Por Jorge Fernandes Isah
O que vem a ser vontade?... Muitos podem dizer que vontade é o desejo de se fazer algo ou a disposição para se fazer algo ainda que não se faça, por vários motivos. Na história do pensamento humano sempre se discutiu sobre o significado real de vontade e desejo, e sobre sua relação, chegando-se a tê-las como sinônimos, tal a ligação intrínseca existente entre elas e, em outros casos, afirmou-se que elas são duas "pontentias", de forma que a vontade pertence ao campo racional enquanto o desejo ao campo sensorial ou sensível. Há uma disputa entre a psicologia e a filosofia para definir melhor ou mais corretamente os termos; porém, aqui interessa-nos não apenas o desejo, como uma vontade irrealizada ou uma impressão, mas a vontade em um determinado curso de ação. Ou seja, a volição, que nada mais é do que a vontade como a força que inclina e move o homem a querer, fazer e a não fazer, em seu caráter moral.
Infelizmente, hoje em dia, não se discute a vontade como um princípio racional da ação, como o poder originário da alma a produzir manifestações do homem; nossas escolhas são motivadas por um apetite voluntário que nos leva a agir. O que nos faz responsáveis por nossos atos, visto te-mo-los escolhidos. Não entrarei na questão se a vontade é ou não livre, se ela sobre uma ação prévia ou coação que a motiva. Certamente que o homem, como ser moral, é responsável pelo que faz, seja lá qual for a sua motivação. Tanto Platão como Aristóteles entendiam que o termo vontade somente era pertinente ao se fazer o que se quer, e não ao que satisfaz. Essa era a distinção racional que consideravam, pois fazer o que se quer é fazer o que é bom, o que é agir racionalmente. Acontece que o homem age, na maioria das vezes, em prol do mal, e eles entendiam que assim se age irracionalmente, ao se fazer o que agrada, simplesmente.
Entendo que essa é uma boa distinção, que pode explicar muitas vezes porque agimos pecaminosamente. Ainda que saibamos ser determinado ato pecaminoso, que nos leva a ofender a Deus e ao próximo ou a nós mesmos, nos dispomos a praticá-lo, indo contra a razão, a qual podemos chamar de consciência, que nos alerta do engano a se cometer. Mesmo que não conheçamos todos os riscos e implicações, temos sempre a capacidade de avaliar se o que está-se a praticar é certo ou não. Ainda que muitos digam não ter esse conhecimento, o que acontece na verdade é uma "cauterização da consciência", o abandono do senso moral, de forma que se apague do caráter os sinais que nos leva ao cuidado, à vigília que o conhecimento imediato nos revela quanto aos riscos da atitude que se vai tomar. É o abandonar-se à irresponsabilidade com o objetivo de não ser responsabilizado, nem de ser acusado, como se fosse possível viver num estado de inconsciência deliberada. O que se tem visto cada vez mais são os respaldos científicos, especialmente da psicologia moderna, de que muitos atos praticados pelo homem não têm como fonte a vontade deliberada ou determinada de se praticá-los. Com isso procura-se isentá-lo da responsabilidade, e se acaba por transferi-la a quem não tem controle sobre ela, visto ser o indivíduo o único capaz de decidir pela prática do ato ou não. Alegar que se foi coagido ou induzido ao erro em nada pode absolver o agente. Até mesmo um animal, como um cão ou um gato, percebe se cometeu uma bobagem ou não. Tenho cães que, ao passarem dos limites estabelecidos por mim, mesmo antes de eu descobrir a infração já é possível percebê-la na atitude "arrependida" do animal. Muitas vezes, tenho de sair pelo espaço deles procurando pela traquinagem até encontrá-la. Eles sabem que cometeram um "crime", e que por isso serão repreendidos. Ou seja, é quase possível dizer que eles têm uma mente mais racional do que muitos humanos. Que até mesmo os animais têm a noção do certo e do errado, guardadas as devidas proporções. E se não têm o Imago Dei, como nós, o que nós dá o direito de defender a irresponsabilidade? Como se os atos praticados não fossem originados pela vontade individual? Certamente que esse é um dos atributos divinos comunicado ao homem, e do qual o homem tenta, desesperadamente, se ver livre; de forma que assim ele se liberta tanto da responsabilidade moral como da sua dependência de Deus. Ao menos ele se imagina livre, em sua tola pretensão de liberdade. Um exemplo evidente de que a transgressão é consequência da vontade está relatado no livro de Gênesis, capítulo 4.
Abel e Caim levaram ofertas para Deus, e ele se agradou da oferta de Abel e não se agradou da de Caim, cujo semblante lhe decaiu, por causa da ira contra o seu irmão. E o Senhor lhe disse: "Por que te iraste? E por que descaiu o teu semblante? Se bem fizeres, não é certo que serás aceito? E se não fizeres bem, o pecado jaz à porta, e sobre ti será o seu desejo, mas sobre ele deves dominar". E o que aconteceu em seguida? Caim matou a Abel. E Deus expulsou-o de diante de sua face, e amaldiçoou-o. De forma que o próprio Caim reconheceu: "É maior a minha maldade que a que possa ser perdoada". Ao não ouvir o conselho divino, e dispor-se a fazer o que lhe agradava no momento, Caim decidiu-se pelo mal, e foi punido pelo seu crime. Segundo o parecer dos filósofos citados, Caim, ao não usar a razão, não foi capaz de ter vontade, mas o desejo irracional de matar e aplacar a sua ira com o sangue do seu irmão. Ele não dominou sobre o seu desejo, sabia o que não deveria fazer, mas decidiu fazê-lo porque foi do seu agrado. O Senhor nos diz quase a mesma coisa:
1) Caim deveria dominar o seu desejo;
2) Se não o fizesse, o pecado jazia à porta; em outras palavras, ele estava em iminência de se concretizar;
3) Sobre Caim seria lançada a culpa pelo seu desejo.
Temos aqui o desejo de Caim como algo realmente iníquo, irracional, o pecado acalentado e realizado, a exaltação do eu diante de si mesmo, mas jamais inconsciente, pelo contrário; o próprio Caim estava seguro da sua violação; ele queria, como resultado do seu desejo insano, o assassínio, o sangue de Abel em suas mãos; o que o levou a não considerar injusta a punição que lhe foi aplicada por Deus; ele estava consciente de que era justa, assim como estava consciente do ato praticado, pois em momento algum ele teve o menor sinal de arrependimento, de remorso pelo crime cometido. Caim estava convicto, e mesmo disposto a arcar com as consequências do crime praticado. O que enuncia a sua decisão e obstinação em fazer o mal conscientemente. O que vale dizer que fortes emoções, profunda consternação ou ira, não são justificativas para que a vontade direcione o homem ao que não deve ser feito, ao invés de mantê-lo distante, conservando-o no bem que o fará aceito [e, por bem, também significa o afastar-se do mal]. Como ser moral, o homem deve se dispor à dominar os desejos provenientes da sua natureza caída, afastando-se do mal, procurando o bem, que será sempre realizar não a vontade imperfeita e iníqua do homem, aquela pela qual damos vazão ao pecado, mas buscar incessantemente fazer a vontade divina, a qual é perfeita, e pura, e santa.
Tiago, em sua epístola, nos alerta de que "cada um é tentado, quando atraído e engodado pela sua própria concupiscência. Depois, havendo a concupiscência concebido, dá à luz o pecado; e o pecado, sendo consumado, gera a morte. Não erreis, meus amados irmãos". Concupiscência é todo o desejo imoderado, descontrolado, e foi por ele e para ele que Caim se entregou, gerando o pecado. E a morte foi a separação definitiva de Deus; e Caim saiu de diante da face do Senhor.
Deus tem vontade? Ou teria, vontades?[1]. Essa é outra discussão que perpassa os séculos, gerando mais confusão do que esclarecimentos. O homem, por suas próprias limitações e pelo desejo de ter todas as coisas explicitadas, como se tivesse o domínio sobre elas, e assim pudesse garantir algum mérito para si mesmo, não tem como compreender todos os aspectos que envolvem o ser divino. Ainda que muitos afirmem isso, há um esforço e empenho em não aceitar essa proposição, de forma que acaba-se trilhando o caminho perigoso de se inferir de Deus aquilo que ele não é. Como já disse anteriormente, muito do que é proposto não passa do reflexo daquilo que somos: soberbos e orgulhosos. Em relação a Deus, qualquer palpite, suspeita ou conclusão decorrente da nossa mente, e não daquilo que ele revelou, será uma armadilha para quem a defende ou expõe. Entender que o ser divino é inexorável, que é-nos impossível sondá-lo, e que o pouco conhecimento de que dispomos é fruto da vontade soberana de Deus, sempre circunscrito à sua revelação especial, a Bíblia, tornaria mais fácil a nossa situação.
Com isso não estou reivindicando que se abandone os estudos e a meditação, que sejamos ignorantes e desconheçamos a Deus. Não é isso. Basta saber que há limitações, barreiras levantadas pelo próprio Deus, e de que elas são intransponíveis, ao menos nesta vida. É-nos assegurado que naquele dia, o dia glorioso do Senhor, nada perguntaremos. Talvez porque seja-nos revelado tudo instantaneamente pelo Espírito Santo; talvez porque não nos preocuparemos em questões que se colocarão irrelevantes diante da glória, esplendor e majestade divinas. E como esse é um ponto importante da ortodoxia, não há porque desprezá-lo.
Como disse, se definiu entre os reformados alguns conceitos e divisões da vontade de Deus. Esquemas foram propostos e aceitos exatamente por conta da nossa limitação, na tentativa de se aproximar o máximo da verdade sobre o assunto. Mas fato é que não se pode falar de vontades em Deus. Ele tem uma única, imutável e eterna vontade. Alguns pensam que há um conflito entre o que Deus quer e o homem realiza, de forma que a Bíblia parece revelar que nem tudo o que Deus quer suas criaturas o obedecem. Mas seria isso verdade? Penso que não. Pois se estaria criando um problema ainda maior que atingiria o atributo da soberania divina. Ou Deus é todo-poderoso, como a Escritura revela, ou ele tem limitações. Por aceitar certas limitações é que muitos caminham para o liberalismo, panteísmo ou panenteísmo, e até para a descrença total. Invariavelmente ela inicia-se com a incompreensão da Bíblia, culminando na recusa em aceitá-la como a fiel e inspirada palavra de Deus.
Portanto, em Deus não há vontades, nada além de uma única vontade. Acontece que ela se manifesta, aos nossos olhos de maneiras distintas. Veja bem, esse entendimento decorre da nossa deficiência, da incapacidade e limitação intrínsecas ao ser humano. Partindo-se da dedução, chega-se as classes de empregos teológicos de alguns termos, como vontade decretiva e preceptiva, antecedente e consequente, absoluta e condicional, dentre outras. Ainda que eu não aprecie esse tipo de classificação, para não parecer apenas "ranzinza" adotarei o que os calvinistas mais antigos chamaram de vontade revelada e secreta. Parece-me um esquema mais simples e bíblico, e que abrange de maneira mais eficiente a compreensão que se deve ter sobre o assunto.
Para mim, Deus tem uma vontade apenas, mas que nos é apresentada em duas perspectivas diferentes. A vontade divina é aquela soberana, pela qual ele decretou todas as coisas, de forma que elas invariavelmente acontecerão como ele planejou. E dentro desse decreto está toda a criação: o universo, os seres angelicais, os homens, o mal, o pecado, a queda, os fatos mais corriqueiros e irrelevantes que se possam imaginar. Tudo veio à existência pela vontade divina, e por ela tudo subsiste. Não há como a vontade de Deus ser resistida ou anulada. Dentro do seu plano soberano e eterno tudo acontecerá conforme a sua vontade estabeleceu. É o que Jó diz: "Bem sei eu que tudo podes, e que nenhum dos teus propósitos pode ser impedido" [Jó 42.2]. Em outras palavras, Cristo nos diz a mesma coisa: "Aos homens é isso impossível, mas a Deus tudo é possível" [Mt 19.26]. É possível que alguém diga que a fala do Senhor se refere exclusivamente à salvação. Mas, pergunto: não poderia esse princípio ser aplicado a tudo? Haveria limites para a vontade infinita e eterna de Deus? Ou, como tudo o que se refere a ele, ela também é absoluta, necessária e essencial, e não pode ser restringida jamais pelo contingente? Qualquer análise da vontade de Deus a partir de alguma limitação que não seja o próprio ser divino [e aí entramos em outro problemão, pois Deus é infinito também em sua vontade] incorrerá no equívoco. Fato é que a vontade divina acontecerá infalível e invariavelmente, sem chances de não acontecer.
Mais alguém pode dizer: como então Deus ordena que façamos algo, como cumprir a sua lei, e não o obedecemos? Não há uma flagrante oposição do homem, ao pecar, contra a vontade de Deus que abomina e ordena que não pequemos?
É aqui que entra a distinção acima, a classificação que utilizarei sobre a vontade de Deus. Temos que Deus tem uma vontade, a qual compreende o que nos foi revelado e o que não foi. O que nos foi revelado está na Escritura, e qualquer homem tem acesso a ela [não quero dizer que todos têm acesso à Bíblia efetivamente, mas que existe a possibilidade de todos terem. Para que algo aconteça é necessário que ele esteja no "mundo das possibilidades", do contrário não existirá]. Moisés diz exatamente isso, ao referir-se à Lei: "As coisas encobertas pertencem ao Senhor nosso Deus, porém as reveladas nos pertencem a nós e a nossos filhos para sempre, para que cumpramos todas as palavras desta lei" [Dt 29.29]. Com isso não se quer fugir de eventuais problemas, mas constatar que existe um problema, e que nem todo ele é compreensível pois está retido na mente de Deus. Aquilo que ele ordenou, e que é a sua vontade expressa, nos foi revelado, e qualquer um pode se asseverar dele, confirmá-lo. Deus delineou na sua palavra aquilo que ele quer que façamos, como reflexo da sua santidade, e para nos apresentarmos santos diante dele. Acontece que o homem, por sua própria imperfeição, não é capaz de cumpri-la. Aprouve a Cristo fazê-lo por nós. Essa é a vontade revelada de Deus, e que está ao alcance de todos os homens [novamente, como possibilidade].
Porém, há o que não nos foi revelado, e que se pode chamar de vontade secreta ou não-revelada, que é do exclusivo conhecimento divino. Apenas ele a conhece, mais ninguém. Nem mesmo os anjos celestiais. Ela está por detrás do curso histórico pelo qual o universo vem trilhando, e que podemos resumir como sendo o propósito eterno de Deus. Não sabemos o que é, nem como se dará, sabemos apenas que ela existe. Ela é a parte do decreto eterno que, assim como Paulo se referiu ao ser divino, é insondável e inescrutável. Nenhum de nós é capaz de penetrá-la, nem investigá-la. E essa vontade divina ordenou todas as coisas, inclusive a desobediência humana. Do ponto de vista humano, ao pecarmos, estamos em desobediência a Deus, e contra a sua vontade revelada, o preceito ou mandamento. Em relação a Deus, cumprimos exatamente o que ele decretou eternamente, e realizando ou pondo em execução o seu plano, satisfazendo à sua vontade oculta ou secreta.
Há algum tempo, expus o seguinte exemplo em uma conversa que virou texto:
"Acho apenas que o termo 'desejo' não deve ser empregado. Ainda que Deus queira. É como o Pai que não deseja punir o filho, mas tem de puni-lo para o próprio bem do filho. Ele o ama e não quer que ele se perca, por isso o castiga, mesmo não querendo castigá-lo; ele o faz pela necessidade insuperável... No caso dos eventos maus, Deus os decreta, mas não os deseja, porém eles cumprem o propósito maior de revelá-lo e a sua vontade primeira: separar um povo para si por meio de Cristo... Por desejo quero dizer ter prazer, se deleitar, etc. Mas se desejo é querer, isso ele quer" [2].
Certamente não tenho hoje o mesmo entendimento que àquela época, ainda que concorde parcialmente com o que disse. Em linhas gerais, Deus quer uma única coisa, o cumprimento da sua vontade, do seu plano, e ele se dará através de meios que parecerão, à primeira vista, conflitar e se opor à essa mesma vontade, mas que não se opõem nem conflitam, antes estão subordinadas à vontade maior, aquela que não nos foi revelada. Com isso quero dizer que a vontade revelada é subjacente, dependente da secreta.
Um outro exemplo é o da morte de Cristo. Pedro nos diz que Deus decretou todos os eventos, e que eles foram realizados por Pilatos, Herodes, os judeus e os gentios [At 4.26-28]. Qual era o decreto divino? Que seu Filho Amado, Jesus Cristo, fosse preso, humilhado e morto pelos homens. Entendo que Pedro, ao referir-se a judeus e gentios quis dizer que todos colaboraram para a sua morte, a qual, porém, não aconteceu por causa de todos, no sentido de que Cristo não morreu por todos os homens, mas especificamente pelos eleitos, pela sua igreja, para trazer a Deus um único povo. Como o profeta também diz: "Todavia, ao Senhor agradou moê-lo, fazendo-o enfermar; quando a sua alma se puser por expiação do pecado, verá a sua posteridade, prolongará os seus dias; e o bom prazer do Senhor prosperará na sua mão. [Is 53.10]. A vontade divina era de que Cristo morresse, mas isso implicaria em contradição com o 5o. mandamento, "não matarás" [Ex 20.13]? A Pilatos, Herodes, os judeus e aos gentios foi ordenado não matar. Mesmo assim eles mataram o doador da vida. Havia uma vontade de Deus para que os homens não matassem [considero o termo inadequado, pois reputo-o como preceito, ordem, o qual se encontra em conformidade com o ser santo de Deus], pois uma coisa é a vontade como um desejo, outra coisa é a vontade imperativa, como uma ordem a se cumprir incontestavelmente. Contudo, dentro da sua vontade soberana e suprema, foi-lhes ordenado crucificar o Justo. E qual era o objetivo maior? A redenção dos homens, a justificação que somente poderia vir pela morte do Redentor, assim como Deus havia dito aos profetas, milhares de anos antes; sem nos esquecer de que tudo tem como fim a glória de Deus.
De certa forma, até mesmo na sua vontade revelada há um caráter "secreto", ao menos para a maioria dos homens, até que ela se cumpra. Muitos que se não consideram a autoridade divina somente a compreenderão diante do Tribunal de Cristo, que julgará bons e maus, justos e injustos; e, então aqueles que durante toda a vida desprezaram o sábio e santo conselho divino, expresso através da sua palavra, perceberão que aquilo que estava oculto para eles, havia sido revelado indistintamente, e agora lhes falava direta e pessoalmente, em forma de sentença. E temos outra implicação, a qual é: a vontade soberana e secreta estará sempre em ação, muitas vezes se misturando à vontade revelada, enquanto esta, nem sempre, fará parte necessariamente do curso histórico de muitos homens e nações. Quantos, por exemplo, jamais tomaram conhecimento do código mosaico ou da morte de Cristo? Com isso quero dizer que, no fim-das-contas, há uma vontade superior e mais elevada, em que todas as demais "vontades" estarão sujeitas e dependentes.
O QUE O HOMEM DEVE PROCURAR?
Mais do que entender os conceitos e formulações teológicas do termo "vontade divina", o homem deve estar pronto a obedecer a Deus, naquilo em que ele nos ordena ser obedientes. Desprezar o seu conselho é trilhar o caminho perigoso da rebeldia, em direção célere à condenação e ao inferno. Todos os homens são chamados a obedecer a Deus, a honrá-lo com suas vidas, e a adorá-lo como único Senhor. Isso é posto para todos, indistintamente, e por isso Paulo diz que todos têm o conhecimento inato de Deus, pelo qual ninguém poderá alegar inocência. Somos todos pecadores, iníquos e inimigos de Deus, e se ele ordena a obediência é porque não haveria outra forma de conciliação com ele. Porém o homem, por si só, está impedido de obtê-la, de se reconciliar com Deus. Aprouve a Cristo fazê-lo por nós. Como sumo-sacerdote e único intermediário entre Deus e os homens, ele padeceu para que fôssemos aceitos como filhos adotivos pelo seu Pai. Por isso a ordem é geral, para que todos se arrependam: "Mas Deus, não tendo em conta os tempos da ignorância, anuncia agora a todos os homens, e em todo o lugar, que se arrependam" [At 17.30]. Do contrário, a ofensa a Deus persistirá, e aquele que permanecer nela será condenado, no dia determinado em que com justiça o mundo será julgado por Cristo.
E a vontade de Deus para os homens é que sejamos como ele, santo. E ao seu tempo, ele fará dos escolhidos aquilo que não nos foi possível fazer por nós mesmos, cumprindo-se tanto aqui como lá, na eternidade, toda a sua santa e perfeita vontade.
Notas: 1- Escrevi, há algum tempo, sobre Deus ter escolhas ou não, cujo texto pode ser lido em "Deus não tem escolhas". Creio que a leitura dele poderá ajudar no entendimento do que tentei explicar aqui.