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domingo, 1 de setembro de 2013
sábado, 31 de agosto de 2013
Estudo sobre a Confissão de Fé Batista de 1689 - Aula 51: Objeções ao sustento pastoral
Por Jorge Fernandes Isah
Analisemos alguns questionamentos comumente formulados pelos defensores da não autoridade pastoral e do não-sustento pastoral que, via de regra, fazem variações do mesmo tema, resumido-o em três perguntas/afirmações, as quais encontram-se numeradas e entre "aspas":
1)
"Apenas os Levitas tinham o direito de serem sustentados pelo restante
do povo de Israel, porque a tribo de Levi, na qual estavam todos os
levitas, não receberam parte da terra de Israel, dada por Deus. Logo,
eles não tinham onde plantar, caçar, etc, especialmente porque ficavam
por conta dos cuidados no Templo. Como não há mais levitas, desde a
època apostólica, não há porque sustentar qualquer ministério em nossos
dias. Esse padrão foi extinto, e não houve continuidade na igreja
primitiva".
Resposta: 1Co 9:1-16:
Interessante
como Paulo se utiliza de vários princípios do Antigo Testamento para
validar o sustento do seu ministério. Ao contrário daqueles que fazem
uma "separação" entre o AT e o NT, Paulo fundamenta-se e se baseia no
AT para validar um princípio que era negligenciado pela Igreja de
Corinto, o desprezo que tinham para com ele e Barnabé, de forma que
eles, corintios sustentavam os demais apóstolos [ao menos é o que parece
afirmar o apóstolo, no verso 12], excluindo-o. Justamente ele que foi
quem plantou aquela igreja, discipulou-a, e contribuiu como nenhum
outro para o seu crescimento. Portanto, essa ideia de que os
Testamentos, em algum sentido, se anulam, é falsa e equivocada, pois o
próprio Paulo se encarrega de lançar por terra essa distorção ao fazer
uso do AT para defender-se diante dos corintios como alguém que também
era merecedor do seu cuidado e do zelo.
2)
"Paulo diz que ele tinha o direito de ser sustentado, mas de que abriu
mão desse direito, portanto, o ministro do evangelho também deve
fazê-lo".
Resposta:
Mais do que simplesmente negar o auxílio que porventura os corintios
pudessem dar-lhe, Paulo diz que a negligência deles para com ele não o
impediu de continuar pregando, discipulando e encaminhando-os nas
santas veredas de Cristo, pois Deus havia suprido as suas necessidades
através de outras igrejas. Paulo novamente confirma que o seu
ministério é tão apostólico como o dos demais apóstolos, e a prova era
de que Deus havia suprido as suas necessidades por mãos de outros
irmãos [V. 9-10]. Ele assevera ainda mais fortemente essa questão após
citar Dt 25.4, dizendo que o referido verso fala exatamente deles, e
por causa deles foi escrito. Ora, o fato de Paulo abrir mão desse
direito, e temos que ele o faz para não pôr impedimento ao seu
ministério junto aos corintios [v.12], anula o dever da igreja de
sustentá-los? Certamente que não, e é sobre isso que o apóstolo
disserta, levando a igreja a refletir: "Se nós vos semeamos as coisas
espirituais, será muito que de vós recolhamos as carnais?" [V 11].
Entendo que a irrefutabilidade desse questionamento, em si mesma, é
mais do que suficiente para anular qualquer afirmação de que a igreja
não tem o dever de sustentar o seu pastor.
3)
"O ministério pastoral é espiritual e não pode ser comparado a um
trabalho assalariado, como se Deus tivesse empregados e a igreja fosse
uma empresa".
Resposta:
A tolice de tal afirmação é tão gritante, e reivindica uma alta
espiritualidade que, contudo, não passa de uma apelativa falsa
espiritualidade, na qual os seus proponentes não se enquadram, no de
serem espiritualmente elevados e prescindirem o próprio sustento, mas
de, por não serem capacitados ao ministério, desejar que os ministros
vivam de "vento", como a minha avó dizia. Pois bem, Paulo, talvez
apercebendo-se de que alguém poderia questioná-lo da mesma forma, já
lançou o seu veredito sobre os que assim pensam: se lhe damos as coisas
espirituais, não podemos tomar-lhes as carnais? Ora, o que é mais
importante? O dinheiro guardado em um cofre, na carteira, despendido
com gastos muitas vezes supérfluos, ou usá-lo na propagação do
evangelho, no trabalho do discipulado, nos meios necessários para que a
mensagem de Cristo se espalhe pelo mundo? Ou seja, o que sou incapaz
de fazer, que não tenho por dom, não me impede contudo de poder ajudar
aos que o tem, e assim também sou participante na difusão do
evangelho. Paulo diz que o fato dos corintios não o sustentarem, e a
Barnabé, não tem implicações pecuniárias, visto que sustentavam outros
ministros, mas por desprezarem-no; eles não consideravam o trabalho de
Paulo digno de ser mantido, conservado, estimulado. A origem do não
sustento da igreja de Corinto baseava-se no fato de que o ministério
de Paulo, para eles, era sem importância, o que os tornava ainda mais
culpados diante do apóstolo e de Deus, agora por ingratidão. Não era
questão financeira, pois os coríntios sustentavam a outros, em
detrimento daquele que plantou a igreja entre eles, mas sobretudo os
amava e continuava a guiá-los nos santos caminhos de Cristo.
Paulo
sentencia no verso 14, "assim ordenou também o Senhor aos que anunciam
o Evangelho, que vivam do evangelho". Primeiramente, Paulo cita a
Cristo, o próprio Senhor, o qual ordenou: " Digno é obreiro do seu
salário" [Mt 10.10, Lc 10.7].
É
possível abstrair daqui uma série de conceitos, e há aqueles que dirão
que a palavra "vivam" não tem relação material, mas apenas espiritual.
Bem, qualquer um que não experimentou somente o viver imaterial não
pode defender tamanha sandice. O homem é um ser completo, total, e
suprimir a parte material dele dizendo que o evangelho, em si mesmo,
será capaz de alimentá-lo e vesti-lo, por exemplo, sem que alguém
disponha de recursos para isso, é teoria das trevas, planejada no
inferno, para destruir não somente a igreja, mas a autoridade de Cristo e
da sua palavra.
Por
fim, penso que aquele que não dizima nem se preocupa com o sustento do
ministério do seu pastor ou de outros obreiros na proclamação do
Evangelho não ama verdadeiramente a igreja, nem Cristo, pois ele morreu
por ela, e mais ninguém.
Assim
como ao final do estudo sobre o dízimo, que será a próxima pauta
destes estudos, gostaria de perguntar: Por que não dizimar?
Essa é uma questão que não se cala...
Notas: 1 - No áudio, desta aula, entra-se um melhor desenvolvimento da questão, e outras implicações são nele abordados;
2 - Aula realizada na EBD do Tabernáculo Batista Bíblico;
3 - Baixe esta aula em aula 47c.mp3
Notas: 1 - No áudio, desta aula, entra-se um melhor desenvolvimento da questão, e outras implicações são nele abordados;
2 - Aula realizada na EBD do Tabernáculo Batista Bíblico;
3 - Baixe esta aula em aula 47c.mp3
sábado, 24 de agosto de 2013
Estudo sobre a Confissão de Fé Batista de 1689 - Aula 50: Objeções à autoridade pastoral
Por Jorge Fernandes Isah
O sustento pastoral não é reconhecido, por muitos cristãos, como consequência de outra negação: a autoridade pastoral. Muitos grupos, e isso cada vez mais tem sido difundido entre os cristãos, se opõem à liderança ministerial, à autoridade pastoral, como se fosse algo antibíblico, uma heresia, e fruto apenas do desejo humano de distorcer e corromper o verdadeiro ensino da Bíblia. Para tanto, utilizando dessa falsa premissa, eles distorcem e interpretam versículos bíblicos que claramente afirmam o contrário. É um exercício de "destruição", de alteração, daquilo que Deus nos comunicou. Muitos argumentos são simplórios, alguns até mesmo risíveis se não fossem tão trágicos, com o nítido interesse de acomodar o pensamento divino ao seu. Interessante que todos eles desprezam a igreja, no seu sentido milenar, no que se contradizem, pois utilizam-se do ensino de outros tantos para justificar suas propostas. Dizem que apenas Cristo é o líder da igreja, que se deve ouvir apenas e somente a ele, que toda a tradição da igreja está equivocada, repleta de paganismo, romanismo e carnalidade quando, para ratificar os seus argumentos, se utilizam da mesma história e de homens históricos, muitos dos quais não escondiam o seu ódio pela igreja. Com isso, penso que há um grave e sério conflito, pois se dezenas de séculos não podem ser usados como validação de doutrinas caras à fé cristã, por que um ou dois podem ser a base da argumentação anti-eclesiástica?
Veja bem, não estou dizendo que toda tradição é válida, não é essa a questão. Mas se o argumento da tradição é descartado por eles como "coisa de homens", por que o que é dito por alguns homens, num período muito mais próximo de nós, deve ser considerado? No fundo, muito de tudo isso que se vê tem por objetivo alcançar as seguintes metas:
1) Desacreditar a Bíblia, como a palavra de Deus infalível, inerrante e divinamente inspirada;
e
2) Desacreditar o próprio Deus.
2) Desacreditar o próprio Deus.
Há exemplos em profusão nos seus escritos que remetem a ambos os objetivos. Ainda que não sejam claramente expressos, eles encontram-se subliminarmente presentes em suas descrições, e veladamente maquiados à guisa de santidade. Porém, há absurdo ainda maior: são os únicos que conhecem a Deus e portanto exclusivamente aqueles que podem falar em seu nome. Chegam a proferir verdadeiras blasfêmias, acintosamente, como se saídas da boca divina. Na verdade a confusão em que se metem é reflexo de quão incompreensível Deus lhes é. Contudo, sabemos que Deus não é Deus de confusão, e o que eles se prestam é ao papel de destruir a fé cristã quando pensam reescrevê-la. Mas, por mão de quem? É-se possível reescrever o Cristianismo, com todos os seus acertos e erros, sem dizer que ele nunca existiu? E que somente agora alguns iluminados perceberam o que ele foi, e o ressuscitaram? Para isso têm de tornar toda a fé cristã em cinzas, e pensam construir algo a partir delas, sendo que são incapazes de colocar um tijolo que seja sobre o fundamento que já está posto, Cristo. O que acaba por torná-los em construtores de highways que desembocam diretamente no inferno, as quais eles e seus seguidores percorrem insanamente.
É uma vergonha o que está sendo proposto por esse grupo, e chego a dizer que é um descalabro; e de que são os tais lobos cruéis aos quais Paulo se referiu em Atos 17.
Mas para não dizer que estou sendo injusto, e de que não apresento provas do que eles propõem, analisemos alguns trechos. Primeiro, falemos da autoridade pastoral. Eles argumentam:
"A distinção antibíblica clero/leigo tem causado tremendos danos ao Corpo de Cristo. Tal distinção prova uma ruptura na comunidade dos crentes por classificá-los como cristãos de primeira e de segunda classe. A mentira de que alguns cristãos são mais privilegiados do que outros quanto a servi ao Senhor"[1].
É mesmo, cara-pálida? Aponte-me quais são os tremendos danos ao Corpo de Cristo! Descreva-os, dizendo o porquê de serem danosos. E, primeiramente, defina o que é o Corpo de Cristo. As inferências do autor são meramente especulativas, sem respaldo, e sem descrever detalhadamente como ocorrem. Nada além de um ataque gratuito, sem base bíblica e sem factualidade. Palavreado inócuo capaz de seduzir os ouvidos moucas da verdade, levando-os ao mais sórdido sofisma. Uma ideia que saiu da sua mente candongueira e que encontra acolhida entre muitos outros descabeçados e mexeriqueiros.
As objeções que se seguem, são formuladas a partir de uma distorção, de uma falsa premissa, de que todo pastor ou líder, por natureza, é um salafrário, um bandido, desonesto e, quase, o anticristo. E nada bíblicas, pois partem de inferências humanas e não do texto revelado.
a) "Mas essa distinção entre líderes e comandados não causa ruptura entre a comunidade dos crentes, colocando uns como cristãos de primeira linha e os demais como de segunda linha?"
A pergunta já é formulada de forma capciosa, com a intenção de levar ao engano e levantar a discussão a partir de uma falsa asserção, de que na igreja há líderes e comandados, como se ela fosse uma instituição militar ou corporativa. Não é difícil de entender o que pretendem, pois a igreja muitas vezes é comparada a um exército, formada por soldados que lutam pela verdade e defendem a fé cristã. É também sabido que Deus instituiu lideres na sua igreja, mas que a sua estrutura nada pode ser comparada, em sua essência e forma, a qualquer instituição secular. Nem de longe uma igreja bíblica pode ser igualada a qualquer outro organismo privado ou público. O fato é que está implícito na pergunta a ideia de que um pequeno grupo domina e controla uma maioria que lhe é subserviente. Apelando para o orgulho e individualismo cada vez mais acentuado nas últimas gerações, a ideia é demonstrar que qualquer irmão que se submeta à autoridade eclesiástica não passa de um banana, um capacho, desprezível, um tolo a serviço dos interesses de uma minoria desonesta e opressora. Temos aqui o espírito revolucionário, provavelmente o mesmo que levou satanás a insurgir-se nos céus, e Adão e Eva a caírem no Éden.
E, o que vem a ser cristãos de primeira e segunda linha? Ou o objetivo não é demonstrar que todo aquele que não está em posição de liderança é um reles subalterno? A pergunta, em si mesma, já leva à conclusão equivocada e fraudulenta de que há dois grupos distintos na igreja, e de que eles são antagônicos, quando na verdade a insinuação é apenas fruto da malícia e do dualismo que o diabo sempre tentou impingir ao corpo local [e, por muitas vezes, atingiu o seu intento].
A própria imagem em que Paulo remete a igreja, de que ela é um corpo, seria suficiente para destruir esse argumento falacioso. Por isso ele diz que, ainda que nem todos sejam pés ou mãos ou orelhas ou nariz [mostrando a diversidade dos dons que Deus deu à igreja], ainda assim todos fazem parte do corpo, de forma que sem um deles, por mais fraco que pareça, nenhum é desprezado, e todos são necessários, ao ponto em que diz: "e os que reputamos serem menos honrosos no corpo, a esses honramos muito mais; e aos que em nós são menos decorosos damos muito mais honra... para que não haja divisão no corpo, mas antes tenham os membros igual cuidados uns dos outros" [1Co 12.12-25].
Portanto, na igreja, todos são irmãos, cada um cumprindo o dom que Deus lhes deu, cada um sujeitando-se ao outro, cuidado do outro, auxiliando-o, para que todos sejam um em Cristo, e o primeiro ou maior seja o derradeiro e o menor de todos e o servo de todos; se o modelo é diferente, essa igreja não é bíblica nem obediente aos preceitos divinos, e cabe a toda a igreja entender que o cristão, seja em qual posição esteja, tem de ter em mente que o mais importante é servir a Deus e ao próximo; sabendo que o nosso inimigo não está no corpo, mas fora dele. Logo, o argumento de que há uma ruptura, separação entre líderes e os demais irmãos é mentirosa e, travestida de piedade, produz apenas a má-fé, o dolo e a permanente morte.
Interessante que o apóstolo Paulo, em Atos 20.28, alerta os bispos de Éfeso para que olhem "por todo o rebanho sobre que o Espírito Santo vos constituiu bispos, para apascentardes a igreja de Deus, que ele resgatou com o seu próprio sangue", evidenciando a autoridade que Deus estabeleceu a alguns irmãos, cuja principal missão é o de cuidar dos demais e de si mesmos. Ainda que ele profetizou em relação ao que sobreviria sobre aquela igreja, no futuro, em momento algum ele cogitou desfazer a sua estrutura, pensando: se a coisa toda nem sempre funcionará como deve, por que não substituí-la por outra? Portanto, qualquer pensamento que vise a mudança da ordem estabelecida por Deus implicará em rebelião, em pecado, para aqueles que assim pensarem ou agirem, mesmo que seja fruto da ignorância, mesmo que seja fruto da indução, pois elas, e ainda outras, apenas revelam a carnalidade com que parte dos cristãos não compreendem nem entendem a realidade cristã, buscando uma "segunda" realidade à margem e ao largo da revelação divina.
Infelizmente, esse grupo, o qual se julga cristão, especializou-se em outro tipo de "cristianismo", no qual um membro diz ao outro: Não tenho necessidade de vós [1Co 12.21]; e, se isso não é desprezo ou soberba, poucas outras coisas o podem ser.
b) "O ofício pastoral rouba do crente o direito de funcionar como membro do Corpo de Cristo, tornando-o em um mero espectador?"
Pergunto: onde está o erro? No ministério instituído por Deus ou no fato de alguns homens o corromperem? É possível, ao cristão, ser um mero espectador?
Há igrejas que se enquadrem nesse padrão moderno de "culto-espetáculo" ou "show-gospel", em que os artistas vão à frente e realizam uma apresentação para uma assistência sempre passiva, pois aplausos, gritos, urros e pulos não a tornam ativa como igreja, nem a fazem igreja, mas apenas em um auditório barulhento. Mas, pegar como exemplo um tipo de igreja que não é bíblico e usá-lo como padrão para toda a igreja não é honesto, antes é uma generalização infantil, burra e ofensiva.
Na vida cristã, assim como o culto cristão, o crente assume o papel de obreiro, de trabalhador, de alguém que se dedica ao evangelho, tratando-o com cuidado, zelo, como um agricultor cuida da seara, lavrando, semeando, adubando, irrigando, colhendo, significando uma vida ativa. Com isso não quero dizer que o silêncio ou o fato de sermos ouvintes, enquanto na escola dominical ou no culto, nos torna em espectadores, pois o Espírito Santo está ativamente agindo em nossa mente e coração, nos ensinando, instruindo e levando-nos à reflexão sobre os propósitos divinos e seus desdobramentos no meio do seu povo. E isso, ainda que possa ser chamado de uma atitude passiva, em nada se assemelha com ela, pois através da meditação sincera na palavra abandona-se o estado de lassidão, de relaxamento e distanciamento de Deus, para a proximidade com ele, em que Cristo vai-se formando, e tornamo-nos cada vez mais santos, assim como ele é santo. É a ação irresistível do Espírito na qual somos regenerados da pecaminosidade ativa, que nos mantém adormecidos para Deus, para a santificação ativa, em que somos despertados para ele [e por ele] e a necessidade de servi-lo, realizando a sua obra. Então, como um cristão pode ser passivo? [Jo 4:35-41; 2Co 5:15-20].
c) "A liderança humana, seja pastor ou bispo, rivaliza com Cristo? No sentido de que o pastor desloca e suprime a direção de Cristo? No sentido de que, o propósito eterno de Deus é impedido pelo ministério pastoral?"
Este é provavelmente o maior de todos os absurdos dito por esse grupo. De que a liderança humana pode, em algum momento, se igualar ou exceder à liderança de Cristo. De que pastores e bispos podem ser "a cabeça" ao invés de Cristo. De que há competição, disputa, entre a liderança humana e a de Cristo. Isso é de uma infantilidade, e também de um descaramento tão grande, que somente uma mente completamente distorcida e que odeia o evangelho pode produzi-la. Veja bem, o próprio fato de comparar qualquer homem com Cristo já é um acinte, um absurdo. Ao dizer que um líder, seja ele quem for, pode competir com Cristo, igualá-lo ou mesmo superá-lo [e este é o significado de "rivalizar"] faz de Cristo, no mínimo, um cabeça débil. Nada nem ninguém rivaliza com Cristo; nada nem ninguém pode obstrui-lo. Ele é o Filho eterno e supremo. A ideia, que acabam por transmitir, é a de que Cristo não é suficientemente soberano ou poderoso, e de que os seus intentos podem ser anulados ou impedidos pela vontade e ação de homens; eles querem enfraquecê-lo, desacreditá-lo, por meio de comparações estúpidas e ilícitas. O princípio da pergunta já é, em si mesmo, à luz da Escritura, autor-refutável. E a sequência a torna ainda pior. Como alguém pode deslocar ou suprimir a direção de Cristo? O que, em linhas gerais, eles querem novamente afirmar é a fragilidade que pensam Cristo possuir, mas já que ele é o Senhor, Soberano, cujo poder controla tudo e todas as coisas, sem o qual nada veio a existir, podemos aludir a um completo desconhecimento, pois não sabem nem têm noção ou reconhecem os méritos de quem falam. Então, como alguém pode resisti-lo ou deslocar o seu senhorio? Seria o mesmo que dizer que, pelo desejo de alguém, ele deixasse de ser Deus ou estivesse impedido de sê-lo. Se essa não é uma heresia, assim como o teístas relacionais a proclama com sua aparente piedade, o que é?
O intuito não é outro senão tentar ferir a soberania divina e colocá-la em xeque diante do poder humano. E esse homem seria tão poderoso a ponto de impedir o eterno propósito de Deus. Há uma nítida e evidente exaltação do homem comum, e a inferiorização do homem perfeito. Vejam a que ponto, para defender o seu raciocínio doentio, eles descem cada vez mais baixo ao abismo da afronta e rebeldia a Deus. Ou seja, quanto mais distantes da verdade, mais mentiras são necessárias para conservá-la distante. E a única associação possível, visto o ministério pastoral ser instituído pelo próprio Deus, é apelar para a sua desqualificação afim de inabilitar os dons dados pelo Espírito.
Diante de toda a bobagem e infantilidade propagada por esses inimigos, o que mais salta aos olhos é o desprezo a Deus e à igreja. E o que temos já não são meninos inconstantes, como Paulo descreve em suas cartas [à despeito da autoridade que eles tanto atacam, mas tão intensamente buscam para si mesmos, como únicos juízes da igreja; algo que satanás, como acusador que é, faz de dia e de noite diante do trono de Deus], mas meninos birrentos e barulhentos que se arvoram em sábios, e ao se fazerem surdos à voz do evangelho, combatem-no com o que de pior a obstinação ao pecado pode produzir, de mais danoso e trágico para si mesmos e para os incautos que os seguem.
Mais detalhes, sobre o assunto, poderão ser ouvidos na segunda parte do áudio da aula.
Notas: 1- As inquirições, a partir de pressupostos falaciosos, apresentadas aqui podem ser encontradas nas quase 300 páginas do livro de Frank Viola , O paganismo cristão, e em postagens repetidas pelos seus asseclas web afora, um amontoado de baboseiras pretensamente históricas e exegéticas, dignas de risadas [e, penso, de trazer mais tristeza do que desdém].
2- Aula realizada na EBD do Tabernáculo Batista Bíblico
3- Baixe este áudio em Aula 47b - Autoridade Pastoral III.MP3
Estudo sobre a Confissão de Fé Batista de 1689 - Aula 49: Autoridade e sustento pastoral - parte 3
Por Jorge Fernandes Isah
Na
semana passada, deixei dois textos para os irmãos meditarem a respeito do
sustento pastoral mas, fazendo algumas pesquisas sobre o tema, cheguei à
conclusão de que antes das pessoas objetarem o sustento elas objetam a
autoridade pastoral e o próprio pastorado. Julguei melhor retornar ao tema e
analisarmos as objeções que eles colocam, como, por exemplo, a de que a Bíblia,
em momento nenhum, estabelece ou autoriza qualquer liderança na igreja.
Na verdade, os pressupostos deles é que estão errados, pois partem do axioma de que não há liderança ou autoridade pastoral para, somente depois, irem às Escrituras, tomarem os versículos e darem toda uma interpretação diversa daquela que o texto enuncia; ao ponto de ensinarem que, quando a Bíblia fala que pastores, presbíteros e bispos devem ser honrados dentro da igreja, eles os colocam não como pertencentes a um corpo local, mas como homens que exercem este ministério em qualquer outro lugar, menos na igreja. É como se o pastor tivesse um chamado de Deus não para guiar o seu rebanho, mas para apenas e tão somente evangelizar os incrédulos, trazendo as ovelhas perdidas ao Evangelho e abandonando-as.
O fato é que a própria Escritura designa uma função específica para aqueles que anunciam e preconizam as "Boas-Novas" aos perdidos, a qual é a de evangelista, e também a de missionário. É claro que essas funções ou ministérios se misturam, de forma que o pastor deve também evangelizar assim como o evangelista pode pastorear, mas é importante ter em mente que a função pastoral está voltada especificamente para o trabalho de apascentar e guiar o rebanho de Deus, ainda que o pastor o seja onde estiver.
Na verdade, os pressupostos deles é que estão errados, pois partem do axioma de que não há liderança ou autoridade pastoral para, somente depois, irem às Escrituras, tomarem os versículos e darem toda uma interpretação diversa daquela que o texto enuncia; ao ponto de ensinarem que, quando a Bíblia fala que pastores, presbíteros e bispos devem ser honrados dentro da igreja, eles os colocam não como pertencentes a um corpo local, mas como homens que exercem este ministério em qualquer outro lugar, menos na igreja. É como se o pastor tivesse um chamado de Deus não para guiar o seu rebanho, mas para apenas e tão somente evangelizar os incrédulos, trazendo as ovelhas perdidas ao Evangelho e abandonando-as.
O fato é que a própria Escritura designa uma função específica para aqueles que anunciam e preconizam as "Boas-Novas" aos perdidos, a qual é a de evangelista, e também a de missionário. É claro que essas funções ou ministérios se misturam, de forma que o pastor deve também evangelizar assim como o evangelista pode pastorear, mas é importante ter em mente que a função pastoral está voltada especificamente para o trabalho de apascentar e guiar o rebanho de Deus, ainda que o pastor o seja onde estiver.
Analisaremos
alguns pontos da lista de objeções dos detratores do ministério
pastoral, e deixaremos as objeções ao sustento pastoral para a próxima aula.
A
primeira colocação, que tem um caráter muito mais danoso e pérfido é o de incluírem
o ministério pastoral no rol das heresias. Os irmãos sabem o que vem a ser
heresia? Claro que sabem! Mas o significado da palavra heresia é escolha ou
opção. No sentido teológico ela aponta para alguém que escolhe um desvio de doutrina ou algo que
se opõe à verdade claramente revelada na Escritura; é uma visão equivocada,
distorcida, corrompida daquilo que Deus revelou em sua palavra. Portanto,
ao ver deles, quando uma igreja ou denominação [que em muitos casos o simples
fato de ser igreja ou denominação já a torna em produto do anticristo ou
diabólico] reconhece a liderança de um pastor, presbítero ou bispo, ela se
enquadraria no grupo daqueles que desprezam a verdade, logo, é herética. O
nível de ataque se revela frontalmente contra toda a igreja e toda a tradição
da igreja e ao que a Bíblia revela.
A
primeira pergunta que eles não querem responder, e que responderemos, é: o que
é um pastor?
É
interessante notar que há uma verdadeira frente de ataque ao ministério
pastoral por parte de grupos que odeiam toda e qualquer forma organizada
de igreja.
Eles chegam às raias da irresponsabilidade e da calúnia ao colocarem que
a
igreja não passa de uma tradição humana e, como tal, guiada por homens
[não no sentido como a entendemos, formada por homens que são
instrumentos de Deus na realização da sua obra], mas, ao assim
procederem, querem dizer que não há nada divino
nela, e se não há, a conclusão é lógica, o espírito da igreja tem a
procedência maligna. Contudo, estranhamente, eles se apegam a escritos e
ditos de homens que se organizam em grupos para defenderem suas ideias.
Ora, por que a
igreja milenar é um conceito falso, mas suas organizações muito mais
recentes,
cujos líderes são indivíduos que impõem, de certa forma, seus
ensinamentos a outros
homens, não é? Se igualmente formam um corpo de doutrina, e são
doutrinados e doutrinadores? Uma pergunta que os líderes e seguidores
desse movimento dos “sem-igrejas”
não querem responder, um tanto por má-fé e orgulho e presunção, e outro
tanto
por ignorância mas também orgulho e presunção; porque os princípios que
os
norteiam são meramente especulativos, inferências, as quais não são
moldadas
pelo texto bíblico, mas tentam força-lo a calar-se no que diz e a dizer o
que
não diz. O que me leva a concluir que o espírito que os norteia não
procede de Deus e tem origem no inimigo do homem, ao qual consideram um
amigo, ainda que inconscientemente.
Mais vergonhoso ainda é que as suas críticas partem exatamente da experiência, ou melhor, de um tipo de experiência fragmentada daquilo que veem na sociedade ou foi dito dela, daquilo que a falsa igreja se esmera em exibir, como se fosse a totalidade da igreja ou como se todas as experiências estivessem contidas nela. Criam um estereótipo no qual colocam todas as denominações e todas as organizações eclesiásticas como se fossem uma, numa espécie de unidade indistinguível. Desta forma, torna-se mais fácil associar os erros e desvios e pecados da falsa igreja e a doutrina espúria do falso evangelho como se fossem todas uma mesma concepção, guiadas pela mesma doutrina e motivação. É a arte de confundir para iludir, de espalhar uma mentira esperando que ela se torne verdade. Não dá para esquecer que a igreja é alvo do inimigo desde o princípio, e ele “levantou” muitos dos seus servos, e ainda os levanta, não para coibir o erro ou denunciá-lo [e muitos incautos se iludem com essa falsa piedade], mas para fazer parecer que toda a igreja está corrompida e que apenas alguns “iluminados” conhecem-na verdadeiramente e estão aptos a julgá-la. Mas, de onde vem a sua autoridade? Quem a outorgou?
Mais vergonhoso ainda é que as suas críticas partem exatamente da experiência, ou melhor, de um tipo de experiência fragmentada daquilo que veem na sociedade ou foi dito dela, daquilo que a falsa igreja se esmera em exibir, como se fosse a totalidade da igreja ou como se todas as experiências estivessem contidas nela. Criam um estereótipo no qual colocam todas as denominações e todas as organizações eclesiásticas como se fossem uma, numa espécie de unidade indistinguível. Desta forma, torna-se mais fácil associar os erros e desvios e pecados da falsa igreja e a doutrina espúria do falso evangelho como se fossem todas uma mesma concepção, guiadas pela mesma doutrina e motivação. É a arte de confundir para iludir, de espalhar uma mentira esperando que ela se torne verdade. Não dá para esquecer que a igreja é alvo do inimigo desde o princípio, e ele “levantou” muitos dos seus servos, e ainda os levanta, não para coibir o erro ou denunciá-lo [e muitos incautos se iludem com essa falsa piedade], mas para fazer parecer que toda a igreja está corrompida e que apenas alguns “iluminados” conhecem-na verdadeiramente e estão aptos a julgá-la. Mas, de onde vem a sua autoridade? Quem a outorgou?
Os
ataques são autocontraditórios ao acusar-nos exatamente daquilo que eles mesmos
fazem e não percebem fazer. Eles partem do princípio de uma autoridade, não
investida por Deus, mas por cada um deles, uma autoridade ou muitas autoridades
humanas, cujos pensamentos são endossados por um grupo cada vez maior de
pessoas que não percebem estarem sendo fisgadas pela mesma rede que julgam
denunciar: o grito em alto e bom som de que nenhuma liderança é bíblica, mas,
afinal, como eles convivem com seus líderes? Ou apenas eles seriam bíblicos?
Muitas de suas afirmações não são somente desrespeitosas e ofensivas, mas atentam à soberania de Deus, à autoridade de Deus sobre a igreja; e não poucos são unitaristas, combatendo a Trindade, de forma que fica evidente o propósito dos seus ataques à autoridade eclesiástica, o que é algo muito maior do que simplesmente aparenta ser: querem a desagregação da igreja e a demolição da fé cristã. Porque mantendo o homem afastado da igreja, que chances ele tem de estar próximo de Deus? [1]. Como o Senhor Jesus disse, éramos ovelhas sem pastor, sem direção, e é o que esses “cristãos” desejam perpetrar.
Muitas de suas afirmações não são somente desrespeitosas e ofensivas, mas atentam à soberania de Deus, à autoridade de Deus sobre a igreja; e não poucos são unitaristas, combatendo a Trindade, de forma que fica evidente o propósito dos seus ataques à autoridade eclesiástica, o que é algo muito maior do que simplesmente aparenta ser: querem a desagregação da igreja e a demolição da fé cristã. Porque mantendo o homem afastado da igreja, que chances ele tem de estar próximo de Deus? [1]. Como o Senhor Jesus disse, éramos ovelhas sem pastor, sem direção, e é o que esses “cristãos” desejam perpetrar.
Devemos
notar que, apesar de haver uma pequena diferença entre os termos pastor,
presbítero e bispo, em linhas gerais, a Bíblia os trata como aquele homem capacitado
por Deus e designado pela igreja para cuidar, zelar, apascentar e proteger o
rebanho do Senhor, buscando aquelas que se encontram desgarradas e trazendo-as para
o aprisco, não abandonando-as, mas cuidado delas. Dentro deste contexto, a referência máxima do que significa “pastor”
está em João 10, quando o Senhor se nomina "o bom pastor"; mas será o
Senhor o único pastor? Será que Deus não instituiu na igreja homens que fossem
responsáveis por preservar o seu ensinamento? Que guiassem o seu povo no
Evangelho? E que guardassem a sã doutrina? Não há exemplos deles na Escritura?
Apontarei
alguns versículos que tratam do tema, com uma pequena explicação. Quem desejar
saber mais sobre o assunto, ouça o áudio desta aula, onde todos estes e outros
pontos são abordados com maior exatidão.
Em
Ef 4.11, Paulo diz que Cristo deu “uns para apóstolos, e outros para
profetas, e outros para evangelistas, e outros para pastores e
doutores”, para edificação do corpo. Ele deu à igreja pessoas as quais
qualificou para o aperfeiçoamento e induzindo ao bem e à virtude os
santos.
Atos 20.28: É Deus quem constitui os bispos para apascentar o rebanho de Deus;
1Tm 4.14: O presbítero ordenava, através da imposição de mãos, o ministro pastoral;
At. 14.23: Os anciãos eram eleitos pela igreja [assim como foi a igreja quem elegeu Matias para o lugar de Judas no apostolado];
At 16.4: Não somente os apóstolos, como querem parecer alguns, mas também os anciãos tinham a incumbência de estabelecer decretos e normas para as igrejas;
Tt 1.4: Os presbíteros eram estabelecidos de cidade em cidade;
Tt 1.5-9; 1Tm 3.1-10: Tinham de atender a certas qualidades para serem líderes na igreja, sem as quais, ninguém podia ser candidato ao episcopado.
Atos 20.28: É Deus quem constitui os bispos para apascentar o rebanho de Deus;
1Tm 4.14: O presbítero ordenava, através da imposição de mãos, o ministro pastoral;
At. 14.23: Os anciãos eram eleitos pela igreja [assim como foi a igreja quem elegeu Matias para o lugar de Judas no apostolado];
At 16.4: Não somente os apóstolos, como querem parecer alguns, mas também os anciãos tinham a incumbência de estabelecer decretos e normas para as igrejas;
Tt 1.4: Os presbíteros eram estabelecidos de cidade em cidade;
Tt 1.5-9; 1Tm 3.1-10: Tinham de atender a certas qualidades para serem líderes na igreja, sem as quais, ninguém podia ser candidato ao episcopado.
Notas: [1] Com isso não estou afirmando que todos na igreja estão próximos de Deus. Sabemos que há o joio, e de que o joio foi semeado pelo inimigo, mas fora da igreja, como a Bíblia diz e já estudamos, o homem não está sob a proteção divina.
[2] Aula realizada na EBD do Tabernáculo Batista Bíblico.
[3] Baixe o áudio desta aula em Aula 47b - Autoridade Pastoral III.MP3
segunda-feira, 19 de agosto de 2013
sábado, 10 de agosto de 2013
segunda-feira, 5 de agosto de 2013
segunda-feira, 29 de julho de 2013
quarta-feira, 24 de julho de 2013
Estudo sobre a Confissão de Fé Batista de 1689 - Aula 48: Autoridade e Sustento Pastoral - Parte 2
Por Jorge Fernandes Isah
Continuando o nosso estudo sobre a biblicidade da autoridade e do sustento pastoral, primeiramente, façamos um esclarecimento: Não sou pastor, seminarista, nem recebo salário da igreja da qual sou membro.
Segundo, muitos dirão: "Veja quantos pastores profissionais existem, que sugam tudo o que podem dos fiéis, extorquindo-os com falsas promessas de bênçãos enquanto se empanturram de dinheiro, gastando-o da forma mais mundana possível, em bens materiais e suntuosidade". Reconheço, é verdade. Há muitos líderes que "vendem" o Evangelho, tratando-o não menos que um produto rentável. Mas isso representa dizer que todos são mercenários? Que estão buscando o que lhes é próprio ao invés da glória de Deus? Não! E a despeito de todos os falsos mestres (os quais estão sob a ira de Deus), a Bíblia exorta a igreja a suprir as necessidades dos que pregam a palavra.
Terceiro, nossa igreja é pequena e de poucos recursos; auxiliamos o nosso pastor em seu sustento, contudo, ele trabalha secularmente seis dias por semana, 10 horas por dia, para suprir as necessidades de sua família. E percebo que se ele fosse um pastor de tempo integral dedicado à igreja, tanto os membros como os trabalhos evangelísticos seriam fortalecidos.
Quarto, não quero generalizar, mas, normalmente, os que atacam o sustento pastoral são aqueles que se acham dignos de serem crentes, desde que não tenham de sacrificar nenhuma parte dos seus bens. De certa forma, o que move os "mercadores da fé" é o mesmo que os move: a avareza, o amor ao dinheiro.
Quinto, há os que tentam espiritualizar o que não é espiritual. O Evangelho de Cristo é espiritual, porém, proclamado fisicamente pelo pregador, pela impressão de Bíblias (por mãos incrédulas, muitas vezes), em suma: por meios humanos. Tentar provar que a pregação do Evangelho não é trabalho (seja remunerado ou não) é contradizer o próprio tratamento dado à questão por Jesus (Jo 4.38, 5.17), e Paulo (1Co 3.8, 15.58; Cl 1.29; Hb 6.10).
Feito os esclarecimentos, analisemos alguns versículos que tratam do assunto:
1) "Quem jamais milita à sua própria custa? Quem planta a vinha e não come do seu fruto? Ou quem apascenta o gado e não se alimenta do leite do gado?" (1Co 9.7).
O que o apóstolo está dizendo? Aqueles que pregam o Evangelho que vivam do Evangelho (1Co 9.14). Paulo reinvindica o direito de ser sustentado em seu ministério pela igreja. Como afirma: "Ou só eu e Barnabé não temos direito de deixar de trabalhar?" (1Co 9.6). Provavelmente os coríntios acusavam Paulo de "mercadejar" o Evangelho, de procurar o benefício próprio, de pregar o Evangelho por motivos mundanos. Porém, revela-lhes que tanto ele como os demais apóstolos têm o direito de terem o sustento para si e suas famílias, e de que essa responsabilidade cabe à igreja (1Co 9.4-5). Não é o que parece ao afirmar "Esta é minha defesa para com os que me condenam" (1Co 9.3)? E "Digo eu isto segundo os homens?" (1Co 9.8). Ao que arremata: "Ou não diz a lei também o mesmo?" (1Co 9.8).
Paulo prossegue a argumentação protestando que, aquele que lavra e debulha (ou seja, aquele que trabalha), lavra e debulha com esperança de ser participante (1Co 9.10). E continua: "Se nós vos semeamos as coisas espirituais, será muito que de vós recolhamos as carnais?" (1Co 9.11). O apóstolo declara que esperava colher muito menos dos coríntios do que lhes tinha dado, mas ainda assim, esperava obter o necessário para a sua subsistência.
A sequência à qual Paulo expõe o seu pensamento é extremamente lógica, e impossível de não entendê-la, a menos que seja lida com premissas falhas. É o que muitos dirão, justificando-o com o v. 12: "Se outros participam deste poder sobre vós, por que não, e mais justamente, nós? Mas nós não usamos deste direito; antes suportamos tudo, para não pormos impedimento algum ao evangelho de Cristo".
Atentamos que o verso fala de um "direito" que o apóstolo possuía, o qual era o de ser mantido pela igreja. Porém, diante das dúvidas levantadas pelos coríntios, e da própria resistência da igreja em ajudá-lo, ele não "usou" esse direito, para que a descrença dos coríntios não aumentasse, e fosse "impedimento" para a proclamação do Evangelho. Dizer que Paulo censurou os ministros que são sustentados pela igreja é distorcer completamente o sentido daquilo que ele próprio diz.
Resumindo: Paulo não pregava o Evangelho por causa das recompensas, por aquilo que a igreja iria lhe dar; ele pregava o Evangelho por amor a Cristo e aos eleitos (2Tm 2.10), contudo, esperava que, como igreja, os irmãos suprissem as suas necessidades.
2) "Outras igrejas despojei eu para vos servir, recebendo delas salário; e quando estava presente convosco, e tinha necessidade, a ninguém fui pesado" (2Co 11.8).
Qual de nós, vendo o irmão em necessidade, vira-lhe as costas? Foi o que os coríntios fizeram em relação a Paulo. E ele os exorta com tristeza, sabendo que negligenciaram o seu compromisso para consigo; porém com o nítido objetivo de não somente apontar-lhes o erro, mas de levá-los ao arrependimento e correção. Senão, por que tocar no assunto?
Há quem entenda que Paulo está condenando os que recebem salário, como alguém que é "pesado" à igreja, um usurpador (ao contrário, o que ele diz dos coríntios é que suas atitudes eram usurpadoras, eles é que "roubavam" dos macedônios ao receber o Evangelho de graça, sem nenhum sacrifício).
É claro que há casos e casos. Aqueles que se utilizam da posição de liderança no ministério para o enriquecimento, a abastança material, o deleite carnal, o consumismo desenfreado, e o apego sórdido ao dinheiro (seja pastor ou não) comete pecado, e é injusto. Em outras palavras, quem age assim sequer é convertido. Porém, o fato de muitos agirem desta forma (e, infelizmente, parece que o pastoreio se tornou num novo "toque de Midas" o qual transforma tudo o que põe a mão em ouro), não representa que o princípio da subsistência ministerial seja antibíblico.
Novamente, Paulo escreve aos coríntios dando-lhes "um puxão de orelhas", entre outras coisas dizendo que eles deveriam agir e viver como igreja. Havia muita divisão entre eles, muito sectarismo; e para a sua tristeza, especialmente por que plantara a igreja, eles o desprezavam em detrimento aos falsos apóstolos (2Co 11.1215) os quais, certamente, eram os que o caluniavam junto ao povo.
Ele defende-se de que, em nada é menor do que os demais apóstolos e, portanto, tem o mesmo direito que os demais tinham, inclusive o de viajar com sua família, como Pedro fazia (2Co 11.5). Mesmo solteiro, Paulo reivindica esse direito, o de constituir uma família e poder viajar com ela no seu ministério.
Temos de entender que o fato de Paulo pregar de graça aos coríntios, e os coríntios o receberem sem se preocupar com as suas necessidades, é motivo de glória para o apóstolo e de "desglória" para a igreja de Corínto, ainda que isso não os impediu de serem abençoados pela pregação do Evangelho. É o que ele diz: "Pequei, porventura, humilhando-me a mim mesmo, para que vós fôsseis exaltados, porque de graça vos anunciei o evangelho de Deus?" (v. 7).
À frente, no capítulo 12, vem-nos a confirmação: "Pois, em que tendes vós sido inferiores às outras igrejas, a não ser que eu mesmo vos não fui pesado? Perdoai-me este agravo... Eu de muito boa vontade gastarei, e me deixarei gastar pelas vossas almas, ainda que, amando-vos cada vez mais, seja menos amado" (2Co 12.13,15 - grifo meu). Parece-me que Paulo coloca os coríntios em pé de igualdade com as demais igrejas, a não ser pelo fato dele não ter sido "pesado" a ela. Em outras palavras, os coríntios estavam numa posição "inferior", em débito, por não terem com essa beneficência demonstrado "amor" ao apóstolo. É assim que Paulo os retrata: enquanto o seu amor por eles aumentava a ponto dele se sacrificar para pregar-lhes o Evangelho (o que implica em passar necessidades), a igreja de Corinto não se dispunha a auxiliá-lo em seu sustento, como prova de amor.
No fim das contas, o que importa é isso: o amor a Cristo e Seu Evangelho, o que resulta em obediência.
Apêndice: De certa forma, o mesmo sectarismo que Paulo aponta entre os coríntios, vemo-lo hoje. A Igreja está tão dividida, inclusive pelos que pregam unidade, pelos sem "placas" nem "nomes", pelos que se julgam filhos "exclusivos" de Deus, pelos que se consideram "libertos" mas estão presos ao pior farisaísmo existente, e acabam por se esquecer do principal: pregar o Evangelho de Cristo crucificado (1Co 2.2).
Perdemos tempo com "outros" evangelhos, e negligenciamos o que realmente importa. Com isso, não quero jogar para "debaixo do tapete" os problemas da igreja, muito menos pregar o evangelho ecumênico. Longe de mim cometer estes pecados. Mas, se ao invés de gastar o precioso tempo de que dispomos tentando "corrigir" os erros de outras igrejas e denominações, preocupássemos conosco, nossos irmãos e igreja certamente estaríamos "salvando" a nós mesmos e aos nossos queridos... Um minuto! Não confunda uma frase hiperbólica com salvação de verdade, a qual apenas o nosso Senhor Jesus Cristo é capaz de realizar. Quero dizer é que, nos preocupamos em "salvar" os outros (pelo menos nos enganamos com essa idéia), quando na verdade o nosso objetivo é "revelar" o quanto estão errados e desviados do caminho; e assim nós mesmos acabamos nos desviando do caminho, substituindo o amor pelo legalismo, a mera acusação, e a autoexaltação. E, por favor, não confundam essa declaração com a condenação à disciplina bíblica, pois a disciplina é atributo da igreja, do corpo local, e não de irmãos isolados que falam por si só, como se fossem a própria voz de Deus (estes, se forem eleitos, são alvos da disciplina divina).
Deus levantará segundo a Sua santa vontade irmãos que farão o trabalho apologético, defendendo a fé bíblica apontando o erro daqueles que são antievangelho, e mesmo dos cristãos que "deslizaram" em um princípio ou outro. Mas, infelizmente, o que acontece é que, de uma hora para a outra, a maioria se arrogou e arvorou apologista, e saiu "atirando" para todos os lados, como uma metralhadora descontrolada.
Enquanto isso, sorrateiramente, o diabo planta dentro do corpo local suas heresias, mas como nossos olhos estão voltados para os erros alheios (de outras denominações e outros irmãos denominacionais, cuja disciplina não está ao nosso alcance), permitimos que a nossa omissão e desleixo corrompa-nos também.
O pior é que muitos nem sequer participam do corpo local, acreditando num cristianismo solitário e individualista, numa clara rebeldia aos princípios bíblicos que dizem defender. No fundo, se consideram superiores e melhores do que os mandamentos de Cristo; e sentam-se confortavelmente em suas torres de observação, desprezando-a, ridicularizando-a, pois sequer passa-lhes pela cabeça submeter-se à autoridade com que o Senhor investiu-a.
São "livres" para bater à vontade, contudo, esquecem-se de que, caso sejam eleitos, a mão disciplinadora de Deus está sobre eles. Se não forem, não há disciplina, mas a condenção eterna os aguarda.
A melhor forma de se pregar o Evangelho de Cristo é pregando o Evangelho de Cristo, e não combatendo o antievangelho. Qualquer um pode combater (pois nem mesmo argumentos precisa-se ter, apenas vontade, disposição), mas poucos são capacitados a viver o Evangelho, pois para isso é preciso ser convertido por Cristo, regenerado e lavado no Seu sangue.
A melhor forma de se lutar contra a fraude e a heresia é expondo a verdade bíblica. De nada adianta refutar a heresia se não se obedece aos mandamentos do Senhor, e assim fazendo-o, demonstra não amá-lO (Jo 14.15) e, "em vão, porém, me honram, ensinando doutrinas que são mandamentos de homens" (Mc 7.7).
Portanto, é urgente que antes de se entrar numa "caça às bruxas", que se viva o Evangelho, testemunhando a Cristo nosso Senhor. Fim do apêndice.
Finalizando, transcrevo mais uma vez as palavras do apóstolo Paulo: "Os presbíteros que governam bem sejam estimados por dignos de duplicada honra, principalmente os que trabalham na palavra e na doutrina; porque diz a Escritura: Não ligarás a boca ao boi que debulha. E: Digno é o obreiro do seu salário" (1Tm 5.17-18); porque "se alguém também milita, não é coroado se não militar legitimamente. O lavrador que trabalha deve ser o primeiro a gozar dos frutos. Considera o que digo, e o Senhor te dê entendimento em tudo" (2Tm 2.5-7).
Timóteo ouviu.
E, nós?
Nota: 1- Aula realizada na EBD do Tabernáculo Batista Bíblico
2 - Baixe este áudio em Aula 47 A.MP3
Estudo sobre a Confissão de Fé Batista de 1689 - Aula 47: Autoridade Pastoral - Parte 1
Dando sequência ao nosso estudo sobre a igreja, analisaremos o aspecto
da autoridade e sustento pastoral. Neste estudo, já falamos sobre vários
pontos da igreja verdadeira e as marcas que ela detém, inclusive, a sua
autoridade sobre o crente. Apesar desta doutrina ser extensamente
descrita na Escritura, há cristãos que não a reconhecem, e, por isso,
desprezam-na. O que está ligado mais ao individualismo e à
autossuficiência do homem moderno [o qual tolamente se acha "senhor de
tudo" e autoridade final] do que da sua não expressividade canônica.
Vivemos tempos em que os crentes encontram-se tão ou mais rebeldes do
que os mundanos, acreditando em uma liberdade capaz de prescindi-los de
qualquer autoridade, ainda que muitos digam reconhecê-la em Cristo, mas
rejeitam-na completamente ao desconsiderar a autoridade que ele deu à
igreja e aos seus ministros; o que acaba por levantar a seguinte dúvida:
se não reconhecem a autoridade eclesiástica que veem, como reconhecerão
a Cristo que não veem? Eis a questão!
Iniciemos então pelos versos de 1Ts 5.12-13: "E rogamo-vos, irmãos,
que reconheçais os que trabalham entre vós e que presidem sobre vós no
Senhor, e vos admoestam; e que os tenhais em grande estima e amor, por
causa da sua obra. Tende paz entre vós".
A
palavra "presidir" significa “estar à frente”, “governar”,
“superintender”, mostrando uma qualidade de liderança, comando, de
alguém que tem autoridade sobre outro(s), que os direciona, levando-os à
obediência e ao cumprimento de determinadas ordens. Interessante frisar
que a obediência do crente em relação ao seu pastor ou presbítero é a
mesma a qual o pastor e presbítero devem estar sujeitos, a qual é a
autoridade da igreja; e, por isso, não é possível que eles ordenem ou
orientem um ou mais membros a agirem divergentemente das deliberações do
corpo local. É uma via de mão-dupla, na qual o pastor e presbítero são
aqueles que primeiro devem proteger as resoluções que a igreja deliberou
e não transtorná-las. Não há lugar para o despotismo ou a autoridade à
revelia do corpo local, pelo contrário, a autoridade pastoral se
fundamenta no poder com o qual o Senhor investiu a sua igreja, e a ela
está sujeita.
Apenas
como um adendo à nomenclatura, já que utilizo termos correlatos e que
em algumas denominações referem-se a funções distintas, creio que os
vocábulos, bispo, pastor e presbítero são sinônimos e significam, de
maneira geral, a posição daquela pessoa madura e experiente na fé capaz
de guiar e alimentar o rebanho do Senhor. Os oficiais da igreja governam
não para si mesmos, como dito, nem a partir de autoridade própria, mas
da autoridade investida por Deus, como servos [1Pe 5.1-4, conf Mt
20.26-27].
E
a prova maior de que nada do que estamos dizendo é falso, baseia-se no
fato de o próprio Deus, através do seu Espírito Santo, dar esses dons à
igreja. É o que Paulo nos diz em Efésios 4.10-13: "Aquele que desceu é
também o mesmo que subiu acima de todos os céus, para cumprir todas as
coisas. E ele mesmo deu uns para apóstolos, e outros para profetas, e
outros para evangelistas, e outros para pastores e doutores, querendo o
aperfeiçoamento dos santos, para a obra do ministério, para edificação
do corpo de Cristo; até que todos cheguem à unidade da fé, e ao
conhecimento do Filho de Deus, a homem perfeito, à medida da estatura
completa de Cristo".
Deus
deu a alguns membros da igreja funções e ministérios especiais, de
forma que nem todos estão num mesmo nível funcional, numa igualdade de
atribuições, o que não pode ser nem significa inferioridade ou
superioridade espiritual de um membro sobre o outro. Se entende-se a
questão como uma mera disputa de poder, em que um pode mais sobre o
outro, a coisa deixa de ser espiritual para ser essencialmente carnal.
Afinal, todos são servos do mesmo Senhor, e o que nos diferencia é o dom
que o próprio Deus entregou a um e não a outro, e que entregou a outro e
não àquele. Parece, contudo, que o pastor, bispo ou presbítero são os
alvos mais adequados para os insubordinados, que chegam ao extremo de
desqualificá-los, menosprezá-los e até alegando a antibiblicidade de
seus dons. Ora, se não são bíblicos, por que a Escritura se esmera em
designá-los, descrevê-los e qualificá-los? O fato de haver falsos
pastores e mestres serve de negação para que não sejam reconhecidos os
pastores verdadeiros e que temem ao Senhor, servindo-o? Em quê a
quantidade daqueles que não honram o seu ofício e, em muitos casos, são
servos de satanás, anula a biblicidade do ministério e autoridade
pastorais? Com a palavra, os detratores...
O
que Paulo exorta-nos é, ao contrário, reconhecer a autoridade pastoral,
não como algo a ser realizado por soberba, orgulho ou vaidade, mas
reconhecendo que o pastor ou presbítero é aquele que serve mais
humildemente dentro do corpo local. É por isso que atitudes como a de
crentes que difamam e denigrem o dom pastoral, de maneira genérica, agem
com soberba e orgulho muito superiores à que afirmam denunciar. De
forma irresponsável e insana querem colocar todos no mesmo balaio em que
deveriam estar alguns. No fundo, toda essa empáfia serve apenas para
desculpá-los diante de si mesmos, demonstrando, via de regra, desdém
para com a igreja e o Evangelho, e um ensimesmamento, em que o intento é
a glória do próprio umbigo.
A
alegação de que tratam é que, se a maioria dos pastores está preocupada
com os seus próprios interesses, conclui-se que todos os pastores
também estão; se a muitos roubam, todos são ladrões; se há farsantes,
todos são impostores. Isso é de uma arrogância sem par! E de uma
leviandade ainda mais diabólica, nada condizente com a vida cristã.
Alegam-se oniscientes a ponto de mapearem todo o universo eclesiástico,
condenando-o, sem saírem de suas poltronas. Têm por fato algo que não
passa de especulação; e por direito algo que não foge de uma
reivindicação. É por isso que a Bíblia zelosa e sabiamente detalha em
minúcias quem está apto e quem não está ao ministério pastoral.
Infelizmente, há aqueles que querem os holofotes sem que tenham o
chamado de Deus. Há os que nem mesmo são convertidos, ou os que são
declaradamente ímpios em suas atitudes e desregramentos. Porém, nada
disso invalida o dom dado por Deus. E ele se preocupou em evitar que
tais trapaceiros se instalassem no seio da igreja. Paulo em 1 Tm 3:1-7 e
Tt 1:5-9, adverte para as qualidades que um pastor, presbítero ou bispo
devem ter, e o cuidado necessário para que a igreja decida-se em
alçá-los a esses postos. E as características, como indicativas de um
chamado divino, são reveladas exteriormente, de forma que qualquer um
possa vê-las, percebê-las e confirmá-las. Paulo nos dá uma lista de
distintivos que não são subjetivos, mas claramente objetivos e
assinaláveis. Especialmente que ele não seja neófito, "para não se
ensoberbecendo-se, não caia na condenação do diabo" [1Tm 3:6]; a
maturidade espiritual e a experiência na vida cristã devem ser pontos
fundamentalmente analisados pela igreja para sancionar um líder. E isso
não nos remete, necessariamente, à questão da idade, pois há jovens
muito mais maduros que velhos, ainda que, cronologicamente, espera-se
que um velho seja mais sábio que um moço.
A
questão é que o erro está, na maioria das vezes, no pouco zelo com que a
igreja estabelece seus líderes. Há casos em que um ministro é chamado à
liderança sem que preencha correta e adequadamente os princípios
estabelecidos pela Escritura para assumi-la. Indicações e até mesmo a
excelência acadêmica [graus e títulos que ele tenha] falam mais do que a
sua vida cristã. Prima-se hoje mais por um diploma teológico do que
pelo testemunho cristão. Com isso não estou desmerecendo o estudo, e,
sobretudo, o esforço de quem estudou anos para obter uma designação
acadêmica. Mas ela não é tudo, e muitas vezes torna-se em nada, dada as
inúmeras heresias que campeiam entre seminários e faculdades teológicas,
além de um desprezo a Deus e sua palavra, e o próprio fato de alguns
estarem no ministério sem chamado, santidade, zelo, e, mesmo sem
conversão. O que me leva a defender severamente a formação de líderes no
âmbito da igreja, dentro da própria igreja, primeiramente para que o
seu chamado seja confirmado por ela, segundo, para que o testemunho do
candidato, no decorrer dos anos, sirva de "certificado" para o cargo, e,
terceiro, para que ele seja conhecido de todos os membros, e ele os
conheça igualmente. Mas este é outro assunto, para outra hora...
Voltando
ao ponto central, da autoridade pastoral, leiamos Hb 13.17: “Obedecei
aos vossos guias e sede submissos para com eles; pois velam por vossa
alma, como quem deve prestar contas, para que façam isto com alegria e
não gemendo; porque isto não aproveita a vós outros.”
A expressão "guias" fala daqueles que vão à frente e conduzem o
rebanho, nitidamente dando-nos a ideia de liderança, daqueles que
exercem o cuidado das almas, dos membros do corpo local. Mas, com isso,
se quer dizer que há um grupo de irmãos que "fazem" o trabalho de Deus e
outro que somente assiste? Não! Ao menos, nunca devia ser assim. Uma
igreja que age dessa forma não entende o seu papel, nem compreende a
obra que tem de realizar. Uma igreja assim é presa fácil para homens
astutos, os lobos vorazes e cruéis que desejam destruir o rebanho,
conforme Paulo descreveu em Atos 20.29. Devemos nos lembrar de que uma
igreja bíblica não se constitui de um grupo de irmãos ativos e um grupo
de irmãos passivos, aqueles controlando estes e estes, simplesmente,
submetendo-se ao controle daqueles: “pelo contrário, cooperem os
membros, com igual cuidado, em favor uns dos outros” (1Co 12.25). Isso é
sabedoria, que vem dos céus, para a glória de Deus.
Continuaremos, na próxima aula, analisando a biblicidade da autoridade pastoral.
Notas: 1 - Aula realizada na EBD do Tabernáculo Batista Bíblico;
2 - Para maior consideração e detalhes, ouça o áudio da aula;
3- Baixe esta mensagem em aula 47.mp3
Estudo sobre a Confissão de Fé Batista de 1689 - Aula 46: "Uma marca cristã desprezada"
Por Jorge Fernandes Isah
A Bíblia aponta-nos vários dos nossos deveres como cristãos e como membros do corpo local:
- Orar uns pelos outros [Tg 5.13-16];
- Exortar e edificar uns aos outros [1Ts 5.11, Hb 3.12-14] - Exortar é uma palavra que traz vários significados, como: Aconselhar, persuadir; animar, encorajar, incitar; sempre em relação à uma vida de fé genuína e santa ao serviço de Deus;
- Levar as cargas uns dos outros [Gl 6.2];
- Sujeitar-nos uns aos outros [Ef 5.14-21].
Estes são princípios estabelecidos por Deus para que o seu povo caminhe em unidade e santidade, cumprindo o mandamento do Senhor de amar ao próximo como a si mesmo. Na verdade, o ensino que temos é até superior, de amar o próximo mais do que a nós mesmos, pois foi assim que Cristo agiu ao entregar-se por nós. Ele nos amou com um amor superior, levando-o à cruz para que fôssemos libertos do pecado e condenação, a morte eterna e definitiva. Devemos ter em mente sempre o outro, especialmente o irmão, caminhando com ele, lado a lado, em meio às tribulações, tristezas, sofrimentos e dores que o mundo nos infringe, sustentando-nos mutuamente. Por isso somos admoestados a orar, exortar, instruir-nos reciprocamente; a carregarmos os fardos duros e pesados uns dos outros, de forma que ele se torne mais leve para o irmão, o qual também auxiliar-nos-á a diminuir o peso das nossas cargas.
Sabemos que é pelo poder de Cristo, por sua bondade e misericórdia, que recebemos o consolo e o alívio nas atribulações, pois, sem ele, nada seríamos ou poderíamos realizar. Contudo, é estimulante saber que os irmãos se interessam pelo nosso sofrimento e dores, e esteja, cada um segundo o dom que o Senhor dá, disposto a reconhecê-las como também suas, já que os membros colaboram, cada um, para o bem do corpo. Creio que o Senhor nos deu essas orientações para não nos preocuparmos além da conta, além do necessário, com os nossos problemas, também. Este é o caráter pedagógico do auxílio, não nos deixar entristecer exageradamente, mais do que a tristeza convém e, de certa forma, alegrar-nos no zelo e sustento para com o irmão aflito [parece contraditório, mas o sofrimento do outro pode nos "tirar" do círculo vicioso em que muitas vezes nos encontramos, em meio aos problemas triviais e corriqueiros do dia-a-dia. E a nossa tristeza com a aflição alheia pode tornar-se na alegria dele, de não se reconhecer sozinho e abandonado em sua luta, fortalecendo-o, de forma que ele também nos fortalecerá. Na física esse princípio seria chamado de "lei da ação e reação", em que o amor e a piedade atribuídas retornam-nos de forma equivalente].
Acredito que esses são pontos que não suscitam muitos debates, gerando divergências. Normalmente são esquecidos ou relegados ao nível do desinteresse, seja por considerá-lo algo trivial, reles, sem muita importância, ou por certa soberba de se achar que já o alcançou e de que as etapas a serem vencidas são outras. Ledo engano! Em um mundo cada vez mais individualista e rebelde, a igreja também tem se individualizado e se rebelado contra os preceitos divinos. Igualmente, cada vez mais, os crentes se consideram autônomos e donos dos seus narizes, de forma que o sustento, auxilio e piedade se tornam escassos, quase invisíveis. Não que devemos alardear aos quatro cantos o auxílio ou consolo ou sustento que devotamos ao próximo, mas é que o próprio estado de coisas tem revelado o quão distantes estamos de viver uma vida verdadeiramente cristã, aos moldes bíblicos. Quase ninguém se interessa mais por uma prática cristã, no sentido de fidelidade à Escritura e de dar os frutos que o Espírito produz no homem regenerado. Os holofotes estão ligados e cada um quer a sua porção de luz, sem se preocupar em ser ele próprio a luz. Muitos reduzem a vida cristã a falar de Cristo para as pessoas, e eu já vi incrédulos repetirem versículos, referirem-se a Jesus, como muito crente não é capaz de fazer. Mas, então, tem-se um detalhe: ele fala bem, até mesmo com probidade e correção, mas a sua vida pessoal não espelha sequer um milímetro do que diz. E é este o ponto principal do qual não podemos nos esquecer, e do qual o Senhor alertou-nos: pode uma árvore má dar frutos bons e vice-versa? [Mt 7.17-20].
A parábola dos talentos assevera mais fortemente este ponto [Mt 25.14-30 cf. Lc 12.42-48]; no sentido de que somos mordomos do que Deus nos dá, e quanto mais ele nos dá, mais devemos honrá-lo, produzindo os frutos proporcionais à sua dádiva. Ou seja, somos ordenados a cuidar com amor, empenho e dedicação de tudo o que dispomos e que nos foi ofertado graciosamente. Não fazê-lo implicará em omissão, negligência e desobediência, resultando na ordem que o Senhor profere: "Tirai-lhe pois o talento, e dai-o ao que tem os dez talentos. Porque a qualquer que tiver será dado, e terá em abundância; mas ao que não tiver até o que tem ser-lhe-á tirado".
Assim devemos proceder em tudo, na vida pessoal, profissional, e na igreja. Há os que pensam ser possível uma vida aparente ou "mínima" no corpo de Cristo. Penso que se enganam a si mesmos os que assim agem. A vida cristã tem de ser intensa em seu zelo, amor, e em produzir os frutos para a glória de Deus. É claro que tudo isso é proporcional ao que Deus nos deu e capacitou-nos a gerir. Ele não dará mais do que podemos suportar, como está escrito: "Não veio sobre vós tentação senão humana, mas fiel é Deus que não vos deixará tentar acima do que podeis, antes com a tentação dará também o escape, para que a possais suportar" [1Co 10.13]. O verso se refere diretamente à tentação para o pecado, mas podemos, por princípio, levá-lo a todos os aspectos da vida, pois Deus não dá um fardo maior do que podemos carregar, já que, com o fardo, nos dá juntamente os meios de suportá-lo.
Voltando à parábola dos talentos, um servo ganhou cinco talentos, enquanto o outro dois, e o último um. Quando o Senhor voltou, os servos foram prestar-lhe contas. O primeiro devolveu-lhe dez talentos, o segundo quatro, e o último o mesmo talento que recebeu. Ou seja, este não soube o que fazer com o que Deus lhe dera, não soube aplicar o seu dom, ao contrário dos demais. Por isso foi reconhecido como mau e negligente servo, e lhe foi tirado o dom. A parábola nos remete a reconhecer Deus como o doador de tudo, inclusive dos nossos talentos e dons. Aquele que não sabe aplicá-los correta e convenientemente é como se não os tivesse; como um cego que quer ver ou um surdo que quer ouvir, com o agravante de que ele tem olhos e ouvidos bons, mas não sabe usá-los ou não os quer usar [Rm 12.4-8].
Na igreja do Senhor, devemos sempre buscar o melhor para nós e os demais irmãos e sermos o melhor que podemos ser, inclusive para nós mesmos, sem nos esquecer de que maior amor tem aquele que dá a vida por seu irmão. Parece um refrão de um cântico antigo ou um slogan, mas para nós tem de ser uma bandeira pela qual vivamos.
Este preâmbulo tem o objetivo de se chegar a dois outros pontos, que considero mais polêmicos e problemáticos dentro da igreja:
1) A autoridade eclesiástica – [1Ts 5.12-13, Hb 13.17]. Os oficiais da igreja governam não para si mesmos, nem a partir de autoridade própria, mas a autoridade investida por Deus, como servos [1Pe 5.1-5, conf Mt 20.26-27];
2) Sustento pastoral - 1Tm 5.17; Lc 10.7; At 28.8-10.
Os quais serão expostos e discutidos nas próximas aulas.
Notas: 1) Baixe esta mensagem em Aula 46.MP3
2) Aula realizada na EBD do Tabernáculo Batista Biblico
segunda-feira, 15 de julho de 2013
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