Página de doutrina Batista Calvinista. Cremos na inspiração divina, na inerrância e infalibilidade das Escrituras Sagradas; e de que Deus se manifestou em plenitude no seu Filho Amado Jesus Cristo, nosso Senhor e Salvador, o qual é a Segunda Pessoa da Triunidade Santa

terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

Estudo sobre a Confissão de Fé Batista de 1689 - Aula 15: Os Nomes de Deus - Parte 2


 







Por Jorge Fernandes Isah

 


OS NOMES DE DEUS NO NOVO-TESTAMENTO

THEÓS
Esta é a palavra grega que designa o nome deus, de uma forma genérica, podendo referir-se ao Deus bíblico como aos deuses pagãos. Ainda podendo se  referir a toda pessoa que detém algum tipo de autoridade. Como o Senhor nos diz em João 10.34, referindo-se ao Salmo 82.6, em que Deus chama a "deuses" os juízes de Israel, aqueles que foram escolhidos para julgar retamente, mas o faziam injustamente, por isso, Deus os repreende.

Esta palavra abrange os designativos de Deus do Antigo Testamento, porém, faz-se necessário uni-la a outras palavras para definir corretamente o sentido que os autores do Novo Testamento quiseram atribuir ao termo, ou seja, ela sempre terá de estar acompanhada de uma outra palavra que a qualifique. Mas ela sempre trará em si as atribuições que os nomes do Antigo Testamento davam a Deus, no sentido em que foram escritas, como Todo-Poderoso, Governador e Redentor.

KYRIOS
Este título é atribuído a Deus no Antigo Testamento e significa "Senhor". É um título que Théos recebe, qualificando-o; de forma que ele se relaciona com os nomes Adon e Yahweh do Antigo Testamento, indicando que Deus é governador, possuidor de todas as coisas, cujo poder é inigualável, mas também é aquele que promete a redenção ao seu povo, o salvador.

Kyrios é o título tanto do Pai como do Filho, como do Espírito Santo. Interessa-me, porém, estudá-lo, especificamente, em relação ao Filho. Em Filipenses 2, lemos que Deus exaltou a Cristo dando-lhe um nome acima de todos os nomes. Ao cumprir fielmente a obra pela qual foi enviado ao mundo, a morte na cruz para remir, e dar a vida eterna àqueles que o Pai lhe deu [Jo 17.2] e que foram predestinados antes da fundação do mundo [Ef 1.4-5]. Ressurreto, Paulo nos diz que diante dele todos os joelhos se dobrarão e todas as línguas proclamarão que Jesus Cristo é o Kyrios. Este é, certamente, o nome que está acima de todos os nomes, apresentando o senhorio universal e inquestionável de Cristo, diante do qual todos estão sujeitos. Com isso, não estou a dizer que Cristo irá reinar, mas que ele já reina, não apenas nos salvos, mas em todas as esferas do universo físico e espiritual.

O mais fantástico é que bastaria apenas a análise deste nome para se ter a certeza de que Cristo tem a mesma essência e natureza divinas que o Pai e o Espírito Santo têm. Diante da afirmação de que Cristo é o Kyrios, nenhum homem poderia reconhecer a falsa doutrina unitarista. Mas como aprouve a Deus destruir a sabedoria dos sábios e aniquilar a inteligência dos inteligentes [1Co 1.19], há muitos grupos religiosos que se autodenominam "cristãos" mas  que não reconhecem que o Filho é "a imagem do Deus invisível", em quem toda a plenitude habita [Cl 1.15,19].

Sendo a Bíblia a palavra de Deus, a verdade proclamada pelo próprio Deus, não há porque não crer no que ela expressa claramente. E o que ela nos diz a respeito de Jesus é que ele é um com o Pai, "o resplendor da sua glória, e a expressa imagem da sua pessoa" [Hb 1.3].

Então, há grupos, entre nós, que acreditam possível crer em Cristo como Redentor mas não crer que ele seja Senhor. Infelizmente eles estão mais preocupados com o que poderá acontecer-lhes no futuro, do que com suas vidas presentes. Há muitos que afirmam não ser necessário nenhum tipo de regeneração, de santificação, pois a salvação é exclusivamente pela graça. Acontece que o sentido de graça por eles defendida é distorcido, implicando na negação de uma série de textos que afirmam ser necessário nascer de novo, ter a mente de Cristo, estar em um constante processo de santificação, a fim de se tornar a imagem e semelhança do nosso Senhor. 

Sem Cristo, como Senhor, é impossível se falar em graça e redenção. Não podemos compartilhá-lo e escolher apenas um dos seus aspectos. Afinal, não somos nós que o escolhemos, mas ele é quem nos escolheu. Portanto, se não o temos como Senhor de nossas vidas, também não o temos como Redentor. Não há como seccioná-lo; Cristo é uno em si e na união com a Trindade. Sem tê-lo não se tem nada. Se não se é servo, também não se é salvo. Quando se tenta anular um único ponto de sua essência e obra, não há graça nem perdão divinos, mas apenas uma fé morta em si mesma, como Tiago inspiradamente definiu [Tg 2.17].

O título Kyrios vem derrubar tanto a tese dos unitaristas como dos adeptos do não-senhorio de Cristo, pois ele reina sobre tudo e todos; pior para quem não reconhece o seu poder, glória, majestade e divindade, pois esses são súditos rebeldes, que não querem servi-lo, os quais estão destinados à condenação e ao fogo eternos. Ao contrário de nós, que fomos feitos servos e reconhecemo-nos como tais, dispostos a honrar e servir ainda que inutilmente ao nosso Senhor.

PATER
Outro título de Deus, e que nos foi dado conhecer por Cristo, é o de Pai. Ainda que Deus seja chamado de Pai da nação de Israel no Antigo Testamento, apenas através de Cristo pudemos nos reconhecer como filhos adotivos, de que temos um Pai. No Salmos 103.13, o salmista usa a analogia do pai que se compadece dos seus filhos para indicar que Deus se compadece dos que o temem. Não há uma alusão direta sobre a nossa paternidade, pois muitas vezes ela nos é transmitida por outros homens, como Abraão, Isaque e Jacó, que são os patriarcas, os quais são chamados de "pai" de muitos, de incontáveis indivíduos, aos quais Deus constituiria o seu povo.

Apenas no Novo Testamento, através do relacionamento do Pai com o Filho, é que tomamos o real conhecimento e entendimento da nossa filiação a Deus; não por nossos méritos ou por nossa vontade, mas pela vontade de Deus que nos constituiu filhos pelo seu poder e graça, por intermédio de Cristo [Jo 1.12-13].

E, maravilhosamente, este foi o desejo do Senhor Jesus que nos ensinou a chamar o Seu Pai de Pai, fazendo-nos também filhos como ele é. No Sermão do Monte somos exortados a orar assim: "Pai nosso...". Bendito o Filho que nos deu o Pai, e bendito o Pai que nos deu o Filho, e assim, formemos uma família baseada na relação eterna que eles têm entre si; e pela qual saímos da escravidão, do jugo do pecado, para sermos feitos filhos por adoção, e podermos clamar: "Aba Pai". Paulo utilizou essa expressão em Gálatas 4.6, juntando o nome grego Páter à palavra aramaica Abba [ambas têm o mesmo sentido de "pai", o que traduzindo seria "pai querido ou papai"] dando a ideia terna de proximidade entre o pai e seus filhos, de que participamos também  das coisas que o Pai reservou para o Seu Filho, Cristo, pelo qual somos herdeiros.

Reconhecer que Deus é Todo-Poderoso, Altíssimo, Soberano, Senhor, Governador, é fundamental, pois eles nos remetem aos atributos de Deus, à forma como ele se fez conhecer através da revelação especial. Mas, reconhecer que somos filhos, quando não há nada em nós que nos possa levar a sê-lo, apenas a graça, misericórdia e amor infinitos e eternos de Deus para com nós,  deve nos encher de uma alegria também infinita e eterna; na certeza de que não há nada que nos possa fazer conhecê-lo mais intimamente do que a sua condição de Pai. De forma que reconheceremos tudo o que ele nos deu, e propiciou-nos ter, pelo amor com que nos amou e que excede todo o entendimento. Sejamos gratos, tendo em nós os mesmos sentimentos de Cristo [Fp 2.5], para que ele esteja em nós, assim como o amor com que é amado pelo Pai também esteja em nós [Jo 17.25-26]. E assim, através do Filho Amado, sejamos um com Deus, o Pai.

Nota: [1] Aula realizada na E.B.D. em 15.01.2012;
[2] Baixe esta aula em Aula 15.MP3;
[3] Por favor, se houver algum erro na inscrição em grego e latim no topo desta postagem, avise-me.

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