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quinta-feira, 25 de janeiro de 2018

Sermão em Ezequiel 33.30-32: Honram com os lábios, desprezam com o coração!





JORGE F. ISAH





“Quanto a ti, ó filho do homem, os filhos do teu povo falam de ti junto às paredes e nas portas das casas; e fala um com o outro, cada um a seu irmão, dizendo: Vinde, peço-vos, e ouvi qual seja a palavra que procede do Senhor.
E eles vêm a ti, como o povo costumava vir, e se assentam diante de ti, como meu povo, e ouvem as tuas palavras, mas não as põem por obra; pois lisonjeiam com a sua boca, mas o seu coração segue a sua avareza.
E eis que tu és para eles como uma canção de amores, de quem tem voz suave, e que bem tange; porque ouvem as tuas palavras, mas não as põem por obra.”


PARTE 1

INTRODUÇÃO

- Ezequiel foi contemporâneo de Jeremias e de Daniel. 

- Os Caldeus invadiram Israel e Judá. E sitiaram e controlaram Jerusalém. 

- Houve uma primeira leva de judeus cativos e que foram levados para a Babilônia.

- Houve uma segunda leva de judeus cativos levados à Babilônia, por Nabucodonosor. Ezequiel estava nessa segunda leva de judeus levados ao cativeiro caldeu (cerca de dez mil homens), juntamente com o Rei Joaquim (Jeoaquim), em 597 a.c., para Tel-Abibe. 

LER 2 Rs 24.11-18:

“Naquele tempo subiram os servos de Nabucodonosor, rei de babilônia, a Jerusalém; e a cidade foi cercada.
Também veio Nabucodonosor, rei de babilônia, contra a cidade, quando já os seus servos a estavam sitiando.
Então saiu Joaquim, rei de Judá, ao rei de babilônia, ele, sua mãe, seus servos, seus príncipes e seus oficiais; e o rei de babilônia o tomou preso, no ano oitavo do seu reinado.
E tirou dali todos os tesouros da casa do Senhor e os tesouros da casa do rei; e partiu todos os vasos de ouro, que fizera Salomão, rei de Israel, no templo do Senhor, como o Senhor tinha falado.
E transportou a toda a Jerusalém como também a todos os príncipes, e a todos os homens valorosos, dez mil presos, e a todos os artífices e ferreiros; ninguém ficou senão o povo pobre da terra.
Assim transportou Joaquim à babilônia; como também a mãe do rei, as mulheres do rei, os seus oficiais e os poderosos da terra levou presos de Jerusalém à babilônia.
E todos os homens valentes, até sete mil, e artífices e ferreiros até mil, e todos os homens destros na guerra, a estes o rei de babilônia levou presos para babilônia.
E o rei de babilônia estabeleceu a Matanias, seu tio, rei em seu lugar; e lhe mudou o nome para Zedequias.
Tinha Zedequias vinte e um anos de idade quando começou a reinar, e reinou onze anos em Jerusalém; e era o nome de sua mãe Hamutal, filha de Jeremias, de Libna

- Por meio de sucessivos reis perversos, a nação de Israel havia se desviado dos caminhos do Senhor, rejeitando-o, entregues à idolatria, ao culto a outros deuses, mergulhados em pecados e em uma espiritualidade superficial e diabólica. 

- Deus conclamava o povo ao arrependimento, através dos seus profetas, para voltarem-se para ele e abandonarem os falsos deuses; mas o povo permanecia entorpecido, com suas consciências cauterizadas e servindo ao próprio ventre. 

- Enquanto isso, no meio do povo, se levantavam falsos profetas, homens que não eram enviados de Deus, e que diziam falar em seu nome, adulando o povo rebelde com promessas de que eles herdariam a terra prometida, garantindo-lhes que voltariam, em breve, para o seu país. 

- Deus levantou a Ezequiel, para que ele dissesse a verdade ao povo: tão cedo não se livrariam do jugo caldeu, e tão cedo não regressariam à sua terra. Ou seja, o cativeiro se prolongaria por muito tempo. 

- Ezequiel afirmou ainda que Jerusalém seria completamente destruída, significando que os judeus em exílio não teriam para onde voltar. 



O RECRUDESCIMENTO DO POVO

- Jerusalém cai sob as mãos de Nabucodonosor: 

“E sucedeu que, no ano duodécimo do nosso cativeiro, no décimo mês, aos cinco do mês, veio a mim um que tinha escapado de Jerusalém, dizendo: A cidade está ferida.


- Deus revela a Ezequiel o que acontecerá com o seu povo: 

“Ora, a mão do Senhor estivera sobre mim pela tarde, antes que viesse o que tinha escapado; e ele abrira a minha boca antes que esse homem viesse ter comigo pela manhã; e abriu-se a minha boca, e não fiquei mais calado.
Então veio a mim a palavra do Senhor, dizendo:
Filho do homem, os moradores destes lugares desertos da terra de Israel falam, dizendo: Abraão era um só, e possuiu esta terra; mas nós somos muitos, esta terra nos foi dada em possessão.
Dize-lhes portanto: Assim diz o Senhor DEUS: Comeis a carne com o sangue, e levantais os vossos olhos para os vossos ídolos, e derramais o sangue! Porventura possuireis a terra?
Vós vos estribais sobre a vossa espada, cometeis abominação, e cada um contamina a mulher do seu próximo! E possuireis a terra?
Assim lhes dirás: Assim disse o Senhor DEUS: Vivo eu, que os que estiverem em lugares desertos, cairão à espada, e o que estiver em campo aberto o entregarei às feras, para que o devorem, e os que estiverem em lugares fortes e em cavernas morrerão de peste.
E tornarei a terra em desolação e espanto e cessará a soberba do seu poder; e os montes de Israel ficarão tão desolados que ninguém passará por eles.
Então saberão que eu sou o Senhor, quando eu tornar a terra em desolação e espanto, por causa de todas as abominações que cometeram.”

- Deus aplicava sobre a sua nação desobediente o castigo por ter insistido em se rebelar, e contender com Deus, praticando o mal: idolatria; sacrifício de crianças, assassinatos, e outras agressões ao próximo. 

- Temos que, quanto mais distante do Senhor, mais o coração do homem se inclinará ao pecado, maquinará o mal, satisfará a sanha maligna, rejeitando a bondade e o favor divino, rejeitando a sua Lei, e entregando-se de corpo e ao desejo perverso de rebelião deliberada. 

- Assim como aqueles falsos profetas, que incitavam o povo à permanecerem na desobediência, acalentando o mau coração que tinham com falsas promessas, mantendo-os iludidos com a perspectiva de que não seriam castigados, e de que estavam agradando a Deus e o servindo, assim também, no mundo de hoje, muitos falsos mestres e profetas incitam os homens a continuarem em suas vidas rebeldes, contaminadas pelo pecado, sem a necessidade de arrependimento, sem a necessidade do perdão divino; vivendo como se Cristo houvesse vindo ao mundo desnecessariamente. Quando muito, para dar exemplo de abnegação, de entrega, mas morrendo inutilmente na cruz, porque o homem pode, por si mesmo alcançar os favores e a graça do Pai: esse homem se acha merecedor da graça de Deus. 

- Quantas pessoas procuram uma igreja ou religião apenas para satisfazerem a si mesmas, imaginando que, com suas devoções, sacrifícios, penitências, estarão satisfazendo a Deus?

- Quantas pessoas querem, verdadeiramente, procurar a Deus pelo que ele é, agradecendo-o por tudo que tem feito em seu favor? Ao contrário, eles acham que são capazes de dar-lhe algo, procuram-no para molestá-lo com os seus egos, numa clara atitude de autoexaltação, como se pudessem dar mais a Deus do que dele receber.

- Buscam, no fim-das-contas, uma autojustificação, considerando-se merecedores dos cuidados de Deus, ao invés de humilharem-se, arrependendo-se, buscando nele o perdão. 

- Essa é a religião dos homens, em que cada um busca satisfazer-se a si mesmo, considerando os louros pelo esforço pessoal, enganando-se a si e a muitos outros, pondo a sua fé em um ídolo, um embusteiro. 

- No Éden, Adão e Eva acreditaram possível descumprir uma ordem, um preceito, dada por Deus e ainda assim permanecerem agradáveis aos seus olhos. 

- Pior, acharam que poderiam ser como Deus, caindo nas esparrelas e lorotas da serpente. 

- Mas o que lhes sucedeu após pecarem?

- Veja bem, todos os envolvidos na Queda da humanidade, na tragédia do Éden, foram punidos; 

· A serpente: Gn 3.14-15.

· A mulher: Gn 3.16.

· O homem: Gn 3.17.

· A terra não ficou incólume ou foi inocentada (aquela que sustentou a árvore, que daria o fruto do bem e do mal): Gn 3.17b.

- Claro que a terra não teve uma participação direta na Queda, mas por causa da quebra da mordomia de Adão, o qual era responsável e zelador da criação, ela também foi afetada pelo pecado, e agora produziria ervas daninhas, espinhos e pragas. Gn 3.18

- Assim como Adão e Eva não se arrependeram do que fizeram (pela gravidade das suas decisões, caso houvesse arrependimento, o Senhor o deixaria registrado nas Escrituras, levando-me a crer que o casal primevo não se arrependeu de seus atos), Israel também não se arrependeu, pelo contrário, insistiam obstinadamente em pecarem sucessivamente contra Deus, mesmo que Deus lhes tenha dado todos os avisos, e esperado pacientemente que o povo se reconciliasse consigo. 

- Demonstrando o que havia em seus corações, o povo, diante dos insistentes alertas de Ezequiel, como agia?


PARTE 2

INTRODUÇÃO: 


- No estudo da semana passada, vimos que Ezequiel estava pregando para um povo de coração duro e que se afastara de Deus.

- Israel esperava ser agradável a Deus desobedecendo-o, transgredindo a sua lei, opondo-se à sua vontade revelada e santa, e entregando-se aos desejos mais perversos do seu coração. 

- Apesar dos incessantes alertas e chamamentos de Deus para que o povo se arrependesse (não nos esqueçamos de que Ezequiel foi contemporâneo de outros dois grandes profetas: Jeremias e Daniel); apesar da paciência de Deus em exortá-los a voltarem ao caminho da justiça, da retidão e santidade, do fiel serviço e culto a Deus, Israel, obstinadamente, emprenhava-se em trilhar os caminhos de morte, ao entregar-se ao pecado desavergonhadamente, rebelando-se contra o senhorio e governo perfeitos de Deus. 

- Vimos que esse padrão é o mesmo padrão adotado pelo mundo, hoje, e de que nem mesmo parte da igreja está imune às ciladas e armadilhas que satanás e seus servos têm colocando diante dela, seduzindo-a com valores e apetites carnais e irrefreados, no qual o único objetivo é negar a Deus e sua obra. 

- De certa forma, essa igreja, que está dentro da igreja verdadeira, é falsa e corrompida pelo anseio de trair e destruir aquela por quem Cristo morreu, e que eternamente é parte do seu santo Corpo. É negá-lo como cabeça, noivo e salvador, mas também como Senhor de todas as coisas, mesmo aquelas que não desejam se lhe submeterem, mas o farão naquele dia em que todos os joelhos se dobrarão diante dele, e todas as bocas professarão que ele é o Senhor! (Fp 2.10-11).

- Muitos têm se entregado, tal qual Israel ao tempo de Ezequiel, à satisfação pérfida e declarada do desejo iníquo dos seus corações. Com isso, eles negam a Deus, negam a verdade, negam a santidade, negam a obra de Cristo, sua ressurreição, e recusam-se a entrar no reino de Cristo, e correm céleres para o reino das trevas, acreditando-se agraciados pelos favores divinos na exacerbação da vergonha, da afronta, da volúpia insidiosa, da inimizade com Deus. 

- Querem as bênçãos, assim como Israel queria, mas negam frontalmente o Deus que abençoa e prospera e redime, agindo como traidores, recusando servi-lhe, em desobediência acintosa; esperam amizade com aquele que ofendem, desprezam, zombam e teimosamente se lhe opõem, provando com suas vidas andarem na contramão da vontade divina, onde seus atos, práticas e pensamentos insultam e ultrajam a Deus. 

- Vamos, então, à pergunta deixada na semana passada: Demonstrando o que havia em seus corações, o povo, diante dos insistentes alertas de Ezequiel, como agia?



PROVACANDO A IRA DE DEUS

- Nos versos 30 e 31,lemos: 

“Quanto a ti, ó filho do homem, os filhos do teu povo falam de ti junto às paredes e nas portas das casas; e fala um com o outro, cada um a seu irmão, dizendo: Vinde, peço-vos, e ouvi qual seja a palavra que procede do Senhor. 
E eles vêm a ti, como o povo costumava vir, e se assentam diante de ti, como meu povo, e ouvem as tuas palavras, mas não as põem por obra; pois lisonjeiam com a sua boca, mas o seu coração segue a sua avareza.”


- O que lhes parece essa atitude? Pensemos um pouco...

- O trecho nos diz que eles falavam do profeta Ezequiel, mas falavam de esgueirando-se pelas portas e paredes das casas, na surdina, como alcoviteiros. O povo agia como “fofoqueiro”, agindo dissimuladamente. Por isso, Deus revelou ao profeta o castigo e a punição que Israel receberia. 

- Ao ridicularizarem o profeta, zombando e falando mal dele, não apenas negavam o homem e sua mensagem, mas a Deus que era o doador da mensagem, a mensagem misericordiosa através da qual o povo poderia se arrepender, convertendo-se dos seus maus caminhos. 

- Todas as práticas abominadas por Deus, como a idolatria, o sacrifício de crianças, o assassínio, o furto, o ódio ao próximo eram provas inconteste da rejeição flagrante do povo à palavra e à vontade divina. 

- Foi assim com os antepassados de Israel, no Êxodo, quando negaram a Moisés e Arão no deserto. 

“E Coré, filho de Izar, filho de Coate, filho de Levi, tomou consigo a Datã e a Abirão, filhos de Eliabe, e a Om, filho de Pelete, filhos de Rúben.
E levantaram-se perante Moisés com duzentos e cinqüenta homens dos filhos de Israel, príncipes da congregação, chamados à assembléia, homens de posição,
E se congregaram contra Moisés e contra Arão, e lhes disseram: Basta-vos, pois que toda a congregação é santa, todos são santos, e o Senhor está no meio deles; por que, pois, vos elevais sobre a congregação do Senhor?”

- Antes de Coré e seus seguidores levantarem-se contra Moisés e Arão, houve a maledicência, ou seja, Coré, Datã e Abirão, primeiro convenceram os príncipes da congregação de que Moisés era um impostor, e de que liderava Israel ilegitimamente, falando pelas costas de Moisés e Arão.

- Para que eles tivessem êxito, era necessário espalhar mentiras, dizendo de Moisés e Arão aquilo que eles não eram, distorcendo e enganando quanto ao que não faziam, mas que em suas bocas imundas era tido como verdade. 

- A maledicência é um problema sério. Ela começa as vezes como um comentário, como uma mentirinha “boba”, e à medida que vai ganhando espaço entre as pessoas torna-se uma bomba prestes a explodir, causando a destruição e morte de inocentes. 

- Coré, Datã e Abirão após convencerem os 250 príncipes, angariando o apoio deles, os incumbiram de espalhar, entre o povo, a difamatória noticia da ilegitimidade de Moisés e Arão. 

- O que era uma provocação inicial e sem sentido, transformou-se em uma maciça rebelião, na qual Israel em peso se rebela contra a autoridade de Moisés e Arão, contra a palavra dada por Deus a eles, contra a vontade do próprio Deus que os estabeleceu líderes do povo. 

- Se atentarmos apenas par ao livro de Números, veremos incontáveis manifestações de ingratidão e insubordinação no meio do povo de Israel, seja por murmurações, pelo desejo de voltar ao Egito, pela confecção de ídolos (o bezerro de ouro, p. ex.), pelas acusações contra Deus e os líderes, pela recusa de aceitarem a autoridade divina. 

- Com isso, muitas foram as derrotas sofridas por Israel diante dos seus inimigos, sejam amalequitas, sejam cananeus ou filisteus. Eles acreditavam que a força e o poder estava com eles, quando a força do povo estava em Deus, no desejo de reverenciá-lo e obedecê-lo. 

- Postos exclusivamente em suas vontades, a derrota era certa (como castigo e juízo divino); quando havia sintonia entre a vontade deles, de servirem e glorificarem ao único Deus, a vitória era certa. 

- Assim também acontece conosco: quando colocamos a glória em nós mesmos, em nossos feitos, e em nossa bondade, inteligência ou qualquer outra virtude, esquecendo-nos de que há em nós o “imago dei”, e de que o bem que fazemos somente o fazemos porque Deus não somente nos deu o dom mas também nos capacitou a exercitá-lo, estaremos irremediavelmente derrotados. 

- Quase sempre os fuxicos se transformam em escândalos, em tragédias de grandes proporções, mesmo que fira e atinja uma única pessoa. 

No caso de Coré e seus comparsas, a maledicência e a rejeição a Moisés e Arão, mas sobretudo a Deus e sua vontade, resultou-lhes em destruição e morte; toda a congregação de Israel se voltou contra Moisés e Arão, levando aquele a proferir: 

“Então disse Moisés: Nisto conhecereis que o Senhor me enviou a fazer todos estes feitos, que de meu coração não procedem.
Se estes morrerem como morrem todos os homens, e se forem visitados como são visitados todos os homens, então o Senhor não me enviou.
Mas, se o Senhor criar alguma coisa nova, e a terra abrir a sua boca e os tragar com tudo o que é seu, e vivos descerem ao abismo, então conhecereis que estes homens irritaram ao Senhor.
E aconteceu que, acabando ele de falar todas estas palavras, a terra que estava debaixo deles se fendeu.
E a terra abriu a sua boca, e os tragou com as suas casas, como também a todos os homens que pertenciam a Coré, e a todos os seus bens.
E eles e tudo o que era seu desceram vivos ao abismo, e a terra os cobriu, e pereceram do meio da congregação.
E todo o Israel, que estava ao redor deles, fugiu ao clamor deles; porque diziam: Para que não nos trague a terra também a nós.”

- Da mesma maneira, parte do povo se reunia pelas costas de Ezequiel para o difamarem, zombando dele, e da palavra de Deus. Levantando calúnias, mentiras, a fim de colocarem em dúvida o seu ministério profético, e, por conseguinte, a mensagem que Deus lhe dava e a qual proclamava. 

- No fundo, boa parte de Israel estava contaminada pela aversão e repulsa de tudo o que se relacionasse com Deus, incluindo a sua palavra e aqueles a quem Deus outorgou a autoridade de proclamá-la. 



OS DISSIMULADOS DA FÉ

- Veja bem, havia outro grupo que aparentava interesse em ouvir o profeta, como se realmente estivesse interessado no que Deus estava para falar por intermédio de Ezequiel, mas, em sua hipocrisia, o povo estava em atitude de afronta a Deus, de zombaria e escárnio. 

- De forma que o povo se assentava diante dele, ouviam-no como se escutassem uma bela canção na voz de um intérprete melodioso; como se ouvissem um monólogo pela boca de um ator talentoso; como se vissem um balé no movimento harmonioso dos corpos e gestos. Para eles, era uma distração, uma brincadeira, uma diversão sem maiores consequências. 

- Certamente, Ezequiel era um grande orador, um homem de voz suave, falando como se cantasse uma música agradável (tanger); era-lhes um virtuose, em quem viam muitas virtudes, mas desprezam claramente a sua mensagem. 

- Da mesma forma, em nossos dias, muitos na assembleia, sentados dominicalmente nos bancos e cadeiras das igrejas, ouvem a proclamação dos púlpitos como se estivessem a assistir uma opera, uma apresentação teatral, uma palestra motivadora. As palavras soam aos seus ouvidos como afagos, muito por causa da exposição falsa e distorcida do evangelho, uma preocupação dos líderes em acariciar o ego de boa parte da assistência, mas também porque esta, possuidora de ouvidos moucos, está surda para a verdade, e contenta-se em se deliciar com a ideia de uma vida cristã circunscrita à tradição, à rotina de seguir certos padrões que aparentam espiritualidade, mas que no fundo são a antítese de uma vida com Deus. 

- Muitos, assim como os judeus, estão impregnados pela falsa religião, aquela em que eles cumprem certos ritos e formalidades, para satisfazerem-se a si mesmos, e se considerarem merecedores dos favores e da graça divina. 

- Na verdade, eles se iludem, considerando-se servos, quando não servem, pois suas vontades estão em oposição à vontade divina; não querem obedecê-lo, muito menos honrá-lo; antes, especializaram-se na falsificação da fé, em aparentarem alguma espiritualidade, retidão e santidade, quando, em seu íntimo, buscam apenas satisfazerem-se e ao seu ventre. 

- São imitadores, mas não há autenticidade neles, porque o Espírito do Senhor não está neles. Não conhecem a Deus, e fingem conhece-lo; infelizmente, muitos são cegos guiando cegos, levando-os ao abismo, para onde também se lançam, achando que estão no caminho santo e perfeito para o céu. 



A CONFIRMAÇÃO PELOS FRUTOS

- No verso 32 b, lemos: 

“Porque ouvem as tuas palavras, mas não as põem por obra.”

- De que adianta ouvir e não praticar? O senhor Jesus disse: 

“Todo aquele, pois, que escuta estas minhas palavras, e as pratica, assemelhá-lo-ei ao homem prudente, que edificou a sua casa sobre a rocha;
E desceu a chuva, e correram rios, e assopraram ventos, e combateram aquela casa, e não caiu, porque estava edificada sobre a rocha.
E aquele que ouve estas minhas palavras, e não as cumpre, compará-lo-ei ao homem insensato, que edificou a sua casa sobre a areia;
E desceu a chuva, e correram rios, e assopraram ventos, e combateram aquela casa, e caiu, e foi grande a sua queda.
E aconteceu que, concluindo Jesus este discurso, a multidão se admirou da sua doutrina;
Porquanto os ensinava como tendo autoridade; e não como os escribas.”

- Sem os frutos, a vida cristã é vazia, estéril, é um nada a serviço do nada!

“E porque estreita é a porta, e apertado o caminho que leva à vida, e poucos há que a encontrem.
Acautelai-vos, porém, dos falsos profetas, que vêm até vós vestidos como ovelhas, mas, interiormente, são lobos devoradores.
Por seus frutos os conhecereis. Porventura colhem-se uvas dos espinheiros, ou figos dos abrolhos?
Assim, toda a árvore boa produz bons frutos, e toda a árvore má produz frutos maus.
Não pode a árvore boa dar maus frutos; nem a árvore má dar frutos bons.
Toda a árvore que não dá bom fruto corta-se e lança-se no fogo.
Portanto, pelos seus frutos os conhecereis.”



CONCLUSÃO

- Ao tempo de Ezequiel, na Babilônia, o povo de Deus estava tão integrado à vida pagã, seguindo os seus princípios, vivendo para si mesmos e seus ídolos e não para Deus, incorporados à sociedade caldeia, acreditando ainda serem filhos do Altíssimo, seguros na presunção de terem Abraão por pai, que a pregação do profeta pouco ou nenhum efeito produziu nele. 

- Ainda assim, multidões acorriam para ouvir o profeta falar, não para ouvirem a voz divina, mas para distraírem-se com a sua retórica, sua voz suave, seu magnetismo pessoal, como se fosse uma simples exibição performática. 

- Eles seguiam o padrão formal (alguns até mesmo empenhavam-se na detratação e ridicularização do profeta), a frieza e a maledicência do homem natural que acredita servir a Deus, mas não crê nele, nem em sua palavra, cultivando uma falsa religiosidade, onde o verdadeiro ídolo é o pecado, e a satisfação consiste em praticá-lo, em fazê-lo realizar-se diariamente em suas vidas. 

- Como eles, muitos de nós seguimos os passos dos israelitas sob a jurisdição e jugo de Nabucodonosor, buscando o mero cumprimento de um rito, de uma tradição, sem ter a real dimensão do que seja cultuar a Deus, não por obrigação, mas por gratidão e amor. Conformados com este mundo, não percebem a vida hipócrita e sem sentido a qual estão presos. 

- Que cada um de nós acorde para a realidade da fé cristã, para a responsabilidade de cuidarmos de nós mesmos, da nossa fé, não deixando que o Espírito se extinga, nem que sejamos apenas “batedores de ponto”, como se estivéssemos em uma repartição pública. 

- O exercício da fé e a obediência à vontade divina não são formalismos a serem executados mecanicamente, a fim de se receber uma recompensa futura. Não. Cristo já nos tem abençoado, e recompensado, muito antes de abrirmos os olhos pela primeira vez. Não devemos servi-lo por algo que ele nos dará, mas servi-lo pelo que já nos deu. Existem promessas a serem cumpridas, mas as já realizadas devem ser o motivo da nossa gratidão. 

- Servimos, adoramos, reverenciamos e tememos não pelo que virá, ainda que o porvir nos encha de alegria, mas pelo que já nos foi dado; muito mais do que jamais seremos capazes de agradecer proporcionalmente. 

- E, acima de tudo, a comunhão que temos hoje com ele, sem a qual não haveria sentido para as nossas vidas. Nem o que esperar. 

- A verdade dele é feita em nós, para que possamos testemunhar ao mundo que somente ele é a verdade.

- Que o bom Deus torne os nossos corações em chamas, aquecidos pelo seu Espírito, para nunca mais voltarmos à modorrenta e desleixada e relapsa “vida cristã” que não é cristã, mas uma cópia malformada daquilo que devemos abandonar, rejeitar, e enterrar juntamente com o velho homem. 

- Sendo feitos novos, por aquele que é verdadeiramente homem, mas também verdadeiramente Deus: Jesus Cristo!
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