Página de doutrina Batista Calvinista. Cremos na inspiração divina, na inerrância e infalibilidade das Escrituras Sagradas; e de que Deus se manifestou em plenitude no seu Filho Amado Jesus Cristo, nosso Senhor e Salvador, o qual é a Segunda Pessoa da Triunidade Santa

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

Estudo sobre a Confissão de Fé Batista de 1689 - Aula 3




A AUTORIDADE INTOCÁVEL!









Por Jorge Fernandes Isah

CAPÍTULO 1: AS ESCRITURAS SAGRADAS

"4. A autoridade da Sagrada Escritura, razão pela qual deve ser crida e obedecida, não depende do testemunho de qualquer homem ou igreja, mas provém inteiramente de Deus, sendo Ele mesmo a verdade e o seu autor. A Escritura, portanto, tem que ser recebida, por ser a Palavra de Deus.
[II Pedro 1:19-21; II Timóteo 3:16; II Tessalonicenses 2:13; I João 5:9.]

5. Pelo testemunho da Igreja de Deus podemos ser movidos e persuadidos a ter em alto e reverente apreço as Sagradas Escrituras. A santidade do assunto, a eficácia da doutrina, a majestade do estilo, a harmonia de todas as partes, o propósito do todo (que é dar toda glória a Deus), a plena revelação que faz do único meio de salvação para o homem, e muitas outras excelências incomparáveis e perfeição completa, são argumentos pelos quais abundantemente se evidencia serem elas a Palavra de Deus. Contudo, a nossa plena persuasão e certeza quanto à sua verdade infalível e divina autoridade provém da operação interna do Espírito Santo, que pela Palavra e com a Palavra testifica aos nossos corações.
[João 16:13-14; I Coríntios 2:10-12; I João 2:20,27].

6. Todo o conselho de Deus, concernente a todas as coisas necessárias para a sua própria glória, para a salvação do homem, a fé e a vida, está expressamente declarado ou necessariamente contido na Sagrada Escritura. A ela nada em tempo algum se acrescentará, quer por nova revelação do Espírito, quer por tradições de homens. Entretanto, reconhecemos ser necessária a iluminação interior, da parte do Espírito de Deus, para a compreensão salvadora daquilo que é revelado na Palavra. Reconhecemos que há algumas circunstâncias, concernentes à adoração a Deus e ao governo da igreja, que são peculiares às sociedades e costumes humanos, e que devem ser ordenadas pela luz da natureza e pela prudência cristã, segundo as normas gerais da Palavra que sempre devem ser observadas.
[II Timóteo 3:15-17; Gálatas 1:8-9. João 6:45; I Coríntios 2:9-12. I Coríntios 11:13-14; I Coríntios 14:26,40]."

AUTORIDADE DA ESCRITURA

INTRODUÇÃO:
Entramos agora na parte talvez mais complexa do nosso estudo sobre a Escritura, a doutrina da sua autoridade. Como já pontuei em nossas duas aulas anteriores, a Bíblia é a nossa regra de fé e prática, mas não somente quando tratamos de assuntos religiosos, ou apenas quando estamos na igreja ou realizamos um estudo teológico. Ela é a nossa regra, o norte, o "mapa", como disse anteriormente, que nos levará ao conhecimento de Deus e da sua vontade, sua obra e salvação; mas também ao nosso autoconhecimento, tão necessário para que compreendamos a obra de regeneração e transformação que Deus necessita operar no pecador para torná-lo a imagem do nosso Senhor Jesus Cristo.
Dizer que a Bíblia trata apenas de regras, de normas morais, como qualquer código de costumes, é fruto da maior ignorância, a ignorância que indicará o desconhecimento do texto sagrado, e o pouco ou nenhum envolvimento com ele. 
Um dos lemas da Reforma Protestante é o "Sola Scriptura", mas o que é isto? 
Antes de explicar o significado do termo, vamos a um breve resumo de como a Escritura era entendida, quero dizer, mal entendida pelos cristãos pré-reforma protestante:

O CONCEITO DE BÍBLIA ANTES DA REFORMA: 
Como já disse, durante séculos, a leitura da Bíblia foi proibida aos cristãos. Apenas o clero católico podia fazê-lo, e interpretá-lo, de tal forma que o leigo comum recebia o ensino que a igreja lhe dava, sem a menor chance de confirmar se esse ensino era verdadeiramente bíblico ou não [creio que o objetivo era o de não facilitar a "livre-interpretação", já que nos primórdios da Igreja muitos se aventuraram à especulações e criaram uma rede de heresias. Vide os nestorianos, arianos, pelagianos, unitarianos, etc. Contudo, proibir-se o livre exame, a sua simples leitura, é um exagero sem precedentes pelo qual muitos pagaram com suas próprias almas, visto permanecerem na ignorância quanto à revelação especial e desconheciam a obra redentora do Senhor Jesus].

TRADIÇÃO X TRADICIONALISMO: 
Apegado ao tradicionalismo, a ICAR reconheceu que somente a igreja estava apta a interpretar a Escritura, de forma que ninguém estava autorizado a fazê-lo, sob a pena de ser considerado herege, ser excomungado, e morto [o que se chamou de "Inquisição", na verdade era o tribunal eclesiástico que julgava, inicialmente, os crimes contra a doutrina da igreja, praticado pelos heréticos; mas que também passaram a valer para os discordantes, em vários níveis, da autoridade clerical e papal, mesmo que não implicasse em questões teológicas].
Esse tradicionalismo foi registrado na Escritura, o qual o Senhor Jesus teve de enfrentar. A religião judaica, no período em que Deus silenciou-se com o povo de Israel, durante o período chamado de Interbíblico ou Intertestamentário [entre os últimos eventos do AT e os iniciais do NT; em que Deus não levantou nenhum profeta pelo qual falasse ao seu povo], que durou aproximadamente 400 anos [O Velho Testamento termina com as palavras de Malaquias, o qual profetizou entre 450 e 425 a.C.. Nesse tempo, a Palestina estava sob o domínio do Império Persa, o qual se estendeu até o ano 331 a.C.], tornou-se extremamente tradicionalista, levando-os a produzir uma infinidade de regras e tradições complementares à Lei. Essas regras eram transmitidas oralmente, explicando o que as escrituras significavam e como interpretá-las e como aplicar suas leis. Houve, na verdade, a corrupção e a má-interpretação da Lei, de maneira que se constituíram volumosos códigos moralistas na sociedade judaica, verdadeiras distorções do ensino do A.T. Acontece que elas se tornaram, em muitos aspectos, mais autoritativas do que a própria Escritura. Veja bem, estamos discutindo aqui o tradicionalismo, não a tradição. Há uma diferença entre os termos. A palavra tradição vem do latim traditione que quer dizer o ato de se entregar ou transmitir algo. A Bíblia é a única forma tradicional de se transmitir a palavra de Deus, a qual nos foi entregue pelo próprio Deus. Então a Bíblia é uma tradição. Ela possui em seu corpo normas e doutrinas invioláveis que não podem ser alteradas. Quando, por exemplo, ela transmite a mensagem de que se deve amar a Deus acima de todas as coisas, e ao próximo como a si mesmo [Mt 22.37-39], esta é uma tradição. Honrar pai e mãe [Dt 20.12] é uma tradição que verdadeiramente recebemos de Deus e, como porta-voz dele, devemos transmiti-las a todos os homens. Não há erros nem equívocos nestas afirmações, que nos são entregues para o nosso favor e dos nossos semelhantes, e que fazemos bem em segui-las. É o que nos diz o apóstolo Paulo: "Então, irmãos, estai firmes e retende as tradições que vos foram ensinadas, seja por palavra, seja por epístola nossa" [2Tes 2.15]
O tradicionalismo, mesmo tendo muitas semelhanças com a tradição, e sendo originário dela, tem um componente que  distinguem-nas: o fato de se arraigar e se apegar a hábitos que parecem bons mas na verdade é a corrupção da norma tradicional, e que em nada acrescentam à vida da pessoa, pelo contrário, são-lhe nocivas. Quase sempre o tradicionalismo é uma deterioração da tradição. É claro que estamos relacionando tanto um termo como outro dentro do universo cristão, pois é ele que nos interessa. Há tradições em outras religiões que não são expressões da verdade, nem dela originam. Fazemos um parâmetro entre a revelação escriturística, a verdade, dada-nos como tradição, e a sua corrupção ou deterioração por parte de grupos religiosos, descaracterizando-a como verdade e como aquilo que Deus nos transmitiu. 
A tradição bíblica tem também como componente a sua imutabilidade, o que o tradicionalismo não tem. Este se distingue por estar sempre em contato com mudanças e inovações adaptáveis às políticas, culturas, sociedades, indivíduos, etc, sendo mutável em seu objetivo de alargar seus horizontes, de maneira que um maior número de pessoas sejam circundadas por ele e sofram sua influência. 
Cristo combateu o tradicionalismo judaico, de maneira que, quando acusado de não guardar as tradições dos anciãos, replicou-lhes: "por que transgredis vós, também, os mandamentos de Deus pela vossa tradição?" [Mt 15.3] ao não honrarem pai e mãe [Ex 20.12].            
Há uma tradição que é verdadeira, e que devemos obedecê-la, honrar pai e mãe, pois procede dos preceitos divinos. E há uma tradição humana que somente tem o objetivo de escravizar e sujeitar o homem à tolice, a de lavar as mãos antes de comer o pão [Mt 15.2]. Que até pode ter um fundamento verdadeiro, mas o que está por trás dela é a autoexaltação e o domínio [poder] de quem o estabelece. 

TRADIÇÃO = TRADICIONALISMO?
Então alguém dirá: mas o tradicionalismo que você diz ser nocivo é a mesma tradição que você diz ser benéfica. De certa forma os termos parecem semelhantes, mas não são. Mas se alguém quiser usar o mesmo termo para definir as duas coisas, fique à vontade. Em nada modificará o sentido que estou dando aos termos e explicando-os. Senão, vejamos:
a) Há a tradição como verdade divina, expressamente entregue pela Escritura, por exemplo, honrar pai e mãe;
b) Há a tradição como subversão da verdade entregue por Deus, uma recriação humana, corrupta, imperfeita e insana, a deterioração da verdade, onde se misturam elementos da verdade com falsos elementos formando um conjunto inverídico e equivocado, ao qual o Senhor Jesus definiu como invalidar pela tradição humana o mandamento de Deus [Mt 15.6]. O exemplo é dado no próprio texto: os escribas e fariseus consideravam válido por sua tradição o abandono dos pais, o não sustentá-los materialmente [descumprindo o mandamento divino], desde que o dinheiro fosse revertido ao templo, ou seja, para o benefício pessoal deles. Certamente, muitos filhos, mentirosos e desonestos nem dispunham do sustento dos pais nem do sustento do templo, gastando-o exclusivamente consigo mesmos, gananciosamente. 
c) Há a tradição como mera formulação da mente caída, um embuste em si mesmo, sem nenhum elemento verdadeiro. Por exemplo, a adoração aos santos.
Assim, pode-se ver que a é o que eu defini como tradição; b e é o que defini como tradicionalismo.

A ICAR COMO FONTE DA AUTORIDADE ESCRITURÍSTICA:
A ICAR e outras religiões [muitas delas se dizendo cristãs] abandonaram a verdade, a tradição bíblica, e se entregaram aos seus delírios e enganos, abraçando o tradicionalismo através do qual o homem, não Deus, é aquele que julga tudo e todas as coisas. A começar pela própria palavra de Deus. O que o tradicionalismo fez e ainda faz é tornar o homem em autoridade máxima, numa autoridade a qual o próprio Deus estaria sujeito; de forma que a Escritura tem uma autoridade conferida pelo clero, os quais são os que determinam em e quais sentidos a Palavra de Deus tem autoridade. Isso é usurpação, é tentar-se ter o que não tem; é tirar de quem tem aquilo que não pode ser tirado; e receber aquilo que não pode ser recebido. A Bíblia é autoritativa e cabe a Igreja, pelo poder do Espírito Santo, reconhecer e receber os seus ensinamentos e conselhos como a própria voz de Deus ao homem; Deus falando diretamente com o seu povo.

O "SOLA SCRIPTURA" DA REFORMA:
Lutero encontrou uma igreja entregue ao tradicionalismo religioso, de maneira que coisas absurdas e impensadas eram tidas como verdadeiras, proclamadas como verdadeiras, ensinadas como verdadeiras, e suas observâncias exigidas como se verdade fossem, quando não passavam de completa patifaria. A venda e compra de indulgências [absolvição ou perdão papal das almas ao Inferno, mediante o pagamento de penitências, muitas delas em moeda-corrente], o culto as relíquias [restos de vestes, objetos ou mesmo ossos dos apóstolos] e a falsa ideia do purgatório, são algumas das práticas vigentes na ICAR as quais Lutero combateu. Ele apelou para a tradição da Escritura, o que Deus entregou ao homem como o seu santo, sábio e perfeito conselho, anulando a tradição ou tradicionalismo humano, corrupto, venal e pecaminoso em vigor na igreja daquela época. Por isso, Lutero afixou na porta da Capela de Wittemberg as 95 teses, opondo-se às práticas religiosas mundanas e malignas sustentadas, naquela época, por Roma. O Sola Scriptura, portanto, quer dizer, somente a Escritura, de forma que temos o papa perdendo a sua "autoridade" religiosa, e ela sendo transferida a quem de direito a detém, Deus e sua palavra. 
Em todos os tempos, sempre houve homens que, agindo enganosa e fraudulentamente, tentaram transferir para si mesmos ou suas organizações a autoridade que jamais lhes pertenceu, mas que apenas a Escritura tem. Movimentos de restauração das tradições judaicas, neopentecostalismo, teologia da prosperidade, evangelho social, missão integral, etc, são corrupções da verdade, de forma que nos encontramos quase que na mesma situação de Lutero em 1517, ano em que levou a público suas 95 teses; precisamos de uma nova reforma, que leve as igrejas à Escritura, como única fonte de fé, verdade e de prática cristã. 
A C.F.B. assevera que somente a Bíblia é autoridade, de forma que não há nada superior a ela, além do próprio Deus, nela revelado. Como Deus é imutável, assim também a sua palavra é imutável, de forma que a sua autoridade também é imutável, e não pode ser transigida, cedida a outro, ainda que seja a Igreja. Por isso ela diz que a autoridade escriturística não depende de nenhum homem ou igreja, pois não emana de nenhum deles, mas tem de ser recebida como a Palavra de Deus, pois procede do próprio Deus.

O QUE É AUTORIDADE?
Mas, o que é a autoridade da Escritura? 
Com isso se quer dizer que a Bíblia é inerrante, verídica, exata em todas as suas afirmações, "não contendo erro algum, histórico ou doutrinário, o que as torna infalíveis, e, portanto, autoritativas quanto a todos os assuntos sobre os quais faz asseverações... a única regra infalível de fé e de prática" [1]

A FALSA AUTORIDADE DOS CRÍTICOS
Vejam bem, a autoridade da Bíblia é algo inegociável, que está muito acima da nossa capacidade de julgamento, de forma que ela está isenta de qualquer crítica, ou melhor, de qualquer possibilidade de crítica. Neste caso, entramos num problema que vem se arrastando há séculos, desde que Marcião, filho do bispo da região do Ponto, hoje Turquia, criou a doutrina que levou o seu nome, o marcionismo, onde defendeu a falsa ideia de que havia dois deuses: um no AT, Demiurgo, o deus da criação, e outro no NT, o Deus Pai; levando-o a rejeitar todo o A.T. e a maior parte do NT, restando apenas parte do Evangelho de Lucas e 10 cartas paulinas. Ele é o "pai" de todos os críticos bíblicos modernos, tais como os liberais, os membros da alta crítica, os teístas-relacionais, e outros tantos que se rebelaram contra a Escritura e se colocaram acima dela, ao ponto de elaborarem críticas com base no pressuposto de que ela não é infalível, inerrante e divinamente inspirada. E estes são realmente os fundamentos de todos os críticos. Eles partem da falsa premissa da não divindade da sua mensagem para avaliá-la como objeto de estudo, mas sobretudo como objeto criticável, num verdadeiro trabalho de desconstrução da sua mensagem e rejeição da sua autoridade. Eles se colocam em posição de superioridade, considerando-se tal qual um cientista a examinar uma lâmina no microscópio, na qual se acha um novo vírus. Tentam dissecá-la, revelar suas falhas, incongruências, contradições, fazendo-se de crentes, mas trabalhando tenazmente para a incredulidade. Na verdade, a única solução que apresentam para os problemas que não existem é a si mesmos: são os inventores do “quadrado-redondo”, e os únicos capazes de explicar a sua criação, ainda que ela não passe de idealização impossível e somente possível em suas mentes doentes e transtornadas, tamanho absurdo representam e querem representar.

O TESTEMUNHO DO ESPÍRITO SANTO
Por isso, é necessário que o homem seja regenerado e sua mente controlada pelo Espírito Santo para persuadi-lo quanto à autoridade da Escritura, de maneira que este entendimento é o resultado direto da ação do próprio Deus na mente humana, iluminando-a, tirando-a das trevas, da cegueira, capacitando-a a reconhecer espiritualmente o que é espiritual. Quando Marcião, Ário, Pelágio, Schleiermacher, Ritschl, Bultmann e Tillich fazem críticas e defendem absurdos como a não ressurreição de Cristo, pois não há provas históricas que corroborem o relato bíblico[fica a pergunta: quais provas seriam necessárias para comprovar o fato? Além dos muitos testemunhos e relatos da Escritura? Uma foto? Um vídeo?]. Para eles, qualquer prova é suficiente, desde que não seja o texto bíblico. Eles simplesmente clamam por um testemunho genuíno quando estão diante dele mas não o admitem. Por que? Falta-lhes o testemunho interno do Espírito Santo e sobra-lhes a loucura do homem natural, que Paulo esclareceu: "Ora, o homem natural não compreende as coisas do Espírito de Deus, porque lhe parecem loucura; e não pode entendê-las, porque elas se discernem espiritualmente" [1Co 2.14]. Falta-lhes o entendimento, e em sua presunção e arrogância, sobra-lhes a tolice da incredulidade e da ignorância. Ao se considerarem superiores, demonstram-se deficientes e impossibilitados de entender a Deus e sua revelação, pois não têm a mente de Cristo; tornando suas conclusões em respostas baseadas na mais completa ignorância, a qual querem evitar, mas acabam apenas confirmando-a.

CONCLUSÃO
A Bíblia é a santa e perfeita palavra de Deus, e sua autoridade é intocável, pois procede de Deus, o seu autor. Logo, não há a menor chance dela ser alvo de críticas, visto ser o perfeito conselho de Deus para o homem.

NOTA: [1] "Sola Scriptura", Paulo Anglada, Editora Os Puritanos, pg.61.
[2] Aula realizada em 09/10/2011

domingo, 16 de outubro de 2011

Estudo sobre a Confissão de Fé Batista de 1689 - Aula 2


A MENSAGEM ETERNA DO DEUS ETERNO!







Por Jorge Fernandes Isah


CAPÍTULO 1: AS SAGRADAS ESCRITURAS

2- Sob o nome de Sagradas Escrituras ou Palavra de Deus escrita, incluem-se agora todos os livros do Velho Testamento e Novo Testamento, que são os seguintes:

O VELHO TESTAMENTO

Gênesis
1 Reis
Eclesiastes
Obadias
Êxodo
2 Reis
Cantares
Jonas
Levítico
1 Crônicas

              Isaías

Miquéias
Números
2 Crônicas
Jeremias
Naum
Deuteronômio
Esdras
Lamentações
Habacuque
Josué
Neemias
Ezequiel
Sofonias
Juizes
Ester
Daniel
Ageu
Rute
Oséias
Zacarias
1 Samuel
Salmos
Joel
Malaquias
2 Samuel
Provérbios
Amós


O NOVO TESTAMENTO

Mateus
Efésios
Hebreus
Marcos

                     Filipenses

Tiago
Lucas
Colossenses
1 Pedro
João
1 Tessalonissenses
2 Pedro
Atos
2 Tessalonissenses
1 João
Romanos
1 Timóteo
2 João
1 Coríntios
2 Timóteo
3 João
2 Coríntios
Tito
Judas
Gálatas
Filemom
Apocalipse

Todos os quais foram dados por inspiração de Deus, para serem a regra de fé e vida prática. 
[2Tm 3.16; Ef 2.20; Ap 22.18-19; Mt 11.27]

Os 39 livros do AT e os 27 livros do NT são a expressa e verdadeira revelação de Deus ao homem, os quais compõem a Bíblia Sagrada, ou a Palavra de Deus, ou Escritura Sagrada. A Igreja reconhece-a como o registro divinamente inspirado daquilo que Deus quis revelar ao homem.

A palavra Bíblia, feminino singular, tem origem no latim, e é derivada do grego Biblos, que quer dizer "livro". 

Outro termo aplicado à Bíblia é a palavra Cânon, que é a transliteração da palavra grega kanón, que é derivada do termo hebraico kaneh que significa régua ou vara reta de medir, dando-nos a ideia de regra, norma, pela qual se mede outras coisas. Para nós o sentido é mais do que claro, a Bíblia é o livro ou conjunto de livros escritos por homens inspirados por Deus, e, como tal, ela tem a mesma autoridade de Deus, pois Deus lhe conferiu essa autoridade sagrada.

Os livros do AT foram escritos originalmente em hebraico, com exceção de alguns trechos escritos em aramaico. Por volta do ano de 250 e 150 A.C. os textos em hebraico foram traduzidos para o grego por 70 tradutores, por isso essa tradução é chamada de Septuaginta ou LXX.

Os livros do NT foram escritos na linguagem vernacular comum do primeiro século, o grego Koiné.

Há de se entender que Deus não somente inspirou homens santos a registrarem a sua revelação de forma infalível e inerrante, mas também, pelo poder do Espírito Santo, Deus preservou sua santa palavra da corrupção e perversão dos homens, de forma que, hoje, temos acesso a toda a verdade revelada por Deus [Dt 4.2; Jr 1.12; Sl 119.160; Mt 24.35; 1Pe 1.23-25]. Portanto, é-nos assegurada a fidelidade e incorruptibilidade da palavra uma vez dada aos santos.

Uma pergunta: ouve-se muito falar de contextualização, hoje em dia, especialmente entre os cristãos. Os irmãos acreditam que a mensagem da Bíblia permanece a mesma para todos os tempos, ou ela deve se ater à cultura e lugar onde foi escrita?

Minha opinião é de que este é outro engano que muitos acabam por não perceber no estudo da Escritura. Quando se diz que a Bíblia deve ser contextualizada, o que se está dizendo é que ela é válida para a época e cultura em que foi escrita, e de que pode não valer para os tempos atuais ou futuros. Com isso, está-se afirmando a sua temporalidade, limitação e até mesmo irrelevância para o atual e os futuros séculos. O fato de a sociedade estar cada vez mais distante dos princípios bíblicos ordenados por Deus não é argumento suficiente para estes princípios tornarem-se em meras referências morais ultrapassadas, perdidas no tempo. O fato de a sociedade estar cada vez mais rebelde, cada vez mais insubmissa em relação aos preceitos bíblicos, apenas nos mostra o profundo abismo em que estamos nos lançando, e, em muitos casos, já se vê o fundo. Os graves problemas sociais: vícios, imoralidade, destruição da família, da autoridade, etc, são provas de que a desobediência e os métodos humanos de interpretação do texto bíblico são falsos, resultam na inadequação da mensagem [sua corrupção] e estimula o homem a permanecer moldado segundo a sua própria natureza iníqua e pecaminosa. Criou-se um sistema de ideias em que o homem tem de se assumir como homem e de aceitar-se como é, mesmo que seja cultivando o mal como a única forma de se permanecer fiel e íntegro a si mesmo.

De certa forma, é como se Deus nos desse a sua palavra, mas essa palavra seria de maneira diferente e dispare para homens em épocas diferentes; como se a mensagem divino pudesse se adequar ou simplesmente ser anulada por novos hábitos e normas estabelecidas socialmente. Por exemplo, a leitura de determinada parte da Escritura teria uma relevância para o homem do séc. V a.C., outra para o homem do séc. IV d.c, outra para o homem do séc. XV, e assim por diante, até chegar a nós. Agora, pensem comigo: a mensagem de Deus é mutável? Ela muda conforme o homem vai transformando os seus hábitos e regras sociais e morais? Se a Escritura é mutável, Deus também o é. Mas sabemos que Deus não muda, pois é o que a sua palavra afirma [Sl 102.27; Ml 3.6; Hb 1.12, 13.8; Tg 1.17]. Logo, sua palavra também é imutável [Sl 119.89, 160; Is 40.8; Mt 24.35; Jô 10.35; 1Pe 1.25]. Ou seja, a Escritura, como afirma a C.F.B. 1689, não pode ser medida pelas ciências sociais, seus métodos e teorias, como se houvesse uma transição entre a mensagem divina e o homem de tal forma que elementos culturais e históricos específicos é que determinam o teor e o sentido da mensagem.

Para nós, cristãos bíblicos, a Escritura é perene, sua mensagem é a própria voz de Deus para todos os tempos e para todos os homens, ainda que apenas aqueles que sejam guiados pelo Espírito Santo possam entendê-la, respeitá-la, e deixar-se guiar por ela.  Por quê? Porque não há nenhuma autoridade superior à Bíblia, além do próprio Deus que lhe conferiu autoridade; de forma que qualquer tentativa humana de restringir, limitar, conter, ou simplesmente impedir que a voz de Deus seja ouvida em alto e bom som através do texto bíblico é uma afronta e blasfêmia contra Deus, o seu autor.

3. Os livros comumente chamados Apócrifos, não sendo de inspiração divina, não fazem parte do cânon ou compêndio das Escrituras. Portanto, nenhuma autoridade têm para a Igreja de Deus, e nem podem ser de modo algum aprovados ou utilizados, senão como quaisquer outros escritos humanos.
[Lucas 24:27,44; Romanos 3:2]

Devemos entender que o cânon do A.T. foi definitivamente concluído no Concílio de Jamnia em 90 a.c. e é exatamente igual ao cânon protestante, constando de 39 livros. A diferença está apenas na ordem dos livros que entre os hebreus é a seguinte: 

O Pentateuco ou Tora: Gênesis, Êxodo, Levítico, Números, Deuteronômio. 
Os Profetas [Neviim]: Anteriores: Josué, Juízes, 1 e 2 Samuel, 1 e 2 Reis. Posteriores: Isaías, Jeremias, Ezequiel e Profetas menores. 
Os Escritos [Kêtuvim]: Poesia e Sabedoria: Salmos, Provérbios e Jó. Rolos ou Megilloth [lidos no ano litúrgico]: Cantares [na páscoa], Rute [no pentecostes], Lamentações [no quinto mês], Eclesiastes [na festa dos tabernáculos] e Ester [na festa de purim].
Históricos: Daniel, Esdras, Neemias e 1 e 2 Crônicas.
Portanto, não há nenhuma referência aos livros apócrifos [Apócrifo vem do grego apokrypha cujo significado quer dizer oculto, misterioso, escondido], que foram incluídos na Septuaginta e na Vulgata de Jerônimo [que não considerava os apócrifos como livros canônicos, livros inspirados, e que foram canonizados em 1546 pelo Concílio de Trento], o qual originou a Bíblia Católica.

Os livros apócrifos foram aqueles que os tradutores gregos, da Biblioteca de Alexandria, incluíram como escritos judaicos, provavelmente redigidos no período de 400 anos em que Deus silenciou-se a Israel, conhecido com período Interbíblico. Eles também são chamados de pseudo-canônicos e, pelo católicos, designados como deuterocanônicos. São eles: os livros de 1 e 2 Macabeus, Judite, Baruque, Eclesiástico ou Sirácida, Tobias, Sabedoria e as adições aos livros de Ester e Daniel. Há, contudo, uma dezena ou mais de livros apócrifos escritos em hebraico além dos pertencentes ao cânon Católico.

O Novo Testamento protestante e católico é o mesmo, não havendo nenhum acréscimo. Há, porém, um grande número de escritos como o Evangelho de Judas e Madalena, por exemplo, que, em sua maioria, foram escritos por autores gnósticos [gnóstico vem do grego gnosis, que quer dizer, conhecimento. Foi um movimento religioso-filosófico que surgiu nos séc. I e II, cujos apóstolos e pais da Igreja combateram veementemente como hereges, e, suas doutrinas, heréticas]  nos primórdios da Igreja Primitiva, mas que não têm nenhuma canonicidade, pelo contrário, estão repletos de elementos que conflitam com a verdade, com o texto bíblico. 

O exemplo de um texto bíblico que combate o gnosticismo encontra-se na Carta do Apóstolo João: “Amados, não creiais a todo o espírito, mas provai se os espíritos são de Deus, porque já muitos falsos profetas se têm levantado no mundo. Nisto conhecereis o Espírito de Deus: Todo o espírito que confessa que Jesus Cristo veio em carne é de Deus; E todo o espírito que não confessa que Jesus Cristo veio em carne não é de Deus; mas este é o espírito do anticristo, do qual já ouvistes que há de vir, e eis que já agora está no mundo” [1Jo 4.1-3].

Os gnósticos eram dualistas, acreditavam em dois deuses, duas divindades antagônicas, que se digladiavam pelo poder no universo. Para eles, a matéria era má, a carne era má, pois criada pelo “Deus mal” do Antigo Testamento, o Demiurgo. Portanto, Cristo sendo bom, não poderia ter matéria. O que o Senhor fazia crer é que tinha um corpo, quando na verdade esse corpo não passava de uma “miragem”, uma ilusão, uma imagem criada com o intuito de enganar as pessoas fazendo-as crer que ele possuía carne e ossos. Isto é um erro gravíssimo, pois depõe contra muitas afirmações presentes no texto sagrado, o qual nega-as peremptoriamente. Por exemplo, a de que o Verbo encarnou e habitou entre nós [Jo 1.1,14]; de que o Cristo nasceria de uma mulher, uma virgem [Gn 3.15, Mt 1.18-23, Gl 4.4, Hb 2.14].

Temos nesse esquema, ao qual João combateu veementemente, sérios problemas soteriológicos, de forma que, se Cristo não é o Deus-homem, a salvação dos eleitos estaria irremediavelmente comprometida, ou melhor, perdida. Para que o povo de Deus fosse salvo era necessário que o Messias não apenas representasse a raça humana, no sentido de ser parecido mas não ser verdadeiro; era necessário que ele fosse igual a nós, contudo, sem pecado. Então, João diz:

a)    “Não creiais a todo o espírito”, remetendo-nos a várias passagens na Escritura que alerta e exorta a provarmos se determinado ensino provém da palavra de Deus, ou não passa de outra artimanha maligna de levar incautos ao engano, à mentira, e à perdição da alma.
b)    “Porque já muitos falsos profetas se têm levantando no mundo”, igualmente, os profetas, Cristo e os apóstolos revelam que, desde sempre houve aqueles servos de satanás operando entre o povo de Deus, de maneira que assim pudessem dispersar o rebanho do Senhor; as quais ficariam sem pastor. E sabemos que ovelhas sem pastor são presas fáceis nas mãos do inimigo.
c)     João alerta para a maneira como se conhecerá se o Espírito é de Deus: confessar que Jesus Cristo veio em carne.
d)    O que não confessa que Cristo veio em carne é o espírito do anticristo, da mentira, do engano, o qual já estava no mundo, e ainda está operando.


Com isso, o apóstolo intentou derrubar, e derrubou o falso argumento
gnóstico, provando que a carne pode ser boa, pois Cristo veio em carne e
era bom; assim como, no glorioso dia do Senhor, quando da ressurreição,
também teremos corpos [matéria], e não mais haverá o pecado nem o mal
em nossa carne, pois seremos como o nosso Senhor é, santos.
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