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sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014
Estudo sobre a Confissão de Fé Batista de 1689 - Aula 60 - Dons apostólicos: Cura
Por Jorge Fernandes Isah
A
primeira coisa a dizer é que cremos no
poder de Deus de curar, ao contrário do que alguns afirmam. Contudo não
cremos mais que Deus o faça pelas
mãos de homens ou mesmo pelos objetos que eles usavam. A Bíblia nos
informa que a sombra de Pedro curava as pessoas [At 5.12-16]. Ele não
orava nem as tocava, mas apenas o passar da sombra pelos enfermos
curava-os. Igualmente as roupas de Paulo eram instrumentos de Deus para
a cura dos doentes [At 19.11-12]. Mas isso poderia acontecer hoje?
Podemos afirmar que não, porque essas maravilhas eram realizadas pelos
apóstolos como confirmação de que a mensagem de boas-novas, o Evangelho
de Cristo, provinha de Deus. E somente os apóstolos podiam transferir
esses dons a outros irmãos da igreja, como já vimos em outra aula.
Ninguém mais! Portanto, com o fim da era apostólica, esses dons
cessaram, pois já não podiam mais serem transmitidos; não havendo
nenhuma outra forma de sucessão apostólica além da autoridade que os
próprios apóstolos possuíam. O dom de transmitir tal poder pertencia a
eles, e somente a eles.
Então,
é preciso entender que o dom de cura tinha um caráter
revelacional e estava diretamente ligado à testificar e ministrar o
Evangelho de Cristo. Não tinha por objetivo apenas curar o enfermo, como
vemos hoje nas "campanhas de cura", onde o Evangelho não é pregado,
Cristo não é pregado, não há arrependimento, conversão, mas apenas uma
proposta de cura do corpo enquanto a alma está moribunda e o espírito
agonizante. Nada disso tem a ver com o dom dado à igreja primitiva. A
cura, assim como os milagres, tinham o propósito de revelar Cristo e sua
obra através da pregação do Evangelho, e de que ele provinha de Deus;
igualmente testificava que os apóstolos e discípulos não proclamavam
nenhuma mensagem meramente humana, mas eram porta-vozes do próprio Deus.
Não pensem também que a igreja era um pronto-atendimento, como muitas
igrejas defendem e tentam copiar, porém copiam um padrão que não é
eclesiástico nem neotestamentário. A cura servia a uma finalidade, como
já dissemos, e nem todos eram curados, e muitos não foram, como a
própria escritura informa, porque era específico, restrito a certas
situações. Os dons não eram como varinhas-de-condão, bastando
acioná-las que automaticamente entrariam em ação e proporcionariam os
efeitos desejados. Como exemplo, há o caso de Epafrodito, o qual é
citado por
Paulo como alguém que quase morreu, pois estava muito doente. A ordem
sequencial, em Filipenses 2:25-27, é:
esteve muito doente, e quase morreu, indicando que o seu estado de saúde
agravou-se no decorrer da enfermidade. Deus o curou, e o apóstolos se
alegrou de Deus tê-lo feito, mas não há nenhuma indicação de que foi por
intermédio do apóstolo que o Senhor o fez. Ao ponto de Paulo dizer que
Deus
teve misericórdia do seu companheiro de lutas e cooperador mas também
de si mesmo, poupando-o de sofrer tristeza sobre tristeza, com a
possibilidade da morte do amigo e irmão. Se Paulo dispunha do dom no
momento e hora em que quisesse usá-lo, por que não o fez? Ou não
dependia simplesmente dele acioná-lo? Era necessário cumprir um
propósito previamente estabelecido e comunicado por Deus? O que nos
mostra que os apóstolos não eram super-homens, nem homens independentes,
mas homens comuns poderosamente usado pelo Senhor, sujeitando-se à sua
vontade e dependentes dela.
Fica claro que Paulo, se ainda tivesse esse dom ou pudesse
usá-lo a seu bel-prazer, não se furtaria a curar Epafrodito, um colaborador tão amado. Logo o dom
de cura não era algo automático e infalível, e que se podia dispor dele
quando bem o quisesse. Ele também diz que deixou Trófimo doente em
Mileto, ao despedir-se de Timóteo [2Tm 4.20], e sugeriu ao próprio
Timóteo que tomasse um pouco de vinho por conta das frequentes dores no
estômago e outras enfermidades [1Tm 5.23].
O
próprio fato de Paulo referir-se a um "espinho na carne", que
bem podia ser uma doença usada por satanás para esbofeteá-lo [2Co
12.5-10], e ainda de um certo problema de visão que o acometeu
durante bastante tempo, quando primeiro anunciou o evangelho aos
gálatas,
estando em fraqueza da carne [Gl 4.12-15], corrobora o fato de que ele
não podia curar-se a si mesmo, utilizando-se do dom de cura em benefício
próprio. Isso pode deixar muitos crentes atônitos: mas, para que o dom
de cura se não posso curar a mim mesmo? E eu diria que, mais do que
satisfazer aos nossos desejos pessoais Deus tem um plano maior, que é a
sua glória, e, muitas vezes, não está nesse plano que um crente seja
curado, que não sofra um acidente, que não seja perseguido, perca os
seus bens e família, torturado ou morto [como Lutero proclama no hino
323, do Cantor Cristão, "Castelo Forte":
Sim, que a palavra ficará,
Sabemos com certeza,
E nada nos assustará,
Com Cristo por defesa.
Se temos de perder,
Os filhos,bens,mulher,
Embora a vida vá,
Por nós Jesus está,
E dar-nos-á seu Reino.].
Sim, que a palavra ficará,
Sabemos com certeza,
E nada nos assustará,
Com Cristo por defesa.
Se temos de perder,
Os filhos,bens,mulher,
Embora a vida vá,
Por nós Jesus está,
E dar-nos-á seu Reino.].
Portanto,
a nossa conclusão é de que o dom de cura era
especialmente ministrado em momentos específicos, e de forma bastante
restritiva, no sentido de não ser um acontecimento trivial e
corriqueiro, como muitos hoje querem fazer parecer. Ao se afirmar que o
problema é de fé, a glória da cura passa a ser do homem, sem o qual não
haveria o dom. Mas sabemos que Deus é sempre glorificado, e ninguém pode
tirá-la. É algo que os cristãos devem pensar: há uma divisão de ações
entre Deus e os homens, no sentido de que algo que o Senhor quer fazer
não acontecerá porque impedimos?... Especialmente aos calvinistas
gostaria de deixar essa reflexão. E, se Deus divide conosco a decisão da
cura, no sentido exposto acima, de que se não quisermos a sua vontade
decairá, mas se desejamos e a cura acontece, a glória não deve ser
dividida com o homem? Não é talvez por isso que muitos são exaltados
quase à altura de Deus? Porque quem assim o faz reconhece nesse homem um
poder e uma decisão de semideus? E vou mais além: não há um espírito de
falsa-modéstia, de dissimulação [consciente ou não] quando não
assumimos isso e dizemos, da boca para fora, "não, a glória é somente de
Deus"?
Por estes e vários outros motivos, mas especialmente pelo testemunho da palavra de Deus, não nos curvamos ao modernismo e ao imediatismo de aceitar os dons apostólicos como contemporâneos. Certamente eles veem mais para cegar ou manter cegos os ímpios do que para iluminar os salvos.
Notas: 1) Aula ministrada na E.B.D. do Tabernáculo Batista Bíblico;
Por estes e vários outros motivos, mas especialmente pelo testemunho da palavra de Deus, não nos curvamos ao modernismo e ao imediatismo de aceitar os dons apostólicos como contemporâneos. Certamente eles veem mais para cegar ou manter cegos os ímpios do que para iluminar os salvos.
Notas: 1) Aula ministrada na E.B.D. do Tabernáculo Batista Bíblico;
2)
Uma análise mais profunda está disponível no áudio desta aula, onde são
abordadas questões e passagens bíblicas não examinadas no texto, como
Mt 9:18-26, 15:29-31 e Atos 3:1-10, inclusive a ligação de Israel e os
judeus com a incredulidade em Cristo;
3) Baixe está aula emAula 76 - Dons V.MP3
domingo, 9 de fevereiro de 2014
Estudo sobre a Confissão de Fé Batista de 1689 - Aula 59 - Dons Apostólicos: Fé
Por Jorge Fernandes Isah
Entendo que a fé a qual Paulo se refere não é a salvadora ou aquela que Deus nos dá para reconhecermos Cristo como Senhor e Salvador, visto ser dada a uns e não a todos os irmãos.
Mas,
então, a qual fé o apóstolo se refere como um dom especial? Bem,
provavelmente, esta fé está relacionada com milagres e, mais
especificamente, com aquilo que Cristo disse aos seus discípulos:
"Porque a fé que vocês têm é pequena. Eu asseguro que, se vocês tiverem
fé do tamanho de um grão de mostarda, poderão dizer a este monte: 'Vá
daqui para lá', e ele irá. Nada será impossível para vocês" [Mt 17:20].
Se atentarmos para o texto, os discípulos não conseguiram expulsar um
demônio de um menino, o que levou o seu pai a implorar ao Senhor para
que o fizesse, ao que Jesus desabafou: "Ó geração incrédula e perversa,
até quando estarei com vocês? Até quando terei que suportá-los?
Tragam-me o menino" [v.17]. Após ordenar que o demônio saísse do rapaz,
viram os discípulos que o demônio obedeceu imediatamente à ordem do
Senhor, e lhe perguntaram, em particular: "Por que não conseguimos
expulsá-lo?, então, o Senhor apontou o problema: a falta de fé!
Portanto,
tudo indica que esse dom estava diretamente ligado à fé que produzia
milagres; mas, também, a fé produzia um milagre especial, do qual toda a
igreja deveria compartilhar, que é de acreditar no poder divino, de
maneira a não deixá-los entregues à incredulidade, ao desânimo, às
vicissitudes, sabendo que o poder de Deus era maior do que todas as
coisas e, entre elas, a maior que um homem pode almejar é o de
testemunhar a Cristo, o que, convenhamos, diante de um mundo caído e
que odeia a Deus, não é nada muito fácil.
Se
atentarmos para as circunstâncias daquele momento histórico,
perseguições, apedrejamentos, prisões e mortes, simplesmente pelo fato
de professar a fé em Cristo e proclamar as suas boas-novas, havemos de
entender a situação de angústia, sofrimento e dor pelas quais os irmãos
eram provados. Por isso, acredito que havia um dom especial de fé, de
levar à fé outros irmãos, de estimulá-los a crer nas promessas do
Evangelho, na esperança, na qual toda a igreja deveria comungar, nos
momentos emergenciais, de forma que essa fé servia como consolo, mas
igualmente era uma "força motriz" na intercessão junto a Deus por
aqueles que eram afligidos pelos inimigos e que se sentiam "fracos na
fé" [Rm 14.1]. Certamente eram irmãos que, com o dom especial de fé,
auxiliavam e sustentavam os débeis [1Ts 5.14], suportando as suas
fraquezas [Rm 15.1-2].
Esta fé capacita-nos também a colocarmo-nos à serviço de Deus, de honrá-lo e glorificá-lo com nossa vida e atitudes, levando-nos a dar um bom testemunho de Cristo. Há também o fato de que ela produz a esperança e certeza nas promessas que nos foram entregues por Deus, persuadindo-nos de tudo o que ele disse se cumprirá, pois ele é verdadeiro, tornando o que ainda não vemos em certeza, a fim de que a nossa alma caminhe tranquila e confiante na revelação. Não é o que diz Hebreus 11.1-3?
"Ora, a fé é a certeza daquilo que esperamos e a prova das coisas que não vemos. Pois foi por meio dela que os antigos receberam bom testemunho. Pela fé entendemos que o universo foi formado pela palavra de Deus, de modo que aquilo que se vê não foi feito do que é visível".
Outro
ponto importante em relação à fé é que, por ela, Cristo habita em nós,
e ele somente habitará naquele que tem fé, que receberá a plenitude da
graça, ao passo em que Cristo está-se formando nele. Esta é uma
relação de dependência do crente em Cristo, pois tudo é dele e nós
também o somos. E, como o apóstolo Paulo, poderemos dizer, seja agora
ou em breve, "já não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim. A vida
que agora vivo no corpo, vivo-a pela fé no filho de Deus, que me amou e
se entregou por mim" [Gl 2.20].
Notas: 1- Aula realizada na EBD do Tabernáculo Batista Bíblico
2- Ouça e baixe o áudio desta aula em Aula 75 - Dons IV.MP3
Estudo sobre a Confissão de Fé Batista de 1689 - Aula 58 - "Dons apostólicos: Palavra de Sabedoria e Palavra de Ciência"
Jorge Fernandes Isah
1) Palavra de Sabedoria:
O que vem a ser a palavra de sabedoria? Os irmãos sabem?
O que vem a ser a palavra de sabedoria? Os irmãos sabem?
Bem,
entendemos que, naquele tempo, a Bíblia ainda não estava completa,
concluída. Hoje é fácil para nós termos uma palavra sábia, bastando para
isso conhecer, meditar, entender e aplicar a revelação divina, a qual,
em princípio, está a disposição de todos os homens. Mas, e como
acontecia, nos tempos de Paulo? Como a igreja era orientada e guiada no
Evangelho, na vida cristã, se o cânon ainda estava em formação? Do ponto de vista formal e final?
Deus
designou a alguns esse dom, que está diretamente ligado e incluído no
caráter revelacional divino. Havia questões que surgiam e eram novidades
no seio da igreja, e que requeriam o norteamento, uma direção na qual
os irmãos deveriam guiar-se e serem conduzidos. Muitas dessas situações
foram apresentadas nas epístolas, como, por exemplo, o comer ou não a
carne oferecida aos ídolos, ou a circuncisão, se era um fundamento para a nova aliança.
Não podemos esquecer jamais que o manual de fé e vida do crente
encontrava-se incompleto, em formação, e, por isso, era necessário Deus
designar irmãos, no corpo local, que viessem com uma palavra sábia sobre
uma questão confusa ou que suscitasse discussões e dúvidas na igreja;
os princípios pelos quais ela deveria ser guiada ainda não formatados,
por isso a urgência desse dom, a fim de que os problemas fossem
resolvidos e tivessem uma direção que a conduzisse na paz, crescimento e
aperfeiçoamento como o Corpo de Cristo.
Algo
que não se deve negligenciar é o fato de que um dom espiritual tem de
trazer, necessariamente, proveito à igreja, como Paulo afirma no verso
7. Nenhum dom pode ser dado sem que haja um fim proveitoso. Muitos dizem
ter vários dons em nossos dias mas, mesmo assim, não há proveito algum
para a igreja. E, por proveito, entenda-se o aperfeiçoamento, o
crescimento, o amadurecimento, da igreja no conhecimento de Deus e sua
vontade. Não é algo a se exibir e a trazer benefícios para alguns ou,
mesmo que sejam muitos, do ponto de vista econômico ou social. Ainda que
estes campos possam ser atingidos pela Palavra, a meta principal é o
conhecimento de Deus, por meio daquilo que ele nos deu e revelou, e
assim, tornarmo-nos cada dia mais semelhantes a Cristo, e que ele seja
cada vez mais visível através de nós, e não o contrário, que sejamos
mais nós mesmos a exalar um suposto mérito que em nada tem a ver com o
Evangelho. Como João o Batista disse: É preciso que ele cresça [Cristo],
e eu diminua!
Este
é portanto um dom ainda atual, que pode ser ministrado por qualquer
crente, em princípio, pois temos a palavra de Deus completa, terminada,
acabada, não havendo nada a se acrescentar ou tirar, e que é a nossa
fonte de conhecimento, amadurecimento, na qual o Espírito laborará para
que Cristo seja formado dia-a-dia e, ao fim, sejamos semelhantes a ele e
como ele.
2- Palavra de Ciência:
Portanto, como vimos no tópico anterior, os irmãos, daquele período específico, não tinham a Bíblia completa como nós a temos atualmente, de forma que haviam muitas questões na igreja a serem entendidas e compreendidas, mas sem que houve um manual divino para orientá-los na solução dos problemas que surgiam. Certamente, todas as soluções já estavam apontadas no AT, como sombras, mas era necessário clarificá-las, confirmá-las e trazê-las à luz de Cristo, o qual, juntamente com os apóstolos, era o fundamento da fé e, sem o qual, nada poderia ser verdadeiro e divino.
2- Palavra de Ciência:
Primeiramente,
muitos confundem o termo "ciência" com tecnologia ou desenvolvimento
científico ou acadêmico, no caso das ciências políticas, biológicas,
físicas, etc. É importante notar que Paulo não está a falar desses tipos
de ciências, mas de uma ciência que seja o conjunto de conhecimentos
fundados e fundadores da fé cristã. Ele está falando de doutrina, e o
termo ciência, derivado do latim scientia, quer dizer exatamente
conhecimento, saber, instrução ou noção de um determinado assunto. E de
qual assunto Paulo está a tratar? Da alma, pois não está a falar de
matemática, astrofísica ou sistemas políticos.
Portanto, como vimos no tópico anterior, os irmãos, daquele período específico, não tinham a Bíblia completa como nós a temos atualmente, de forma que haviam muitas questões na igreja a serem entendidas e compreendidas, mas sem que houve um manual divino para orientá-los na solução dos problemas que surgiam. Certamente, todas as soluções já estavam apontadas no AT, como sombras, mas era necessário clarificá-las, confirmá-las e trazê-las à luz de Cristo, o qual, juntamente com os apóstolos, era o fundamento da fé e, sem o qual, nada poderia ser verdadeiro e divino.
Por
isso, Deus deu dons a alguns irmãos para que o corpo doutrinário se
concluísse e toda a igreja fosse ensinada, instruída e firmada na
revelação, não parcial mas completa, que agora a igreja dispunha e que
se fazia necessária diante das ameaças e investidas de satanás e seus
súditos, sem a qual a igreja não poderia crescer e ser edificada.
Como
o dom de sabedoria, este dom também está presente nos dias atuais,
bastando para isso que o cristão leia, medite, conheça e aperfeiçoe-se
no conhecimento da doutrina que nos é revelada pelas Sagradas
Escrituras.
2 -Muitos outros pontos e exemplos são abordados no áudio da aula passada e no da próxima aula, os quais se apresentam resumidamente nesta postagem
Estudo sobre a Confissão de Fé Batista de 1689 - Aula 57 - Dons apostólicos: arrogância e soberba espiritual denunciadas por Paulo
Por Jorge Fernandes Isah
Nas aulas anteriores, vimos que os dons espetaculares ou apostólicos ou da segunda-bênção ou miraculosos foram específicos e circunscritos a um determinado momento histórico, o período da Igreja Primitiva, e tinha por objetivo revelar a Pessoa do Senhor Jesus, sua obra, ressurreição e "validar" a mensagem e o ministério apostólico, e, por fim, sancionar o cânon, a Escritura Sagrada, que ainda não estava concluída, do ponto de vista formal.
Analisamos
que a ideia de um "segundo batismo" do Espírito Santo se baseia em um
texto que nada tem a ver com isso, o qual é Mateus 3:11, e que para se
crer em um "batismo de fogo" como os pentecostais e carismáticos estão
convencidos, é preciso fazer-se uma ginástica e tanto, um malabarismo,
forçando e excluindo o contexto dos 10 versos anteriores para se
concluir que João, o Batista, está a falar de outro batismo no Espírito
Santo.
Estudamos
também que eles eram sinais, e os sinais não têm função quando a
realidade se apresenta completamente. Eles são indicativos, que apontam
para uma realidade, mas quando esta se apresenta acabada, plena, não
há necessidade deles. Como disse, na aula passada, fazendo uma
analogia, se vou a primeira vez a um consultório médico me guiarei
pelas placas das ruas e a numeração dos edifícios. Ainda, no prédio, me
guiarei pela sinalização dos andares e salas. Encontrado o
consultório, eles não mais são necessários. Assim são os sinais
espetaculares, eles apontam para Cristo, obra, mensagem e mistério, e,
por fim, para a Bíblia, como palavra infalível, inerrante e divinamente
inspirada de Deus. Eles foram também usados para revelar o novo Pacto,
ou Aliança de Deus, não somente aos judeus, mas aos samaritanos e
gentios, de forma que a mensagem do Evangelho estava, naquele momento,
disponível a todos os homens de todas as nações e não era mais algo
exclusivo do povo de Israel. Logo, esses sinais não são mais
necessários, pois toda a revelação está pronta e acabada e, como
advertência da própria Escritura, aí de quem tirar ou incluir uma
palavra que seja [Ap 22.18-19].
Na
pregação do último domingo, o Pr. Luiz Carlos, dando continuidade ao
estudo do livro de Atos 19:2-7, abordou também a questão dos dons
sobrenaturais, clarificando e trazendo novos elementos para o
entendimento de que esses dons foram restritos àquele período e não
mais são necessários atualmente.
Por
isso, vamos proceder a um estudo dos capítulos 12, 13 e 14 de 1
Coríntios, onde Paulo fala acerca dos dons espirituais. E entenderemos a
motivação que levou o apóstolo a escrever aos Coríntios sobre a
necessidade que eles tinham de compreender, e não manterem-se
ignorantes, quanto à função e ação dos dons na igreja.
Primeiramente,
ele alerta para o desconhecimento, da igreja de Corinto, quanto ao uso
dos dons espirituais. Ao dizer não querer que os irmãos sejam
ignorantes, ele acusou-os de não terem o conhecimento adequado no uso
dos dons, e de que a forma como o faziam não era correta. Já, no início,
Paulo os chama a humildade, revelando que eram gentios, não incluídos
inicialmente no Pacto, e guiados aos ídolos mudos [v.2]. Provavelmente,
eles se sentiam, de alguma maneira, superiores e, talvez, até mesmo
sobre os judeus, por causa dos dons, ou sobre aqueles que não tinham
esses dons, e o apóstolo trata de mostrar-lhes o que eram, como viviam,
e de que agora suas vidas eram outras, transformadas pelo poder de
Cristo e pela mensagem do Evangelho, não podendo então se entregarem ao
pecado da arrogância e superioridade espiritual. Não vejo outro motivo
para Paulo deixar tão clara a condição na qual os coríntios haviam
vivido a maior parte de suas vidas, e de que, agora, chamados ao
Cristianismo, se exaltariam, fazendo-se superiores, por causa dos dons
que Deus lhes entregara e que era para benefício de toda a igreja, e
não para a vaidade e glória pessoais.
Por
isso, ele alerta sobre a necessidade deles compreenderem e entenderem
que "ninguém que fala pelo Espírito de Deus diz: Jesus é anátema, e
ninguém pode dizer que Jesus é o Senhor, senão pelo Espírito Santo"
[v.3]. É possível que eles desprezassem irmãos que reconheciam Cristo
como Senhor, mas não exerciam nenhum dom sobrenatural.
Então,
ele fala da diversidade de dons, em que Deus os distribuiu
generosamente à igreja, contudo, um só era o o Espírito que os
distribuía [v.4]. Paulo está a dizer que nenhum dom é superior ao
outro, no sentido de que um deles é "menos" de Deus que o outro, ou o
outro é "mais" de Deus do que o primeiro. Paulo percebeu uma certa
vaidade nos irmãos que, tal qual acontecera com eles em relação ao
apóstolo, Apolo, Pedro e Jesus, provavelmente se vangloriavam do dom que
tinham, desprezando o dom alheio. Assim, aquele que falava em línguas
se considerava maior, mais espiritual, e o que falava duas ou três
línguas se considerava ainda maior e mais espiritual. O que Paulo está
dizendo à igreja é que todos os dons são iguais, desde que para a
edificação da igreja, e todos procedem do mesmo Deus; de forma que
aquele que não tem um dom espetacular, por exemplo, falar em línguas ou
profetizar, é também movido pelo Espírito, o qual o usa como e quando
quer, operando tudo em todos, de forma que a manifestação é dada a cada
um, para o que for útil [v.4-7].
Um
parênteses: a forma de que Paulo se utiliza nos versos 4-6, falando
que o Espírito é o mesmo, O Senhor é o mesmo, e Deus opera tudo em
todos, dá a medida de unidade e diversidade, tanto na Trindade, como no
Corpo de Cristo. De forma que temos personalidades distintas, o
Espírito Santo, Cristo e o Pai mas que são um. Assim também é a igreja,
onde há muitos membros, e muitos dons distribuídos a esses membros, mas
um só corpo. E a esta unidade diversa, ou diversidade unitária, que
muitas vezes é tão enigmática, de difícil compreensão, que não devemos
esquecer, e lembrarmo-nos de que sem a cabeça, Cristo, o corpo não
sobreviveria; estamos unidos a ele, e é por ele que se manifesta cada um
dos membros, segundo o poder divino de operar.
Muitos
contemporâneos alegam que não crer nos dons sobrenaturais é o mesmo
que limitar a Deus, e Deus não pode ser aprisionado. É verdade, mas
lembremos que Deus é imutável, mas a imutabilidade divina não quer
dizer que ele está estático, imóvel; pelo contrário, Deus está agindo
neste momento em cada uma das menores partículas existentes no Cosmos,
pois sem a sua ação, nem mesmo essas partículas, muitas invisíveis e
desconhecidas ao homem, sobreviveria. Portanto, Deus é um agente ativo
em toda a sua obra, contudo, penso que devolver a pergunta ao
inquiridor o deixaria também em situação desconfortável, pois, o fato
de confundir imutabilidade com inoperância, não pode significar que ao
não "remover" certos fatos e acontecimentos como as pragas do Egito
operadas através de Moisés, o milagre de multiplicar azeite e pão
através de Elias, o Sol parar e o abrir do Jordão através de Eliseu,
fatos que não mais aconteceram e que não se mantiveram nos dias
atuais, não seria o mesmo que engessá-lo? Ou seja, por que Deus não
opera mais milagres e feitos como esses? Estaríamos acusando-o de
estaticidade? E, se esses milagres não persistiram, no decorrer da
história, por que os feitos dos apóstolos persistiriam? A resposta é
simples, Deus tem um propósito para todas as coisas, e cada uma delas
acontecerá dentro do propósito divino. A continuidade dos dons
sobrenaturais após o séc. I é algo que não tem propósito, pois o poder
de Deus se manifesta de maneira diferente, através da proclamação do
Evangelho de Cristo pela igreja, pela reverência e obediência à sua
santa palavra. Os mesmos motivos que justificariam, ao ver dos
pentecostais e carismáticos, a atualidade dos dons apostólicos, têm de
ser também para corroborar que o Sol pare, o Mar Vermelho se abra, e a
água seja transformada em vinho. Do contrário, ambos não concorrem para o
fim desejado, e são improcedentes.
Continuando, Paulo descreve os dons dados à igreja pelo Espírito Santo:
1) Palavra de Sabedoria;
2) Palavra de Ciência;
3) Fé;
4) Dons de cura;
5) Operação de maravilhas;
6) Profecia;
7) Discernir espíritos;
8) Variedade de línguas;
9) Interpretação de línguas.
Há ainda outras duas listas formuladas pelo apóstolo que são:
- Em Romanos 12:6-8:
- Em Romanos 12:6-8:
1) Profecia;
2) Ministério;
3) Ensino;
4) Exortação;
5) Repartir;
6) Presidir;
7) Misericórdia.
- Em Efésios 4:11:
1) Apóstolos;
2) Profetas;
3) Evangelistas;
4) Pastores
5) Doutores
Nestas
listas, temos dons miraculosos ou extraordinários e dons que não são
miraculosos ou ordinários. Elas têm o objetivo de mostrar que a lista de
1Coríntios não é a definitiva mas ilustrativa, sendo, ao meu ver, uma
relação necessária e especifica para que os coríntios compreendessem
que Deus age de muitas formas, e de que apenas uma forma, como eles
supunham, não trazia a compreensão necessária acerca de como Deus se
manifestava.
Portanto, entendamos o que sejam esses dons, mais detidamente, a partir da próxima aula.
Notas: 1- Aula realizada na EBD do Tabernáculo Batista Bíblico
2 - Para entender mais sobre o assunto, ouça e baixe o áudio em Aula 74 - Dons III.MP3
domingo, 2 de fevereiro de 2014
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