Jorge Fernandes Isah
[Esboço]
“Vós
adorais o que não sabeis; nós adoramos o que sabemos
porque
a salvação vem dos judeus”
A) INTRODUÇÃO:
O fato dos
samaritanos adorarem o que não conhecem, indica-nos elementos de uma falsa
adoração, e da verdadeira. Levando a conclusão de que nem todo o tipo de
adoração pode ser considerada como verdadeira, e nem todo o culto a Deus
glorifica-o, pois está voltando para um ídolo, para uma imagem distorcida do
verdadeiro Senhor, e, portanto, não pode ser reconhecida como louvor a ele. Por
outro lado, é-nos apresentado como adorar, da forma correta.
B) O QUE É ADORAÇÃO?
A palavra adoração tem o significado
de “veneração”, “de curvar-se perante”, algo ou alguém. No AT é comumente
utilizada a expressão “shaha”. No NT é expressa pela palavra “proskyneo”,
significando “beijar a mão”, “adorar” e “fazer reverência a” e, algumas vezes,
também pela palavra “sebomai”. Outra expressão grega para adoração é “latreuo”,
significando “venerar publicamente”, “ministrar”, “servir”.
Porém, a adoração tem como princípio
ou propósito fundamental estabelecer, instituir, um relacionamento entre homens
e Deus. Ela nunca será uma mera teoria ou doutrina sem aplicação. A adoração é
essencialmente prática, em uma atitude de reverência, cujo adorador se
entregará de corpo e alma ao ofício, ao serviço, de estar inteiramente ocupado
por e com Deus. É a integral, completa e total, uma ação de graças, para o
Senhor a quem devemos tudo; e em tudo ele deve ser louvado, adorado.
C) A FALSA ADORAÇÃO:
O que você, meu irmão e irmã,
compreende por adoração a Deus?
É o ato
de se curvar diante de uma imagem?
Respondam, irmãos, sim ou não?
Ou repetir frases como em um
mantra ou ladainha?
Sim ou não?
Ou extravasar, como um louco
ensandecido (rolar no chão, urrar ou imitar um animal, afastar a consciência),
emoções e sentimentos de forma irresponsável, tendo um comportamento leviano e
que em nada agrada a Deus?
Sim ou não?
Ou apresentar-se em um formalismo
desinteressado, preso em uma rotina, repetitiva e enfadonha, da leitura da
Escritura, ou na oração, em que não haja real significado, sem comunhão e
relacionamento com Deus?
Sim ou não?
Ou, ainda, promover atividades sem
reverência, temor, e nitidamente com vias de satisfazer a carne e não agradar o
Espírito?
Sim ou não?
Por causa da queda e do pecado, o
homem perdeu o real sentido de adoração, e, especialmente, nos dias de hoje, a
igreja parece perdida em meio a muitas formas de adorar a Deus, porém, em sua
maioria, elas apontam muito mais para uma adoração ao homem, no sentido de que
a adoração, mais do que louvar a Deus, se estabelece como uma satisfação dos
anseios humanos.
Infelizmente é possível ver, na
maioria das igrejas, uma disposição à diversão, à distração, à satisfação da
assistência com coisas e atitudes nada santas, cuja finalidade é, de alguma
maneira, fazer com que a assembleia se sinta suficientemente confortável, e
dentro de uma visão positivista e pragmática sinta-se bem, e queira, nas
próximas vezes, voltar àquele lugar que tanto o entreteu.
Não raro de se ver práticas que
negam a reverência ao Senhor, onde o pior do homem se apresenta na forma de um
culto irracional, pagão e carnal, onde a vazão é para os sentimentos
desenfreados, a balbúrdia e o caos.
Muitos cristãos demonstram pouco ou
nenhum conhecimento de Deus, ao entregarem-se as práticas insanas,
despropositadas, típicas dos pagãos e idolatras, no qual se inclui a
autoidolatria.
Qualquer tentativa de substituir ao
Deus bíblico, na forma de religiosidade ou secularismo, é entregar-se ao plágio
ou a impostura, na qual uma cópia tenta se fazer autêntica, real, quando apenas
é uma tentativa de validar algo falso, um substituto incapaz de suprir a
perfeição existente somente no Deus verdadeiro.
Não é raro ouvirmos que determinada
igreja não agrada a sicrano e beltrano por que lá ele não se sente bem. Ao ser
inquirido sobre os motivos pelos quais a igreja não o satisfazer, se ouve as
mais esdrúxulas opiniões:
- O lugar é muito frio. O louvor é
chato, não tem instrumentos, e eles cantam aqueles hinos da época da minha avó.
Afinal, gosto de um louvor mais “quente”.
Em boa parte das vezes, o que esse
crente quer é apenas e tão somente que a igreja seja uma extensão do mundo, e o
mesmo apelo que as músicas seculares têm em sua alma, ele a quer sentir ali,
como se fosse algo feito para Deus, mas que é exclusivamente para si mesmo,
para o seu deleite, e satisfação egoísta.
Também se ouve o testemunho de
outros cristãos que não se conformam com uma igreja que pregue o evangelho e
trabalhe para a obra do Senhor, e onde não haja atividades extras e à margem do
evangelho: uma pelada santa, uma rave santa, um churrasco santo, ou outra coisa
colada à expressão santa, a qual é necessária para legitimar, numa tentativa
louca, o profano em sacro, como se elas fossem o alicerce, o fundamento, da
vida cristã
Sabemos o que não é adoração, mas
estamos cônscios do que ela realmente seja ou representa?
D) A VERDADEIRA ADORAÇÃO:
O alvo do crente é a adoração
verdadeira ao Deus verdadeiro, e qualquer coisa diferente disso não é adoração.
O Senhor merece toda a nossa honra e louvor, e não o fazer, ou fazê-lo
equivocadamente, significará a incompreensão e o desconhecimento de quem ele é
e de quem nós somos. Ninguém pode se arvorar a ser adorado sem incorrer em
usurpação da glória divina; e ninguém ficará impune a isso.
Sendo assim, listarei três aspectos
fundamentais da verdadeira adoração:
1) Como disse anteriormente ninguém poderá adorar, em
espirito e em verdade, se não for resgatado, regenerado por Deus. Em João 4, o
Senhor Jesus tem um diálogo revelador com uma samaritana. Os irmãos sabem que
judeus e samaritanos tinham uma rivalidade histórica, ao ponto de se
considerarem inimigos naturais. A parábola do “bom samaritano” (Lc 10.33),
deixa claro que, aos judeus daquela época, a atitude do viajante de socorrer o
judeu ferido, era algo impensável.
Portanto, o fato de um judeu, o Cristo, conversar com uma mulher
samaritana, era algo igualmente estranho, para não dizer inadmissível.
[Fazer um rápido apanhado desta
passagem, para chegar
ao ponto principal]
A parte
mais importante do nosso estudo, refere-se aos versos 21 e 24, nos quais o
Senhor diz:
“Disse-lhe Jesus: Mulher, crê-me que a hora vem, em
que nem neste monte nem em Jerusalém adorareis o Pai.
Vós adorais o que não sabeis; nós adoramos o que sabemos porque a salvação vem dos judeus.
Mas a hora vem, e agora é, em que os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e em verdade; porque o Pai procura a tais que assim o adorem.
Deus é Espírito, e importa que os que o adoram o adorem em espírito e em verdade”.
Vós adorais o que não sabeis; nós adoramos o que sabemos porque a salvação vem dos judeus.
Mas a hora vem, e agora é, em que os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e em verdade; porque o Pai procura a tais que assim o adorem.
Deus é Espírito, e importa que os que o adoram o adorem em espírito e em verdade”.
Ora, a
ideia que se tem é a de que Cristo estava negando a adoração naquele monte e em
Jerusalém, como algo falso; mas não é isso. A expressão “verdade” aqui não se
contrapõe à mentira ou falso, mas a uma atitude efetiva, real, completa. Ele
não nega a validade de se adorar em Jerusalém e no monte, como uma forma
terrena, asseverando uma adoração celestial, não negando aquela, mas afirmando
esta.
Conhecedor de todas as coisas, ele
sabia que, em breve, a adoração, como os judeus a conheciam, estava prestes a
se inviabilizar, pois seriam espalhados pelo mundo, seu Templo seria destruído,
e, a partir de então, não haveria mais Jerusalém como o lugar de adoração, mas
ela se daria em qualquer local, em qualquer parte do mundo.
Ele faz uma distinção entre a adoração
terrena e a celestial, no sentido de não estar mais limitada a um lugar, a uma
forma, ainda que se realize em lugares e dentro de uma ordem, mas na efetivação
do louvor dirigido ao Pai na plenitude do Espírito, seja aqui ou acolá, seja
por uma ordem religiosa ou não.
Contudo,
o cerne da questão está não na adoração em si mas em quem se adora, pois a
adoração tem como princípio ou propósito fundamental estabelecer, instituir, um
relacionamento entre homens e Deus. Ele afirma textualmente que os samaritanos
adoravam o que não sabiam, não conheciam, e de que a verdadeira adoração era a
devotada ao único salvador, o Cristo. Não é possível qualquer forma de adoração
se o Cristo não for o centro, o alvo, do louvor e da ação de graças. Sem ele
qualquer forma de veneração é não apenas falsa, mas repulsiva e afrontosa a
Deus. Mesmo os incrédulos louvam, à sua maneira, a Deus; e por não o conhecer,
erram, e sua adoração é uma perversão da verdade.
Todos os
homens deveriam, em princípio, reconhecer o verdadeiro louvor a Cristo, sem o
qual nenhuma adoração é possível, é real. Sem ele, ela não passará de uma
farsa, de um engodo; negá-lo é não ser adorador, mesmo que se suponha um.
Estando o homem em pecado, em inimizade com Deus, nenhuma adoração é aceitável,
antes é rejeitada por ele.
Então, é
necessário ao homem ser transformado por Deus, ter os seus pecados perdoados,
para adorar corretamente. Sem a regeneração, pelo arrependimento e a fé; sem a
mente de Cristo; sem a comunhão com o Espírito, nenhuma adoração é verdadeira,
apenas uma cópia distorcida e maligna do louvor santo.
2)
Deus só pode
ser adorado se a alma do homem estiver apenas nele.
Engana-se quem acredita que pode
“acender uma vela para Deus e outra para o diabo”, como os antigos diziam. O
coração tem de estar apenas focado no Senhor, sem distrações, sem subterfúgios,
sem esquemas que visem dividir a sua glória entre ele e os ídolos. Novamente, o
erro dos samaritanos era não conhecer a Deus, mas também dividir a adoração com
outros deuses (2 Rs 17.28-41). A adoração requer completo e íntimo
relacionamento com o único a merecê-lo: O Senhor!
Quando nos entregamos às paixões,
sejam elas quais forem, o futebol, o trabalho, a esposa ou esposo, os filhos, a
ideologia, criamos um ídolo, e fazemos dele objeto de veneração. Qualquer
coisa, pessoa ou entidade, que ocupe o lugar exclusivo de Deus no coração, é a
negação de todo o bem e favor divinos, e um desvio da alma na direção da
ingratidão. Adorar outro ídolo é não reconhecer o bem recebido, o favor
concedido; é traição, a forma mais profunda de adultério, de infidelidade, a
qual é entregar-se a alguém ou algo ilegítimo, quando a entrega deveria ser ao
legítimo detentor de adoração.
Apenas Deus
deve satisfazer o coração do homem, e somente ele o pode.
3)
A adoração está
intimamente ligada ao conhecimento divino.
Quanto mais o conhecemos, mais somos
capazes de adorá-lo. E só o conhecemos, principalmente, pela sua revelação
especial, as Escrituras Sagradas. Aprouve a Deus revelar-se de duas maneiras
aos homens:
a) Pela Criação, na qual podemos ver a grandiosidade do
Senhor, capaz de fazer um universo maravilhoso, diversificado, belo e
funcional. O poder de Deus fica patente nas obras da sua mão. Podemos perceber
a sua bondade e generosidade em cada aspecto da criação.
b) Pela revelação especial, a qual Deus se faz conhecer
em detalhes. Nela podemos compreender muitos dos seus atributos que não ficam
evidentes na Criação, tais como o amor, a misericórdia e a sua graça derramada
sobre o seu povo.
c)
Através da
oração reconhecemos em Deus o pai cuidadoso, que não somente nos ouve, mas nos
conforta, fortalece, e nos molda à semelhança do seu filho Amado.
Portanto, sem o conhecimento de
Deus, e o desejo entranhável de conhece-lo mais e mais, não há comunhão, nem
intimidade, muito menos é possível haver adoração.
4) Sendo a lei de Deus a sua vontade expressa para o
homem, não há como adorá-lo sem observar os seus mandamentos.
O Senhor Jesus disse:
“Aquele
que tem os meus mandamentos e os guarda esse é o que me ama; e aquele que me
ama será amado de meu Pai, e eu o amarei, e me manifestarei a ele” (Jo 14.21).
O amor é também uma forma de
adoração. Se atentarmos para o ensino bíblico veremos que tudo em nossa vida
deve estar direcionado para o louvor e a glória de Deus. A obediência é nos
colocar em posição de submissão e dependência a Deus, pois quanto mais íntimos
do Senhor, mais reconhecemos a nossa fragilidade e insuficiência, e somos
atraídos por sua benignidade, pelo seu amor. Como o amor é prático e não apenas
uma construção teórica, amamos quando nos entregamos completamente ao alvo do
nosso amor; então, obedecemos porque o amamos, e o amamos porque somos
obedientes.
No Salmos 100, o autor nos remete a
mais algumas verdades acerca da verdadeira adoração.
“Celebrai com
júbilo ao SENHOR, todas as terras.
Servi ao Senhor com alegria; e entrai diante dele com canto.
Sabei que o Senhor é Deus; foi ele que nos fez, e não nós a nós mesmos; somos povo seu e ovelhas do seu pasto.
Entrai pelas portas dele com gratidão, e em seus átrios com louvor; louvai-o, e bendizei o seu nome.
Porque o Senhor é bom, e eterna a sua misericórdia; e a sua verdade dura de geração em geração”.
Servi ao Senhor com alegria; e entrai diante dele com canto.
Sabei que o Senhor é Deus; foi ele que nos fez, e não nós a nós mesmos; somos povo seu e ovelhas do seu pasto.
Entrai pelas portas dele com gratidão, e em seus átrios com louvor; louvai-o, e bendizei o seu nome.
Porque o Senhor é bom, e eterna a sua misericórdia; e a sua verdade dura de geração em geração”.
Este Salmo encerra uma doxologia,
uma exaltação a Deus, iniciada no Salmo 93, em que hinos de louvor são escritos
com a finalidade de glorificar o Senhor pelo que ele é, pelos seus feitos,
revelando a sua soberania sobre toda a Criação, o seu amor e fidelidade para
com os seus filhos, e o temor a que lhe devem todos os homens.
Neste Salmo temos um chamado à
adoração por parte do escritor, como demonstração de gratidão a Deus, e
consequência do conhecimento que o povo de Israel, especificamente, tinha.
As palavras chaves aqui são:
- Celebrar;
- Servir (com alegria);
- Gratidão.
E o louvor deve compreendê-las.
[Um rápido apanhado de cada
versículo, destacando estes pontos, mas também o fato do salmista afirmar que
todo o louvor se deve ao fato de Deus ser Deus, e, portanto, merecedor, somente
ele, de adoração]
E) CONCLUSÃO:
Por fim, o texto em Isaias 6: 1-3,
mostrando como os serafins adoram o Senhor, com reverência e temor, ao ponto de,
diante dele, esconderem os rostos e os pés, significando que mesmo os anjos
eleitos, os quais são santos e limpos de todo o pecado, não se consideram
dignos de se apresentarem diante do Deus santo, santo e santo. Somente Deus é
santo em si mesmo, enquanto os anjos, também puros, são santos pela entrega
total a Deus, e pelo serviço especial a ele.
O louvor deles é na medida exata do
ser de Deus; da compreensão precisa de quem ele é, quem são os anjos, e qual a
forma adequada de adorá-lo: deslumbrados, arrebatados, pela santidade e glória
de Deus.
E são elas, especificamente, a
santidade e a glória de Deus, os reais motivos para adorá-lo.
Nota: Sermão pregado no T.B.B. em 16/05/2016, no culto dominical.