Por Jorge Fernandes Isah
INTRODUÇÃO
Não se pode falar do atributo da justiça de Deus sem relacioná-lo com a sua santidade. Tenho que Deus somente pode ser justo por ser absolutamente santo; e a sua justiça é derivada da sua santidade, não como um atributo isolado e independente [apenas para efeito de comparação, visto os atributos divinos se comunicarem plenamente em seu ser], mas como uma necessidade inevitável da sua santidade. É como se a santidade necessitasse de um complemento a fim de ser distinguida, identificada; seria, guardadas as devidas proporções, as impressões digitais que identificam Deus como o ser santo. Ela se afigura como uma consequência natural do ser absolutamente santo de Deus, ou seja, ele tem de ser justo, pois, se assim não fosse, iria contra a sua santidade. A justiça comprova que Deus é santo, e a sua santidade confirma a sua justiça [Sl 145.17]. Sem a justiça, creio que a santidade estaria incompleta; mas isso valeria para qualquer atributo divino, os quais se interligam e se complementam perfeita e maravilhosamente. Com isso não estou dizendo que exista uma ordem de precedência entre elas, que tivessem surgido em momentos diversos, pois, como sabemos, Deus não está sujeito ao tempo visto ser eterno, e o eterno não tem o seu caráter moldado ou privado pelo tempo, estando além dele. Os efeitos temporais não têm nenhum poder sobre Deus, por isso que todos os seus atributos são igualmente eternos como o seu ser é eterno.
Contudo, pode-se dizer que a justiça divina se aplica no tempo; e ainda que ela sempre existisse, deu-se a conhecer a partir da Criação, mais especificamente quando Deus estabeleceu os preceitos pelos quais o homem deveria manter-se obediente e fiel à sua lei, sem a qual não conheceria a santidade nem a justiça divinas. O que reforça o ensino bíblico de que a Criação, antes de tudo, tem por objetivo exaltar e glorificar o Senhor, e é através dela que Deus pode ser conhecido em seu esplendor e perfeição intocáveis.
O que nos leva a reconhecer que qualquer "justiça" fora dos padrões estabelecidos por Deus como justos são injustos. E o que determinará o valor da justiça não pode ser outra coisa além do próprio Deus, visto ser ele santo e não haver nenhum padrão de santidade fora dele. Até mesmo a santidade dos seus filhos adotivos é fruto daquilo que Deus faz neles, e assim podemos dizer convictamente que somos santos porque ele nos fez santos; somos santos porque ele é santo; e, finalmente, somos santos porque ele quis que assim fôssemos para a sua glória. Sendo que muitas vezes o mundo reconhecerá a santidade divina através da nossa santidade, numa glória impossível ao homem se não fosse pela vontade e obra do Santo e Justo. A mais tênue demonstração de justiça dos homens nada mais é do que o reflexo da justiça divina, sem a qual não há a menor chance de existir.
Outro ponto é que não se pode falar em justiça alheio aos preceitos santos estabelecidos na Lei divina. Apenas o Justo poderia elaborar e determinar o que venha a ser justiça; e qualquer tentativa de estabelecê-la à margem da Lei somente implementará a injustiça. Tem-se que no mundo moderno e pós-moderno, dogmas e certezas dão lugar ao ceticismo e à dúvida, num reconhecimento evidente da impossibilidade humana de constituir adequada e ordeiramente um padrão apropriado para se instituir a justiça. Na verdade, extemporaneamente, o homem vive de guerrear contra ela, pelo próprio senso de injustiça que traz em si, decorrente da sua natureza pecaminosa. Como se provou em sua mente que é impossível organizar independentemente um sistema justo, após rejeitar o bom conselho divino, coube à humanidade caminhar célere em prol de um sistema onde a injustiça se normatizasse. E o ponto de partida foi o abandono da Lei, e, por Lei, refiro-me a todos os enunciados feitos por Deus em sua palavra que coíba o pecado e puna o pecador; pois nada há mais injusto do que eles. Quando se afirma que a justiça é algo inteiramente subjetivo e as medidas do justo seriam variáveis de grupo para grupo ou até mesmo de pessoa para pessoa, temos que a medida do justo, dada por Deus, tornou-se ilegítima, e o homem encontra-se perdido em meio ao delírio de uma verdade e realidade meramente particular a conflitar com outras verdades e realidades particulares, que se alteram até mesmo em um único indivíduo; de forma que o que lhe parece justo hoje pode não ser amanhã e nem ter sido ontem. Fazendo-o cada vez mais escravo da sua própria injustiça.
Se reconhecemos que Deus é santo e justo, tem-se que a sua Lei também é santa e justa. Se ele é eterno e a sua vontade é eterna, também a Lei, como parte da sua vontade, é eterna. O mesmo vale para a eleição e redenção dos salvos. Não há contingência em Deus, nem poderia haver, pois se houvesse, Deus não seria Deus. Portanto qualquer afirmação de que um único preceito divino possa não ser justo, torna o seu acusador no mais injusto de todos os homens, pois a justiça, assim como a santidade, é um atributo inerente à sua natureza, sem o qual ele não seria quem é. Assim diz o salmista: "Justo és, ó Senhor, e retos são os teus juízos" [Sl 119.137].
Outro ponto é que não se pode falar em justiça alheio aos preceitos santos estabelecidos na Lei divina. Apenas o Justo poderia elaborar e determinar o que venha a ser justiça; e qualquer tentativa de estabelecê-la à margem da Lei somente implementará a injustiça. Tem-se que no mundo moderno e pós-moderno, dogmas e certezas dão lugar ao ceticismo e à dúvida, num reconhecimento evidente da impossibilidade humana de constituir adequada e ordeiramente um padrão apropriado para se instituir a justiça. Na verdade, extemporaneamente, o homem vive de guerrear contra ela, pelo próprio senso de injustiça que traz em si, decorrente da sua natureza pecaminosa. Como se provou em sua mente que é impossível organizar independentemente um sistema justo, após rejeitar o bom conselho divino, coube à humanidade caminhar célere em prol de um sistema onde a injustiça se normatizasse. E o ponto de partida foi o abandono da Lei, e, por Lei, refiro-me a todos os enunciados feitos por Deus em sua palavra que coíba o pecado e puna o pecador; pois nada há mais injusto do que eles. Quando se afirma que a justiça é algo inteiramente subjetivo e as medidas do justo seriam variáveis de grupo para grupo ou até mesmo de pessoa para pessoa, temos que a medida do justo, dada por Deus, tornou-se ilegítima, e o homem encontra-se perdido em meio ao delírio de uma verdade e realidade meramente particular a conflitar com outras verdades e realidades particulares, que se alteram até mesmo em um único indivíduo; de forma que o que lhe parece justo hoje pode não ser amanhã e nem ter sido ontem. Fazendo-o cada vez mais escravo da sua própria injustiça.
Se reconhecemos que Deus é santo e justo, tem-se que a sua Lei também é santa e justa. Se ele é eterno e a sua vontade é eterna, também a Lei, como parte da sua vontade, é eterna. O mesmo vale para a eleição e redenção dos salvos. Não há contingência em Deus, nem poderia haver, pois se houvesse, Deus não seria Deus. Portanto qualquer afirmação de que um único preceito divino possa não ser justo, torna o seu acusador no mais injusto de todos os homens, pois a justiça, assim como a santidade, é um atributo inerente à sua natureza, sem o qual ele não seria quem é. Assim diz o salmista: "Justo és, ó Senhor, e retos são os teus juízos" [Sl 119.137].
Por outro lado, dizer que a justiça é uma virtude humana [como pensam teólogos humanistas e liberais] é negá-la como virtude divina; é mentir duplamente e ser duplamente injusto. Ainda que o homem tenha "momentos" de justiça, ela provém do Senhor. Por isso é um dos seus atributos comunicáveis, mesmo que o homem o exerça parcial, imperfeita e temporariamente.
O TRATO JUSTO DE DEUS COM OS HOMENS
Neste ponto, faz-se necessário afirmar o que seja justiça. No Direito, se utiliza a frase de Ulpiano, jurisconsulto romano, para defini-la: "Justiça é a constante e firme vontade de dar a cada um o que é seu" [1]. Parece-me vago e inconcludente essa definição, pois nem mesmo se sabe de quem deve ser a constante e firme vontade de dar, como definir o que é e o que não é do indivíduo. Podemos elencar muitas coisas como sendo o "seu", mas certamente essas coisas variarão tanto de pessoa para pessoa como de cultura para cultura e de tempos em tempos. Logo, é uma formulação subjetiva e inadequada, na incerteza de seu próprio conteúdo. Aristóteles diz que: "Uma vez que o transgressor da lei é injusto, enquanto é justo quem se conforma à lei, é evidente que tudo aquilo que se conforma a lei é de alguma forma justo". Os termos do filósofo grego parecem-me muito mais objetivos e mais próximos do conceito bíblico de justiça; a qual é, em suma, considerar justo quem está em conformidade com a lei, ou seja, aquele que é obediente e zela por ela; e também aplicar a lei quando alguém se rebela contra ela. Como a lei é a manifestação da vontade divina, todos os homens devem andar então em conformidade com a sua lei.
Novamente frisarei que, para mim, a lei é todo o preceito que Deus estabeleceu e enunciou em sua santa palavra. Não apenas os mandamentos mosaicos na forma da letra, mas aquilo que ele inscreveu em nossos corações, a consciência do pecado que significa toda e qualquer atitude, pensamento ou desejo que vá contra a santidade divina. Paulo diz que "assim a lei é santa, e o mandamento santo, justo e bom" [Rm 7.12]. A lei é santa como reflexo da santidade divina, derivada dela, assim também ela é justa, como o próprio Senhor é justo e diz a Israel:"E que nação há tão grande, que tenha estatutos e juízos tão justos como toda esta lei que hoje ponho perante vós?" [Dt 4.8]. Também é por ela que tomamos o conhecimento do pecado, e de que, ao cometê-lo, estamos em flagrante desobediência a Deus [Rm 3.20].
E é este ponto que nos interessa mais detidamente, a justiça relativa de Deus para com os homens. Por relativa não se quer dizer que é o oposto de absoluto, mas de exprimir uma relação na qual todos os homens se reportam a Deus como a autoridade suprema, e a quem todos estamos subordinados. Como diz o Dr. Heber Campos, "é a justiça que se manifesta no dar a cada um conforme os seus merecimentos" [2].
Antes de prosseguirmos, faz-se necessário alertar que Deus é o Senhor de toda a criação, e de que ele exerce o seu governo sobre bons e maus, justo e injustos, e todos os homens estão debaixo de suas leis. Afirmar a injustiça de Deus em nada ajudará o infrator. Ele é a autoridade máxima, e acima dele não há qualquer outra. Nem mesmo a vontade do homem pode demovê-lo de exercer o seu domínio e poder soberanos. Deus é Deus e, por isso, é quem faz as regras, sempre segundo a sua vontade santa, perfeita e reta, em conformidade com o seu ser absoluto. Quer se queira ou não, quer se esperneie ou não, o homem deve satisfação a Deus, e ele será recompensado e cobrado no devido tempo segundo o que fez.
É notório ao cristão bíblico que todos os homens nascem em pecado, e suas obras são indignas, e jamais nenhum de nós poderá reivindicar justiça com base em seus próprios méritos diante de Deus, visto que as suas obras sempre o condenarão.
Esse ponto é importante pois a definição de justiça relativa [aqui, especificamente, tratamos da sua subdivisão, a justiça remunerativa, aquela através da qual Deus recompensa os seres racionais, homens e anjos, segundo o que fizeram de bom], pode levar ao engano de se imaginar que Deus absolverá alguém ou o considerará inocente por alguma coisa que ele faça, por uma justiça própria e meritória. Não. Por ser pecador e miserável, todos os homens, sem exceção, estão debaixo da Lei e pecaram e serão por ela julgados, de forma que todo mundo é condenável diante de Deus [Rm 3.23,19]. Por isso Deus, em sua graça, misericórdia e providência, determinou que o seu Filho Amado, Jesus Cristo, fosse dado em expiação por muitos, para que fossem justificados diante dele, como prova do seu amor [Rm 5.8]. Não há outro meio ou forma do homem não ser condenado. A única justiça que o Senhor reconhece é a realizada pelo seu filho, na cruz, para todos e sobre todos os que creem [Rm 3.22]. E assim, justificados pela fé no sangue do Senhor Jesus, temos paz com Deus, e somos poupados, somos salvos da sua ira [Rm 5.1, 9], e alcançamos a reconciliação [Rm 5.11].
Novamente frisarei que, para mim, a lei é todo o preceito que Deus estabeleceu e enunciou em sua santa palavra. Não apenas os mandamentos mosaicos na forma da letra, mas aquilo que ele inscreveu em nossos corações, a consciência do pecado que significa toda e qualquer atitude, pensamento ou desejo que vá contra a santidade divina. Paulo diz que "assim a lei é santa, e o mandamento santo, justo e bom" [Rm 7.12]. A lei é santa como reflexo da santidade divina, derivada dela, assim também ela é justa, como o próprio Senhor é justo e diz a Israel:"E que nação há tão grande, que tenha estatutos e juízos tão justos como toda esta lei que hoje ponho perante vós?" [Dt 4.8]. Também é por ela que tomamos o conhecimento do pecado, e de que, ao cometê-lo, estamos em flagrante desobediência a Deus [Rm 3.20].
E é este ponto que nos interessa mais detidamente, a justiça relativa de Deus para com os homens. Por relativa não se quer dizer que é o oposto de absoluto, mas de exprimir uma relação na qual todos os homens se reportam a Deus como a autoridade suprema, e a quem todos estamos subordinados. Como diz o Dr. Heber Campos, "é a justiça que se manifesta no dar a cada um conforme os seus merecimentos" [2].
Antes de prosseguirmos, faz-se necessário alertar que Deus é o Senhor de toda a criação, e de que ele exerce o seu governo sobre bons e maus, justo e injustos, e todos os homens estão debaixo de suas leis. Afirmar a injustiça de Deus em nada ajudará o infrator. Ele é a autoridade máxima, e acima dele não há qualquer outra. Nem mesmo a vontade do homem pode demovê-lo de exercer o seu domínio e poder soberanos. Deus é Deus e, por isso, é quem faz as regras, sempre segundo a sua vontade santa, perfeita e reta, em conformidade com o seu ser absoluto. Quer se queira ou não, quer se esperneie ou não, o homem deve satisfação a Deus, e ele será recompensado e cobrado no devido tempo segundo o que fez.
É notório ao cristão bíblico que todos os homens nascem em pecado, e suas obras são indignas, e jamais nenhum de nós poderá reivindicar justiça com base em seus próprios méritos diante de Deus, visto que as suas obras sempre o condenarão.
Esse ponto é importante pois a definição de justiça relativa [aqui, especificamente, tratamos da sua subdivisão, a justiça remunerativa, aquela através da qual Deus recompensa os seres racionais, homens e anjos, segundo o que fizeram de bom], pode levar ao engano de se imaginar que Deus absolverá alguém ou o considerará inocente por alguma coisa que ele faça, por uma justiça própria e meritória. Não. Por ser pecador e miserável, todos os homens, sem exceção, estão debaixo da Lei e pecaram e serão por ela julgados, de forma que todo mundo é condenável diante de Deus [Rm 3.23,19]. Por isso Deus, em sua graça, misericórdia e providência, determinou que o seu Filho Amado, Jesus Cristo, fosse dado em expiação por muitos, para que fossem justificados diante dele, como prova do seu amor [Rm 5.8]. Não há outro meio ou forma do homem não ser condenado. A única justiça que o Senhor reconhece é a realizada pelo seu filho, na cruz, para todos e sobre todos os que creem [Rm 3.22]. E assim, justificados pela fé no sangue do Senhor Jesus, temos paz com Deus, e somos poupados, somos salvos da sua ira [Rm 5.1, 9], e alcançamos a reconciliação [Rm 5.11].
Temos que Deus somente justifica e absolve o homem através da morte de seu Filho e apenas por ela. Sendo a prova da sua graça e bondade para com aqueles que ele amou eternamente, e pelos quais fez manifestar a sua infinita e gloriosa justiça, estando livres do juízo de morte e justificados para a vida. Pela obediência de um único homem à Lei de Deus, aqueles que também foram amados eternamente serão feitos justos [Rm 5.19]. Mas nada disso, como se vê, pode ser creditado ao homem, nem mesmo os atos bons que ele pratica, nem as boas ofertas que dá. Davi compreendeu como ninguém o que ele e o seu povo eram, e como careciam da bondade e providência divina para fazerem o que era bom aos seus olhos, e de que nem ele ou algum dos seus súditos tinham do que se orgulhar diante de Deus, visto que tudo que lhes era dado retribuir, era fruto daquilo que o próprio Deus dava-lhes: "Porque quem sou eu, e quem é o meu povo, para que pudéssemos oferecer voluntariamente coisas semelhantes? Porque tudo vem de ti, e do que é teu to damos. Porque somos estrangeiros diante de ti, e peregrinos como todos os nossos pais; como a sombra são os nossos dias sobre a terra, e sem ti não há esperança. Senhor, nosso Deus, toda esta abundância, que preparamos, para te edificar uma casa ao teu santo nome, vem da tua mão, e é toda tua" [1Cr 29.14-16].
Apenas pela sua vontade, e como cumpridor das suas promessas, Deus se faz devedor ao homem; não porque recebeu algo de nós, mas porque ele prometeu que nos daria segundo as condições que ele estabeleceu, e que realizou por nós. Temos a impressão de que cumprimos a sua vontade voluntariamente, como se não houvesse em nós nenhuma outra motivação além do desejo de servi-lo e honrá-lo, mas como seríamos capazes de dar algo a Deus que ele primeiro não nos desse? De certa forma, é engraçado que além de recebermos o suficiente para dar a ele, ainda seremos recompensados por isso, sendo que não há mérito algum em nós, e nem mesmo somos dignos de alguma honra. O que se revela é uma grande oportunidade para bendizê-lo, louvá-lo e glorificá-lo por tão grande graça e misericórdia e bondade para conosco, servos inúteis, que fazemos apenas o que devemos fazer e que nos foi ordenado realizar [Lc 17.10].
Mas, e o que acontecerá aos que não foram justificados por Cristo e por ele não foram salvos?
Apenas pela sua vontade, e como cumpridor das suas promessas, Deus se faz devedor ao homem; não porque recebeu algo de nós, mas porque ele prometeu que nos daria segundo as condições que ele estabeleceu, e que realizou por nós. Temos a impressão de que cumprimos a sua vontade voluntariamente, como se não houvesse em nós nenhuma outra motivação além do desejo de servi-lo e honrá-lo, mas como seríamos capazes de dar algo a Deus que ele primeiro não nos desse? De certa forma, é engraçado que além de recebermos o suficiente para dar a ele, ainda seremos recompensados por isso, sendo que não há mérito algum em nós, e nem mesmo somos dignos de alguma honra. O que se revela é uma grande oportunidade para bendizê-lo, louvá-lo e glorificá-lo por tão grande graça e misericórdia e bondade para conosco, servos inúteis, que fazemos apenas o que devemos fazer e que nos foi ordenado realizar [Lc 17.10].
Mas, e o que acontecerá aos que não foram justificados por Cristo e por ele não foram salvos?
A IRA DE DEUS
A ira divina é a justa e perfeita manifestação de Deus diante do pecado. É a sua resposta necessária ao pecado, sem a qual a sua santidade e perfeição ficariam comprometidas. Veja bem, se Deus não se irasse e revelasse indiferença ao pecado, não seria Deus; ele não pode pactuar com a injustiça, sendo o Justo. A ira é uma das condições essenciais do seu ser e, portanto, é também uma perfeição divina, através da qual ele infligirá castigo aos que violarem a sua palavra e vontade. Para eles, não há misericórdia; ele não pode deixar de puni-los, de lançar sobre eles a sua severidade, tal qual o profeta diz: "O Senhor é Deus zeloso e vingador; o Senhor é vingador e cheio de furor; o Senhor toma vingança contra os seus adversários, e guarda a ira contra os seus inimigos." [Na 1.2]. Com isso, estou a dizer que o caráter divino, o seu ser perfeito, não o seria se em Deus a ira não se manifestasse. Ela é a resposta divina ao fato dele ser santo e justo.
O primeiro ponto é que a ira de Deus se manifesta sobre toda a impiedade e injustiça dos homens, "que detém a verdade em injustiça" [Rm 1.18]. Acontece que a ira e o castigo divinos não fazem parte da pregação atual. Por uma visão distorcida de que os homens são bons em sua natureza e essência, muitos consideram falsos os versos bíblicos que exortam o homem a não se rebelar contra Deus, antes deve obedecê-lo, pois do contrário, a ira do Senhor estará sobre ele. Há um falso evangelho sendo pregado, e que tem levado muitos a manterem-se na impiedade, batendo às portas do inferno. Não é preciso que se cometa algum crime atroz para fazer parte desse grupo. O simples fato de não se sujeitar a um mínimo preceito divino, podendo ser, até mesmo, a mera rejeição da sua justiça, implicará na impiedade e injustiça. Deus tem de ser glorificado pelo que ele é, o Senhor de tudo e todos, a autoridade absoluta e perfeita em todos os seus atributos.
É interessante que as criaturas cada vez mais se consideram aptas a fazerem de Deus réu. Acreditam que estão num patamar tão superior que podem tecer críticas, zombar e escarnecer daquilo que nos foi revelado em sabedoria e retidão. Há um desejo crescente de se criminalizar a Deus, fazendo da sua palavra um simples livro de códigos imorais e desumanos. Mas, ó homem, quem és tu que replicas a Deus?, já dizia Paulo. Quem o fez senhor e juiz? Quem investiu-lhe da autoridade que julga ter? Novamente, temos o pecado se manifestando na mente e lábios dos que se consideram, em sua vaidade e soberba, superiores a Deus. Podem não concordar abertamente com esse rótulo, mas o desejo latente de independência os faz amotinados e rebeldes. Essa tentativa de independência sempre significará a incompatibilidade com o que é santo e justo e a compatibilidade com o pecado e a injustiça, em que ambos se toleram mutuamente, e seus desejos se combinam e permanecem conciliados.
A ira divina é algo presente na Escritura, e o próprio Deus não se envergonha de proclamá-la [Dt 32.39-43; Ex 22.22-24; Rm 1.18]. Por que então temos brios em anunciá-la, ao mesmo tempo em que contemporizamos com o pecado? Penso que a ira divina e a certeza do seu juízo estão presentes em nossa consciência, como algo que Deus nos legou. Sabemos que ela é justa, mas a nossa natureza não se conforma a ela, por isso tenta negá-la ou ocultá-la a fim de não haver barreiras ao pecado, deixando-o agir livremente, sem restrições, e não sermos acossados pela ideia de uma merecida punição. O engano nos faz acreditar que Deus, em algum momento, se arrependerá daquilo que prometeu, e não cumprirá a sua palavra: de que todo o pecado será castigado e os pecadores sofrerão na carne pelo mal que praticaram. Deus é fiel em tudo o que promete, e não abrirá exceção para o derramar a sua ira. É o que o apóstolos diz: "Porque bem conhecemos aquele que disse: Minha é a vingança, eu darei a recompensa, diz o Senhor. E outra vez: O Senhor julgará o seu povo. Horrenda coisa é cair nas mãos do Deus vivo" [Hb 10.30-31].
É interessante que as criaturas cada vez mais se consideram aptas a fazerem de Deus réu. Acreditam que estão num patamar tão superior que podem tecer críticas, zombar e escarnecer daquilo que nos foi revelado em sabedoria e retidão. Há um desejo crescente de se criminalizar a Deus, fazendo da sua palavra um simples livro de códigos imorais e desumanos. Mas, ó homem, quem és tu que replicas a Deus?, já dizia Paulo. Quem o fez senhor e juiz? Quem investiu-lhe da autoridade que julga ter? Novamente, temos o pecado se manifestando na mente e lábios dos que se consideram, em sua vaidade e soberba, superiores a Deus. Podem não concordar abertamente com esse rótulo, mas o desejo latente de independência os faz amotinados e rebeldes. Essa tentativa de independência sempre significará a incompatibilidade com o que é santo e justo e a compatibilidade com o pecado e a injustiça, em que ambos se toleram mutuamente, e seus desejos se combinam e permanecem conciliados.
A ira divina é algo presente na Escritura, e o próprio Deus não se envergonha de proclamá-la [Dt 32.39-43; Ex 22.22-24; Rm 1.18]. Por que então temos brios em anunciá-la, ao mesmo tempo em que contemporizamos com o pecado? Penso que a ira divina e a certeza do seu juízo estão presentes em nossa consciência, como algo que Deus nos legou. Sabemos que ela é justa, mas a nossa natureza não se conforma a ela, por isso tenta negá-la ou ocultá-la a fim de não haver barreiras ao pecado, deixando-o agir livremente, sem restrições, e não sermos acossados pela ideia de uma merecida punição. O engano nos faz acreditar que Deus, em algum momento, se arrependerá daquilo que prometeu, e não cumprirá a sua palavra: de que todo o pecado será castigado e os pecadores sofrerão na carne pelo mal que praticaram. Deus é fiel em tudo o que promete, e não abrirá exceção para o derramar a sua ira. É o que o apóstolos diz: "Porque bem conhecemos aquele que disse: Minha é a vingança, eu darei a recompensa, diz o Senhor. E outra vez: O Senhor julgará o seu povo. Horrenda coisa é cair nas mãos do Deus vivo" [Hb 10.30-31].
Contudo, os cristãos podem irar-se?
Há uma ideia de que o crente deve ser "paz e amor". Este lema foi muito utilizado pela contra-cultura nos anos 1960, a era "hippie", em que as pessoas se preocupavam exclusivamente consigo mesmas, com o seu prazer, e em negar toda a cultura ocidental judaico-cristã. O pecado não era o cometido individualmente por cada um deles, seja no uso de drogas, no sexo livre, na ociosidade, na idolatria e culto a deuses pagãos, mas na sociedade e na igreja como mantenedores de uma ordem cristã hipócrita, em que se defendia a moral e a ética e se condenava o pecado, mas que não passava de um discurso, enquanto a maioria se entregava mesmo aos desejos da carne. Eles pensavam que escancarando ao mundo a sua própria impiedade, este mundo deixaria cair a máscara e se mostraria como realmente era. Ao invés de se empenharem na construção de um ideal verdadeiramente justo, tomaram o caminho oposto, como se colocar o dedo na ferida pudesse curá-la. Certamente não havia o menor interesse em cura, mas o empenho de se esfregar limão e pimenta na chaga. Não passando de outra justificativa para o pecar livremente e sem culpas. Em outras palavras, eles se especializaram em agir exatamente naquilo em que condenavam, a hipocrisia, pois com a desculpa de se "desnudarem" apenas serviam ao propósito dissimulado de se apegarem mais e mais ao próprio pecado.
Então é que entra a questão da ira, a qual é demonizada pela maioria dos cristãos. Quando muito, consideram-na uma prerrogativa apenas de Deus, estando vedado aos homens. Mas, é realmente isso? Paulo nos exorta a irar e não pecar [Ef. 4.26], indicando que não é todo o tipo de ira que se transforma em pecado. Um exemplo de ira santa nos foi dado pelo Senhor Jesus ao expulsar os cambistas e vendilhões do templo [Jo 2.13-17]. Mas, e para nós, quando é justo irar-se e não? Penso que há uma linha tênue que delimita a ira santa e a ira pecaminosa. Como estamos mais sujeitos a adentrar do outro lado da linha, não é prudente o estímulo ao irar-se. Facilmente nos iramos quando vemos uma injustiça. Quando vemos o pecado campear livremente. Quando a palavra de Deus é desprezada. Quando Deus é escarnecido e insultado pelos tolos. A Bíblia diz que todos eles, se não se arrependerem dos seus pecados, serão condenados e afligidos eternamente pela ira divina. E podemos deixar a vingança para o Senhor, como ele mesmo nos orienta, a descansar e confiar nele. Mas normalmente não nos iramos quando somos nós a cometer o pecado e a injustiça, antes nos tornamos condizentes com o nosso erro, com o de familiares e amigos. Contemporizamos, nos fazemos de vítimas, e encontramos as explicações mais espúrias para justificar o injustificável, e nos enganos em nosso próprio senso de [in]justiça. Ao invés de nos irar contra o próximo, contra o pecado alheio, por que não experimentamos primeiramente irar-nos contra o nosso próprio pecado e contra nós?
Entendo que o "irar-se" é menos uma ordem e mais uma concessão divina, enquanto o "não pequeis" é um imperativo. Na maioria das vezes, os motivos da nossa ira são ofensas e injustiças cometidas contra nós mesmos. Há uma nítida intenção de retribuir a afronta, de restaurar a honra. E não há como proceder assim sem ser levado a pecar, basta lembrarmo-nos das reações, imprecações e insultos que realizamos em nome de uma pretensa justiça. Pois nos ressentimos facilmente diante de uma provocação.
Portanto, entendo que o cristão não pode ser "paz e amor" em relação ao pecado, especialmente ao pecado pessoal, às tentações que se nos apresentam diariamente e que consentimos em presenciá-las, consumando o pecado. Essa é a nossa guerra, a nossa luta diuturna, na qual não podemos dar trégua, antes irar-nos e atacá-la francamente, pois ela é ofensa à santidade de Deus. Devemos deixar a justiça para o Senhor, e aqueles que ele estabeleceu como seus ministros, as autoridades que são seus instrumentos para castigar o que faz o mal [Rm 13.4].
Iremos pois, e não pequemos; é a ordem do Senhor.
Nota: 1- Em conversa com o pr. Luiz Carlos Tibúrcio, ele entendeu que Cristo, de certa forma, validou essa frase de Ulpiano, ao dizer aos fariseus: "Daí a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus", de forma que, ao se fazer isso, aplica-se a máxima de justiça do jurisconsulto romano.
2- "O Ser de Deus e seus atributos", Dr. Heber Carlos de Campos, pg 341, Editora Cultura Cristã;
4- Textos analisados durante a exposição da aula em áudio: Gênesis 6 e 7 e 1Crônicas 29: 14-16;
5 - A foto ao alto, remetendo-nos à crucificação do Senhor, e vem de encontro à afirmação do apóstolo Paulo de que Cristo "para nós foi feito por Deus sabedoria, e justiça, e santificação, e redenção" [1Co 1.30];
6- Baixe esta aula em file.MP3