandes Isah


INTRODUÇÃO

Dando sequência ao estudo do Capítulo 2, falarei sobre os nomes de Deus. Ainda adiando a entrada direta, propriamente dita, na questão dos atributos divinos. Acontece que, inicialmente, pensei em não tocar neste assunto, que trata dos nomes de Deus, pois o considerei pouco relevante, fruto da  ignorância e do desejo de apressar o andamento das aulas, tocando apenas naquilo que considerava essencial. Mas estudando-o mais detidamente, convenci-me da sua necessidade e propriedade em nosso estudo da C.F.B, de que era um ponto fundamental e não poderia ser negligenciado; por alguns motivos:

Primeiro, porque a própria palavra de Deus se refere a ele com vários nomes, logo, como poderia rejeitar ou negar a sua importância e fundamento? Se o próprio Deus fez questão de que assim fosse conhecido?

Segundo, vivemos a era de um "Deus" genérico, em que este nome é utilizado de muitas maneiras e intenções, menos a de honrar e glorificar o Deus verdadeiro e vivo. Por isso, desde os primórdios, ele se fez revelar ao mundo de forma particular, para não se misturar a outros deuses nem cultos que nada têm a ver com ele, e que são o reflexo da face idólatra do homem em seu permanente estado de rebeldia. Hoje, o nome "Deus" se tornou um penduricalho que qualquer um pode ostentar ou não, podendo ser nada além de um nome que, supersticiosamente, traga alguma espécie de sorte ou bom fluído, ou mesmo a chave para o pensamento positivo, alguma espécie de triunfalismo pela autoajuda.

Terceiro, os nomes refletem características e particulares de Deus [e mesmo um conjunto de atributos], de forma que eles revelarão e nos ajudarão a compreender um pouco mais do seu caráter e pessoalidade, fugindo da generalização que revela, tão somente, o desconhecimento de Deus; e, desta forma, podermos responder mais consistentemente à pergunta inicial: “Quem é Deus?”.

Quarto, Deus se revela através dos nomes, como aquele que age ativamente na história da humanidade, não um "deus-espectador", imóvel, inoperante, desinteressado; mas o único criador e sustentador de todas as coisas; o ser pessoal, o Senhor e juiz supremo de tudo, de forma que qualquer outra divindade torna-se nula diante dele. Assim, Deus se mostra verdadeiro, e o reconhecemos como o único Deus, em meio a uma miscelânea de falsos deuses.

Os nomes de Deus também nos revelam muito do seu modo de agir e do seu relacionamento com os homens. Não farei um estudo exaustivo em relação a eles, citarei e definirei alguns dos mais comuns, pelos quais Deus foi conhecido, tanto no Antigo como no Novo Testamento, mas me aterei a analisar, especificamente, dois deles.

Outro ponto interessante ao estudar o assunto é que ele nos apresenta Deus como o Ser pessoal, o que tem sido asseverado constantemente em nosso estudo, e também é abordado frequentemente na C.F.B. Além de os nomes serem uma maneira de Deus se autorrevelar aos homens, pois sendo a Escritura a sua própria palavra, nela encontramos designativos de Deus que nos foram dados por ele mesmo.

Assim, temos muitos nomes para Deus, mas todos derivados do seu nome, revelando a multiformidade do seu ser. Usando da linguagem humana para se fazer conhecer aos homens, os nomes de Deus têm origem divina, portanto não são criações humanas.

Vale também ressaltar que Deus não pode ser nominado, definido por um nome, mas são muitos que ele tem, parecendo, até certo ponto, uma questão inexplicável ou até mesmo contraditória. Mas se pensarmos que os nomes pelos quais Deus é conhecido não são invenções humanas mas contêm, de certa forma e em certa medida, atributos que nos revelam o caráter divino, e pelos quais ele se faz revelar, entenderemos que houve uma “concessão” de Deus de se acomodar à limitada e finita capacidade humana de conhecimento. Como tudo que foi criado é limitado e temporal e finito, os nomes de Deus não são abrangentes nem exaustivos, pois não podem sê-lo, visto serem objetivados a suprir demandas do pensamento estrito do homem, o qual está impossibilitado, inclusive pelos efeitos noéticos do pecado, de compreender totalmente o Absoluto.

OS NOMES DE DEUS NO ANTIGO TESTAMENTO

ELOHIM: "O DEUS PODEROSO"
O primeiro nome pelo qual Deus é reconhecido na Escritura é Elohim, que quer dizer “O Deus Poderoso”. Elohim é o plural de “Eloah”, que significa “aquele que é forte”. O fato de estar no plural remete-nos à Trindade Santa, de que Deus é uma unidade na qual há três pessoas com a mesma essência e natureza, igualmente poderosas. Mas este será um assunto do qual falaremos mais à frente, quando estudarmos a doutrina da Trindade. Este nome é usado quando se quer enfatizar a majestade divina, em seu caráter soberano, tanto no que se refere à obra de criação [Gn 1.1; Is 45.18] quanto à de salvar Israel [Is 54.5; Jr 32.27]; e é, também, o nome pelo qual Deus é mais representado no Antigo Testamento, aparecendo mais de 2.200 vezes. Ele deriva de "el", o nome mais simples pelo qual Deus é designado, no sentido de ser primeiro, ser senhor, indicando, mais especificamente, plenitude de poder.

O fato de “El” ser um nome genérico, sendo atribuído também aos falsos deuses, não dá a Deus um sentido "nomina propria" [nome próprio], fez com que ele aparecesse na Escritura combinado com outros nomes para ajudar a distinguir o Deus verdadeiro e vivo dos falsos e mortos deuses das religiões pagãs. Podemos citar, como exemplos:

a) El-Shaddai: “Deus Todo-Poderoso”.
Este foi o nome que Deus usou para se revelar a Abraão, quando do estabelecimento formal do pacto de Deus com o patriarca [Gn 17.1-2]. Em princípio, "Shaddai" designa que Deus tem todo o poder, seja no céu ou na terra, indicando-o como Senhor e Soberano sobre tudo e todos, mas no sentido de ter o poder de proteção divina ao povo do pacto, apontando para o cumprimento fiel de suas promessas, e também como fonte de bem-aventurança e consolação. 
Também foi com este nome que o Senhor se revelou a Moisés, anunciando-lhe as pragas que sobrevieram sobre o Faraó e o Egito.

b) El Elyon: "O Deus Altíssimo"
Ainda que como El-Shaddai, este nome indique o poder e majestade de Deus, ele o descreve como o possuidor de todas as coisas, o Altíssimo, aquele que está elevado acima de toda a criação, reinando absoluto sobre ela; ele é o mais alto e exaltado ser, sendo todos os demais seres sujeitos a ele. A primeira vez em que ela aparece é em Gênesis 14.18-24, quando Abraão resgata o seu sobrinho Ló e recupera os bens tomados pelo inimigo. 

ADONAI: "O DEUS GOVERNADOR"
Este nome significa "Senhor, mestre, possuidor" e, relaciona-se com os anteriores, quanto ao seu significado. Deriva de "dun" ou de "Adon", ambas significando julgar, governar, em posição de autoridade, de senhorio ou domínio. Especialmente ela se aplica a Deus como o Senhor, o Governador Todo-Poderoso, a quem tudo está sujeito e com quem o homem se relaciona como servo. Mas também mostra a superioridade do Deus de Israel sobre os demais deuses; sendo ele o governador último de todas as coisas e a autoridade máxima sobre todos os reinos. Não há ninguém ou nada como ele, nem capaz de desafiá-lo ou enfrentá-lo [Dt 10.17]. Era o nome pelo qual Israel se dirigia a Deus costumeiramente. Com o tempo, perdeu força e prestígio para o nome Jeová [Yahweh]. 

Assim como Deus é absoluto, o seu governo também o é. De forma que todos os demais poderes, naturais ou sobrenaturais estão debaixo de sua autoridade, sendo ele o possuidor legítimo de tudo, sem se excluir nada. 

YAHWEH: "O DEUS REDENTOR"
Gradativamente, na história do povo de Israel, e, à medida em que Deus se revelava ao seu povo, os demais nomes foram sendo abandonados e substituídos por "Yahweh", como o Deus da graça. Este passou a ser o nome pessoal divino, revelando o seu caráter redentor, como o libertador do povo hebreu do cativeiro, por isso foi revelado a Moisés. Sempre foi reconhecido como o nome incomunicável, pelos quais os judeus temiam pronunciá-lo, em razão da leitura equivocada que faziam de Levítico 24.16. Por isso, ao lerem os trechos sagrados onde aparecia, substituíram-no por "Adonai" ou por "Elohim". Ele deriva do verbo "hayah", que significa "ser", indicando a presença e existência constante de Deus, em seu caráter imutável [Ex 3.14]. Revela-nos também que Deus está permanentemente presente na redenção do seu povo, e de que ele cumpre e cumprirá todas as promessas do pacto realizado com os heróis da fé. Sendo o "Eu Sou", eterno, perfeito, santo, e imutável, suas promessas de salvação também são eternas e imutáveis. Também é o nome empregado exclusivamente para Deus, não sendo empregado em relação a mais ninguém, indicando uma relação infalível entre Deus e seu povo, como aquele que o libertará e o redimirá dos seus pecados e transgressões.

Há, ainda, nomes compostos de Yahweh, como, por exemplo, Yahweh Jireh ["O Senhor proverá", Gn 22.14], Yahweh Nissi ["O Senhor é minha bandeira", Ex 17.15], e Yahweh Shalom ["O Senhor é paz", Jz 6.24].

A partir dos massoretas, os quais acrescentaram vogais entre as consoantes, o tetragrama Yhwh, passou-se a grafar da forma como o usamos aqui.

O áudio desta aula está disponível em Aula 14.WAV

Nota: 1- Na próxima aula, concluiremos este estudo sobre os Nomes de Deus a partir do Novo Testamento.
2 - Aula realizada na E.B.D. em 08.01.2012 

terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Estudo sobre a Confissão de Fé Batista de 1689 - Aula 13: "Eu Sou o que Sou"













Por Jorge Fernandes Isah

  


Vimos que Deus é autosuficiente em si mesmo, de forma que ele não depende de nada nem ninguém para existir, pois sua independência é absoluta. Também vimos que ele se autointitula o "Eu sou", jamais podendo, portanto, ser o não-ser. E o não-ser é não ser Deus. Ele também se define como o ser essencialmente espiritual, pois é Espírito [Jo 4.24]. Há uma infinidade de atributos de Deus, assim como ele é infinito, mas a Bíblia não nos revela todos, porém, ainda assim, eles nos surpreendem por sua diversidade, plenitude, perfeição, excedendo a nossa compreensão; "porque assim como os céus são mais altos do que a terra, assim são os meus caminhos mais altos do que os vossos caminhos, e os meus pensamentos mais altos do que os vossos pensamentos", diz o Senhor [Is 55.9]. Deus revela que há uma distância enorme entre ele e nós, de que por mais que se manifeste ao homem, este ainda permanecerá distante e impossibilitado de conhecê-lo e entendê-lo completamente [Jó 26.14]. A disparidade entre quem é Deus e quem é o homem, entre o ser infinito e o finito, entre o eterno e o temporal, o perfeito e o imperfeito [com um ingrediente ainda mais danoso ao conhecimento da verdade, o pecado], faz com que os caminhos divinos sejam muitas vezes incompreensíveis para nós.

Porém, isso não quer dizer que Deus não seja cognoscível, de que não se deu a conhecer, de que haja apenas a sua transcendência e não haja a imanescência, de que ele seja incompreensível e não se relacione com sua Criação. Por isso, a CFB diz que a sua "essência por ninguém pode ser compreendida, senão por Ele mesmo", visto sê-lo infinito, eterno, absoluto, perfeito, santo,  somente pode ser conhecido plenamente por alguém que tenha esses atributos, de forma que o homem somente o conhecerá no que ele lhe capacitou e deu-se conhecer. Assim, apenas Deus tem o autoconhecimento de si mesmo; somente ele detém o conhecimento pleno e completo de si, e nada nem ninguém exterior a ele pode compreendê-lo totalmente. A possibilidade de conhecimento pleno de Deus, mesmo na eternidade, quando o salvo será transformado à imagem e semelhança de Cristo, não poderá acontecer; a plenitude do conhecimento divino é tão majestosa, gloriosa, magnificente, que nos esmagaria, como se fôssemos uma formiga sob o peso de um elefante. Creio ser, mais ou menos, o que Paulo diz: "Ó profundidade das riquezas, tanto da sabedoria, como da ciência de Deus! Quão insondáveis são os seus juízos, e quão inescrutáveis os seus caminhos!" [Rm 11.33].

Por isso, ainda assim, o Deus revelado, continuará encoberto como que por uma densa escuridão, fora do alcance do homem, se o Espírito não o mostrar, transformando-o no ser real, verdadeiro e vivo que ele mesmo diz de si. O que nos leva à reconhecer a importância deste capítulo da C.F.B., porque ele diz ser possível conhecer a Deus através dos seus atributos; ao descrevê-los, ela nos revela facetas do seu caráter, ainda que a tentativa de separá-las seja impossível, visto Deus ser uma unidade pessoal, integral, ao contrário de nós, criaturas.
  
Antes, e ainda hoje, o homem procura descrever Deus através de figuras, imagens, pintura, e por formas verbais ou escritas, no que tem falhado miseravelmente. Por mais que se queira defini-lo, Deus é indefinível, a não ser por si mesmo. Quando Moisés perguntou em nome de quem falaria aos egípcios e judeus, o Senhor disse: "Eu Sou o que Sou. Disse mais: Assim dirás aos filhos de Israel: Eu Sou me enviou a vós outros" [Ex 3.14]. A afirmação divina representa uma imensidão impossível de se imaginar. Deus se define como sendo, ele é, sem nunca não-ser, de forma que a definição revela a sua autoconsciência, autossuficiência, o Ser absoluto e imutável.  Porém, para nós, ainda persiste a pergunta: quem é Deus? 

Somente ele pode dizer quem é, pois ele tem o autoconhecimento de si; já que ele conhece todas as coisas, e ninguém pode alcançá-lo nesse conhecimento. O conhecimento de Deus depende de si mesmo, e de mais nada ou ninguém; de nenhuma fonte exterior a ele, porque é eterno. E será através dos seus atributos que se revelará, mostrando-nos a sua personalidade. Por isso, jamais devemos nos esquecer de que Deus é o Deus pessoal, onde habita toda a consciência, inteligência, sabedoria e conhecimento. Ao contrário de nós, Deus não é limitado, e sua personalidade é perfeita, eterna. E é possível perceber a sua Pessoa através da Revelação Natural, como parte dos seus atributos incomunicáveis; porém, somente é possível entender a essência divina a partir da relação paternal que ele tem com o seu Filho eterno, Jesus Cristo; por quem fomos feitos filhos adotivos e, portanto, termos um relacionamento filial com Deus, tornando-nos capazes de conhecê-lo, como ele é, como se revelou, pois sendo Deus, não pode jamais deixar de sê-lo; e não podemos conhecê-lo, mesmo imperfeitamente, sem nos conscientizar da nossa limitação e impossibilidade e incapacidade de fazê-lo plenamente. Pois, assim como os anjos eleitos, gastaremos a eternidade para entender, por exemplo, o amor de Deus por nós. Sendo o amor divino o atributo mais evidente na Escritura, e ainda assim, como Paulo disse, ele excede todo o entendimento [Ef 3.19], o que dirá quanto aos demais? O que dirá quanto ao próprio Deus, o qual é único, e não pode ser distinguido tanto do que é como do que faz, sob pena de se erigir um outro "Deus"? Ainda que ele se apresente de muitas formas diferentes, permanece indissolúvel, indivisível, no seu caráter incomparável e perfeito [Is 40.18,25].

Deus é Deus, e resta-nos humilhar diante dele; glorificá-lo pelo que é, e tem-nos revelado ser; admirá-lo por sua grandeza e majestade; e amá-lo porque ele nos amou primeiro.

Notas: [1] Aula realizada na E.D.B. em 18.12.11
[2] Este áudio pode ser baixado para o seu computador ou dispositivo móvel em Aula 13.MP3

domingo, 1 de janeiro de 2012

sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

Estudo sobre a Confissão de Fé Batista de 1689 - Aula 12: A Religião Verdadeira














Por Jorge Fernandes Isah

HÁ UM SÓ DEUS!

Em Romanos, Paulo nos diz que o homem, "tendo conhecido a Deus, não o glorificou como Deus... antes em seus discursos se desvaneceram, e o seu coração insensato se obscureceu" [1.21]. O que temos aqui, e que foi dito em outras aulas, é que o homem rejeita a ideia do Deus Vivo e Verdadeiro e, por isso, cria para si outro "Deus" ou deuses, de forma que o seu estado natural é de desobediência, de rebelião, de pecado. Sua mente e coração foram obscurecidos pelo pecado, levando-o a cogitar e afirmar insanamente que não há Deus ou que há muitos deuses, ou ainda que há outro deus e, assim, o conhecimento inato e inerente ao homem é anulado, com o objetivo de não glorificá-lo. Por isso, a Bíblia chama o homem que vive à margem e à parte de Deus de ímpio. A palavra ímpio origina-se do latim "impius", significando que esse homem é herege, incrédulo, que não respeita nem teme a Deus. Certamente o termo pode ser usado por qualquer religião, para designar aquele que não a segue, que não se submete a determinada fé ou a professa. Mas como o nosso interesse é o bíblico, ela nos remete àquela pessoa que rejeita, despreza, e peca contra o Deus santo, o Deus bíblico. Todo aquele que tem o seu prazer em si mesmo, não busca a Deus, nem a sua justiça e o seu reino, é um ímpio; como o salmista diz: "Pela altivez do seu rosto o ímpio não busca a Deus; todas as suas cogitações são que não há Deus" [Sl 10.4]. O ímpio é todo ateu prático, ainda que ele creia na existência de um ser supremo, e até mesmo o cultue acreditando fazê-lo em nome de Deus. Para o ímpio, incrédulo, ou ateu prático, não há o Deus bíblico, há múltiplos e diferentes deuses; porém, cada um, em si mesmo, é o reflexo do próprio homem, o que, em suma, configura uma autoidolatria, o adorar-se e ser autoridade de si próprio.

A Escritura nos revela uma galeria de ímpios: os que cobiçam, mentem, roubam, e matam, aqueles que maquinam o mal, por exemplo [Pv 6.14]. Mas nenhum crime é pior do que o de rejeitar a Deus, desobedecê-lo, e rejeitar a sua palavra. Na verdade, todos os outros crimes, pensados e praticados, originam-se destes; os quais são reflexos do afastamento do homem de Deus, da sua recusa em reconhecer que há somente o Deus bíblico, e de que ele é o Senhor ao qual todos os homens devem glorificar e honrar. O pecado é o que aparta o homem de Deus, e o afastar-se dele é mantido pelo mesmo pecado. Há um círculo vicioso em que um compele ao outro, e o outro mantém aquele. O homem está afastado de Deus por causa do pecado, da sua transgressão, e é ele que o conserva no mesmo estado, sem mudança. Por si mesmo é-lhe impossível achegar-se; é necessário que Deus se apiede, tenha misericórdia, e, então, somente então, ele aproxima-se do homem, trazendo-o à sua comunhão. Novamente, com isso, não estou dizendo que não somos responsáveis pelo nosso afastamento, pelo distanciamento, por nos manter desligados dele. Em nossa natureza caída, nós queremos, ansiamos, e buscamos manter a distância, e andar vagueando à procura de um outro deus, um impostor que satisfaça o desejo veemente de nosso ser, pois, ao contrário de Deus, não é possível ao homem se satisfazer em si mesmo: ele precisa de Deus. Acontece que esse deus jamais será suficiente e capaz de fazê-lo.

Há um ditado que diz: nem tudo que reluz é ouro. Existem muitos metais que reluzem: prata, cobre, aço, etc, mas suas características são distintivas do ouro, o qual é particular em seus atributos, nos elementos que o constituem. Guardadas as devidas proporções, pois se trata de uma analogia, e nenhuma analogia pode descrever fielmente a natureza divina, que é única, perfeita e incomparável, Deus não pode ser distintivo e múltiplo na variedade de deuses e cultos, da forma como os seus adoradores pressupõem. Ele não pode, ao mesmo tempo, ser um e outro, e ainda outro, assim como o ouro não pode ser nem prata nem cobre [ainda que eles estejam na categoria dos metais]. Por isso, a mente humana sempre optou em criar vários deuses, a fim de que a inconstância e incoerência humana sejam satisfeitas em todos os detalhes. Mas pouquíssimos deles revelam algo verdadeiro de Deus; tornando-o cada vez mais desconhecido do homem, e este cada vez mais ignorante de Deus. E, no que resta, há muito pouco dos atributos divinos, ou não há nada; e o que há é o culto, a adoração ao homem pelo homem [ainda que mascarado, subliminado]. Toda religião que não professa a adoração ao Deus bíblico, ao único Deus, aquele que se autorrevela, e através do qual unicamente o homem pode conhecê-lo, não é religião. Ela não tem qualquer poder de religar o homem ao Ser Supremo. Pelo contrário, como o pr. Luiz Carlos Tibúrcio disse em uma aula passada, ela é a antirreligião, é abominação, é afronta a ele.

Aqui temos um importante elemento, o do Ser Supremo. Não "seres supremos", o que é impossível, mas apenas um. O próprio Senhor nos diz, repetindo o verso de Dt 6.4: "O primeiro de todos os mandamentos é: Ouve, Israel, o Senhor nosso Deus é o único Senhor" [Mc 12.29]; e, complementou em sua oração: "E a vida eterna é esta: que te conheçam, a ti só, por único Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo, a quem enviaste" [Jo 17.3]. Cristo não abre precedentes para que qualquer forma de adoração seja possível, nem para a possibilidade de que todas as crenças sejam abarcadas em um único significado e propósito. Não há como não rejeitar toda e qualquer adoração e culto que não seja dispensado ao Deus bíblico. Todo Deus fora da Escritura é falso; e uma imagem distorcida daquilo que o próprio homem traz em si mesmo. Esse "Deus", nada mais é do que o reflexo do homem; é ele olhando para si e, ao mesmo tempo, objetando usurpar o trono celeste, e assumi-lo. Em seu delírio, ele presume que o ser finito, limitado e temporal possa ocupar o posto do Ser infinito, perfeito, pleno, e eterno. Se Deus é suficiente em si mesmo, autoexistente em si mesmo, livre e independente, não havendo a chance de existir dois iguais, pois se um Deus existe desde a eternidade, não há lugar para outro, logo, o que pensa estar fazendo o homem? Se não há como existir dois seres perfeitos, eternos e suficientes no universo, como pode o homem almejar tal condição, sendo ele mesmo o oposto daquele que pensa combater?

Deus é um, único; ele é real. Dizer que há muitos deuses é dizer que não há Deus nenhum. Dizer que existe um outro Deus, não revelado sobrenaturalmente, e que se deu a conhecer sobrenaturalmente, também é não crer nele. Dizer que todos os caminhos levam a Deus, é dizer que o errado é o certo, e o certo, errado; de que a verdade não está nele mas naquilo que pensamos dele. Mais uma vez, o homem quer-se fazer autoridade, inclusive sobre Deus, e a ideia do ecumenismo e do universalismo nada mais é do que o estratagema maligno de acomodar todos os homens e seus pecados numa única cumbuca e, assim levar todos à destruição. Mas mais do que isso é pretender que Deus seja igualmente tolo, como tolo é aquele que se aventura a uma crença genérica e difusa, em que o Senhor não passa de um Deus lamuriante, a buscar ser aceito de qualquer maneira pelo homem. Transferimos a ele a nossa doença, a nossa psicopatia, e não há mais como distingui-lo de nós; como se fôssemos quem lhe dá a vida, quem o sustenta e alimenta, e não o contrário; significando que todos os deuses ou, mesmo o não ter nenhum deus, não passam de projeção humana, revelando o que o homem é, e suas limitações. Com isso, estou a dizer que todas as crenças e religiões, todos os deuses e não-deuses, todas as formar humanas de cultuar partem do conhecimento que o homem tem de si mesmo, ou a expectativa de quem ele seja para formatar um ídolo. Parte-se sempre do homem para Deus, da autorrevelação humana para se definir o Ser de Deus, o que é um gravíssimo erro, visto ele ser conhecido somente pelo que revela, de si mesmo. O que não se torna em capricho o homem buscar definir Deus, nos aspectos em que nos é possível fazê-lo à luz da Escritura, com o risco de, ao não fazê-lo, adorar um Deus desconhecido, no qual não há uma personalidade ou, quando muito, adorar um deus que se pareça tanto com o homem que acabe se confundindo com ele. Por isso, resta-nos perguntar: quem é Deus? Sabendo que apenas o espírito regenerado em união com o Espírito regenerador poderá ter a resposta correta. Ver Dt 4.35,39; 1 Sm 2.2; Is 44.6-8

QUEM É DEUS?

O Cristianismo declara a fé no Deus eterno, todo-poderoso, ilimitado, imutável, e infinito, ao contrário do panteão de deuses criados pelo homem fora da revelação especial; os quais são invariavelmente imperfeitos, limitados, muitas vezes não passando de réplicas do próprio homem, ou assumindo formas da criação. O Deus bíblico não se compara nem pode ser comparado com nada. Como já foi dito, ele é único [Dt 4.35,39; 1Sm 2.2; Is 44.6.8]. Mas também é quem, em sua perfeição e santidade, se relaciona com os seus filhos, os quais são filhos por adoção, através do Filho eterno, Jesus Cristo. E isso se dá exatamente por não ser nós a defini-lo, mas ele é quem se autodefine para nós. Mesmo sendo a linguagem humana limitada, ele se utiliza dela para levar à nossa mente limitada o entendimento de quem é, um entendimento parcial, pois não nos é dado conhecê-lo além do que se revelou e deixou-se revelar, sob pena de se construir um ídolo. Deus é o que é. Ele nos diz: "Eu sou o que sou" [Ex 3.14]. E o que ele quis dizer? Ora, de que ele era o que sempre foi e sempre será: Deus. E de que não pode ser nem nunca será o que não é. Deus se apresenta como autossuficiente em si mesmo. E temos aqui um outro aspecto muito interessante que é o da singularidade divina, o fato dele ser único, incomparável, de que não há nada igual a ele, de forma que ele é a origem de tudo o que foi criado, sendo ele o mantenedor de todas as coisas, o princípio e o fim delas, mas o Ser eterno, não tendo ele mesmo princípio, nem sendo gerado por outro. Deus é absoluto, o único absoluto, independente, e sua identidade está no caráter impar que o distingue de tudo, de todas as coisas. E quais são essas coisas, as quais definem Deus?

Primeiro, é necessário dizer que, antes de tudo, Deus é um Ser pessoal. Ele tem uma personalidade, e características que o definem como Deus. A Bíblia nos revela exatamente aquilo que ele quis nos fazer conhecer, de forma que é possível não apenas conjeturar mas ter certeza, afirmar quem é Deus. E isso é definido por sua pessoa, a qual, sendo Espírito, invisível, ainda assim se relaciona com as suas criaturas e filhos. Com os primeiros, como Criador, com os segundos, como Pai. Em ambos, age como Senhor; sobre os quais ele está, e sob quem todos estão. Por isso, ele também é chamado de Soberano, aquele que está revestido da autoridade suprema, que governa com absoluto poder. Mas a questão é, como saber quem é Deus?

É impossível saber quem é determinada pessoa sem conhecê-la. Quando alguém me pergunta: Quem é Pedro? Para que eu responda exatamente é necessário conhecê-lo para, então, descrevê-lo, e identificá-lo ao meu interlocutor. Caso isso não aconteça, responderei: Não faço a menor ideia de quem ele seja! Ainda há a possibilidade de eu inventar um Pedro fictício [e poderei criá-lo por vários motivos, desde uma pilhéria para com o interlocutor, ou algum outro interesse], mas ele não será nada além daquilo que é: uma simulação, um personagem imaginário, irreal. Mas ainda que eu conheça o Pedro, e ele exista, e tenhamos uma relação pessoal, não quer dizer que eu conheça todos que se chamam Pedro. Da mesma forma, o meu interlocutor, ainda que ouça atentamente a minha descrição dele, uma descrição analítico-descritiva, e saiba de detalhes da sua vida pessoal, não terá uma relação pessoal com ele, pois ela se estabelece pela reciprocidade, pela correspondente mutualidade.

Concluí-se então que ninguém poderá responder à pergunta, “quem é Deus?”, sem conhecê-lo. O máximo que ele poderá é especular, no sentido de defini-lo teoricamente, como objeto de estudo, sem que haja um relacionamento pessoal mútuo. Por isso a importância da Escritura, a forma em que ele quis se revelar, fazer-se conhecer ao homem. Qualquer um pode ter esse conhecimento especulativo, bastando para tanto ler a Bíblia, como qualquer teórico pode fazer e faz com a matéria do seu estudo; uma vez que ela não o descreve como um ser abstrato, vago, indefinido, mas como o Deus vivo, sábio e perfeito. Mas isso não é suficiente para se conhecê-lo. Guardadas as devidas proporções, seria o mesmo que alguém dizer conhecer o Monte Fuji sem jamais ter ido ao Japão. Sei da existência do monte; sei o que ele é; onde fica; mas não o conheço verdadeiramente. Seria necessário eu viajar até ele para ter o conhecimento completo. Há quem diga que isso não é necessário. Eu não acredito. Alguém pode descrever uma paella, em seus mínimos detalhes, quanto à forma, composição, sabor, aroma, mas enquanto eu não cheirá-la, comê-la, terei apenas o conhecimento teórico, e não-prático. Com isso não quero dizer que a experiência é suficiente para se conhecer as coisas, mas sem ela o homem poderá facilmente viver no "mundo da Lua", e ter uma vida irreal. Ao contrário do que os empiristas afirmam, não concordo que a verdade possa ser conhecida pelos sentidos, pois eles são enganosos, assim como tudo o que o homem é, pois, caído, contaminado pelo pecado, teve a sua natureza pervertida, o que o tornou incapaz de se aproximar da verdade [1]. Porém, contudo, não estou a dizer que o homem não possa conhecê-la. Contradição?

Sem entrar nos pormenores da regeneração [que veremos mais à frente], o fato é que a ação do Espírito Santo é a única forma de o homem, impedido em si mesmo e por si mesmo, conhecê-lo. Quando a mente obliterada pelo pecado é transformada, esse homem passa a ter a mente de Cristo, tornando-se capaz de admitir como verdadeiro o Deus bíblico. A experiência pessoal, sempre uma iniciativa divina, em primeiro lugar, capacitará esse homem ao conhecimento. Sem isso, o que ele terá é uma "sombra" do conhecimento, um espectro embaciado, sem que a imagem se forme, e mantenha-se encoberta.

Em tudo isso, o que importa, no fim-das-contas, é que Deus quis se relacionar com os seus filhos, porque ele é o Deus pessoal; de outra forma, se essa não fosse a sua vontade, não haveria como os homens conhecê-lo, já que, por si mesmos, é-lhes impossível. Temos então o seguinte:

1) Deus somente pode ser conhecido pela Bíblia, pois ele se deu a conhecer através dela, que é a sua palavra. Nela ele descreve-se como quis se manifestar, e tornou-se patentemente o Deus conhecido. De forma que o homem natural pode ter algum conhecimento de Deus, um conhecimento teórico, mas insuficiente para conhecê-lo como o Deus vivo e verdadeiro. Seria o mesmo que um surdo diante de uma orquestra; ele veria os movimentos, os instrumentos, os concertistas, o maestro... Veria a platéia, as palmas, e tudo o mais que envolveria o concerto. Mas estaria impossibilitado de ouvir a peça musical. Entenderia o que se está passando, o que está acontecendo, mas não apreenderia a mensagem; a comunicação entre o autor e o ouvinte não se completaria, mantendo-se obscura.

2) O Espírito Santo, ao regenerar a mente e o espírito do homem natural, torna-o capaz de conhecer a Deus pela revelação especial; de forma que ela terá um significado humano, mas também sobrenatural; e, assim, a voz sobrenatural de Deus é comunicada inteligivelmente, sendo possível ao homem conhecer a verdade, a qual é o próprio Deus, revelado na Escritura.

E, então, poderemos, finalmente, responder, quem é Deus? Mas, primeiro, precisamos saber o que ele diz de si mesmo.

NOTA: [1] Da mesma forma, não acredito que o conhecimento seja possível exclusivamente pela razão, como os racionalistas afirmam. Penso que a razão humana está contaminada pelo mesmo "vírus" que contaminou os sentidos: o pecado. Assim, o homem necessita de Deus para, como um todo, um ser completo, racional e experiencial, poder conhecer a verdade.
[2] Aula realizada na E.D.B. em 11.12.2011, a qual pode ser baixada para o seu computador ou dispositivo móvel em Aula 12.MP3

segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

"Um Feliz Natal!"

Por Pr. Luiz Carlos Tibúrcio



Você pode baixar o áudio da pregação para o seu computador ou dispositivo móvel em VOICE 005B.MP3

quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Estudo sobre a Confissão de Fé Batista de 1689 - Aula 11: O ateísmo secreto













Por Jorge Fernandes Isah


O ateísmo não é algo novo e que surgiu nos últimos séculos. O salmista já o denunciava a seu tempo [Sl 14.1]. Acontece que temos os ateus professos ou dogmáticos, aqueles que declaram e defendem uma fé ateísta, a fé na descrença em Deus. Ela se baseia na ideia central do movimento iluminista nos sec. XVII e XVIII de que tudo o que não pode ser explicado pela razão humana, sendo essa razão superior e final para se estabelecer todo o conhecimento humano, simplesmente não existe. Parte-se do princípio de que se deve "provar", através da razão, se tal coisa ou objeto existe ou não. A esse racionalismo segue-se o empirismo, que resumidamente advoga para si o único poder de guiar seguramente o homem ao conhecimento. Como não é possível provar experiencialmente a existência de Deus, sendo ele quem é, segue-se que ele não existe. Há uma frase célebre de Descartes, um filósofo francês, que disse: "Penso, logo, existo!". Mas ela falha preliminarmente ao não considerar que o Sol existe a despeito de eu pensar ou não. De que outras pessoas existem, também a despeito de eu pensar ou não. E que o mundo continuará existindo, mesmo que eu esteja morto e não pense mais [seguindo o padrão ateísta de que não há vida depois da morte]. Esses são os ateístas clássicos, possíveis de se encontrar em vários círculos, mesmo cristãos, e o perigo está em se retirar toda a sobrenaturalidade da existência, como se tudo fosse algo meramente natural e possível de ser explicado naturalmente.

Ouve-se muito, em discussões entre teístas e ateístas, estes dizerem que as coisas que o homem ainda não conseguiu explicar serão conhecidas um dia, bastando para isso que se decorra o tempo e o homem continue a sua evolução intelectual e científica. Para eles, tudo é sempre uma questão de tempo, principalmente para que toda a vida e o universo sejam desvendados e conhecidos. Temos aqui um "endeusamento" do homem, que em algum estágio da sua suposta evolução deterá o conhecimento total tornando-se em um "deus". Mas esse pensamento é falacioso pois, como vimos, a razão é um elemento da humanidade, portanto, finita, falha, imprecisa, e como poderia explicar um universo infinito e complexo? É a presunção e arrogância novamente se travestindo de sabedoria e superioridade, quando prova exatamente o contrário, torna o seu proponente em tolo e inferior em todos os sentidos, pois sua visão estará contaminada pela tolice e pretensão.

Mas o objetivo central desta aula não é discutir um ateísmo teórico, filosófico. Reconhecemos que esses homens têm em si o "Imago Dei" e o "Sensus Divinitatis", mas em sua rebelião deliberada, num desejo de exaltar a si mesmo e criar um ídolo à sua imagem e semelhança, rejeitaram o conhecimento de Deus que há neles, como Paulo nos diz em Romanos 1, e que pudemos abordar na aula passada. Quero falar é do ateísta prático, aquele que, mesmo não negando a Deus verbalmente o nega em seu coração. Pois, vou-lhes dizer irmãos, nesse sentido, todos fomos ateus. Surpresos? Leiamos o que Paulo tem a nos dizer: "Que naquele tempo estáveis sem Cristo, separados da comunidade de Israel, e estranhos às alianças da promessa, não tendo esperança, e sem Deus no mundo" [Ef 2.12].

No verso anterior, o apóstolo diz que os efésios eram, em outro tempo, gentios na carne, ou seja, em dado momento de nossas vidas, antes da conversão, do chamado de Deus para vivermos a glória da regeneração em Cristo, éramos ateus, pois vivíamos sem Deus. Lembram-se que a palavra ateu quer dizer "sem Deus"? Pois bem, todos nós, sem exceção, ainda que tendo o conhecimento inato de Deus, o qual o próprio Deus colocou em nosso coração, vivemos sem ele, até que sejamos por ele transformados. De criaturas em filhos. Pois há a falsa ideia de que todos os homens, sem exceção, são filhos de Deus. Mas não é o que a Bíblia nos diz: "[Cristo] veio para o que era seu, e os seus não o receberam. Mas, a todos quantos o receberam, deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus, aos que crêem no seu nome; os quais não nasceram do sangue, nem da vontade da carne, nem da vontade do homem, mas de Deus" [Jo 1.11-13]. Portanto, apenas aquele que crê, e para crer tem de ser pela vontade divina não pela vontade do homem ou da carne, é filho de Deus. As demais pessoas são criaturas, não têm vínculo filial com ele.

Paulo se refere aos efésios e, por tabela, a todos nós que vivíamos segundo a carne e pela carne, como ateus práticos. Eles não negavam a existência de Deus, pelo contrário, eles cultuavam outros deuses. E, muitos, diziam servir a Deus, amá-lo, honrá-lo. Porém, suas vidas revelavam o contrário. Ao darem vazão aos seus instintos e intentos carnais eles negavam a Deus ignorando-o, fazendo exatamente tudo o que lhe afrontava, pervertendo os seus caminhos, afastando-se de todo o seu conhecimento, desobedecendo-o e rejeitando os seus preceitos.  Eles, como nós, viviam para satisfazer os seus prazeres e desejos, na forma do pecado, e assim seus discursos eram aparentemente piedosos, reverentes, mas em seus corações e em suas vidas havia apenas a descrença em Deus: "Confessam que conhecem a Deus, mas negam-no com as obras, sendo abomináveis, e desobedientes, e reprovados para toa a boa obra" [Tt 1.16], resume o apóstolo.

O fato de usarem o nome de Deus não os faz dignos dele; pois o Deus que diziam servir e adorar nada tinha a ver com o Deus vivo e verdadeiro, o Deus bíblico. E é aqui que o problema tem contornos ainda mais dramáticos; pois eles, como nós, criavam a ilusão de estar servindo a Deus, de cultuá-lo, de se colocar a seu serviço, quando não queríam nada com ele. Elegeram um Deus "postiço", um substituto, e o fizeram objeto de adoração. É o que Paulo diz aos atenienses: "Porque, passando eu e vendo os vossos santuários, achei também um altar em que estava escrito: AO DEUS DESCONHECIDO. Esse, pois que vós honrais, não o conhecendo, é o que eu vos anuncio" [At 17.23]. A partir daquele momento, Paulo lhes apresentou o Deus vivo, o único Deus, o qual não substituiria todo o panteão de divindades gregas dos atenienses, mas as destruiria, porque Ele, como criador de todas as coisas, e quem dá a todos a vida, e a respiração, e todas as coisas [v. 24-25], "não tendo em conta os tempos da ignorância, anuncia agora a todos os homens, e em todo o lugar, que se arrependam" [v.30]. E, arrependam-se de que? Ora, de ignorá-lo como único Deus, e fazerem para si deuses de várias formas, e assim manterem enraizadas em seus corações a depravação e a rebelião contra ele.
  
Quando ouço coisas do tipo: "Não leio a Bíblia, mas eu sirvo a Deus", pergunto para a pessoa: Mas a qual Deus? Elas, na maioria das vezes, dizem servir a um Deus que não podem identificar, um Deus indeterminado, impessoal. Ele estaria mais para uma entidade abstrata e imprecisa, e, como servir e adorar o que não se conhece ou pode conhecer? Então, normalmente dizem: "Esta é a minha fé, e Deus a aceita como ela é!". Nisso há alguma razão. Ele tem uma fé que não é sobrenatural, que não provém de Deus, mas uma fé humana, claudicante, frágil e enganosa. Uma fé gerada em seu próprio coração iníquo. E que o lança ainda mais na ilusão ao afirmar que Deus a aceita como ela é, mas como sabê-lo? Deus falou diretamente com ele? Ou não passa de uma suposição, um pensamento derivado da sua necessidade de manter-se distante e protegido da verdade?

Todos fomos assim um dia; ateus práticos, que não dizíamos negar a Deus, mas o negávamos diariamente mantendo-nos ignorantes quanto a ele, mantendo-nos distantes dele, presumindo que os nossos conceitos e opiniões pudessem ser superiores à Revelação escriturística, de forma que ela fosse dispensável. De forma que tanto a moral que tínhamos, como a ética, como o julgamento, eram claramente uma indisposição, uma má vontade contra ele.

Qualquer um que diga conhecer e servir a Deus fora dos padrões estabelecidos pelo próprio Deus é um ateu prático. Certamente ele não professará a fé ateísta, mas se manterá como um ateu secreto. Por isso, tanto o ateu militante e teórico, como o ateu não-militante e secreto, necessitam desesperadamente da redenção, a redenção da mente, da alma, do espírito, somente possível através de Cristo, o único mediador entre o homem e Deus. Se Cristo não estiver ali, unindo as duas partes, elas permanecerão distantes, irreconciliáveis. Ele que "é a imagem do Deus invisível" [Cl 1.15], pelo seu sangue derramado na cruz trouxe-nos a sua paz; a nós que éramos inimigos no entendimento pelas nossas obras más, agora nos reconciliou, nos apresentando santos, e irrepreensíveis, e inculpáveis [Cl 1.20-22]. Por isso, o mundo labuta tanto contra Cristo, e há uma obra em progressão que faz as pessoas terem a ideia de que se é possível apresentar-se dignamente diante de Deus por si mesmos, sem a intermediação do Redentor. As pessoas concentram suas forças no mérito pessoal, na capacidade que consideram ter de, em si mesmo e por si mesmos, achegarem-se a Deus. Também é visível que o homem cria cada vez mais um Deus impessoal, um Deus genérico, capaz de reconhecer em cada indivíduo o seu esforço ou até mesmo esforço algum, numa contradição somente possível aos homens, naufragando em sua própria estupidez. Um Deus assim seria um Deus despropositado, senil, autista e esquizofrênico. Capaz de reconhecer tudo e nada ao mesmo tempo, verdade e mentira, realidade e ilusão, santidade e corrupção, de maneira que ele seria um Deus sem pessoalidade, indefinível. Esse é o desprezo máximo a Deus, saber que ele existe, mas viver sem Deus no mundo, como um ateu.

Nota: [1] Para baixar o áudio para o seu computador ou dispositivo móvel clique em Aula 11.MP3
[2] Aula da E.D.B. em 04/12/2011
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