Página de doutrina Batista Calvinista. Cremos na inspiração divina, na inerrância e infalibilidade das Escrituras Sagradas; e de que Deus se manifestou em plenitude no seu Filho Amado Jesus Cristo, nosso Senhor e Salvador, o qual é a Segunda Pessoa da Triunidade Santa

segunda-feira, 16 de maio de 2016

A Verdadeira Adoração em João 4.22



Jorge Fernandes Isah


[Esboço]

“Vós adorais o que não sabeis; nós adoramos o que sabemos
porque a salvação vem dos judeus”


A)  INTRODUÇÃO:
O fato dos samaritanos adorarem o que não conhecem, indica-nos elementos de uma falsa adoração, e da verdadeira. Levando a conclusão de que nem todo o tipo de adoração pode ser considerada como verdadeira, e nem todo o culto a Deus glorifica-o, pois está voltando para um ídolo, para uma imagem distorcida do verdadeiro Senhor, e, portanto, não pode ser reconhecida como louvor a ele. Por outro lado, é-nos apresentado como adorar, da forma correta.

B)  O QUE É ADORAÇÃO?
A palavra adoração tem o significado de “veneração”, “de curvar-se perante”, algo ou alguém. No AT é comumente utilizada a expressão “shaha”. No NT é expressa pela palavra “proskyneo”, significando “beijar a mão”, “adorar” e “fazer reverência a” e, algumas vezes, também pela palavra “sebomai”. Outra expressão grega para adoração é “latreuo”, significando “venerar publicamente”, “ministrar”, “servir”.
Porém, a adoração tem como princípio ou propósito fundamental estabelecer, instituir, um relacionamento entre homens e Deus. Ela nunca será uma mera teoria ou doutrina sem aplicação. A adoração é essencialmente prática, em uma atitude de reverência, cujo adorador se entregará de corpo e alma ao ofício, ao serviço, de estar inteiramente ocupado por e com Deus. É a integral, completa e total, uma ação de graças, para o Senhor a quem devemos tudo; e em tudo ele deve ser louvado, adorado.


C)  A FALSA ADORAÇÃO:
O que você, meu irmão e irmã, compreende por adoração a Deus?
        É o ato de se curvar diante de uma imagem?
Respondam, irmãos, sim ou não?
Ou repetir frases como em um mantra ou ladainha?
Sim ou não?
Ou extravasar, como um louco ensandecido (rolar no chão, urrar ou imitar um animal, afastar a consciência), emoções e sentimentos de forma irresponsável, tendo um comportamento leviano e que em nada agrada a Deus?
Sim ou não?
Ou apresentar-se em um formalismo desinteressado, preso em uma rotina, repetitiva e enfadonha, da leitura da Escritura, ou na oração, em que não haja real significado, sem comunhão e relacionamento com Deus?
Sim ou não?
Ou, ainda, promover atividades sem reverência, temor, e nitidamente com vias de satisfazer a carne e não agradar o Espírito?
Sim ou não?
Por causa da queda e do pecado, o homem perdeu o real sentido de adoração, e, especialmente, nos dias de hoje, a igreja parece perdida em meio a muitas formas de adorar a Deus, porém, em sua maioria, elas apontam muito mais para uma adoração ao homem, no sentido de que a adoração, mais do que louvar a Deus, se estabelece como uma satisfação dos anseios humanos.
Infelizmente é possível ver, na maioria das igrejas, uma disposição à diversão, à distração, à satisfação da assistência com coisas e atitudes nada santas, cuja finalidade é, de alguma maneira, fazer com que a assembleia se sinta suficientemente confortável, e dentro de uma visão positivista e pragmática sinta-se bem, e queira, nas próximas vezes, voltar àquele lugar que tanto o entreteu.
Não raro de se ver práticas que negam a reverência ao Senhor, onde o pior do homem se apresenta na forma de um culto irracional, pagão e carnal, onde a vazão é para os sentimentos desenfreados, a balbúrdia e o caos.
Muitos cristãos demonstram pouco ou nenhum conhecimento de Deus, ao entregarem-se as práticas insanas, despropositadas, típicas dos pagãos e idolatras, no qual se inclui a autoidolatria.
Qualquer tentativa de substituir ao Deus bíblico, na forma de religiosidade ou secularismo, é entregar-se ao plágio ou a impostura, na qual uma cópia tenta se fazer autêntica, real, quando apenas é uma tentativa de validar algo falso, um substituto incapaz de suprir a perfeição existente somente no Deus verdadeiro.  
Não é raro ouvirmos que determinada igreja não agrada a sicrano e beltrano por que lá ele não se sente bem. Ao ser inquirido sobre os motivos pelos quais a igreja não o satisfazer, se ouve as mais esdrúxulas opiniões:
- O lugar é muito frio. O louvor é chato, não tem instrumentos, e eles cantam aqueles hinos da época da minha avó. Afinal, gosto de um louvor mais “quente”.
Em boa parte das vezes, o que esse crente quer é apenas e tão somente que a igreja seja uma extensão do mundo, e o mesmo apelo que as músicas seculares têm em sua alma, ele a quer sentir ali, como se fosse algo feito para Deus, mas que é exclusivamente para si mesmo, para o seu deleite, e satisfação egoísta.
Também se ouve o testemunho de outros cristãos que não se conformam com uma igreja que pregue o evangelho e trabalhe para a obra do Senhor, e onde não haja atividades extras e à margem do evangelho: uma pelada santa, uma rave santa, um churrasco santo, ou outra coisa colada à expressão santa, a qual é necessária para legitimar, numa tentativa louca, o profano em sacro, como se elas fossem o alicerce, o fundamento, da vida cristã
Sabemos o que não é adoração, mas estamos cônscios do que ela realmente seja ou representa?


D)  A VERDADEIRA ADORAÇÃO:
O alvo do crente é a adoração verdadeira ao Deus verdadeiro, e qualquer coisa diferente disso não é adoração. O Senhor merece toda a nossa honra e louvor, e não o fazer, ou fazê-lo equivocadamente, significará a incompreensão e o desconhecimento de quem ele é e de quem nós somos. Ninguém pode se arvorar a ser adorado sem incorrer em usurpação da glória divina; e ninguém ficará impune a isso.
Sendo assim, listarei três aspectos fundamentais da verdadeira adoração:
1)   Como disse anteriormente ninguém poderá adorar, em espirito e em verdade, se não for resgatado, regenerado por Deus. Em João 4, o Senhor Jesus tem um diálogo revelador com uma samaritana. Os irmãos sabem que judeus e samaritanos tinham uma rivalidade histórica, ao ponto de se considerarem inimigos naturais. A parábola do “bom samaritano” (Lc 10.33), deixa claro que, aos judeus daquela época, a atitude do viajante de socorrer o judeu ferido, era algo impensável.

Portanto, o fato de um judeu, o Cristo, conversar com uma mulher samaritana, era algo igualmente estranho, para não dizer inadmissível.

[Fazer um rápido apanhado desta passagem, para chegar
ao ponto principal]
        A parte mais importante do nosso estudo, refere-se aos versos 21 e 24, nos quais o Senhor diz:
“Disse-lhe Jesus: Mulher, crê-me que a hora vem, em que nem neste monte nem em Jerusalém adorareis o Pai.
Vós adorais o que não sabeis; nós adoramos o que sabemos porque a salvação vem dos judeus.
Mas a hora vem, e agora é, em que os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e em verdade; porque o Pai procura a tais que assim o adorem.
Deus é Espírito, e importa que os que o adoram o adorem em espírito e em verdade”.

        Ora, a ideia que se tem é a de que Cristo estava negando a adoração naquele monte e em Jerusalém, como algo falso; mas não é isso. A expressão “verdade” aqui não se contrapõe à mentira ou falso, mas a uma atitude efetiva, real, completa. Ele não nega a validade de se adorar em Jerusalém e no monte, como uma forma terrena, asseverando uma adoração celestial, não negando aquela, mas afirmando esta.
Conhecedor de todas as coisas, ele sabia que, em breve, a adoração, como os judeus a conheciam, estava prestes a se inviabilizar, pois seriam espalhados pelo mundo, seu Templo seria destruído, e, a partir de então, não haveria mais Jerusalém como o lugar de adoração, mas ela se daria em qualquer local, em qualquer parte do mundo.
        Ele faz uma distinção entre a adoração terrena e a celestial, no sentido de não estar mais limitada a um lugar, a uma forma, ainda que se realize em lugares e dentro de uma ordem, mas na efetivação do louvor dirigido ao Pai na plenitude do Espírito, seja aqui ou acolá, seja por uma ordem religiosa ou não.
        Contudo, o cerne da questão está não na adoração em si mas em quem se adora, pois a adoração tem como princípio ou propósito fundamental estabelecer, instituir, um relacionamento entre homens e Deus. Ele afirma textualmente que os samaritanos adoravam o que não sabiam, não conheciam, e de que a verdadeira adoração era a devotada ao único salvador, o Cristo. Não é possível qualquer forma de adoração se o Cristo não for o centro, o alvo, do louvor e da ação de graças. Sem ele qualquer forma de veneração é não apenas falsa, mas repulsiva e afrontosa a Deus. Mesmo os incrédulos louvam, à sua maneira, a Deus; e por não o conhecer, erram, e sua adoração é uma perversão da verdade.
        Todos os homens deveriam, em princípio, reconhecer o verdadeiro louvor a Cristo, sem o qual nenhuma adoração é possível, é real. Sem ele, ela não passará de uma farsa, de um engodo; negá-lo é não ser adorador, mesmo que se suponha um. Estando o homem em pecado, em inimizade com Deus, nenhuma adoração é aceitável, antes é rejeitada por ele.
        Então, é necessário ao homem ser transformado por Deus, ter os seus pecados perdoados, para adorar corretamente. Sem a regeneração, pelo arrependimento e a fé; sem a mente de Cristo; sem a comunhão com o Espírito, nenhuma adoração é verdadeira, apenas uma cópia distorcida e maligna do louvor santo.

2)   Deus só pode ser adorado se a alma do homem estiver apenas nele.
Engana-se quem acredita que pode “acender uma vela para Deus e outra para o diabo”, como os antigos diziam. O coração tem de estar apenas focado no Senhor, sem distrações, sem subterfúgios, sem esquemas que visem dividir a sua glória entre ele e os ídolos. Novamente, o erro dos samaritanos era não conhecer a Deus, mas também dividir a adoração com outros deuses (2 Rs 17.28-41). A adoração requer completo e íntimo relacionamento com o único a merecê-lo: O Senhor!
Quando nos entregamos às paixões, sejam elas quais forem, o futebol, o trabalho, a esposa ou esposo, os filhos, a ideologia, criamos um ídolo, e fazemos dele objeto de veneração. Qualquer coisa, pessoa ou entidade, que ocupe o lugar exclusivo de Deus no coração, é a negação de todo o bem e favor divinos, e um desvio da alma na direção da ingratidão. Adorar outro ídolo é não reconhecer o bem recebido, o favor concedido; é traição, a forma mais profunda de adultério, de infidelidade, a qual é entregar-se a alguém ou algo ilegítimo, quando a entrega deveria ser ao legítimo detentor de adoração.
Apenas Deus deve satisfazer o coração do homem, e somente ele o pode.
3)   A adoração está intimamente ligada ao conhecimento divino.
Quanto mais o conhecemos, mais somos capazes de adorá-lo. E só o conhecemos, principalmente, pela sua revelação especial, as Escrituras Sagradas. Aprouve a Deus revelar-se de duas maneiras aos homens:

a)   Pela Criação, na qual podemos ver a grandiosidade do Senhor, capaz de fazer um universo maravilhoso, diversificado, belo e funcional. O poder de Deus fica patente nas obras da sua mão. Podemos perceber a sua bondade e generosidade em cada aspecto da criação.

b)   Pela revelação especial, a qual Deus se faz conhecer em detalhes. Nela podemos compreender muitos dos seus atributos que não ficam evidentes na Criação, tais como o amor, a misericórdia e a sua graça derramada sobre o seu povo.
c)   Através da oração reconhecemos em Deus o pai cuidadoso, que não somente nos ouve, mas nos conforta, fortalece, e nos molda à semelhança do seu filho Amado.
Portanto, sem o conhecimento de Deus, e o desejo entranhável de conhece-lo mais e mais, não há comunhão, nem intimidade, muito menos é possível haver adoração.

4)   Sendo a lei de Deus a sua vontade expressa para o homem, não há como adorá-lo sem observar os seus mandamentos.
O Senhor Jesus disse:
Aquele que tem os meus mandamentos e os guarda esse é o que me ama; e aquele que me ama será amado de meu Pai, e eu o amarei, e me manifestarei a ele” (Jo 14.21).

O amor é também uma forma de adoração. Se atentarmos para o ensino bíblico veremos que tudo em nossa vida deve estar direcionado para o louvor e a glória de Deus. A obediência é nos colocar em posição de submissão e dependência a Deus, pois quanto mais íntimos do Senhor, mais reconhecemos a nossa fragilidade e insuficiência, e somos atraídos por sua benignidade, pelo seu amor. Como o amor é prático e não apenas uma construção teórica, amamos quando nos entregamos completamente ao alvo do nosso amor; então, obedecemos porque o amamos, e o amamos porque somos obedientes.

No Salmos 100, o autor nos remete a mais algumas verdades acerca da verdadeira adoração.
“Celebrai com júbilo ao SENHOR, todas as terras.
Servi ao Senhor com alegria; e entrai diante dele com canto.
Sabei que o Senhor é Deus; foi ele que nos fez, e não nós a nós mesmos; somos povo seu e ovelhas do seu pasto.
Entrai pelas portas dele com gratidão, e em seus átrios com louvor; louvai-o, e bendizei o seu nome.
Porque o Senhor é bom, e eterna a sua misericórdia; e a sua verdade dura de geração em geração”.
Este Salmo encerra uma doxologia, uma exaltação a Deus, iniciada no Salmo 93, em que hinos de louvor são escritos com a finalidade de glorificar o Senhor pelo que ele é, pelos seus feitos, revelando a sua soberania sobre toda a Criação, o seu amor e fidelidade para com os seus filhos, e o temor a que lhe devem todos os homens.
Neste Salmo temos um chamado à adoração por parte do escritor, como demonstração de gratidão a Deus, e consequência do conhecimento que o povo de Israel, especificamente, tinha.
As palavras chaves aqui são:
- Celebrar;
- Servir (com alegria);
- Gratidão.
E o louvor deve compreendê-las.
[Um rápido apanhado de cada versículo, destacando estes pontos, mas também o fato do salmista afirmar que todo o louvor se deve ao fato de Deus ser Deus, e, portanto, merecedor, somente ele, de adoração]


E)   CONCLUSÃO:
Por fim, o texto em Isaias 6: 1-3, mostrando como os serafins adoram o Senhor, com reverência e temor, ao ponto de, diante dele, esconderem os rostos e os pés, significando que mesmo os anjos eleitos, os quais são santos e limpos de todo o pecado, não se consideram dignos de se apresentarem diante do Deus santo, santo e santo. Somente Deus é santo em si mesmo, enquanto os anjos, também puros, são santos pela entrega total a Deus, e pelo serviço especial a ele.
O louvor deles é na medida exata do ser de Deus; da compreensão precisa de quem ele é, quem são os anjos, e qual a forma adequada de adorá-lo: deslumbrados, arrebatados, pela santidade e glória de Deus.
E são elas, especificamente, a santidade e a glória de Deus, os reais motivos para adorá-lo. 

Nota: Sermão pregado no T.B.B. em 16/05/2016, no culto dominical. 
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