Página de doutrina Batista Calvinista. Cremos na inspiração divina, na inerrância e infalibilidade das Escrituras Sagradas; e de que Deus se manifestou em plenitude no seu Filho Amado Jesus Cristo, nosso Senhor e Salvador, o qual é a Segunda Pessoa da Triunidade Santa

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013

Estudo sobre a Confissão de Fé Batista de 1689 - Aula 41: É pecado jurar?



Por Jorge Fernandes Isah



O irmão Bruno fez um questionamento, após a aula passada, ao qual julguei procedente considerar um esclarecimento aqui. Durante a nossa aula, foi dito que o membro da nossa igreja deveria jurar a Deus que aceitaria, cumpriria e defenderia a declaração de fé da igreja. Então, ele me perguntou:

- Mas a Bíblia não diz que o crente não pode jurar? - Certamente se lembrando do Sermão do Monte.

Eu disse-lhe que não, que não há a proibição, mas sem muita convicção, naquele momento. Decidi estudar um pouco, ontem, sobre o assunto e cheguei à conclusão de que a minha resposta estava correta, ainda que proferida sem a base bíblica claramente definida. Portanto, começaremos lendo o trecho de Ex. 20.7, cujo texto é repetido em Dt 5.11: Não tomarás o nome do Senhor teu Deus em vão; porque o Senhor não terá por inocente o que tomar o seu nome em vão”.

Agora leiamos o Sermão do Monte, onde o Senhor Jesus diz: Outrossim, ouvistes que foi dito aos antigos: Não perjurarás, mas cumprirás os teus juramentos ao Senhor. Eu, porém, vos digo que de maneira nenhuma jureis; nem pelo céu, porque é o trono de Deus; Nem pela terra, porque é o escabelo de seus pés; nem por Jerusalém, porque é a cidade do grande Rei; Nem jurarás pela tua cabeça, porque não podes tornar um cabelo branco ou preto. Seja, porém, o vosso falar: Sim, sim; Não, não; porque o que passa disto é de procedência maligna” [Mt 5.33-37, consonante com Tg 5.12].

O que temos aqui? Uma expressa proibição do Senhor para que não juremos? Ele está a ordenar-nos que qualquer jura é pecado ou se refere a um tipo específico de juramento? É o que veremos a seguir. Mas primeiro, definamos o termo, segundo o Michaelis:

Juramento: "1 Ato de jurar. 2 Afirmação ou negação explícita de alguma coisa, tomando a Deus por testemunha ou invocando coisa sagrada". 

Temos, no Antigo Testamento, a afirmação clara de que o homem não deve jurar em vão, ou seja, ele não pode jurar sobre algo que não pode cumprir, e se jurar, deve fazê-lo, certo de que tem de cumpri-lo, do contrário ele profanará o nome de Deus. Veja que o juramente é sempre em nome de Deus, e não em nome de alguma outra coisa. Não podemos jurar em nome de nós mesmos, pois somos inconstantes e seres caídos, sem autoridade. Nem podemos jurar em nome de outro elemento da natureza, seja o céu, a terra, as árvores, etc., porque, ao fazê-lo, colocamos o nosso juramento sobre algo criado, que em si mesmo não é fonte de nenhuma autoridade, e acabamos por invocar implicitamente o nome de Deus, que é a origem de tudo o mais, o criador de todas as coisas, e é por ele que elas vieram a existência e têm a glória e o poder que ele as deu. Ao fazê-lo, acabamos por jurar implicitamente, de uma forma ou de outra, em nome de Deus, que o princípio de todas as coisas e a causa primeira da criação.

O Senhor Jesus ordena que não se jure por nada criado, visto que os judeus, com o decorrer do tempo, usaram o artifício de jurar em nome do céu, da terra, do templo, em substituição ao juramento em nome de Deus; já que se recusavam e proibiam a pronúncia do nome sagrado, o tetragrama YHVH [Javé]. Com o tempo adotaram a fórmula de jurar em nome das coisas criadas, como um subterfúgio, um estratagema, para resolver o dilema de não se pronunciar o nome divino, considerado impronunciável por qualquer dos homens.

Cristo nos diz que não se deve proceder assim, e que assim o fazendo, cometemos pecado. Entre os judeus, especialmente fariseus, acreditou-se que o juramento, sendo em nome das coisas criadas, possibilitava o seu não cumprimento, de sorte que a autoridade para que determinado juramento fosse considerado válido ou invalido cabia exclusivamente às autoridades do templo. Com isso o homem se tornou, em última instância, a autoridade, aquele que controlava o que se devia cumprir ou não, à revelia do texto bíblico que exortava ao cumprimento de tudo o que se prometia, pois sempre era realizado em o nome do Senhor. Não há juramento que não seja em nome de Deus, pois nele está contido o poder supremo e absoluto, a autoridade absoluta e suprema. Por isso, até hoje, em muitos tribunais, os envolvidos no julgamento são obrigados a jurar dizer a verdade somente a verdade em nome de Deus, com a mão direita estendida e a mão esquerda sobre a Bíblia, implicando que aquela pessoa o está fazendo diante de Deus, em seu próprio nome. O que os judeus fizeram foi uma exceção, uma excrecência à ordem divina, e, agindo dessa forma, estavam em flagrante pecado e desobediência.

Contudo, o próprio Senhor jurou por si mesmo: Então o anjo do Senhor bradou a Abraão pela segunda vez desde os céus, E disse: Por mim mesmo jurei, diz o Senhor: Porquanto fizeste esta ação, e não me negaste o teu filho, o teu único filho, Que deveras te abençoarei, e grandissimamente multiplicarei a tua descendência como as estrelas dos céus, e como a areia que está na praia do mar; e a tua descendência possuirá a porta dos seus inimigos; E em tua descendência serão benditas todas as nações da terra; porquanto obedeceste à minha voz. Então Abraão tornou aos seus moços, e levantaram-se, e foram juntos para Berseba; e Abraão habitou em Berseba. [Gn 22.15-19].
E,
“Porque, quando Deus fez a promessa a Abraão, como não tinha outro maior por quem jurasse, jurou por si mesmo” [HB 6.13- ver até o verso 17].

Claramente, o juramento nos remete a Deus, o Criador e Senhor de todas as coisas, ao qual devemos honrar e do qual somos porta-vozes. O profeta antigo, que recebia as palavras diretamente de Deus, e o atual, que as recebe das Escrituras, falam em nome de Deus. E é o nosso dever falar em nome do Senhor; algo que devemos ter sempre em mente, e, assim, pelo nosso falar, somos testemunhas não somente do que Deus diz, mas também daquilo que ele fez em nós. Usar e falar em nome do Senhor, logo, não é pecado, pelo contrário.

Há a ordem explícita para que o homem jure: “O Senhor teu Deus temerás e a ele servirás, e pelo seu nome jurarás... Ao Senhor teu Deus temerás; a ele servirás, e a ele te chegarás, e pelo seu nome jurarás” [Dt 6.13, 10.20].

Não podemos é usar o nome de Deus em vão, pois quem o faz comete perjúrio [Sl 24.4], a profanação do sagrado, do nome santo de Deus, que é o próprio Deus. 

Em 2 Co 1.23, Paulo invoca a Deus como testemunha de que ele não podia ir a Corinto.

Não devia ser necessário o juramento. O nosso testemunho deveria falar por nós mesmos, de forma que sempre que dissermos sim ou não, a verdade esteja evidente e patente. De que as nossas promessas serão cumpridas e não negligenciadas; de que tudo o que falamos é verdadeiro e de que não mentimos. O juramento é uma forma de confirmar o que está sendo dito, e invocamos a Deus por testemunha daquilo que dizemos ou prometemos. O fato do homem ser mentiroso nos leva a jurar em nome daquele que nunca mente [Rm 3.4]; e por ele, devemos nos guardar da mentira, sendo verdadeiros.  

Notas: 1 - Estudo realizado na EBD do Tabernáculo Batista Bíblico
2- Baixe o áudio desta aula em  Aula 41.MP3onde alguns outros pontos e versos bíblicos, não abarcados neste texto, são abordados. 

quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

Estudo sobre a Confissão de Fé Batista de 1689 - Aula 40: A Trindade e o amor trinitário




Por Jorge Fernandes Isah



Há muitos textos na Escritura que revelam o amor de Deus por seu povo. O apóstolo diz que ele nos amou tanto que deu o seu próprio Filho em nosso favor, revelando que, como nos diz o mesmo apóstolo, ele nos amou primeiro. Se somos capazes de amá-lo é porque ele nos amou antes, e temos essa capacidade porque o Imago Dei, ainda que distorcido, quase um reflexo tênue do ser divino, foi-nos dado por ele. Amamos, porque ele nos amou antes da fundação do mundo; amamos, porque ele nos deu o seu amor e colocou em nós o seu maravilhoso atributo; amamos, porque sem ele não haveria o amor; amamos, porque Deus é amor, e traz eternamente em si mesmo a relação de amor entre as pessoas da Trindade. 

Ora, o amor não pode existir sem que haja o outro; qualquer ideia de um amor solitário é impossível. Para que haja amor é necessário, ao menos, duas pessoas, de onde o sentimento parte do sujeito ao objeto, ainda que o objeto não ame o sujeito. Ao amor não é necessário reciprocidade, alguém pode amar outrem e este outrem não nutrir nenhum sentimento pelo alguém. Em nossas relações há vários tipos de "amores", todos asseguradamente garantidos pela imperfeição e limitação humana. Há quem diga amar a natureza, o seu animal de estimação, uma obra de arte, um time de futebol, e coisas do gênero. Podemos refletir sobre eles se são mesmo amor ou não, porém, interessa-nos não estabelecer o que seja o amor da criatura, mas compreender o amor divino e relacioná-lo com o seu ser. 

Fato é que Deus, se sendo uma única pessoa, não teria a quem amar antes da criação. Mas se até mesmo a criação é um ato amoroso, ele, como o texto sagrado revela, nos amou sempre, eternamente. Alguém dirá que esse amor é possível; sendo Deus perfeito e imutável pode amar mesmo o que ainda não existiu e que para ele sempre existiu, pois sua mente é eterna assim como a sua vontade e atributos. Acontece que nenhum atributo divino surgiu por um processo de "evolução", mas todos são inerentes ao seu ser. Contudo, fica a pergunta: mesmo assim seria possível haver amor sem objeto a que se amar? 

Penso que em Deus o amor se dá exatamente porque em seu ser subsistem três pessoas; de forma que o amor eterno somente existe por causa das pessoas eternas que se amam mutuamente; sem as quais o significado da palavra "amor" não teria qualquer sentido, e a afirmação bíblica seria uma mera figuração, um símbolo desconectado com a natureza divina. Quando dizemos que "Deus é amor" não podemos jamais afirmá-lo com base apenas na criação, como se o atributo fosse contingente ao tempo e momento da criação. Ele existe eternamente e somente porque há uma interrelação entre as pessoas da Trindade, e pelo amor que há nelas, manifestando-se umas às outras. Negar o amor como fruto necessário da interrelação entre o Pai, o Filho e o Espírito Santo é desprezar as evidências bíblicas, que mostram serem verdadeiras. E o amor somente é possível porque Deus é trino, e cada uma das pessoas tem em si a unidade absoluta do amor. 

Além desta questão crucial e fundamental para a fé cristã e bíblica, há outras provas de que o ser divino não é unipessoal mas tripessoal, onde as pessos se relacionam eterna e intrinsecamente, sendo, contudo, distintas entre si. Senão, vejamos:

a) Relacionamento pessoal
Nas relações pessoais que a Trindade têm entre si é evidenciado que são Pessoas diferentes. As suas designações Pai, Filho e Espírito Santo testificam isso:


1) Usam mutuamente os pronomes Eu, Tu, Ele quando falam um do outro, ou entre si (Mt 17.5; Jo 17.1; 16.28; 16.13)

2) O Pai ama o Filho, e o Filho ama o Pai. O Espírito Santo glorifica o Filho (Jo 3.35; 15.10; 16.14)

3) O Filho ora ao Pai (Jo 17.5; 14.16)

4) O Pai envia o Filho, e o Filho e o Pai enviam o Espírito Santo que atua como Seu Agente (Mt 10.40; Jo 17.18; 14,26; 16.7)

Porquanto, pelo fato de usar pronomes Eu, Tu, entre Si é evidenciado que há um só Deus em Três Pessoas Distintas.

B) São apresentadas separadamente

Três pessoas distintas são apresentadas em 2Sm 23.2,3; Is 48.16; 63.7-10. Igualmente, à vista do fato da criação ser atribuída a cada pessoa da divindade separadamente, como também a Eloim com as palavras “Também disse Deus (Eloim): Façamos o homem ‘a nossa’ imagem” (Gn 1.26). 

Esta convicção é confirmada como verdadeira pelo plural de Eclesiastes 12.1 que diz: “Lembra-te do(s) teu(s) criador(es) nos dias da tua mocidade”, e Is 54.5, que diz: “Porque o(s) teu(s) criador(es) é(são) teu marido”.

Este texto é um pequeno complemento às aulas passadas. Não tem por objetivo convencer os antitrinitários, os quais se desdobrarão em apresentar refutações ao que se apresenta, mas de levá-los a meditar na verdade, a qual a Bíblia insistente e claramente revela, e sem o quê o Cristianismo seria uma religião incoerente e sem nexo, especialmente diante daquilo mesmo que se revela. Há uma tão grande profusão de passagens que expressam a trinunidade de Deus que é o mesmo que chover no molhado, como a minha avó sabiamente dizia. E para que ninguém se molhe além do necessário, pararei por aqui, orando para que a verdade escriturística seja também verdade no coração rebelde do homem caído. 

Notas: 1 - Alguns pontos não abordados neste texto encontram-se expostos no áudio.
2- Aula realizada na E.B.D. do Tabernáculo Batista Bíblico
3- Baixe esta aula em Aula 40.MP3

quinta-feira, 15 de novembro de 2012

Estudo sobre a Confissão de Fé Batista de 1689 - Aula 39: A prova da Trindade - parte 2


Por Jorge Fernandes Isah


Não vou repetir aqui o que já disse outras vezes, especialmente neste estudo sobre o ser de Deus, que é o capítulo dois da CFB, mas analisar biblicamente a doutrina da Triunidade.

Pois bem, dias desses, assisti ao vídeo do pr. Paulo Romeiro no site Internautas Cristãos, como uma prova incontestável da doutrina da Trindade[1]. À primeira vista fiquei realmente embasbacado com a prova. Primeiro, assista o vídeo, e depois continuamos.

O pr. Romeiro citou Isaias 6.1-8; João 12.37-46 e Atos 28.23-28. Analisando os versos podemos ter certeza de que Deus é Triuno? Bem, alguns pontos iniciais que me chamaram a atenção:

1- O profeta Isaías vê o Senhor dos Exércitos e a sua glória, de quem os anjos clamavam entre si, dizendo: “Santo, Santo, Santo” [um triságio, do grego tris-agion, significando três vezes Santo]. Esta expressão, utilizada na Escritura em Is 6.3 e AP 4.8, parece-me o reconhecimento dos anjos e da própria revelação especial quanto à santidade divina, o que faz os anjos eleitos [igualmente feitos santos, sem pecado, não por si mesmos, mas pela vontade de Deus] afirmarem que Deus é o único e perfeitamente santo. Mas também nos remete à sua natureza Tripessoal, na qual o ser divino subsiste em três pessoas: o Pai e o Filho e o Espírito Santo, responsivamente indicado pelo "Santo, santo, santo".

2- O profeta ouviu a voz do Senhor que disse: “A quem enviarei, e quem há de ir por nós?” [v.8], onde, novamente, Deus se refere a si mesmo no plural, não na pluralidade de “deuses”, mas na pluralidade de pessoas ou personalidades.
Interessante que uma das acusações dos antitrinitarianos é de que nós somos politeístas e pagãos. Mas mostre-me em qual religião pagã e politeísta há a ideia de um Deus subsistindo em três pessoas? A doutrina da Triunidade divina não encontra eco em nenhuma outra religião a não ser no Cristianismo, e, por isso, certamente é tão atacada e rejeitada.

3- Romeiro diz que o Pai foi visto por Isaías, mas João diz que Isaías viu a Cristo, e Paulo diz que o profeta ouviu o Espírito Santo. Como disse, à primeira vista pareceu-me irrefutável o argumento. Porém, analisando mais detidamente a questão, e após ler alguns contra-argumentos, ela parece ser uma desgraça para os unitaristas, mas nem tanto para os unicistas. Estes podem claramente afirmar que os textos em si revelam que Cristo é o único Deus, validando assim a heresia: Isaías viu Cristo como o Pai, o Senhor dos Exércitos, mas que foi entendido por João como sendo Cristo, e por Paulo como sendo o Espírito Santo, ou seja, Cristo se manifestando de modos diferentes. Será?

4- Nos trechos acima temos a repetição de um mesmo verso, de Isaías 6.10, indicando que os apóstolos, sem sombra-de-dúvidas, referiam-se a ele.

5- Eles demonstram a unidade de Deus, de que Deus é um. Também deixa claro que há três pessoas subsistindo no único Deus: Pai, Filho e Espírito Santo. E salta-me aos olhos que, havendo três Pessoas, elas, em unidade, são a causa de tudo, seja na criação, na salvação, na sustentação; podemos referir-nos a uma das Pessoas como sendo a que criou ou salvou, de forma que ela participou ativamente em cada etapa da obra divina. É o que a Bíblia nos revela quando diz que Deus criou o universo, lembrando-nos de que foi uma obra conjunta das Pessoas que subsistem no Criador: o Pai, o Filho e o Espírito, em sua vontade e ação únicas operaram inseparavelmente na criação, sem, contudo, confundirem-se, como uma única pessoa. Em sua natureza e essência Deus é um, subsistindo em três Pessoas distintas, que se relacionam eternamente entre si. E, por conseguinte, pode-se dizer que as três realizaram, cada uma, a mesma obra.

Por exemplo, em Gênesis 1.1, Deus criou os céus e a terra, mas, em Jo 1.3, Cristo é apontado como o criador de todas as coisas, as quais, sem ele, não seriam criadas. Gênesis 1.2, Jó 26.13 e Salmos 104.30 indicam-nos que o Espírito Santo é o criador do universo. Assim o mesmo acontece em relação à obra de salvação: o Pai salva [Jn 2.9, Jo 3.16-17], o Filho salva [Mt 1.21, Jo 4.42] e o Espírito Santo salva [Tt 3.5]. De forma que há uma ação conjunta da Trindade em tudo, ainda que se possa designar individualmente uma ou outra como o seu agente direto. A obra, no fim-das-contas, pertence a cada uma delas porém realizadas em unidade, conjuntamente, como consequência da vontade única e indissolúvel de Deus.

A questão portanto não é se os trechos apontados pelo pr. Romeiro defendem o unicismo, o que não é verdade. Nunca, em tempo algum, qualquer versículo bíblico pode ser usado como argumento para o engano, o pecado ou a heresia. Jamais haverá afirmação escriturística que corrobore ou induza o homem a qualquer desvio. Logo, a culpa não é da Bíblia, mas da mente imperfeita, pecaminosa e caída do homem que interpreta equivocadamente o que o texto diz ou, a partir de pressupostos falhos, ele induz o texto a dizer o que não diz, e conclui, para a sua desgraça, que o texto confirma o que a sua mente doente não é capaz de ver: que nada do que pensa ou concluiu tem procedência divina, e foi revelada por Deus. A deficiência é completamente humana, na incapacidade de reconhecer a verdade, e apenas vislumbrar o engano.

Eles, antes, declaram que Deus é um e opera todas as coisas por intermédio das três Pessoas. O que há, na verdade, é uma distorção do ensino bíblico, ao se afirmar que as Pessoas são meras manifestações, estados ou modos de uma única personalidade. O pressuposto de que há um só Deus exclui, na mente herética, a sua tripersonalidade; o que faz desses, ao contrário do que querem parecer, os verdadeiros idólatras, ao adorarem e reverenciarem uma força, o Espírito Santo, ou um ser criado, Cristo. Fazer todas as passagens onde consta o nome "Deus" parecer serem obras de uma única pessoa é o reducionismo que adverti na aula passada, e pertence à mente racionalista dos unitarianos e unicistas. É como se eles vissem uma macieira carregada de frutos e acreditassem estar diante de uma única maça, esquecendo-se do tronco, galhos, ramos, flores e demais frutos que constituem a árvore. Com isto não estou a dizer que Trindade pode ser comparada a uma árvore, nada disso. O exemplo está a afirmar a incapacidade dos antitrinitarianos reconhecerem a verdade, desprezando a revelação que o próprio Deus faz de si mesmo. Toda a cegueira deles está no fato de serem também pragmáticos e se interessarem pelo resultado, seja ele qualquer um, desde que redunde em algo "palpável" e que atenda aos anseios dos seus intelectos.

Por isso, me assusto quando cristãos criticam o argumento do pr. Paulo Romeiro, como uma defesa do unicismo. Ela não é; pelo contrário, nos revela a unidade e a diversidade divina, onde a glória de Deus é compartilhada tanto pelo Pai, como pelo Filho, como pelo Espírito, em um interrelacionamento eterno, perfeito, santo e infinito, capaz de nos levar às lágrimas, à emoção, mas sobretudo à adoração, louvor e gozo em saber que o amor de Deus por nós não surgiu a partir de uma necessidade divina de se relacionar com a criação, mas é eternamente vivo no relacionamento intrínseco que há entre as Pessoas da Trindade.

Isaías viu o Pai ou o Filho? Ouviu o Pai ou o Espírito Santo?

Cristo disse que quem o vê, vê ao Pai [Jo 14.7, 9]: a mesma natureza ou essência divina, sendo duas Pessoas distintas. De forma que, ao afirmar duas vezes coisas aparentemente contraditórias, estava referindo-se à vontade e propósito iguais de ação por meio da Trindade. Senão, vejamos:

"Mas aquele Consolador, o Espírito Santo, que o Pai enviará em meu nome, esse vos ensinará todas as coisas, e vos fará lembrar de tudo quanto vos tenho dito" [Jo 14.26];

e

"Mas, quando vier o Consolador, que eu da parte do Pai vos hei de enviar, aquele Espírito de verdade, que procede do Pai, ele testificará de mim" [Jo 15.26].

O que lhes parece? O Pai ou o Filho é quem envia o Consolador, e em nome de quem? Ainda que não se possa explicar tudo, e tem-se de entender que a Trindade é um mistério insondável para o homem, ao menos por hora e aqui, o que está claro é o propósito e ação únicas das Pessoas. Não há mistura de Pessoas ou elas não podem ser distinguidas em suas ações, mas há uma só vontade e um só propósito, deliberação, decisão ou resolução no Pai, no Filho e no Espírito Santo, uma harmonia de intentos somente possível no Ser perfeito, eterno e santo de Deus. De outra forma não estaria ele lançando-nos uma pegadinha? Por que haveria distinção de nomes e pessoas sendo elas uma só personalidade? Com qual intento Deus se revelaria equivocadamente ao homem? Para confundi-lo?

O fato é que os textos indicados pelo pr. Romeiro não defendem o unicismo, mas a Trindade, de forma que aquele que crê no Deus bíblico crê na Pessoa do Pai, do Filho e do Espírito Santo; e aquele que não crê no Pai, no Filho e no Espírito Santo verdadeiramente desconhece a Deus, e dele não é conhecido.

Notas: [1] O vídeo do pr. Paulo Romeiro intitulado, "A Trindade em Isaias 6", pode ser acessado na aula anterior, clicando AQUI
[2] Aula realizada na E.B.D. do Tabernáculo Batista Bíblico
[3] Baixe o áudio desta aula em Aula 39.MP3
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