Página de doutrina Batista Calvinista. Cremos na inspiração divina, na inerrância e infalibilidade das Escrituras Sagradas; e de que Deus se manifestou em plenitude no seu Filho Amado Jesus Cristo, nosso Senhor e Salvador, o qual é a Segunda Pessoa da Triunidade Santa

terça-feira, 30 de julho de 2019

Sermão em Lucas 1.11-13: Aquele que fez o ouvido não ouvirá?





Jorge F. Isah






1) Sabemos que o Senhor ouve orações. 

- Há vários relatos bíblicos mostrando o clamor dos servos ao Senhor, e a sua resposta atendendo-as. 

- O Salmos 94.9 diz: “Aquele que fez o ouvido não ouvirá?”

- Sim, é claro que o Senhor ouve!


2) Como ilustração, citarei alguns exemplos similares ao de Zacarias e Isabel, sobre promessas cumpridas. Leiam os textos indicados!

- Abrão e Sara, em Gênesis 18:9-14

- Isaque e Rebecca, em Gênesis 25:20-21

- Ana, em 1 Samuel 1:10-11, 17 -20.

- Agora temos o relato de Lucas acerca de Zacarias: Lucas 1:11-13

- Estes homens e mulheres clamaram ao Senhor insistentemente, como os casos de Isaque, Ana e Zacarias. Abraão já estava conformado em deixar os seus bens para um herdeiro nascido em sua casa, seu servo e mordomo Eliezer (Gn 15:2-4) . 

Por que estou fazendo essas comparações e distinções?


3) Existem estudos que apontam para a não insistência na oração. Dizem que devemos pedir a Deus apenas uma vez e confiar que ele ouviu e nos atenderá. Não devemos “molestar” o Senhor com súplicas repetitivas, incomodando-o. 

- Outros apelam para o poder da fé, no sentido em que, se nos investirmos da autoridade de Cristo (que nos é imputada), “determinando” que tal coisa aconteça, e não vacilarmos, todos os nossos pedidos serão atendidos (mesmo aqueles gastos com os nossos prazeres e deleite). 

- Outros mais, se rebelam à menor contrariedade, amaldiçoando e imputando a Deus a não realização do desejo, como se ele fosse um “gênio da lâmpada” e o evangelho “a lâmpada”, que esfregada obriga o gênio a realizar não apenas três, mas todos os desejos “ordenados” (o significado de determinar é o mesmo de ordenar, não somente pôr em ordem, mas instituir, estabelecer, decretar. Esta é uma prerrogativa divina, e jamais as criaturas, ainda que filhos e filhas, possam reconhecer como seu atributo). 

- E existem, ainda aqueles, que sequer creem no que oram, e não acreditam que o Deus pessoal está a ouvi-los. 

- Voltando aos textos sagrados, eles nos mostram a perseverança de alguns quanto ao pedido de oração, em clamar a Deus repetidas vezes pelo mesmo desejo. Mas também da simples disposição divina em atender-lhes, mesmo não pedindo algo específico, como o caso de Abraão.

- Caminhemos mais um pouco...


4) Tiago, por outro lado, nos diz que se pedir sem fé não receberemos o que pedimos (Tg 1.5-8). 

- Seria fé a certeza do que pedir, e de que Deus o atenderá? Ou a fé na certeza de que Deus está ouvindo? E o responderá positiva ou negativamente? Já que, para nós cristãos, o pedido não atendido é também resposta do Senhor para algo que não está em conformidade com a sua soberana vontade.

(Pensamento dobre: uma hora quer uma coisa, outra hora quer outra, não sabe ao certo o que quer ou pedir. Seria isso? Ou as dúvidas quanto o ouvir de Deus ao pedido?)


5) Por mais que se apontem “formas” para uma oração ser atendida, um tipo de oração bíblica, o fato é que Deus não age conforme os ideais e limites impostos pelo homem, mas sem sua infinitude e perfeição e sabedoria segundo o seu santo conselho. 


6) Paulo, por exemplo, pediu três vezes que Deus tirasse o espinho da sua carne. – 2 Co 12.8

- O que disse o Senhor ao apóstolo? “A minha graça basta!”

- O suficiente para trazer paz a Paulo, porque a graça é tudo o que o cristão necessita em sua totalidade. Foi assim com os patriarcas, profetas, apóstolos e cristãos em todos os tempos e lugares. 

- A aflição e inimizade do mundo para com os crentes é muito mais viva e real do que os favores ou benefícios que porventura nos dê. O sofrimento, por amor de Cristo e o evangelho, é a regra entre os cristãos. A exceção seria o reconhecimento e o favor do mundo. 


7) A oração antes de ser uma petição é intimidade com Deus, revelando a nossa dependência e sujeição a ele, e submissão à sua vontade.

- Deus sempre responderá às nossas petições, quer positiva ou negativamente. Atendendo ao pedido ou não, Deus está sempre a nos ouvir, e agirá segundo o seu santo conselho. 

- Ao não nos atender é sinal de que Deus não se compadece de nós? Nos abandonou? Deu-nos as costas? Certamente, não!


8) Vejamos o exemplo de Jó, homem reto e justo, ao ponto de aguçar a ira de Satanás, que pediu a Deus permissão para molestá-lo, de maneira terrível; primeiro tirando-lhe os bens e os servos, depois a casa e os filhos, por fim, a sua saúde. 

- Qual foi a sua resposta? Praguejar, insultar, amaldiçoar a Deus? Não: “Então Jó se levantou e rasgou o seu manto, e raspou a sua cabeça, e prostrou-se em terra e adorou; e disse: Nu saí do útero de minha mãe, e nu retornarei para lá; o Senhor o deu, e o Senhor o tomou. Abençoado seja o nome do Senhor. Em tudo isto Jó não pecou, nem culpou Deus de maneira tola.” ( Jó 1:20-22)

- Mas, o que fez a mulher de Jó? “Aconselhou-o” desgraçadamente: “Então disse a sua mulher a ele: Ainda reténs a tua integridade? Amaldiçoa a Deus, e morre. Mas ele lhe disse: Como costumam falar as mulheres tolas, hás falado tu. Se receberemos o bem da mão de Deus, não receberemos o mal? Em tudo isto não pecou Jó com os seus lábios” (Jó 2:9-10)


9) Lembre-se do que o Senhor disse a Paulo, e que aquietou-o, e deu paz à sua alma: 

“A minha graça lhe basta!”

- Oramos com essa certeza? Ou nos primeiras dificuldades nos sentimos injustiçados, desgraçados, sem graça?


10) Voltando a Lucas 1.18-20, mesmo o anjo aparecendo a Zacarias, ele duvidou e pediu-lhe provas. 

- Mesmo tratando com um incrédulo, Deus atendeu o seu pedido, segundo o conselho do seu Espírito, dando-lhe o filho insistentemente clamado: João o Batista. 


11) Então, que nos resta fazer?

- Fazer escolhas corretas e santas antes de orar, sabendo que o Senhor está ouvindo, confiantes nesta promessa. Depois, devemos orar, crer, esperar, e confiar que, qualquer que seja a decisão de Deus, ela será perfeita, santa e justa, pois contemplaremos a sua vontade. 

- Não duvidemos, portanto, de que ele ouve, nem do seu poder em atender o nosso pedido, mas se não o temos atendido, não saímos a blasfemar ou insultá-lo, porque, como Paulo bem o experimentou, a graça do Senhor é bastante para nós, hoje e sempre! 


Amém!

quarta-feira, 3 de julho de 2019

Sermão em Tito 2.9-10: Autoridade e Submissão





Jorge F. Isah









“9.Exorta os servos a que se sujeitem a seus senhores, e em tudo agradem, não contradizendo,
10. Não defraudando, antes mostrando toda a boa lealdade, para que em tudo sejam ornamento da doutrina de Deus, nosso Salvador.”



INTRODUÇÃO

- A carta se inicia com a identificação de quem a escrevia: Paulo.

- Ele se coloca como servo de Deus, e apóstolo de Jesus Cristo. 

- Servo, em português, deriva do grego “doulos”, que tem origem na raiz “deo” (“atar um laço, prender, atar, prender com cadeias, lançar em cadeias.”). Doulos então significa “escravo, servo, homem de condição servil”, alguém que está em servidão, em completa sujeição a um senhor ou mestre. Esta palavra aparece 125 vezes no N.T. 

- Ao denominar-se servo, Paulo coloca-se na condição de escravo, subserviente, dependente e em permanente sujeição a seu mestre: Cristo.

- Existem dois tipos de servos: 

1- Aqueles que assim estão contra a sua vontade, involuntariamente, pela força. São, por exemplo, no passado, os prisioneiros de guerra ou homens capturados para exercer algum serviço ou atividade, sem direito à liberdade. 

Existem vários relatos, no A.T., em que Israel foi subjugada pelos seus inimigos e levada cativa, presa, como escrava, para servir à nação vitoriosa. Foi assim com os Caldeus, p.ex.

2- Aqueles que se encontram na condição de servos pela própria vontade, sujeitando-se voluntariamente à autoridade de outrem, implicando em obediência, devoção.

Em ambos os casos, o servo estará dominado, subordinado, compelido a fazer a vontade do seu senhor ou mestre. Não é uma condição de querer ou não fazer, mas de ter de fazer o que lhe é ordenado. 

Apenas como curiosidade, a palavra “diácono” deriva de “doulos”, mostrando que a função do diaconato é servir a igreja, como se um escravo fosse. 



ORDENANDO O CAOS

- Paulo lembra a Tito o motivo pelo qual o deixou em Creta: “para colocar em boa ordem as coisas que ainda restam, e de cidade em cidade estabelecesses presbíteros como já te mandei”.

- Tudo leva a crer que a igreja em Creta padecia de organização, diretriz, disciplina. E essas não deveriam ser características de uma igreja, nem de um cristão. 

- Por isso a necessidade de se constituir presbíteros, pessoas mais velhas (não necessariamente idosas, como o sinônimo mais próximo, ancião, parece indicar) e que fossem sábias, prudentes e zelosas da palavra de Deus, a fim de “porem” ordem nas igrejas. O objetivo era o de conduzir a comunidade em uma vida cristã piedosa, fraternal e zelosa no evangelho, de forma a refletir o senhorio de Cristo. 

- Para isso, Paulo elenca a lista das características dos presbíteros, do verso 6 até o 9 (Tito 1). 

- Lembre-se de que o presbítero, o bispo e o pastor são designações de uma mesma função na liderança da igreja. De forma geral, o pastor é, ao mesmo tempo, bispo (supervisor) e presbítero (homem mais velho, experiente). 

- Não é demais lembrar que a própria expressão “Senhor Jesus Cristo” denuncia a nossa condição de servos, de estarmos à sua ordem integralmente. 

- Em seguida, o apóstolo relata os problemas que assolavam a igreja de maneira geral, em particular a de Creta. Os versos em Tt 1.10 -11 falam a respeito: 

“10. Porque há muitos desordenados, faladores, vãos e enganadores, principalmente os da circuncisão,
11. Aos quais convém tapar a boca; homens que transtornam casas inteiras ensinando o que não convém, por torpe ganância”.

- Paulo não mede as palavras ao chama-los de “desordenados, faladores, vãos e enganadores”, pessoas que se diziam crentes mas na verdade eram instrumento inimigo para destruir a igreja, e ele aponta um grupo em especial, os da circuncisão, os judaizantes (esses são cristãos que advogam o cumprimento da lei, especificamente a circuncisão, para a salvação do homem, não bastando o sacrifício de Cristo). 

- Tito é orientado a “tapar a boca” de tais homens, pois o mal que praticavam utilizando-se do discurso, as vezes da própria pregação, para enganarem e defraudarem o evangelho fazia-os reprováveis e reprovados na fé e na piedade. 

- Em 2 Tm 3:1-7, Paulo descreve os homens nos fins dos tempos. Com isso não está a dizer que existiriam apenas no futuro, mas de que o número e proporção deles seriam muito maiores, provavelmente majoritários. De alguma maneira, Paulo, ao alertar Timóteo sobre o que viria, dizia para se cuidar ao seu tempo, pois eles já estavam entre eles, não apenas em uma região, mas se espalhavam por toda a igreja, trazendo caos, apostasia e negando a verdadeira fé: 

“1. Sabe, porém, isto: que nos últimos dias sobrevirão tempos trabalhosos.
2. Porque haverá homens amantes de si mesmos, avarentos, presunçosos, soberbos, blasfemos, desobedientes a pais e mães, ingratos, profanos,
3. Sem afeto natural, irreconciliáveis, caluniadores, intemperantes, cruéis, sem amor para com os bons,
4. Traidores, obstinados, orgulhosos, mais amigos dos deleites do que amigos de Deus,
5. Tendo aparência de piedade, mas negando a eficácia dela. Destes afasta-te.
6. Porque deste número são os que se introduzem pelas casas, e levam cativas mulheres néscias carregadas de pecados, levadas de várias concupiscências;
7. Que aprendem sempre, e nunca podem chegar ao conhecimento da verdade.”

- Voltando a Tito 1:15-16, sentencia: 

“14. Não dando ouvidos às fábulas judaicas, nem aos mandamentos de homens que se desviam da verdade.
15. Todas as coisas são puras para os puros, mas nada é puro para os contaminados e infiéis; antes o seu entendimento e consciência estão contaminados.
16. Confessam que conhecem a Deus, mas negam-no com as obras, sendo abomináveis, e desobedientes, e reprovados para toda a boa obra”.

- São palavras duras proferidas por Paulo. E que, caso fossem ditas hoje, seriam suficientes para acusa-lo de intransigência, obscurantismo, preconceito ou dissensor. A verdade é que não se brinca com o mal, nem o pecado, e a ordem do Senhor é para que a igreja julgue a igreja. 

- Na maior parte do tempo estamos preocupados e ocupados em julgar o mundo ou os de fora, esquecendo-se do nosso papel, de zeladores e cuidadores das coisas do Senhor, não permitindo que a Noiva se perca, enquanto aguarda o Noivo. 

- Em seguida, ele ordena a Tito que oriente os anciãos e anciãs, os jovens e, por fim, um grupo que não é facilmente identificável em nosso século, o dos servos. 



SERVIR COMO CRISTO 

- Vimos que servos e escravos são sinônimos, identificando aquela pessoa que não possui liberdade mas está sob o jugo de outro, um senhor ou mestre. 

- Naquele tempo, o evangelho da graça se espalhava pelo mundo, e em todas as classes sociais, sexo, idade, lugares, a pregação das “Boas-Novas” surtia efeito, dando frutos, sem excluir um tipo pouco conhecido entre nós: os escravos. 

- Muitos se convertiam; mas parece que, após a conversão, eles não agiam mais com o mesmo empenho, dedicação e fidelidade ao seu senhor. 

- Tito, como o pastor encarregado de discipulá-los na fé, é orientado a exortá-los na condução correta de suas vidas e nas relações com os seus senhores: 

“9. Exorta os servos a que se sujeitem a seus senhores, e em tudo agradem, não contradizendo,
10. Não defraudando, antes mostrando toda a boa lealdade, para que em tudo sejam ornamento da doutrina de Deus, nosso Salvador”.

- Imaginem os irmãos, escravos, ouvindo esta admoestação de Paulo ou Tito. Agora imagine-se na condição de escravo ouvindo a mesma exortação. O que você pensaria? Paulo está louco? Ele não fala em nome de Deus? Isso é um absurdo! Um ultraje! A Bíblia não é verdadeira... etc. 

- Ou você, reconhecendo que toda Escritura é a palavra divinamente inspirada, se curvaria e se sujeitaria à repreensão? E conformaria a sua vida ao ensino de Deus?

- Penso que por isso, o pensamento moderno, ou pós-moderno, ou pós-cristão, tenta de todas as formas apagar as palavras de Deus, reputando-as como fantasias, coisas vindas dos homens para oprimir o mais fraco. É necessário eliminar-se Deus e a sua mensagem. Então, o Cristianismo é combatido em todas as frentes, mas existe um interesse especial do Maligno de ser, principalmente, guerreado dentro da igreja. 

- Pois bem, eles faziam isso à época de Paulo, apenas algumas décadas após a crucificação e ressurreição do Senhor Jesus. Imagine então hoje, com os meios de comunicação, com o bombardeio das mídias nos ouvidos e olhos ingênuos ou cobiçando o mal. O estrago é muito maior. Uma heresia ou, como se tem rotulado atualmente, as “fake news” (literalmente “notícias falsas”) podem se espalhar por todo o mundo em questão de horas, talvez minutos. A agilidade do mal e a pressa em aceita-lo é o grande problema atual. E, em especial, da igreja, que peca pelo desconhecimento e arrota, muitas das vezes, a sua ignorância com ares de sabedoria. 

- Certa vez, ouvi uma pregação em que o pastor disse: “Não sei se o problema maior do nosso tempo, e da igreja, é a falta de autoridade ou a falta de submissão” (não me recordo agora quem foi o pregador, assistido em um vídeo no Youtube. Por isso, não tenho como identificar o autor, infelizmente).

- Penso que ambas estão relacionadas. Muitos têm medo de exercer a autoridade, e não o fazem, levando muitos à destruição. Por outro lado, muitos também não querem se submeter e acabam por levar outros consigo, para o mar de incredulidade e destruição. 

- Vou dar um exemplo ouvido esta semana, de como os cristãos estão agindo alheios à Escritura, guiados pelo próprio nariz: 

- Certo irmão me confidenciou que um irmão do diaconato pediu-lhe uma determinada ferramenta para fazer um serviço no seu carro. O outro irmão, também diácono, se prontificou a emprestá-la, desde que ele levasse o carro até a sua casa e fizesse o reparo lá, já que não emprestava as suas ferramentas, pois precisava delas, já que era mecânico e o seu ganha-pão. Ao que o outro irmão replicou: não podia sair de casa por estar com muitos afazeres. O outro então deixou claro de que a ferramenta estava à disposição, desde que ele fosse lá e a usasse lá, em sua oficina. Não houve mais resposta. 

No domingo, antes do culto, o irmão que era mecânico e diácono estava na entrada da igreja recebendo a congregação, quando o outro, acompanhado da esposa, passou por ele sem lhe dirigir a palavra, sem responder à saudação de “bom-dia” e a “paz do Senhor”. Como se ninguém estivesse ali. O primeiro irmão, ficou atônito, desconcertado, e sem entender o porquê daquela atitude. Mas continuou o seu trabalho, recebendo irmãos e visitantes. 

Após o culto, dirigiu-se ao outro diácono, que, fazendo pouco caso dele, negou-lhe novamente a saudação. 

- É esse, infelizmente, o padrão de comunidade, de irmandade na igreja. Qualquer coisinha, qualquer bobagem, qualquer palavra que não afague o ego ou esmerilhe o orgulho, é motivo de rejeição e inimizade. Assim como o Senhor disse que muitos seriam chamados e poucos os escolhidos, fazendo uma analogia, podemos dizer que muitos ouvem a verdade mas apenas em alguns poucos tem morada e frutifica.

- Ignoram o exemplo do Cristo que dizem conhecer. 

Mateus 20:25-28: 

“25. Então Jesus, chamando-os para junto de si, disse: Bem sabeis que pelos príncipes dos gentios são estes dominados, e que os grandes exercem autoridade sobre eles.
26. Não será assim entre vós; mas todo aquele que quiser entre vós fazer-se grande seja vosso serviçal;
27. E, qualquer que entre vós quiser ser o primeiro, seja vosso servo;
28. Bem como o Filho do homem não veio para ser servido, mas para servir, e para dar a sua vida em resgate de muitos”.

- Cristo nos ordena a despojar-nos de qualquer orgulho e vaidade, e a seguir os seus passos, mesmo que signifique perder e jamais ganhar, porque é o desejo do Pai que não nos apeguemos aos bens, muito menos a nós mesmos, mas, negando-nos, sejamos como o seu Filho. E ele nos disse em Lucas 6: 27-38: 

“27. Mas a vós, que isto ouvis, digo: Amai a vossos inimigos, fazei bem aos que vos odeiam;
28. Bendizei os que vos maldizem, e orai pelos que vos caluniam.
29. Ao que te ferir numa face, oferece-lhe também a outra; e ao que te houver tirado a capa, nem a túnica recuses;
30. E dá a qualquer que te pedir; e ao que tomar o que é teu, não lho tornes a pedir.
31. E como vós quereis que os homens vos façam, da mesma maneira lhes fazei vós, também.
32. E se amardes aos que vos amam, que recompensa tereis? Também os pecadores amam aos que os amam.
33. E se fizerdes bem aos que vos fazem bem, que recompensa tereis? Também os pecadores fazem o mesmo.
34. E se emprestardes àqueles de quem esperais tornar a receber, que recompensa tereis? Também os pecadores emprestam aos pecadores, para tornarem a receber outro tanto.
35. Amai, pois, a vossos inimigos, e fazei bem, e emprestai, sem nada esperardes, e será grande o vosso galardão, e sereis filhos do Altíssimo; porque ele é benigno até para com os ingratos e maus.
36. Sede, pois, misericordiosos, como também vosso Pai é misericordioso.
37. Não julgueis, e não sereis julgados; não condeneis, e não sereis condenados; soltai, e soltar-vos-ão.
38. Dai, e ser-vos-á dado; boa medida, recalcada, sacudida e transbordando, vos deitarão no vosso regaço; porque com a mesma medida com que medirdes também vos medirão de novo”.

- O Senhor Jesus poderia ter chamado um exército de anjos para defende-lo do ataque judeu e romano. Poderia facilmente, pelo seu poder, ter revertido aquela situação humilhante, de ser injuriado, torturado, crucificado, ferido à lança e morrer por pessoas como eu e você, indignos de serem expiados e substituídos do flagelo a fim de dar-nos vida. 

- Cristo não mereceu padecer como sofreu; mas a prova do seu amor estava em o justo morrer pelo injusto, o santo pelo pecador, servir quando deveria ser servido. 

- Se foi assim com o Senhor, que não merecia, por que nos consideramos melhores ao não nos sujeitarmos à sua palavra e senhorio? Por que mudamos as regras, afirmando o que ele não disse, para negarmos o que foi dito? 

- Podemos ser considerados servos obedientes ao nos recusarmos a cumprir e exercitar a obediência, não apenas por lábios mas em atos? 

- Não seriámos semelhantes ao segundo filho, da parábola dos dois filhos, descrita em Mateus 21:28-32, que, dizendo ao pai fazer o que lhe foi pedido, não fez?

- Não brincamos de Cristianismo, sendo nós mesmos a piada?




TESTEMUNHO DE FÉ

- Voltando ao texto em Tito, aqueles servos convertidos passaram a contradizer (contrariar, replicar e questionar) os seus senhores, sendo-lhes por oposição. 

- Por isso Paulo, em 1Tm 6.1-2, ordena aos servos: 

“1.TODOS os servos que estão debaixo do jugo estimem a seus senhores dignos de toda honra, para que o nome de Deus e a doutrina não sejam blasfemados.
2. E os que têm senhores crentes não os desprezem, por serem irmãos; antes os sirvam melhor, porque eles, que participam do benefício, são crentes e amados. Isto ensina e exorta.”

- Sei que parece insano ou, no mínimo, sem propósito tocar no assunto mais de 20 séculos depois da carta escrita por Paulo. Contudo, se cremos que as Escrituras são a fidedigna palavra de Deus, e de que ela não perde a sua atualidade, como escrita para todos os crentes em todos os tempos, não podemos escolher a parte dos escritos sagrados que nos interessa e desprezar outros por conveniência. A Bíblia é toda a palavra de Deus, e não há como seccioná-la, fatiá-la segundo os nossos interesses, anseios ou fraquezas. 

- Por isso, não há como alegar uma sujeição simbólica na fala do apóstolo. A sujeição não é fictícia ou algo a acontecer no futuro e não agora. A sujeição é hoje, e com ela vem o trabalho. Não há ociosidade na servidão, não há descanso, nem “corpo-mole”. Há, outrossim, a dedicação, o empenho, a disposição e o zelo no serviço aos seus senhores.

- Na atualidade isso parece loucura. As pessoas estão dispostas a se rebelarem a qualquer tipo de autoridade. A figura de autoridade tem se perdido e o seu sentido diminuído, esvaziado, de maneira que o bom é servir apenas a si mesmo e a mais ninguém. 

- Pais, professores, patrões, governantes e pastores são vistos como inimigos, opressores, tiranos que devem ser desprezados. Existem aqueles que exorbitam da sua autoridade, mas não é a regra, antes é a exceção. Mas a sociedade pós-moderna faz as pessoas acreditarem que não há pais, professores e patrões ou pastores bons, cumpridores do seu dever e que exercem beneficamente a sua autoridade. 

- Todos nós tivemos pais, professores, patrões... Quase todos temos um pastor... É bem provável que nos lembremos deles com carinho e afeição, se não tanto, não os vemos como tiranos e carrascos. Mas mesmo os que foram, deveríamos trata-los com desrespeito, desprezo, zombaria ou arrogância? Nesse caso, o que nos diferencia do ímpio? Não estamos utilizando das mesmas armas anticristãs e negando a eficácia do evangelho?

- Pois bem, voltando a 1Tm 6:1-2, Paulo destaca que o “bom servir”, o “estimar”, o “não desprezar” são características que os servos deveriam ter; por quê? 

”Para que o nome de Deus e a doutrina não sejam blasfemados” (v.1)

- Imaginemos escravos se convertendo ao Cristianismo, naquele tempo, e se insurgindo contra os seus senhores? Sendo desobedientes, insolentes e relapsos? Como os senhores e outras pessoas veriam o evangelho? Já que tornava as pessoas em piores do que eram? 

- Por isso, um filho quando se converte ao evangelho deve ser ainda mais obediente ao pai, para que, sujeitando-se e agindo bem, não dê motivos e lugar para falarem mal do evangelho, e blasfemarem o nome de Deus. Assim um emprego convertido. Um aluno convertido, e por aí afora. 

Verso 2: E os que têm senhores crentes não os desprezem, por serem irmãos; antes os sirvam melhor, porque eles, que participam do benefício, são crentes e amados. Isto ensina e exorta.”

- Não é porque o seu chefe, pai ou professor é cristão que os empregados, filhos e alunos devem ser relapsos e abusarem da irmandade para não cumprirem as suas obrigações. O mesmo que vale para os escravos, à época de Paulo, servem para nós hoje em nossas relações. Não devemos abusar do fato de nos relacionar com irmãos para sermos negligentes, preguiçosos e descuidados. 

- Paulo trata do amor fraternal, da piedade e do perdão, na carta escrita a Filemom, em que um senhor cristão, que era ajudador do evangelho, teve um escravo fugitivo, Onésimo. Este vai ter com Paulo que o exorta a voltar ao seu dono (novamente, algo impensável hoje), conclamando o senhor a recebe-lo com compaixão, tratando-o como a um irmão amado. 

- O problema não é ser servo ou escravo, empregado, filho ou sujeito às autoridades, o problema é como lidamos com a situação: como ímpios, rebeldes e insensatos, ou como filhos de Deus, convertidos, piedosos e amando até mesmo os nossos inimigos?

- A forma como lidamos com o próximo, seja ele quem for, revelará muito do nosso relacionamento com Deus, e o quanto estamos verdadeiramente sujeitos a ele. 



CONCLUSÃO

- O momento em que vivemos parece indicar o estado de apostasia na igreja. Ela tem se preocupado tanto com o mundo, em responde-lo com as armas próprias dele, que se esqueceu do evangelho como instrumento para neutralizar e combater o mal. 

- Com as armas inimigas, seculares, damos prova de que o evangelho não funciona, e de que Deus nos deu uma cartilha inútil. 

- Sei que não é fácil, diante de tanta violência, injustiça e dor mantermo-nos firmes seguindo o caminho traçado por Cristo. Ninguém disse que seria fácil, nem mesmo o Senhor. Aqueles que andaram lado a lado com ele que o digam. Foi preciso muito aprendizado, muita disciplina, muito clamor e oração, para que alcançassem as virtudes próprias de um filho de Deus. 

- Ainda que a criatura tentasse ressurgir das cinzas, o Espírito Santo favorecia-os a permanecerem firmes na fé e na obediência e sujeição a Deus e seu santo conselho, derramando graça sob graça. 

- O Senhor que ensinou, disciplinou e sustentou aqueles homens e tantos outros, no decorrer da história, derrame sua graça infinita sobre nós e nos faça responder às ofensas, injúrias, injustiças não com as armas do mundo, mas com as armas do Espírito. Sobretudo a paz de Cristo, que nos mantém tranquilos e serenos em meio a mais terrível batalha e tribulação. 

- E assim, o glorificaremos, e seremos glorificados também, porque ele, o Senhor das nossas vidas, prometeu!

- Cristo nos abençoe a sermos como ele, humildes e servos da luz, odiando as trevas.



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