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sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014
Estudo sobre a Confissão de Fé Batista de 1689 - Aula 60 - Dons apostólicos: Cura
Por Jorge Fernandes Isah
A
primeira coisa a dizer é que cremos no
poder de Deus de curar, ao contrário do que alguns afirmam. Contudo não
cremos mais que Deus o faça pelas
mãos de homens ou mesmo pelos objetos que eles usavam. A Bíblia nos
informa que a sombra de Pedro curava as pessoas [At 5.12-16]. Ele não
orava nem as tocava, mas apenas o passar da sombra pelos enfermos
curava-os. Igualmente as roupas de Paulo eram instrumentos de Deus para
a cura dos doentes [At 19.11-12]. Mas isso poderia acontecer hoje?
Podemos afirmar que não, porque essas maravilhas eram realizadas pelos
apóstolos como confirmação de que a mensagem de boas-novas, o Evangelho
de Cristo, provinha de Deus. E somente os apóstolos podiam transferir
esses dons a outros irmãos da igreja, como já vimos em outra aula.
Ninguém mais! Portanto, com o fim da era apostólica, esses dons
cessaram, pois já não podiam mais serem transmitidos; não havendo
nenhuma outra forma de sucessão apostólica além da autoridade que os
próprios apóstolos possuíam. O dom de transmitir tal poder pertencia a
eles, e somente a eles.
Então,
é preciso entender que o dom de cura tinha um caráter
revelacional e estava diretamente ligado à testificar e ministrar o
Evangelho de Cristo. Não tinha por objetivo apenas curar o enfermo, como
vemos hoje nas "campanhas de cura", onde o Evangelho não é pregado,
Cristo não é pregado, não há arrependimento, conversão, mas apenas uma
proposta de cura do corpo enquanto a alma está moribunda e o espírito
agonizante. Nada disso tem a ver com o dom dado à igreja primitiva. A
cura, assim como os milagres, tinham o propósito de revelar Cristo e sua
obra através da pregação do Evangelho, e de que ele provinha de Deus;
igualmente testificava que os apóstolos e discípulos não proclamavam
nenhuma mensagem meramente humana, mas eram porta-vozes do próprio Deus.
Não pensem também que a igreja era um pronto-atendimento, como muitas
igrejas defendem e tentam copiar, porém copiam um padrão que não é
eclesiástico nem neotestamentário. A cura servia a uma finalidade, como
já dissemos, e nem todos eram curados, e muitos não foram, como a
própria escritura informa, porque era específico, restrito a certas
situações. Os dons não eram como varinhas-de-condão, bastando
acioná-las que automaticamente entrariam em ação e proporcionariam os
efeitos desejados. Como exemplo, há o caso de Epafrodito, o qual é
citado por
Paulo como alguém que quase morreu, pois estava muito doente. A ordem
sequencial, em Filipenses 2:25-27, é:
esteve muito doente, e quase morreu, indicando que o seu estado de saúde
agravou-se no decorrer da enfermidade. Deus o curou, e o apóstolos se
alegrou de Deus tê-lo feito, mas não há nenhuma indicação de que foi por
intermédio do apóstolo que o Senhor o fez. Ao ponto de Paulo dizer que
Deus
teve misericórdia do seu companheiro de lutas e cooperador mas também
de si mesmo, poupando-o de sofrer tristeza sobre tristeza, com a
possibilidade da morte do amigo e irmão. Se Paulo dispunha do dom no
momento e hora em que quisesse usá-lo, por que não o fez? Ou não
dependia simplesmente dele acioná-lo? Era necessário cumprir um
propósito previamente estabelecido e comunicado por Deus? O que nos
mostra que os apóstolos não eram super-homens, nem homens independentes,
mas homens comuns poderosamente usado pelo Senhor, sujeitando-se à sua
vontade e dependentes dela.
Fica claro que Paulo, se ainda tivesse esse dom ou pudesse
usá-lo a seu bel-prazer, não se furtaria a curar Epafrodito, um colaborador tão amado. Logo o dom
de cura não era algo automático e infalível, e que se podia dispor dele
quando bem o quisesse. Ele também diz que deixou Trófimo doente em
Mileto, ao despedir-se de Timóteo [2Tm 4.20], e sugeriu ao próprio
Timóteo que tomasse um pouco de vinho por conta das frequentes dores no
estômago e outras enfermidades [1Tm 5.23].
O
próprio fato de Paulo referir-se a um "espinho na carne", que
bem podia ser uma doença usada por satanás para esbofeteá-lo [2Co
12.5-10], e ainda de um certo problema de visão que o acometeu
durante bastante tempo, quando primeiro anunciou o evangelho aos
gálatas,
estando em fraqueza da carne [Gl 4.12-15], corrobora o fato de que ele
não podia curar-se a si mesmo, utilizando-se do dom de cura em benefício
próprio. Isso pode deixar muitos crentes atônitos: mas, para que o dom
de cura se não posso curar a mim mesmo? E eu diria que, mais do que
satisfazer aos nossos desejos pessoais Deus tem um plano maior, que é a
sua glória, e, muitas vezes, não está nesse plano que um crente seja
curado, que não sofra um acidente, que não seja perseguido, perca os
seus bens e família, torturado ou morto [como Lutero proclama no hino
323, do Cantor Cristão, "Castelo Forte":
Sim, que a palavra ficará,
Sabemos com certeza,
E nada nos assustará,
Com Cristo por defesa.
Se temos de perder,
Os filhos,bens,mulher,
Embora a vida vá,
Por nós Jesus está,
E dar-nos-á seu Reino.].
Sim, que a palavra ficará,
Sabemos com certeza,
E nada nos assustará,
Com Cristo por defesa.
Se temos de perder,
Os filhos,bens,mulher,
Embora a vida vá,
Por nós Jesus está,
E dar-nos-á seu Reino.].
Portanto,
a nossa conclusão é de que o dom de cura era
especialmente ministrado em momentos específicos, e de forma bastante
restritiva, no sentido de não ser um acontecimento trivial e
corriqueiro, como muitos hoje querem fazer parecer. Ao se afirmar que o
problema é de fé, a glória da cura passa a ser do homem, sem o qual não
haveria o dom. Mas sabemos que Deus é sempre glorificado, e ninguém pode
tirá-la. É algo que os cristãos devem pensar: há uma divisão de ações
entre Deus e os homens, no sentido de que algo que o Senhor quer fazer
não acontecerá porque impedimos?... Especialmente aos calvinistas
gostaria de deixar essa reflexão. E, se Deus divide conosco a decisão da
cura, no sentido exposto acima, de que se não quisermos a sua vontade
decairá, mas se desejamos e a cura acontece, a glória não deve ser
dividida com o homem? Não é talvez por isso que muitos são exaltados
quase à altura de Deus? Porque quem assim o faz reconhece nesse homem um
poder e uma decisão de semideus? E vou mais além: não há um espírito de
falsa-modéstia, de dissimulação [consciente ou não] quando não
assumimos isso e dizemos, da boca para fora, "não, a glória é somente de
Deus"?
Por estes e vários outros motivos, mas especialmente pelo testemunho da palavra de Deus, não nos curvamos ao modernismo e ao imediatismo de aceitar os dons apostólicos como contemporâneos. Certamente eles veem mais para cegar ou manter cegos os ímpios do que para iluminar os salvos.
Notas: 1) Aula ministrada na E.B.D. do Tabernáculo Batista Bíblico;
Por estes e vários outros motivos, mas especialmente pelo testemunho da palavra de Deus, não nos curvamos ao modernismo e ao imediatismo de aceitar os dons apostólicos como contemporâneos. Certamente eles veem mais para cegar ou manter cegos os ímpios do que para iluminar os salvos.
Notas: 1) Aula ministrada na E.B.D. do Tabernáculo Batista Bíblico;
2)
Uma análise mais profunda está disponível no áudio desta aula, onde são
abordadas questões e passagens bíblicas não examinadas no texto, como
Mt 9:18-26, 15:29-31 e Atos 3:1-10, inclusive a ligação de Israel e os
judeus com a incredulidade em Cristo;
3) Baixe está aula emAula 76 - Dons V.MP3
domingo, 9 de fevereiro de 2014
Estudo sobre a Confissão de Fé Batista de 1689 - Aula 59 - Dons Apostólicos: Fé
Por Jorge Fernandes Isah
Entendo que a fé a qual Paulo se refere não é a salvadora ou aquela que Deus nos dá para reconhecermos Cristo como Senhor e Salvador, visto ser dada a uns e não a todos os irmãos.
Mas,
então, a qual fé o apóstolo se refere como um dom especial? Bem,
provavelmente, esta fé está relacionada com milagres e, mais
especificamente, com aquilo que Cristo disse aos seus discípulos:
"Porque a fé que vocês têm é pequena. Eu asseguro que, se vocês tiverem
fé do tamanho de um grão de mostarda, poderão dizer a este monte: 'Vá
daqui para lá', e ele irá. Nada será impossível para vocês" [Mt 17:20].
Se atentarmos para o texto, os discípulos não conseguiram expulsar um
demônio de um menino, o que levou o seu pai a implorar ao Senhor para
que o fizesse, ao que Jesus desabafou: "Ó geração incrédula e perversa,
até quando estarei com vocês? Até quando terei que suportá-los?
Tragam-me o menino" [v.17]. Após ordenar que o demônio saísse do rapaz,
viram os discípulos que o demônio obedeceu imediatamente à ordem do
Senhor, e lhe perguntaram, em particular: "Por que não conseguimos
expulsá-lo?, então, o Senhor apontou o problema: a falta de fé!
Portanto,
tudo indica que esse dom estava diretamente ligado à fé que produzia
milagres; mas, também, a fé produzia um milagre especial, do qual toda a
igreja deveria compartilhar, que é de acreditar no poder divino, de
maneira a não deixá-los entregues à incredulidade, ao desânimo, às
vicissitudes, sabendo que o poder de Deus era maior do que todas as
coisas e, entre elas, a maior que um homem pode almejar é o de
testemunhar a Cristo, o que, convenhamos, diante de um mundo caído e
que odeia a Deus, não é nada muito fácil.
Se
atentarmos para as circunstâncias daquele momento histórico,
perseguições, apedrejamentos, prisões e mortes, simplesmente pelo fato
de professar a fé em Cristo e proclamar as suas boas-novas, havemos de
entender a situação de angústia, sofrimento e dor pelas quais os irmãos
eram provados. Por isso, acredito que havia um dom especial de fé, de
levar à fé outros irmãos, de estimulá-los a crer nas promessas do
Evangelho, na esperança, na qual toda a igreja deveria comungar, nos
momentos emergenciais, de forma que essa fé servia como consolo, mas
igualmente era uma "força motriz" na intercessão junto a Deus por
aqueles que eram afligidos pelos inimigos e que se sentiam "fracos na
fé" [Rm 14.1]. Certamente eram irmãos que, com o dom especial de fé,
auxiliavam e sustentavam os débeis [1Ts 5.14], suportando as suas
fraquezas [Rm 15.1-2].
Esta fé capacita-nos também a colocarmo-nos à serviço de Deus, de honrá-lo e glorificá-lo com nossa vida e atitudes, levando-nos a dar um bom testemunho de Cristo. Há também o fato de que ela produz a esperança e certeza nas promessas que nos foram entregues por Deus, persuadindo-nos de tudo o que ele disse se cumprirá, pois ele é verdadeiro, tornando o que ainda não vemos em certeza, a fim de que a nossa alma caminhe tranquila e confiante na revelação. Não é o que diz Hebreus 11.1-3?
"Ora, a fé é a certeza daquilo que esperamos e a prova das coisas que não vemos. Pois foi por meio dela que os antigos receberam bom testemunho. Pela fé entendemos que o universo foi formado pela palavra de Deus, de modo que aquilo que se vê não foi feito do que é visível".
Outro
ponto importante em relação à fé é que, por ela, Cristo habita em nós,
e ele somente habitará naquele que tem fé, que receberá a plenitude da
graça, ao passo em que Cristo está-se formando nele. Esta é uma
relação de dependência do crente em Cristo, pois tudo é dele e nós
também o somos. E, como o apóstolo Paulo, poderemos dizer, seja agora
ou em breve, "já não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim. A vida
que agora vivo no corpo, vivo-a pela fé no filho de Deus, que me amou e
se entregou por mim" [Gl 2.20].
Notas: 1- Aula realizada na EBD do Tabernáculo Batista Bíblico
2- Ouça e baixe o áudio desta aula em Aula 75 - Dons IV.MP3
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