Pr. Luiz Carlos Tibúrcio
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quarta-feira, 18 de abril de 2012
Estudo sobre a Confissão de Fé Batista de 1689 - Aula 23: O conhecimento e a presciência de Deus
Por Jorge Fernandes Isah
INTRODUÇÃO
Atributos comunicáveis são os atributos divinos que podemos encontrar, ainda que em graus muito menores, em nossa personalidade. Como está escrito no livro de Gênesis, Deus nos fez à sua imagem e semelhança, de forma que nos deu algumas características de sua pessoalidade, não no sentido de serem idênticas às nossas mas de, através delas, nos identificarmos com o ser pessoal que ele é. Vemos em nós, ainda que por sombras, aquilo que ele é; ainda que diferentemente de nós ele seja santo, perfeito e eterno. Por isso falamos dos atributos comunicáveis como aqueles que definem Deus como o ser pessoal. Entendo, contudo, que é difícil, e mesmo impossível, distingui-lo em sua pessoalidade, como se fosse possível ele ser parcialmente pessoal ou parcialmente impessoal em seus atributos. Deus, na verdade, é pessoal em todo o seu ser, em todos os seus atributos, mesmo nos que não são considerados comunicáveis. Afirmar que esse ou aquele atributo é mais pessoal do que outro parece-me uma distorção, como se pudêssemos fragmentá-lo ou dividi-lo no que não pode ser fragmentado ou dividido. Esta divisão serve para entender melhor aquilo que é por demais grandioso, maravilhoso e inescrutável ao homem: a divindade em todos os seus aspectos eternos, infinitos e imutáveis.
Quando consideramos o que definiu-se por "comunicáveis", não podemos esquecer de que eles também são, em sua perfeita unidade, "incomunicáveis", no sentido de serem infinitos, eternos e imutáveis como é todo o ser de Deus. De sorte que, falar em pessoalidade de alguns atributos poderá induzir ao erro de se considerar outros como impessoais; mas sendo o ser de Deus completamente perfeito, essa distinção faz-se desnecessária e, até mesmo, inadequada.
Ainda que se diga que os atributos incomunicáveis apenas assinalam ou evidenciam o ser absoluto de Deus, enquanto os comunicáveis o ser pessoal, fica-nos claro que isso é algo impossível do ponto de vista da unidade e exclusividade divina, a qual não pode ser dividida nem mesmo para efeitos meramente didáticos.
Não estou dizendo que certas classificações não sejam de providencial e prudente ajuda no entendimento e compreensão do ser divino; não é isso. Mas que a ideia de pessoalidade em alguns atributos pode ser mais danosa para esse entendimento do que auxiliadora. Por mais que se não queira, é inevitável, por nossa limitação e imperfeição, uma certa "dissecação" do ser absoluto e supremo; porém, em alguns aspectos ela não traz nenhum dano à compreensão, mas aqui, penso, ela pode ocasionar sérios desvios e distorções levando mesmo à incompreensão.
Sendo ele absoluto, o causador de todas as coisas e pelas quais deu-lhes a existência, Deus se relaciona pessoalmente com a Criação, ou melhor, com suas criaturas. Porém, não devemos esquecer de que Deus é um ser pessoal em si mesmo, onde subsistem três pessoas, que se interrelacionam eternamente, mesmo havendo o carater de subordinação entre elas, sem que haja desigualdade, mas uma igualdade perfeita e santa. Qualquer tentativa de se definir Deus, portanto, como um ser impessoal é, em si mesma, falsa; ainda que não houvesse nada criado, pois nele mesmo encontramos a personalidade perfeita da qual somos meros reflexos imperfeitos e finitos. O que nos leva novamente a questionar qualquer tentativa de entender a pessoalidade divina a partir do homem e suas relações. Elas nos auxiliam como elementos díspares, quase em oposição ao que Deus é, ainda que haja resíduos divinos nos seres criados; mas devemos ter a consciência de que o nosso carater e relacionamentos estão anos-luz de qualquer semelhança ao carater e pessoalidade divinas. A referência ao homem como um ser pessoal deve-nos levar a reconhecer que, como criaturas finitas e limitadas, criados pelo Deus absoluto, temos que ele é também pessoal, mas de uma pessoalidade superior, infinita e perfeita, ao contrário de nós.
Nada disso seria possível se Deus não se quisesse revelar ao homem como o ser pessoal, e, para tanto, temos como base e testemunho a Escritura Sagrada, na qual lemos, desde o início, Deus se relacionando com as suas criaturas. E, nela, encontramos a melhor definição sobre o ser de Deus: ele é Espirito; a quem ninguém pode ou poderá ver, mas, em sua misericórdia e bondade, aprouve a ele nos dar a conhecer pelo seu Filho Amado, o qual poderemos olhar, tocar, abraçar, pois é o Verbo encarnado, a segunda pessoa da Triunidade Santa, e que é a perfeita imagem divina. A ele, Deus eterno e Todo-Poderoso, mas também Todo-Amoroso para com o seu povo, honra e glória eternas!
O fato de Deus estabelecer princípios morais e de obediência nos leva a reconhecer nele a suprema pessoalidade, na qual somos guiados a, voltando-nos para ele, buscar sermos como ele é. Por isso há inúmeras exortações quanto à santidade: sede santo como é santo o vosso Pai. Somos exortados e orientados pelo próprio Senhor a sermos pessoalmente como ele é. Claro que a referência não é a sermos como Deus, em sua unidade e intereza, mas a sermos integralmente santos, retos e justos como ele é. O carater santo, reto e justo, no qual devemos almejar, mostra-nos que somente assim é-se possível relacionar-se com o Criador e compreender essa "faceta" maravilhosa da sua pessoalidade, ainda que o termo "pessoa" não seja aplicado na Bíblia a Deus. Contudo a ideia de o ser pessoal é verdadeira, sendo explicitada na criação do homem, mas, especialmente, na salvação providenciada pelo próprio Deus, realizada na expiação do Filho eterno, Jesus Cristo, que propiciou aos eleitos relacionarem-se definitivamente com Deus, revelando-o através de si, como a imagem fiel e perfeita, de forma que pudéssemos conhecê-lo e termos nossos caracteres moldados à sua semelhança. E aquilo que é pessoal somente em Deus, santidade e justiça plenas, também o será em nós, por sua obra realizada [mas, para nós, está em processo de realização].
ATRIBUTOS INTELECTUAIS DE DEUS
1) O Conhecimento de Deus
Pode-se defini-lo como sendo a perfeição de Deus pela qual ele conhece a si mesmo e todas as coisas num único ato eterno e simples. Com isso se quer dizer que o conhecimento divino é abrangente, exaustivo, infinito e simultâneo, de maneira que nada lhe escapa, nem se lhe apresenta progressivamente, e de que o seu conhecimento vai além das coisas criadas. Sabiamente o salmista diz: "Grande é o nosso Senhor, e de grande poder; o seu entendimento é infinito" [Sl 147.5]. O profeta também diz: "Ai dos querem esconder profundamente o seu propósito do Senhor, e fazem as suas obras às escuras, e dizem: Quem nos vê? E quem nos conhece?" [Is 29.15], e, ainda: "Não sabes, não ouviste que o eterno Deus, o Senhor, o Criador dos fins da terra, nem se cansa nem se fatiga? É inescrutável o seu entendimento" [Is 40.28].
Diferentemente de nós que temos o conhecimento limitado e parcial ao que vemos, tocamos, podemos mensurar ou verificar, Deus tem o conhecimento exaustivo e infalível de tudo [onisciência]. Muito antes do mundo vir a existir, Deus já o conhecia. Muito antes de sermos criados, ele também já nos conhecia. Todos os fatos, em seus mínimos detalhes, não lhe escapam, pois foi pela sua vontade que eles vieram a existir. E a vontade divina não está presa a nada nem ninguém. Não podemos dizer que Deus age conforme o curso das coisas se desenrolam, à medida em que acontecem, para então definir o passo seguinte. Não. Deus preordenou tudo o que acontece, por sua livre vontade, a qual produz o seu conhecimento. Não numa sequência como a descrita, primeiro a vontade, depois o conhecimento, isso é fruto da limitação humana que, presa ao tempo, não consegue orientar-se fora dele. Deus tem vontade e conhecimento simultâneos, jamais progressivamente, pois ele vê as coisas de uma vez em sua totalidade, ainda que o próprio conceito de simultaneidade esteja atrelado à ideia do tempo, a qual é exterior ao ser de divino, não exercendo nenhuma influência sobre ele.
Deus conhece a si mesmo, o que se chama de "conhecimento simples". É o conhecimento que Deus tem de si sem fazer nenhum esforço para se conhecer. É o conhecimento próprio, inerente, e não se desdobra em conhecimento progressivo. Deus sempre se conheceu completamente, sem a necessidade de, como o homem, conhecer-se progressivamente, através da observação e do aprendizado de si mesmo e dos seus semelhantes; um conhecimento adquirido, empírico. O homem é, em muitas fases da vida, ignorante de si. É possível que passados anos e anos ele não tenha o conhecimento de si, pois sempre os terá incompletos, e, muitas vezes, incompreensíveis [por conta da finitude humana, mas também do pecado que afetou a nossa mente, corrompendo-a]. Ainda assim, o que conhecemos de nós somente é possível pelo favor divino, de nos dar o seu Espírito, "para que conheçamos o que por Deus nos foi dado gratuitamente" [1Co 2.12]. Quanto a Deus, ele não ignora nada do seu ser e natureza, de forma que sabe tudo a seu respeito, pois, assim como Deus é eterno, o seu conhecimento também é, sendo completamente imune à ignorância. Deus não aprende nem adquire conhecimento; ele tem todo o conhecimento, pois ele depende apenas de si, e tão somente de si, e não das coisas criadas, para saber como elas são, muito antes de serem. Ele anuncia o fim desde o princípio [Is 46.10], e lhe são conhecidas, desde o princípio do mundo, todas as suas obras [At. 15.18], e, então, temos a afirmação bíblica de que o conhecimento divino é eterno.
Deus sabe tudo sobre tudo, ele tem o conhecimento perfeito e completo de todas as coisas. Ele conhece todos os eventos, passados, presentes e futuros, bem como o que se passa no coração do homem, seus propósitos e atos. Nada escapa aos olhos de Deus, nem algum lugar pode estar escondido dele. É o que o salmista diz: "Senhor, tu me sondaste, e me conheces. Tu sabes o meu assentar e o meu levantar; de longe entendes o meu pensamento... Para onde me irei do teu espírito, ou para onde fugirei da tua face? Se subir ao céu, lá tu estás, se fizer no inferno a minha cama, eis que tu li estás também" [Sl 139.1, 7-8]. Nada, nem mesmo os pensamentos mais insignificantes podem ser ocultados de Deus. Tudo se apresenta diante dele, o que é e o que há de ser, mas também o que foi e o que não. É o que o apóstolo nos diz: "E não há criatura que não seja manifesta na sua presença; pelo contrário, todas as coisas estão descobertas e patentes aos olhos daquele a quem temos de prestar contas" [Hb 4.13]. Ora, se Deus conhece a si mesmo que é infinito, como não poderia conhecer o que é finito?
2) PRESCIÊNCIA DIVINA
A presciência divina não é apenas uma antevisão, adivinhação ou simplesmente "ver o futuro". Deus não é um mero espectador como quando nos posicionamos diante de uma tela, passivamente, a ver um filme. Deus conhece o futuro, assim como conheceu o passado e conhece o presente, porque para ele o tempo está sempre diante de si. Vejamos o exemplo de um rolo de filme [já que as trilhas dos dvds não são visíveis aos olhos humanos]: o filme se compõe de quadros que rodados a certa velocidade dá-nos a imagem correta do evento que ocorreu. Podemos ver um quadro e ali uma cena. Mas aquele quadro não poderá nos revelar todo o desenrolar da película. O filme será sempre uma apreensão do passado, de algo que já aconteceu [mesmo um filme futurista será passado diante do espectador]. Os quadros, individualmente, não representam o filme. À medida que eles se sucedem, compreendemos o que ocorreu. Se pularmos diretamente para o final, na maioria das vezes não compreenderemos o seu desenrolar. Se apenas iniciássemos-lo, não saberíamos do que se trata. Deus não vê dessa forma. Fazendo uma analogia, ele seria uma espécie de diretor que, antes mesmo de iniciar a gravação do filme, já conhece todo o seu enredo. O fato é que muitos diretores não são os autores do texto, e é comum que os diretores interfiram no curso da história à medida em que o filme é produzido. No caso de Deus, ele é o autor do enredo e aquele que propicia, infalivelmente, que o enredo aconteça sem modificações. Ele elaborou e executou todo o projeto, do seu início ao seu final, sem alterações ou ajustes. Por causa da sua imutabilidade e todo-poder, muito antes do mundo vir à existência, Deus já o conhecia como ele é.
O significado disso é que os defensores da “scientia media” estão enganados, e defendem uma base que não é bíblica. Originariamente criada por teólogos jesuítas, e posteriormente adotada pelos luteranos e remonstrantes [arminianos], eles defendem que Deus elegeu e escolheu pessoas a partir do conhecimento de que elas, no futuro, teriam fé e se arrependeriam, vindo a serem salvas. Mas, pergunto: como pode o Deus perfeito, sábio e imutável deixar-se conduzir por aquilo que suas criaturas fazem ou deixam de fazer? Se Deus age segundo a vontade de suas criaturas, temos que ele não tem sua vontade livre, e a tem “presa” à das suas criaturas. A tentativa dos adeptos da “scientia media” é harmonizar a doutrina da predestinação e eleição divinas [leia-se, soberania de Deus] com a do livre-arbítrio humana [leia-se, soberania humana]. Mas fato é que a Bíblia nos revela a vontade e poder soberanos de Deus e, em nenhum momento, revela que o homem tenha uma escolha livre, indiferente ou arbitrária, capaz de leva-lo tanto a escolher uma como outra proposição contrária. Se atentarmos que causas internas [a natureza caída, por exemplo] e externas nos levam a tomar certas decisões, temos que o homem não possuí o livre-arbítrio ou a liberdade da indiferença, pois ela somente pode acontecer em um ambiente de completa neutralidade interna e externa, o que é impossível.
O erro está em se considerar como necessário para a responsabilidade humana que ele seja livre, mas a questão do sentido de liberdade, se para isso será obrigatório que as decisões humanas sejam indeterminadas, nos levaria a descrer e colocar em dúvida a onisciência divina, pois mesmo Deus, seria incapaz de saber eventos que não sejam claramente determinados. Não haveria, por exemplo, a certeza de que as profecias se realizariam. Então, temos duas proposições lógicas que se contradizem, e tentar harmonizá-las implicará no absurdo da ilogicidade. Afirmar que Deus elegeu homens para a salvação por conta daquilo que eles viriam a fazer, ou seja, por seus próprios esforços e méritos, é enganoso e anti-bíblico. Sabemos que o homem somente pode vir a Deus se ele quiser. Não é algo que se possa querer antes de Deus operar a regeneração e tirar-lhe a venda dos olhos. Deus é quem os abre, levando-os à luz do Evangelho de Cristo, e, então, somente então, eles têm a fé suficiente para o arrependimento.
Arthur Pink diz que o termo presciência não é simplesmente um mero pré-conhecimento de eventos futuros. Ele liga o termo ao fato de que Deus não tem, primeiramente, presciência de eventos contingentes, para depois eleger as pessoas, mas ele tem o pré-conhecimento de pessoas, antes de tudo. Em todas as passagens do Novo Testamento onde o termo é encontrado não há referência alguma a atos humanos, mas a homens. A presciência divina não se refere a ações; e a predestinação e eleição não são consequências da presciência, não são causadas por ela, mas esta decorre daquelas. Nas passagens a ordem é muito clara: Deus prevê que os que predestinou e elegeu ouvirão infalivelmente o Evangelho e se converterão. Não estudarei uma a uma dessas passagens, mas as citarei para que se possa analisá-las e confirmar a assertiva de Pink; são elas: Atos 2.23; Rm 8.29-30 conforme Rm 11.2 e 1Pe 1.2. A ordem correta dos eventos na Escritura é fundamental para que se não retire a glória de Deus na salvação do homem, colocando-a indevidamente no próprio homem. Quando este é quem determina a predestinação e eleição divinas, passa-se a ter uma salvação meritória, por haver no homem alguma coisa boa, seja prevista ou concretizada, que levará Deus a se compadecer e lançar sobre ele a sua graça e misericórdia. Mas quando entendemos corretamente a obra de redenção, reconhecemos que ela é completamente divina, de forma que seremos conformados à imagem de Cristo, à qual fomos chamados segundo o propósito de Deus [Rm 8.28-29]. Deus tem um propósito, de que sejamos a imagem do seu Filho; ele não nos elegeu porque anteviu que seríamos conformes, mas porque nos elegeu é que vislumbrou que o seríamos. Deus decretou primeiro, e sua presciência baseia-se no seu decreto, de forma que, seremos conformados a Cristo porque esse é o propósito divino.
Resumindo: Deus não previu determinado evento e decidiu tirar dele o máximo possível. Ele ordenou que tais eventos realizassem e, assim, a sua vontade livre e soberana se realizasse na história. Por isso Deus não viu algo que aconteceria e ordenou que acontecesse, mas ele ordenou e ela aconteceu infalivemente, sem chance de não acontecer. E a presciência nada mais é do que a "visão futura" [ainda que o futuro não exista para Deus] daquilo que Deus ordenou, como coisa realizada, líquida e certa.
Notas: 1) Aula realizada na E.B.D. do Tabernáculo Batista Bíblico em 18.03.2012;
2) Baixe o áudio desta aula em file.MP3
3) O esquema da foto acima foi retirado do site da Universidade Metodista de São Paulo, e me pareceu adequado para resumir como se dá o conhecimento de Deus a partir da visão humana. O conhecimento divino, em si mesmo, é "indemonstrável", pois é infinito, eterno e perfeito. Nenhuma representação é possível, então, optei em representar a forma de como ele estabeleceu que o homem poderia conhecê-lo. Parece-me um esquema equilibrado [ainda que metodista], em que a Bíblia é o centro desse conhecimento, e, somente a partir dela, ele é possível, mas se trata de uma imagem, e nada além disso. Aceitarei críticas ao esquema, caso haja.
2) Baixe o áudio desta aula em file.MP3
3) O esquema da foto acima foi retirado do site da Universidade Metodista de São Paulo, e me pareceu adequado para resumir como se dá o conhecimento de Deus a partir da visão humana. O conhecimento divino, em si mesmo, é "indemonstrável", pois é infinito, eterno e perfeito. Nenhuma representação é possível, então, optei em representar a forma de como ele estabeleceu que o homem poderia conhecê-lo. Parece-me um esquema equilibrado [ainda que metodista], em que a Bíblia é o centro desse conhecimento, e, somente a partir dela, ele é possível, mas se trata de uma imagem, e nada além disso. Aceitarei críticas ao esquema, caso haja.
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Estudo sobre a Confissão de Fé Batista de 1689 - Aula 19: A infinidade de Deus
Por Jorge Fernandes Isah
INTRODUÇÃO
Quando se diz: Deus é infinito, está-se a afirmar o quê, especificamente?
A primeira ideia que se tem é a de que ele não tem fim, de que não há limites nele. Mas também se quer dizer que ele é absoluto, eterno, perfeito, onipresente, e, assim sendo, é impossível que a razão humana o alcance. Em outras palavras, está-se a dizer que Deus é a negação da finitude, de que não está sujeito a qualquer limitação, de que nem o universo, a relação espaço-tempo, ou qualquer outro elemento possa limitá-lo. Deus não pode ser apreendido nem contido por nada ou ninguém, de forma que este atributo indica a ausência completa e total de restrições, obstáculos e defeitos no ser divino. No que ele é, e não pode não-ser, encontramos a plenitude em todos os seus atributos, e assim, a infinidade é o qualificador de todos os demais. Temos então que o seu poder é infinito, a sua bondade é infinita, o amor, a sabedoria, a misericórdia, e todos os demais atributos são infinitos. Foi a partir do ser infinito e do seu poder infinito, da sua vontade infinita, que Deus criou o finito, como contraste ao que ele é, mas também como prova da sua infinita misericórdia e bondade de se dar conhecer, como realidade no sentido mais elevado, mais concreto, em que o real é o Deus vivo se definindo como tal, em todos os seus aspectos infinitos, sendo essencialmente infinito [Jó 11.7-10; Sl 145.3; Mt 5.48]
Como já disse anteriormente, há uma ligação intrínseca entre os atributos divinos, uma unidade perfeita e santa, os quais somente podem ser analisados separada e isoladamente por causa da nossa limitação e incapacidade de entendê-los por completo. Fato é que Deus nos deu a revelar parte dos seus atributos, vistos serem eles infinitos assim como o seu ser é. Se fosse de outra forma, seria impossível qualquer conhecimento divino pelo homem, dado sermos inaptos em nossa capacidade naturalmente limitada para alcançá-lo; as perfeições de Deus estão além de qualquer grau alcançável pelo homem. Pois ao contrário dele, somos prisioneiros do espaço e do tempo, o que, por si só, já nos faz “quebrar a cabeça” para tentar entender algo que está muito além da nossa compreensão. A eternidade é um enigma para o homem exatamente por não escaparmos da ideia de passado, presente, futuro e lugar. A vida está condicionada aos fluxos temporais e espaciais, dos quais não temos como fugir.
E creio que, por isso a idolatria é uma abominação a Deus. Como pode o homem conceber possível adorar uma imagem ou mesmo um conceito ou ideia que sempre será finito e limitado ao espaço e tempo? Todos os deuses, sem exceção, estão limitados por essa contingência espaço-temporal, ainda que habite apenas a mente. Na história, não se vê um deus que se compare ao Deus bíblico, e, talvez, por isso, todos eles sejam o reflexo da limitação humana. Os deuses gregos e romanos assumiam características físicas e emocionais do homem, tanto em suas eventuais virtudes como em seus constantes defeitos. E essa é uma grande diferença que há entre eles e o Deus vivo e verdadeiro, no qual não se encontra qualquer mancha ou defeito. Em Cristo, o Verbo feito homem, a sua perfeição é evidente mesmo assumindo a forma corporal humana, visto não ter pecado nem foi achado nele dolo algum.
Por que Deus é Deus, ninguém pode adorar outro deus sem aborrecer ao verdadeiro e único Deus. O qual ordenou para que não tivéssemos outros deuses diante dele, porque ele é o Senhor nosso Deus, e Deus zeloso [Ex 20.2, 5].
Estudaremos agora as duas maneiras pela qual a infinidade de Deus pode ser entendida; quanto ao tempo, a eternidade, e quanto ao espaço, a imensidão.
ETERNIDADE
Este é um termo que tem trazido muita dor de cabeça para teólogos e filósofos, dada a dificuldade e mesmo impossibilidade que se tem de entendê-la, algo que está fora da nossa realidade, e que somente é possível em Deus, o qual é eterno.
Então dizer que a eternidade é a expressão da infinidade divina quanto ao tempo parece-me deixar claro como é difícil, mesmo para homens altamente capacitados intelectualmente, defini-la. Já que para o eterno não há tempo, e mesmo o tempo não foi criado em uma determinada “fração” da eternidade, como algo que existisse a partir de um determinado momento, dizer que ele está no passado somente terá correlação consigo mesmo, e aqueles que estão contidos nele, as criaturas, jamais com Deus. Mas compreendo que esta foi a maneira sábia que Deus se utilizou para, uma aplicação da sua misericórdia para com os homens, desse-nos algum entendimento do que ele é.
Por isso a Bíblia diz que Deus subsiste de séculos em séculos, de geração em geração [Sl 90.1-2, 102.12], utilizando-se da linguagem humana e simples para que qualquer homem possa entendê-la. A transitoriedade humana contrapõe-se à duração infinita de Deus, de que ele sempre existiu e existirá para todo o sempre, sem jamais deixar de sê-lo, sendo o que é. Ao contrário de nós, que somos afetados pelo tempo [envelhecimento e morte], significando a finitude e temporalidade da nossa vida, Deus não tem princípio nem fim, como já foi dito, por isso, qualquer ideia do que seja a eternidade divina, não passará de sombras, pelas quais poderemos apreender algo, mas jamais exaustivamente. Ainda que a nossa alma seja imortal, e a imortalidade não significa ser eterna, tivemos um começo, o qual se deu pela vontade infinita de Deus nos criar à sua imagem e semelhança. Mas o “Imago Dei” é parcial, nunca total, nem pode sê-lo, pois se fosse, seríamos como Deus, e isso é impossível; contudo, poderemos experimentar uma outra forma de eternidade, no sentido de que, daqui para a frente, estaremos indefinidamente com Deus, para sempre, na eternidade.
Este é outro conceito de eternidade, e no qual a Bíblia também nos ensina, de que os eleitos estarão sempre em comunhão com Deus; de que permanentemente, ainda que o tempo transcorra sequencialmente, nunca terá fim o nosso relacionamento com o eterno. A forma utilizada “vida eterna” traduz de maneira inteligível o que nos aguardará após a morte física: não haverá cessação do nosso viver para Deus e por ele. Contudo, sem saber como se dará isso, penso que não transcenderemos o tempo, de que não estaremos fora dele, ainda que ele tenha domínio sobre nós, e não sintamos os seus efeitos [envelhecimento, por exemplo]. Maravilhosamente, Deus anulará os efeitos do tempo sobre o seu povo [e mesmo sobre os réprobos, os quais sofrerão o justo castigo divino no Inferno, tanto anjos como homens caídos]. Mas é uma cogitação. Talvez o tempo seja realmente suprimido, e entremos num viver infinito como o de Deus, mas aí entraremos nas limitações que o próprio corpo físico impõe, a de que não podemos ser infinitos, e se não podemos, não há como falar em eternidade para nós. Haverá um tempo infindável, que não se extinguirá e que durará para sempre; o que, para nós, é muito mais do que poderíamos esperar, caso Deus não se compadecesse.
O fato é que Deus nunca foi, nem nunca será, pois ele é. Para ele, não há passado, presente ou futuro, o que dificulta ainda mais a nossa compreensão, pois nossa mente está presa ao conceito temporal, e de que tudo é temporal. Para nós, as coisas acontecem em sucessão, limitadas pelo tempo e espaço, ao começo e fim, pois nada na criação pode ser compreendido como eterno. Entender que Deus transcende o tempo, de que está fora do tempo, mas de maneira absurdamente proposicional ele age no tempo [imanência], sendo o Senhor da história, é um grande conforto. Não somente o criou, mas o governa soberana e diligentemente, sem que nada possa escapar à sua ordem. Quando o apóstolo diz que um dia para Deus são mil anos, e mil anos são como um dia [2 Pe.3.8], ele está nos chamando a compreender a sua eternidade, e a sua transcendência quanto ao tempo, sem que se possa confundi-lo com a criação. Ele é distinto da criação, pois é a própria eternidade, ainda que toda a criação subsista pelo seu favor e poder. Ao determinar todos os fatos, Deus não se inclui neles, mas ordena-os conforme a sua sabedoria, perfeição e poder. Creio ser prudente entender que o agir de Deus na história não o torna em componente da história, como um elemento criado por ele mesmo, algo do tipo uma imagem, um personagem de si mesmo. O fato de Deus não poder ser compreendido plenamente não o diminui em nada, nem pode torná-lo em um simples personagem, pelo contrário, revela-nos exatamente a sua grandiosidade e majestade, de forma que o adoremos, glorifiquemos e o reverenciemos como Deus.
E aqui entra um ponto importante, o qual não devemos esquecer, de que a eternidade de Deus nos remete à eternidade das suas promessas de bênçãos, as quais se cumpriram, cumprem e cumprirão no tempo, e das quais somos os alvos, significando que, mesmo vivendo uma vida de tribulação e lutas, somos confortados pela certeza de que naquele dia todas as nossas lágrimas serão enxugadas, “e não haverá mais morte, nem pranto, nem clamor, nem dor; porque já as primeiras coisas são passadas” [Ap 21.4]. Com isso entendemos que as provações não duram para sempre, que são circunstanciais e momentâneas, e de que encontramos sempre, no Senhor, aquele que tem “sido o nosso refúgio, de geração em geração” [Sl 90.1]. A eternidade de Deus nos tornará mais confiantes nele, e também nos fará mais humildes diante dele; pois a própria condição temporal do homem já seria suficiente para que toda a arrogância e soberba e orgulho caíssem por terra. Comparar-nos a ele é o grau máximo de loucura que um homem pode alcançar; e esse homem perdeu completamente a noção da realidade, da verdade. Como Tiago alertou: “Digo-vos que não sabeis o que acontecerá amanhã. Porque, que é a vossa vida? É um vapor que aparece por um pouco, e depois se desvanece” [Tg 4.14]. E enquanto não somos nada, em reputados por nada, Deus é Deus, de eternidade a eternidade.
IMENSIDÃO E ONIPRESENÇA
Imensidão e onipresença são termos quase sinônimos, contudo, guardam uma diferença que tentarei explicar. Elas se relacionam com a infinidade divina em relação ao espaço.
O termo “imensidão” nos dá a ideia de uma extensão desmedida, de um espaço imenso, ou uma grandeza ilimitada. Porém, a própria ideia de espaço é restritiva, não se adequando ao atributo divino, pois Deus transcende toda a ideia de limitações espaciais [imensidão], sem que ele esteja ausente de um só ponto do espaço com todo o seu ser [onipresença]. Muitas vezes pensamos em uma parte de Deus aqui, outra acolá, nos dando a falsa ideia de que Deus está “espalhado” por todo universo, o que não é verdade.
Podemos, como exemplo, imaginar um homem deitado em uma cama. O homem é formado por partes, cabeça, tronco e membros, e a cama também, cabeceira, “pés”, estrado, colchão, etc. O homem está em contato direto com o colchão, de forma que as demais partes não se encontram em contato com ele, ainda que o seu corpo esteja depositado sobre e entre elas. Não há como dizer que o homem está em todas as partes da cama. A cabeça ocupa uma parte do colchão, enquanto o tronco outra, e os pés outra. O homem não toca ao mesmo tempo os pés da cama, o estrado, o colchão, etc. Nem que é possível imaginá-lo fora da cama, quando está deitado nela. Deus, como não tem partes mas é o ser único e indivisível, não poderia estar sobre e entre as partes da cama sem encher as demais. Na verdade, como é uma analogia e a complexidade do ser de Deus é mesmo incompreensível para o homem, podemos dizer que Deus enche toda a cama, tocando ao mesmo tempo nos pés, estrado, colchão, cabeceira, etc, ou seja, não há limites na cama em que Deus não esteja presente.
Com isso, tem-se de tomar cuidado para não se imaginar que Deus seja a cama, que o seu ser faz parte da cama. Deus não é a cama, pois a cama é objeto da criação, mas Deus preenche todos os espaços do objeto de forma que não há limites para ele. Mesmo a madeira mais maciça ou a rocha mais sólida ou o gás mais volátil, Deus os enche. É a afirmação do salmista: “Para onde me irei do teu espírito, ou para onde fugirei da tua face? Se subir ao céu, lá tu estás; se fizer no inferno a minha cama, eis que tu ali estás também. Se tomar as asas da alva, se habitar nas extremidades do mar, até ali a tua mão me guiará e a tua destra me susterá” [Sl 139,7-10].
Note que Davi diz ser impossível fugir de Deus; onde ele estiver, seja no mais alto dos céus ou no mais profundo da terra, ali o Senhor estará. Mas não há confusão ou mistura entre o ser de Deus e os objetos relacionados pelo salmista. Ele os distingue claramente. Também, ele não diz que uma parte de Deus está aqui e outra acolá, mas diz que ele, o todo divino, está em cada um desses lugares, enchendo cada parte dos lugares com a plenitude da sua presença. Portanto, devemos entender que Deus está presente em cada parte do universo, sem, contudo, se misturar com elas. O mesmo acontece conosco, os quais somos templo de Deus. Ele não se divide em partes e cada uma das partes ocupa um corpo/alma dos eleitos. Deus está completamente em cada um de nós, pois Deus é indivisível. Ele nos enche com todo o seu ser, de forma que Deus não está um pouco em mim, outro tanto no irmão, e mais um tanto em uma irmã do outro lado do planeta. Ele está completa e totalmente em cada um de nós, aqui, lá e acolá, em todos os lugares. Assim Deus está em tudo, ao mesmo tempo, com toda a plenitude do seu ser, sem jamais ser cada uma das suas criaturas.
Leiamos o que Salomão diz, e que pode clarificar um pouco mais a questão: “Mas, na verdade, habitaria Deus na terra? Eis que os céus, e até o céu dos céus, não te poderiam conter, quanto menos esta casa que eu tenho edificado” [1Rs 8.27].
Neste trecho, Salomão está a dizer duas coisas:
1) Deus transcende todo o espaço e não está sujeito às suas limitações, de tal forma que nem os céus, nem os céus dos céus podem contê-lo. Isto é a imensidade ou imensidão de Deus [transcendência].
2) Ainda assim o rei construiu uma casa onde Deus habitasse, e enchesse-a com a plenitude do seu ser. Deus preenche todo o espaço com todo o seu ser, relacionando-se com a criação, e isto é a onipresença divina [imanência].
Deus está presente em toda parte sem que esteja parcialmente em cada uma delas. A plenitude da sua presença enche cada parte do espaço, do universo, sem que ele seja cada uma delas ou o todo.
Outro trecho bíblico que confirma a assertiva de Salomão quanto à infinidade divina está em Jeremias 23.23-24, afirmado também por Paulo em Atos 17-27-28, entre outras passagens.
CONCLUSÃO
Diferentemente das criaturas, que ocupam um espaço limitado onde estão, sendo o seu espaço a medida do seu tamanho e outro corpo não poderá ocupá-lo ao mesmo tempo [a terra ocupa um lugar delimitado no espaço sideral, e outro planeta não poderá ocupá-lo simultaneamente], e dos espíritos finitos, anjos ou demônios, que operam em lugares específicos, mas não estão em toda parte, Deus está presente em todo o lugar, o seu ser enche todo o espaço, sem que ele o limite. De forma que ele está presente em todas as coisas, e em cada uma delas em particular, sem que ele possa ser confundido ou misturado a elas. É claro que Deus se manifestará de maneira diferente em cada uma. Ele não se manifesta do mesmo modo na natureza, no ímpio e no crente. Como Stephen Charnock diz: "Ele enche o inferno com a sua severidade, os céus com a sua glória, e o seu povo com a sua graça" [2].
A infinidade divina deve nos trazer temor e reverência. Especialmente por sabermos que estamos diante do Deus imenso e onipresente, que a tudo vê; cada passo e decisão tomada por seus filhos, entristecendo-se com os nossos pecados e alegrando-se quando resistimos e nos tornamos mais semelhantes ao seu Filho Amado, Jesus Cristo. Sejamos conscientes de que, diante dele, devemos buscar e ansiar uma vida santa, odiar e repudiar uma vida pecaminosa.
Notas: [1] - A metáfora que se faz da eternidade como um “eterno presente” não é apropriada, pois remete o eterno ao tempo, quando sabemos ser o presente uma parte do tempo. Apenas Deus é eterno, e a eternidade é Deus. Nada mais pode ser comparado ou relacionado com o fato real desse atributo divino. Logo, qualquer comparação com o tempo visa nos levar a entender algo que, para nós, é inexprimível e mesmo ininteligível em sua complexidade e esplendor
[2] The Existence and the Attributes of God, vol 1, pg 367. Citado por Heber Carlos de Campos em "O Ser de Deus e os seus atributos", pg. 216, Editora Cultura Cristã;[3] Aula realizada na E.B.D. em 12.02.2012;
[4] Fotos que ilustrem os atributos divinos são impossíveis, mas a partir do que é imperfeito, mutável, finito e temporal, pode-se reconhecer a singularidade, perfeição e grandiosidade do ser divino. Pois, cada um dos seus atributos nos faz conhecer a realidade, que somente é possível a partir do Absoluto, e sem ele, qualquer conjecturação não passa de fuga da verdade.
[5] Baixe esta aula em aula 19.mp3
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