Por Jorge Fernandes Isah
Durante a semana, recebi através do twitter este texto, e como estava preparando esta aula, achei providencial analisá-lo, pois ele trata exatamente do mesmo assunto ao qual daremos continuidade no estudo da C.F.B. Pensei que seria uma boa oportunidade para discutirmos a questão de uma maneira, digamos, mais prática, e uma chance de mudar um pouco o curso de como estamos a estudar. Será feita a leitura do texto, e os comentários estarão entremeados a ele, em itálico.
Então, sem mais delongas, vamos à leitura e análise do texto, o qual é:
Deus pode criar, hipoteticamente, uma pedra que não possa carregar?
O ateu se acomoda no banco da praça, olha sobre o ombro e percebe que há um jovem padre amarrando os sapatos.
- Com licença... O senhor é Padre?
O jovem ergue as sobrancelhas com admiração! [como não reconhecem um clérigo de batina nos dias de hoje?]
- Sim, sou, respondeu o padre ajeitando-se no banco, exibindo o clergyman e um sorriso irônico.
- O senhor ainda crê mesmo? O senhor...
- Sim creio... E o senhor, não crê?...
- Acostumei-me a tolerar a ignorância dos homens...
- Então, temos algo em comum... Revidou o padre, olhando o relógio.
Um minuto... Temos aqui, inicialmente, uma conversa entre o padre e um ateu em um banco de praça. O que se percebe é que o jovem avistou o clérigo e provocou-o com uma questão. Até então, o padre sequer havia notado ou percebido a presença do ateu, mas este percebeu-o e dirigiu-se a ele, inquirindo-o. É importante saber que os nossos inimigos estarão sempre lado a lado conosco, nos tentando. Pedro nos advertiu de que o diabo está ao nosso redor à espreita, buscando a quem possa tragar. Igualmente, os seus servos também querem demover-nos da fé, de forma que reneguemo-la; fruto, primeiramente, do ódio e desprezo a Deus e que se transfere de alguma maneira para nós.
Uma das formas mais usuais deles é a argumentação sutil, cavilosa, sofismática, de maneira que fiquemos numa posição de dúvida. Devemos, portanto, estar preparados para, onde estivermos, seja no trabalho, na escola, no lar, entre amigos, parentes e vizinhos, e até mesmo dentro da igreja, saber que seremos confrontados por pessoas que são instrumentos do inimigo, e eles próprios inimigos de Deus, para nos tentar. O que o padre está sofrendo é uma tentação. Pode parecer apenas uma conversa trivial, mas ele está sendo tentado pelo ateu.
Continuemos...
Dobrando o jornal que estampava a figura do último show de rock, troca as pernas numa cruzada e, olhando para o padre, pergunta:
- Como pode crer no que foge à lógica?
- O que não é lógico em crer?
- Muita coisa... Por exemplo: o senhor deve crer que Deus tudo pode...
- Sim, não é só verdade que creio, como é verdade que Ele tudo pode.
Rapidamente o ateu chega ao ponto principal do seu intento: afirmar que a fé não é lógica, a partir de uma pergunta capciosa: Deus tudo pode?
Sabemos que esta é uma verdade bíblica, e de que ela está presente em uma série de versos, como tais:
Jó 42.2: “Bem sei eu que tudo podes, e que nenhum dos teus propósitos pode ser impedido”
Mt 19.26: “E Jesus, olhando para eles, disse-lhes: Aos homens é isso impossível, mas a Deus tudo é possível” [1].
Lc 1.37: “Porque para Deus nada é impossível”
Sl 47.2-3: “Porque o Senhor Altíssimo é tremendo, e Rei grande sobre toda a terra. Ele nos subjugará os povos e as nações debaixo dos nossos pés”
Sl 97.2-5 - "Nuvens e escuridão estão ao redor dele; justiça e juízo são a base do seu trono. Um fogo vai adiante dele, e abrasa os seus inimigos em redor. Os seus relâmpagos iluminam o mundo; a terra viu e tremeu. Os montes derretem como cera na presença do Senhor, na presença do Senhor de toda a terra"
Não devemos nunca temer os ataques dos inimigos quando estamos diante da palavra do Senhor. Ela deve ser buscada sempre, consultada nos momentos em que mais temos dúvidas. Eu trouxe este texto pois é uma situação que pode acontecer com qualquer um de nós, e não devemos nos turbar, mas estar preparados, como já disse. Somos questionados o tempo todo em nossa fé, e há uma ação do mundo em fazer-nos parecer tolos ou ultrapassados, ou revelar que a nossa crença é algo insano ou fruto da ignorância. Jamais nos esqueçamos de que a Escritura não tem apenas aspectos doutrinários, mas ela nos orienta a tudo: desde como viver com as demais pessoas até como deve ser o nosso relacionamento com Deus. Ela nos revelará toda a vontade de Deus para a nossa vida, não somente como uma crença mas como a forma correta e santa de se viver, seja em qual tipo de relação estivermos; e assim glorificaremos a Deus em todas as coisas e aspectos, não somente nos momentos em que estamos na igreja.
Nesse Salmo temos descrito o poder de Deus. O salmista se utiliza de uma linguagem poética para descrever o poder absoluto de Deus. Deus reina absoluto sobre todas as coisas. De forma que nada é impossível para Deus, pois ele tem o poder de fazer qualquer coisa. Mais a frente, entenderemos que o poder de Deus é absoluto, mas limitado em alguns aspectos. Fiquem tranquilo, não estou a proferir nenhuma heresia, nem aderi repentinamente à Teologia do Processo ou Relacional, na qual se prega um "Deus" limitado, frágil e titubeante como o homem é... um "Deus" feito à semelhança humana. Não é isso.
Prossigamos...
-Então, me responda... Deus pode criar, hipoteticamente, uma pedra que não possa carregar?
- Sim. Claro!
O ateu ficou surpreso pela resposta instantânea do sacerdote. E julgando que tivesse sido apressado, tentou explicar a pergunta:
- Mas, veja: Se Deus pode tudo e pode criar algo que não possa erguer, no fim ele não pode tudo, porque não poderá erguer a pedra.
O inimigo lança então o seu o ardil; e penso que devemos ter cuidado com as respostas instantâneas. Ele proferiu uma "pegadinha" com o objetivo de colocar o padre em contradição ou mesmo ridicularizá-lo, de forma que ele se envergonhe da sua fé. Quando estivermos diante de questões que não conhecemos ou de discussões que não passaram por nossa mente, nem foram alvos dos nossos estudos, o melhor a fazer é calar-se, evitando ser imprudente. Está escrito que até o tolo, em silêncio, parece sábio. Se estamos diante de questões que não refletimos, nem cogitamos refletir [e sempre devemos ter em mente que todas as questões devem ser meditadas à luz da Escritura], a nossa resposta deve ser: não sei! Não há pecado em não se saber algo. Muitas vezes, por causa do nosso orgulho, somos tolos o bastante para cair nas armadilhas que nos são postas, como se fosse uma obrigação ter uma resposta para tudo. É necessário saber que não temos, e jamais teremos. O apelo racionalista é de que eles têm, quando não têm. E o fato de não termos, aos olhos deles, nos tornam inferiores, quando reconhecer a nossa limitação é sábio e não o contrário.
Pedro diz que devemos estar sempre prontos a mostrar a razão da nossa fé. E qual é ela? Ora, o Senhor Jesus Cristo. E isto podemos mostrar e revelar para qualquer pessoa em qualquer situação. Falar que ele nos resgatou, nos livrou da perdição, nos ligou novamente a Deus, que transformou a nossa mente e nos fez novas criaturas, isto podemos falar o tempo todo para qualquer pessoa. Ao invés de darmos atenção para pegadinhas como a proferida pelo ateu, a qual é absurda e não quer dizer nada. O único objetivo dele é confundir e fazer o padre desacreditar a sua fé; e devemos ser prudentes diante de situações como essas.
Mas o que pensam do fato de a Bíblia dizer que Deus pode criar até mesmo o impossível, pois para ele, nada é impossível? Deus pode criar absurdos? Ou criar algo que não esteja conforme a sua vontade? Não seria a sua vontade o limitador para que Deus crie qualquer coisa? Há limites para Deus?... Sim!
Deus, por exemplo, não mente:
- Nm 23.19: “Deus não é homem, para que minta; nem filho do homem, para que se arrependa; porventura diria ele, e não o faria? Ou falaria, e não o confirmaria?”
- 1 Sm 15.29: “E também aquele que é a Força de Israel não mente nem se arrepende; porquanto não é um homem para que se arrependa."
Deus não pode mudar:
- Sl 102.27: “Mas tu és o mesmo e os teus anos nunca terão fim”
- Is 48:12: “Dá-me ouvidos, ó Jacob, e tu, ó Israel, a quem chamei; eu sou o mesmo, eu o primeiro, eu, também, o último”
- Ml 3:6 “Porque eu, o Senhor, não mudo”
- Hb 1:12 ”E como um manto os enrolarás, e como um vestido se mudarão, mas tu és o mesmo, e os teus anos não acabarão”
- Hb 13.8: “Jesus Cristo é o mesmo, ontem, e hoje, e eternamente”
- Tg 1:17 :“Toda a boa dádiva e todo o dom perfeito vêm do alto, descendo do Pai das luzes, em quem não há mudança nem sombra de variação.”
Então temos que Deus pode fazer tudo, mas ele fará tudo segundo a sua natureza e vontade, de forma que mesmo sendo o Deus do impossível, e devemos entender que isso se refere ao que ele pode fazer como possibilidade, mas não ao que ele pode fazer indo contra a sua natureza, pois tanto a santidade, como a justiça e a perfeição impedem-no de praticar o mal, por exemplo, ou de pecar.
Outro exemplo está em Mt 3.9, em que João o Batista diz, falando aos fariseus: “E não presumais, de vós mesmos, dizendo: temos por pai a Abraão; porque eu vos digo que, mesmo destas pedras, Deus pode suscitar filhos a Abraão”.
É claro que o objetivo principal do profeta era derrubar a arrogância e soberba dos fariseus, comparando-os com as pedras do rio Jordão, mas há nesse verso a verdade de que Deus realmente pode tudo, mas isso não quer dizer que ele fará tudo, pois o fará segundo a sua natureza santa e perfeita, e segundo a sua vontade igualmente santa e perfeita [Is 46.10: "Que anuncio o fim desde o princípio, e desde a antiguidade as coisas que ainda não sucederam; que digo: o meu conselho será firme, e farei toda a minha vontade”].
O ateu ficou surpreso pela resposta instantânea do sacerdote. E julgando que tivesse sido apressado, tentou explicar a pergunta:- Mas, veja: Se Deus pode tudo e pode criar algo que não possa erguer, no fim ele não pode tudo, porque não poderá erguer a pedra.
- O padre se ajeitou no banco novamente e, apoiando os braços sobre as pernas, explicou:
O senhor propõe que Deus faça duas coisas contrárias: criar algo que não possa carregar e, ao mesmo tempo carregá-la. Parece que o senhor ainda não decidiu o que quer que Deus faça... Há um problema na sua pergunta, uma armadilha sofística... Mas, de qualquer modo: Ele pode, sim, fazer ambas as coisas.
Deus não pode tudo? Se ele pode tudo, pode criar qualquer coisa, mas temos de entender que ele fará tudo conforme a sua vontade. Ele não tem de provar nada para nós, muito menos provar-nos o seu poder, pois ele o tem inerente ao seu ser.
Mas a questão é que o ateu propõe uma “pegadinha” e formula algo contraditório: Se Deus pode tudo, pode criar uma pedra incapaz de movê-la; mas se ele não pode movê-la não é onipotente nem todo-poderoso. Ele formulou duas afirmativas que se contradizem, o que é chamado de sofisma, que é um raciocínio falso com a intenção de enganar, ludibriar, de induzir alguém ao erro.
Na verdade, Deus não pode criar uma pedra que não possa carregar, pois ele pode tudo, inclusive carregar algo de massa e peso inimaginável ou mesmo impossível de se carregar por qualquer outro ser, menos ele, que, novamente afirmo, pode tudo, sendo a exceção aquilo que vá contra si mesmo, contra o seu ser perfeito. A característica de um poder absoluto não é fazer tudo o que se pode fazer sem critérios ou juízo. O poder absoluto denota autoridade, e Deus é uma autoridade sábia, perfeita e santa, que não fará sandices, nem agirá ilógica e desproporcionadamente. O poder absoluto de Deus se refere ao fato dele ser o ser supremo sobre tudo e todos, mas também de que ele é absoluto em perfeição e santidade e justiça e sabedoria. Fazer algo insano é impossível para Deus. Fazer algo despropositado, também. Então temos que Deus tem limites sim, circunscritos à sua natureza e vontade, ou seja, aos aspectos intrínsecos do seu ser, pois se assim não fosse, ele iria contra si mesmo...
O ateu franziu a testa, com curiosidade.
Continuou, então, o padre:
- Deus criou essa pedra. Ela existe... Ou pelo menos existiu:
Quando Jesus ressuscitou Lázaro, está lá nos Evangelhos, Ele ordenou que tirassem a pedra para que Lázaro viesse para fora... Ora, para o senhor, o que é mais fácil? Trazer um morto à vida ou retirar uma pedra?
- Em tese, trazer o morto à vida...
Na próxima aula, continuaremos a meditar sobre este texto.
Notas: [1] Este e outros trechos são analisados mais detidamente no áudio.
[2] Aula realizada no Tabernáculo Batista Bíblico.
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