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quarta-feira, 19 de junho de 2013

Estudo da Confissão de Fé Batista de 1689 - Aula 45: "O fiel exercício da disciplina na igreja"



Por Jorge Fernandes Isah



RESUMO DA AULA PASSADA:

Na aula passada falamos das marcas de uma igreja verdadeira, fundamentais para distingui-la em meio a tantas denominações que se auto intitulam cristãs.

1) A Fiel pregação do Evangelho - Estudamos que a marca principal é a pregação do Evangelho, não de qualquer "evangelho", mas o Evangelho de Cristo. Conforme o Senhor Jesus nos entregou, em Mt 28.18-20, a "Grande Comissão", a obra de proclamar a sua palavra e fazer discípulos, batizando-os.

2) A correta ministração das ordenanças -
- O Batismo - Mt 26.19-20;
- A ceia do Senhor - Lc 22.19-20.

Paramos no item 3) que é "O fiel exercício da disciplina".
Deixei, para os irmãos lerem durante a semana, dois versos, os quais leremos, novamente, agora:

Mt 18.15-20: "Ora, se teu irmão pecar contra ti, vai, e repreende-o entre ti e ele só; se te ouvir, ganhaste a teu irmão; Mas, se não te ouvir, leva ainda contigo um ou dois, para que pela boca de duas ou três testemunhas toda a palavra seja confirmada. E, se não as escutar, dize-o à igreja; e, se também não escutar a igreja, considera-o como um gentio e publicano. Em verdade vos digo que tudo o que ligardes na terra será ligado no céu, e tudo o que desligardes na terra será desligado no céu. Também vos digo que, se dois de vós concordarem na terra acerca de qualquer coisa que pedirem, isso lhes será feito por meu Pai, que está nos céus. Porque, onde estiverem dois ou três reunidos em meu nome, aí estou eu no meio deles.".

1Co 5.1-5: "Geralmente se ouve que há entre vós fornicação, e fornicação tal, que nem ainda entre os gentios se nomeia, como é haver quem abuse da mulher de seu pai. Estais ensoberbecidos, e nem ao menos vos entristecestes por não ter sido dentre vós tirado quem cometeu tal ação. Eu, na verdade, ainda que ausente no corpo, mas presente no espírito, já determinei, como se estivesse presente, que o que tal ato praticou, Em nome de nosso SENHOR Jesus Cristo, juntos vós e o meu espírito, pelo poder de nosso Senhor Jesus Cristo, Seja entregue a Satanás para destruição da carne, para que o espírito seja salvo no dia do SENHOR Jesus".

- O que fica claro para os irmãos nesses textos?

- Podemos falar em disciplina na igreja?

- Como? Por que?

Primeiramente, no texto de Mateus, temos, uma ordem cronológica no evento:
- Um irmão encontra-se em pecado;

- Ele é advertido por outro irmão, mas persiste no erro;

- É chamado à presença de mais um ou dois para, novamente, ser exortado ao arrependimento;

- É levado finalmente à igreja, visto não ter se arrependido;

- Ainda assim, se insistir em permanecer no pecado, não arrepender-se, revelando um coração duro e empedernido, a igreja deve considerá-lo como gentio ou publicano, como um incrédulo.

Então, temos o Senhor Jesus investindo a igreja de autoridade, da sua autoridade, ao dizer que onde dois ou três estiverem deliberando em seu nome, ali ele estará [v.19-20].

E, qual é a autoridade da igreja?

A que ela se refere?

Apenas em assuntos ligados à doutrina?

À ordem do culto?

Em deliberar como serão gastos os recursos financeiros da igreja?

Ou também nos assuntos relativos ao comportamento escandaloso de seus membros?

Há uma ideia de que esse verso se refere, pura e simplesmente, a qualquer reunião de crentes, o que é verdade, mas, no contexto de Mateus 18, especificamente, ele nos diz da autoridade com a qual Cristo investiu a igreja para deliberar, decidir, dirimir e aplicar todas as resoluções que foram tomadas no âmbito eclesiástico, inclusive, em relação à conduta dos seus membros. Mais do que estar no nosso meio [não entendam que eu esteja menosprezando ou conferindo somenos importância a um fato essêncial e fundamental: Cristo presente no seio da sua igreja], deu-nos a autoridade para resolver todas as questões relativas à igreja, inclusive, a de juízo, em e pelo seu nome. Quando decidimos algo, o fazemos em o nome de Cristo, e é ao nome dele que devemos honrar e ser leais.

Por isso Cristo está a tratar exatamente do pecado de um irmão e da necessidade de discipliná-lo. Não é algo ultrapassado, sem cabimento, nos dias atuais, pois os mandamentos do Senhor são eternos, e nenhum tratamento humano, seja filosófico, psicológico ou pedagógico pode suprimi-lo. De forma que a prática da disciplina eclesiástica é uma prova de maturidade, e amor cristão, tanto a Deus, como à igreja, como também ao irmão empedernido. Mantê-lo em seu pecado é dar um "empurrãozinho" em direção ao inferno; e se alguém considera o desdém como forma de acolhida, saiba que ele é prova maior de rejeição, de falta de apreço, e do exercício de um certo sentimento de superioridade que leva a não fazer caso da desgraça e do mal que acomete o pecador, mas também da igreja conivente com o seu pecado.

Quando se aborda o tema da disciplina estamos tratando diretamente de dois aspectos: a dependência do crente à igreja e a autoridade da igreja sobre o crente.

Alguém tem dúvidas de que seja isso o que o Senhor está dizendo?

Penso que a igreja, ao se omitir quanto a esse assunto, revela alguns sérios problemas.

Vamos agora a 1 Co 5.1-5; não vou transcrevê-lo novamente.

O que salta aos olhos dos irmãos nesta passagem?

O pecado, escândalo, de um irmão levou Paulo a comparar a igreja com o mundo, ou melhor, a considerá-la mais pecaminosa do que o próprio mundo.

O que os irmãos entendem quando Paulo chama os Coríntios de estarem "ensoberbecidos" [vaidosos, orgulhosos, soberbos]? Não é esse o sinal de desprezo que apontei acima?

A soberba, que é um tipo de autossuficiência, de se considerar superior e até mesmo intocado ou inatingível, levou a igreja a:

- Negligenciar e fazer vistas-grossas ao pecado;

- Tornou-se conivente com o pecado, associando-se a ele;

- Faltou o temor do Senhor, levando-a à insensatez [Pv 9.10];

- Faltou-lhe amor e piedade para com o irmão em pecado, sabendo que a prática exercida por ele flagrantemente afrontava a Deus;

- E eles mesmos desprezavam o conselho divino e a sua Lei;

- Por fim, tudo isso levou a igreja de Corinto a não se envergonhar do pecado daquele irmão, de forma que ele permanecia no meio deles. Paulo alertou-os de que o orgulho impediu-lhes de tirá-lo dentre eles [v.2].

Em seguida, invocando a autoridade dado por Cristo, falando em nome dele, pela união que há entre o espírito de Paulo e dos irmãos de Corínto [aqui temos o princípio da igreja invisível, espiritual e universal da qual já falamos, e pela qual a igreja tem autoridade para deliberar em todos os assuntos a ela pertinentes, em conformidade com o que Cristo disse em Mt 18.19-20, em uma clara relação entre o que o Senhor disse para fazer e Paulo, como apóstolo da igreja, fez], ele entrega o tal irmão pecador a Satanás, para que a carne seja destruída e o espírito seja salvo [v.5].

O que lhes parece isso? A carne destruída e o espírito salvo pela disciplina da igreja? Mas como se dá isso? E, por que?

Paulo diz o mesmo de Himeneu e Alexandre em 1Tm 1.20, entregando-os, como blasfemadores, a Satanás. Aqui não é possível saber se ele já é salvo ou não, ainda que pareça que não. O certo é que ele comete um pecado grave, e ao que tudo indica foi exortado individualmente por um ou outro irmão, não arrependeu-se e insistiu na rebeldia. A igreja portanto tem o dever de excluí-lo, para que, estando fora da proteção da igreja, padeça nas mãos de Satanás e reconheça e busque a necessidade de perdão. Deus utilizará o diabo para disciplinar, na carne, aquele homem.

Em Hebreus 12.4-13 parece-me a chave da resposta. O apóstolo nos remete ao castigo que não é punitivo, mas educativo, pedagógico, como se gosta de dizer atualmente. Com o objetivo de sarar, de curar e, porque não, salvar o perdido. Veja bem, não é possível saber se aquele irmão era salvo ou não; o texto aponta para o fato dele não ser salvo, pois precisaria ser entregue ao diabo para que o fosse, mas o fato é que o castigo tinha o intento de curá-lo, e sará-lo do quê? De uma vida de pecados, empedernida, e que resistia ao arrependimento. E tudo isso é prova de amor de Deus para com os seus, e da igreja para com os irmãos.

Qual atitude é mais fácil para um pai que sabe do envolvimento do seu filho com as drogas, por exemplo? Procurar curá-lo [e muitas vezes com atitudes que vão contra a vontade rebelde do filho de se drogar, podendo ser a internação ou entregá-lo à justiça] ou abandoná-lo ao próprio vício, como muitos pais e mães agem atualmente? Em qual delas ele demonstrará amor verdadeiro? Em qual delas temos piedade e misericórdia?

Certa vez, vi uma declaração impactante de uma mãe na tv. O seu filho estava envolvido em crimes, um jovem de 15 anos, e ela preferiu entregá-lo à polícia do que vê-lo caminhar a passos largos para a morte prematura. Ela disse ter tentado de tudo para demover o filho da vida de crimes, e não houve mudanças. Então, em um ato desesperado, ela o denunciou. Muitos a criticaram por essa atitude. Muitos entenderam que a posição dela não traria resultados à correção do filho. Mas, entendo que, na simplicidade daquela senhora, ela agiu como uma verdadeira mãe que ama o seu filho. Ela não foi negligente nem omissa, preferiu a dor de denunciá-lo, e levá-lo certamente à condenação, do que vê-lo viver uma vida miserável de crimes [e as suas lágrimas e a expressão de sofrimento eram evidências claras de como o seu coração estava partido e angustiado]. Ela vislumbrava, na prisão, uma chance que ele não teria levando a vida que levava do lado de fora... Ela entregava o filho à justiça para que pudesse resgatá-lo novamente. Tal qual Paulo diz, ela esperava que ele, no fim de tudo, se salvasse da vida criminosa e da morte iminente.

Então, temos que o princípio da disciplina da igreja visa o arrependimento, e deve ser aplicada em amor, piedoso e misericordioso, que levará como consequência, caso o irmão se arrependa, ao perdão por parte da igreja e de Cristo [não nessa ordem, claro!].

E isso traz tristeza à igreja, e deve trazê-la também ao irmão em pecado, como Paulo diz em 2Co 2.4-11. Aqui, exatamente, encontramos uma outra exortação relativa a esse mesmo irmão, de que a igreja o perdoe e não aja de maneira excessivamente dura para não aumentar-lhe a tristeza. Ao que tudo indica, esse irmão se arrependeu, mas a igreja não parecia muito disposta a perdoá-lo e tratá-lo novamente como a um irmão. Tem-se de ter cuidado para não extrapolar o ensinamento bíblico e não agirmos no mesmo nível de carnalidade do pecador.

Mas, e se o irmão não se arrepender? Como deve proceder a igreja? Este é o segundo objetivo da disciplina, manter a unidade da igreja. Um exército dividido, sem um objetivo comum, o de glorificar a Deus, não subsiste.

Leia o que Paulo diz em 2Tm 3.1-9 e 4.2-4; e veja o que João, chamado de o apóstolo do amor, nos diz em sua Carta segunda, versos 9-11:

“Todo aquele que prevarica, e não persevera na doutrina de Cristo, não tem a Deus. Quem persevera na doutrina de Cristo, esse tem tanto ao Pai como ao Filho. Se alguém vem ter convosco, e não traz esta doutrina, não o recebais em casa, nem tampouco o saudeis. Porque quem o saúda tem parte nas suas más obras”.

A palavra “prevaricar” significa proceder mal; transgredir a moral, os bons costumes: Aquele jovem prevaricara. Vti: Faltar a, deixar de cumprir: Prevaricar aos deveres, às promessas. Corromper, perverter. É preciso entender que o crente não pode nem deve ser motivos de escândalos para a igreja, o que, consequentemente significa escândalo para o nome de Cristo. Por isso há tantas e tantas advertências ao comportamento e modos de agir do cristão. É nosso dever testemunhar, não somente com palavras mas com atos tudo o que nos foi entregue por Deus como a sua vontade, de que sejamos irrepreensíveis e exemplos para os homens e a sociedade. Ser luz no mundo não é outra coisa a não ser guia-lo na verdade, tirando-o das trevas, do engano, da mentira e do pecado. Mas se nós mesmos estamos em trevas, como podemos enxergar o caminho, seguir a Cristo e levar outros conosco?

Para finalizar, entendemos que a disciplina pode ser exercida de várias formas, desde a simples exclusão do irmão das atividades de liderança, como o não participar da Ceia do Senhor, até, em último caso, a exclusão do rol de membresia. Mas estes serão assuntos que abordaremos mais detidamente à frente. Por hora, é-nos necessário ter a certeza de que a disciplina eclesiástica é bíblica e uma das mais importantes marcas de uma igreja verdadeiramente cristã.

Notas: 1- Baixe o áudio da aula em Aula 45.MP3
2- Aula realizada na EBD do Tabernáculo Batista Bíblico

Estudo sobre a Confissão de Fé Batista de 1689 - aula 44: "Marcas da Igreja Verdadeira"


Por Jorge Fernandes Isah


 

Um  rápido resumo da aula anterior:
  • Igreja como organismo [corpo vivo]; 
  • Igreja como organização [corpo local]; 
  • Igreja invisível e universal [todos os santos em todos os tempos];
  • Igreja visível [onde há os joio e o trigo, ainda que o trigo seja verdadeiramente a parte visível da igreja universal.
Como distinção, temos o exemplo do ladrão da cruz, que faz parte da igreja universal, a igreja espiritual que reune os crentes de todos os tempos, mas não chegou a fazer parte da igreja visível, do corpo local.

Mt 13.24-30; Mt 13.47-50; Mt 3.12


As Marcas da Igreja

1. AS MARCAS DA IGREJA EM GERAL.

PERGUNTAS: 
  • PODEMOS DIZER QUE HÁ MARCAS QUE INDIQUEM UMA VERDADEIRA IGREJA? 
  • QUAIS? 
  • ATÉ QUE PONTO ELAS SÃO NECESSÁRIAS PARA QUE SEJA PARTE DA IGREJA DE CRISTO?
a. Sentia-se pouca necessidade destas marcas quando a igreja era claramente uma só. Mas, quando surgiram as heresias, tornou-se necessário indicar certas mudanças pelas quais se pudesse reconhecer a igreja verdadeira. Enquanto a igreja crescia, cresciam também as investidas do inimigo para destruí-la. Já, à época dos apóstolos, um número grande e heresias conviviam com a sã doutrina; elas mesmas, as igrejas heréticas, se autodenominavam igrejas de Cristo, como membros do Corpo. Portanto, com o passar do tempo, foi necessário indicar algumas marcas pelas quais se pudesse distinguir a igreja verdadeira da falsa.

Havia um padrão da verdade ao qual a igreja deve corresponder, e reconheciam esse padrão na Palavra de Deus.


2. AS MARCAS DA IGREJA EM PARTICULAR.

a. A fiel pregação da Palavra. [Mt 28.18-20 – Evangelização e discipulado]
Esta é a mais importante marca da igreja. A fiel pregação da Palavra é o grande meio para a manutenção da igreja e para habilitá-la a ser a mãe dos fiéis. Que esta é uma das características da igreja transparece em passagens como:
  • Jo 8.31, 32, 47; 14.23; 1 Jo 4.1-3; 1Ts 5.21; Ap 2.2
Atribuir esta marca à igreja não significa que a pregação da Palavra na igreja terá que ser perfeita para que ela possa ser considerada como igreja verdadeira. Tal ideal é inatingível na terra; só se pode atribuir à igreja uma pureza "incompleta" de doutrina.

Uma igreja pode ser relativamente impura em sua apresentação da verdade, sem deixar de ser uma igreja verdadeir. Paulo escreve à igreja de Corinto, onde os pecados campeavam, e muitos deles eram mais vergonhosos e infames do que os produzidos pelos ímpios, contudo, ainda assim, o apóstolo se refere a ela como igreja, e aos seus membros como irmãos. 

Mas há um limite além do qual a igreja não pode ir, na apresentação errônea da verdade ou em sua negação, sem perder o seu verdadeiro caráter e tornar-se uma igreja falsa. É o que acontece quando artigos fundamentais de fé são negados publicamente, e a doutrina e a vida já não estão sob o domínio da Palavra de Deus.

E é a palavra de Deus que retém as instruções instituídas pelo próprio Deus e que devem ser cumpridas pela igreja – At 2.41-42.
[Esta passagem sugere a seguinte ordem: conversão, batismo, admissão à igreja local, andar ordeiro, observância da Ceia do Senhor e da oração coletiva]

b) Ordenanças: Ordem, lei, prescrição [1Co 1.2].
Que a reta administração das ordenanças é uma característica da igreja verdadeira, segue-se da sua inseparável conexão com a pregação da Palavra e de passagens como:
  • Mt 28.19; Mc 16.15, 16; At 2.42; 1 Co 11.23-30.

1- Batismo: Mc 16.15-16; Mt 26.19-20.

2- Ceia do Senhor – Lc 22.19-20; 1Co 11.23-26

C) O fiel exercício de disciplina.
É deveras essencial para a manutenção da pureza da doutrina e para salvaguardar a santidade dos sacramentos. As igrejas que relaxarem na disciplina, descobrirão mais cedo ou mais tarde em sua esfera de influência um eclipse da luz da verdade e abusos nas coisas santas. Daí, a igreja que quiser permanecer fiel ao seu ideal, na medida em que isto é possível na terra, deverá ser diligente e conscienciosa no exercício da disciplina cristã. A Palavra de Deus insiste na adequada disciplina a ser exercida na igreja de Cristo - Mt 18.15-18;

  • 1 Co 5.1-5, 13 [1Tm 1.20 e 2Co 2.4-11] – Igreja como proteção ao crente. Paulo parece dizer que aquele que é expulso do convívio da igreja está entregue a Satanás, ao mundo, estando sujeito a ele e sem a proteção do Corpo.

Notas: 1- No áudio, os pontos apenas tocados levemente aqui são expostos mais detidamente, sobre as marcas primordiais da verdadeira Igreja de Cristo. 2- A seção 2C, que refere-se à disciplina eclesiástica será discutiva mais à frente, em outra aula.
3- É discutida também a questão dos sacramentos [batismo e ceia], do ponto de vista católico e reformado, como meios de graça, os quais, nós, batistas, não reconhecemos, já que os temos por ordenanças e, em momento algum, acreditamos que eles tragam uma "sobre-graça" sob a "graça", e que sejam os aspetos visíveis da "Aliança" ou "Pacto".
4- No áudio, confundi Tomás de Aquino com Agostinho, o qual formulou primeiramente a doutrina dos sacramentos, ainda que o primeiro tenha-o seguido na questão. 
5- Faço também, na aula, um pequeno comentário sobre o filme "Redenção", cujo título em inglês é "Machine Gun Preacher", analisando o batismo bíblico.
6- Baixe o áudio desta aula em  Aula 44.MP3
7 - Aula realizada na EBD do Tabernáculo Batista Bíblico 

Os "sem-igrejas" e a heresia da não sujeição - Aula 43: Estudo da Confissão de Fé Batista de 1689


Por Jorge Fernandes Isah


A primeira pergunta que se tem de responder é: o que é igreja? O que os irmãos entendem por igreja?

Há os que consideram-na apenas como uma construção, um edifício, e nada mais do que isso. Há os que a têm por denominação, como uma instituição meramente humana, onde um grupo de pessoas se reúnem  para professarem algum tipo de fé.  Pode ainda ser utilizada para distinguir homens religiosos de não religiosos. Em todos esses aspectos terminológicos, e ainda em outros mais, o vocábulo igreja pode ser reduzido, o que acabaria por não configurar o seu significado verdadeiro. De certa forma, os termos aos quais ele é mitigado obscurece-o, não definindo a sua real essência e o seu correto entendimento bíblico.

A primeira lembrança que nos vem à mente é de que a igreja é o corpo de Cristo. Esta é claramente a imagem que se descortina na mente do crente. Ele, como membro, faz parte desse corpo, sendo portanto, parte da igreja. Muitos afirmam que são a igreja, mas ela não é constituída por um único membro, mas por milhões deles, o que configura um ajuntamento, um agrupamento de pessoas atraídas por um mesmo chamado: aquele que eficazmente Deus produz no homem, de forma que não se pode resistir nem rejeitá-lo. Este é o chamado ao arrependimento, à regeneração, na qual o homem natural se transforma em espiritual, de perdido a salvo, de condenado a inocente; não por algum mérito que haja em si mesmo, mas por aquilo que Deus realiza nele, por meio da obra redentora do Senhor Jesus Cristo.

Assim, essa é uma qualidade da igreja, a de ser um organismo, o que o corpo nitidamente é. Como organismo, a igreja é o corpo místico de Cristo [1Co 12.12-13], o qual é a cabeça, que guiará o corpo em todo o cumprimento da sua vontade; um povo escolhido para levar até os confins da terra o seu santo e bendito nome [At  15.14]. De forma que a palavra grega "eclesia", cuja tradução para o português é igreja, tem um significado muito mais abrangente, daqueles que são "chamados para fora", dentre as nações, ao nome do Senhor Jesus,  para constituírem uma comunidade, uma assembleia, na qualidade de seguidores de Cristo, chamados "cristãos", a fim de obedecerem aos princípios por ele estabelecidos. A essa qualidade da igreja, podemos chamá-la de organização.

O que muitos cristãos esquecem-se é de que a igreja não é apenas um corpo místico como pensam,  o que é comumente chamado de "igreja universal",  mas de que ela foi instituída por Deus tanto como igreja universal como igreja local. Essa doutrina de que a igreja local, como organização não tem o respaldo bíblico é uma falácia. Basta ver que os irmãos em Atos dos Apóstolos estabeleceram igrejas locais,  suas prioridades, designaram cargos, funções, como diáconos, pastores, bispos, presbíteros, etc. O próprio apóstolo Paulo fala nos dons que Deus deu a cada um dos membros, e de que esses membros trabalhariam em harmonia a fim de que o corpo funcionasse em harmonia; a ordem do culto, como os irmãos deveriam se portar na ceia do Senhor, e muitas outras recomendações foram estabelecidas para uma igreja que se reúne, congrega, e tem comunhão efetivas. Logo a ideia do crente solitário, isolado, que assiste a prédicas pela TV, que acredita fazer parte de uma igreja virtual através das redes sociais, que ceia via satélite, simplesmente não existe. Com isso, não estou a dizer que não é possível ter comunhão com um irmão distante, do outro lado do globo, por exemplo, mas que isso não é o suficiente e não torna o trato virtual um tipo de igreja. É-se necessário que exista o corpo local, e de que os cristãos sejam partícipes dele, a fim de realizarem a obra que o Senhor nos deu a fazer, em ordem, decência, e sob os cuidados de todos os irmãos, de maneira que todos estejam participando ativamente e não sejam meros espectadores. Muitos não valorizam o trabalho eclesiástico por desconhecê-lo. Desprezam-no com argumentos particulares e que atribuem ao geral, a todos. Se há apostasia, heresia, mau-uso do dinheiro, despotismo, má-fé, e outros pecados, eles não podem ser imputados a todo corpo local. Tal atitude é, além de absurda, soberba, pois demonstra a quem a profere um tipo de "onipresença e onisciência" da qual nenhum homem, por mais viajado e bem informado, é capaz de ter; esses são atributos exclusivos de Deus e de mais ninguém.

Então temos uma luta travada no próprio corpo, em que irmãos que se organizam, tal qual a igreja primitiva se organizou, são acusados de pecados que não cometeram.  É como aquela piada da mãe que, vendo a água suja na banheira, joga-a fora juntamente com o bebê.  O desprezo que se tem em certos grupos em relação à igreja institucional chega a ser doloso. A maioria, por desconhecer as Escrituras ou impor a ela o seu gosto pessoal, rebelam-se por seguir "mestres" sem entendimento e sem o devido zelo. Muitas vezes, por terem passado "mau-bocados" em alguma igreja ou sob a direção de algum pastor ou presbítero, acreditam que todas as igrejas, e consequentemente todos os pastores, presbíteros e diáconos, são deturpações da palavra de Deus, e obra exclusiva de satanás. Tudo bem, estou exagerando um bocado, mas já tive discussões com alguns irmãos que quase chegaram a essa afirmação, simplesmente não a concluíram nos termos em que expus, mas os sentido estava lá, latente, pronto a se manifestar. E, por isso [as vezes o sentimento de decepção, de frustração ou de vingança] saem por aí, sem zelo, sem discernimento, sem prudência, proclamando aos quatro ventos a "heresia da igreja organizacional".

Esta semana me deparei  com a seguinte mensagem em uma comunidade virtual:

"Quanto mais a minha mãe fala para eu ir à igreja mais raiva eu tenho... Acabei de discutir com ela falei: Diz alguém que vc levou para a igreja enchendo a paciência assim? Algum irmão, o ex-marido? Fala um! Cansei! Desculpa o desabafo... Mas toda a vez que eu vou me dá nos nervos e vejo que perdi duas horas ou mais da minha vida, que podia estar descansando, sei lá...".

Esta afirmação, que ganhou a concordância de outros irmãos, me parece, além de triste, infeliz, por vários motivos, mas apresentarei apenas dois:

1) A Bíblia nos ordena a honrar pai e mãe. Ora, mesmo que eles estejam equivocados em um ponto ou outro, isso não dá o direito de sermos desrespeitosos, impacientes e belicosos. Deveríamos ouvi-los e meditar no que dizem. É possível que a mãe exagere em seu cuidado e admoestação para que a filha procure uma igreja e congregue, mas, sabendo dos sérios problemas que advém da ovelha sem aprisco, se a filha soubesse, não agiria assim também com aqueles que ama? De qualquer forma, o testemunho que ela dá com a sua irritação para com a mãe é péssimo, e depõe para a fé cristã. Outra coisa, ainda: se o chamado a congregar não é atendido por quem não se interessa a congregar, o erro é de quem chama ou de quem não atende ao chamado? Se fosse assim, não haveria a ordem de Cristo para proclamar o Evangelho a toda criatura, pois o número daqueles que o rejeitam é muito maior do que os que o aceitam. Essa é outra estratégia para transferir ao outro a culpa que cabe somente a nós. Apelamos para o pragmatismo quando o que acontece não é falta de eficiência de quem chama, mas desobediência de quem rejeita. É o caso aqui, pois se todos rejeitam devo me calar por conta da rebeldia de quem não quer ouvir?

2) Ao dizer que lhe dá nos nervos as duas horas ou mais perdidas no culto, e de que poderia estar descansando ou fazendo outra coisa, vem-me à mente o tipo de cristão que se está construindo, ou melhor, que se está desconstruindo. É claro que há igrejas em que o Evangelho não é pregado, pastores e presbíteros são tão tolos que não deveriam guiar nem mesmo uma manada de bois, que as músicas são tão vulgares como os piores exemplos produzidos pelo mundo, mas generalizar é cair no mesmo caso de tolice e soberba que apontei anteriormente. No mínimo, deve estar faltando oração, pedindo-se a Deus que lhe destine um local onde possa servi-lo verdadeiramente. A ideia que se quer passar é de que nenhuma igreja presta, e de que todas representam perda de tempo. É melhor qualquer outra atividade do que estar na congregação. Atitudes assim demonstram desprezo e vaidade, além de individualismo e autosuficiência, do tipo, não preciso disso, posso muito bem viver sem isso. Então, um pecado gera o outro; e, deixo a pergunta, parafraseando o apóstolo do amor, João Evangelista: se não me sujeito à autoridade da igreja que vejo, como posso me sujeitar à autoridade de Deus que não vejo?

Penso que há uma guerra barulhenta dos "sem-igrejas", não com o intuito de manterem seus privilégios, mas de arregimentarem novos adeptos de uma prática que em nada se configura cristã. Os exemplos tomados são sempre os piores, nunca há nada de virtuoso a ser experimentado ou testemunhado, o que garante o direito de se difamar homens e grupos religiosos cristãos como se fossem um bando de malfeitores. Há livros, em profusão, acusando pastores de "batedores-de-carteiras", e a igreja de quadrilha ou gang. A esse tipo de arrogância e desprezo chegam os "gurus" dos "sem-igrejas". São pessoas assim que elaboram os argumentos de uma vida tão apegada aos valores mundanos que, em sua cegueira, considera-os espirituais... Sem se preocuparem com a procedência desse espírito.

É claro que no corpo local haverá, como o Senhor Jesus disse, o trigo e o joio, salvos e não salvos, onde aqueles trabalham para a glória de Deus, enquanto esses são empecilhos [ainda que em sua rebeldia também colaborem para a glória divina]. Não é possível dizer quem é e quem não é salvo, mas é certo poder dizer que os salvos estão entre os que se encontram sob a autoridade da igreja. Mas quanto a este ponto, falarei mais à frente, no decorrer das próximas aulas.

O fato é que a doutrina do cristão sem-igreja não tem nada de santa, nem pura, nem cristã, nem mesmo religiosa [no sentido mais estrito do termo], ela, de certa forma, demonstra a incapacidade não do corpo local, mas daquele que se diz cristão de não se sujeitar à autoridade; e penso que isso é extremamente grave. As implicações vão desde uma vida vazia, sem qualquer testemunho de fé, até erros doutrinários, chegando-se ao ápice das heresias. A maioria deles não reconhece a Bíblia em sua infalibilidade, inerrância e inspiração divina. Outros são adeptos da descontinuídade das Escrituras. Outro tanto não reconhece nenhuma autoridade humana. E quando me deparo com qualquer deles e seus discursos autônomos vislumbro uma ovelha perdida, sem rumo, desgarrada. Opõem-se a todas as formas não organizacionais da igreja, mas acabam por optar por uma forma, ainda que não eclesiástica. Apenas querem cuidar dos seus narizes, sem responsabilidade para com o corpo, mesmo que seja o chafurdar na lama. Como já disse, não apelo para a perfeição da igreja local, mas não é possível aceitar os argumentos que os "sem-igreja" desajuizadamente querem dogmatizar. O interessante é que mesmo rejeitando um, alguns, ou todos os dogmas, eles acabam por estabelecer os seus próprios, a se agruparem, e terem uma convivência como qualquer outro grupo humano. Ao apelarem para o espírito, entregam-se à carne. E, simplesmente, não suportam a obediência, a fraternidade, a servidão e sujeição como marcas do cristão bíblico. Se há algo que devem fazer é se arrepender, e voltarem ao Evangelho. Pois, certamente, há igrejas onde ele é pregado, a obra de Cristo é realizada, o Espírito Santo atuando, e Deus glorificado.
 

domingo, 16 de junho de 2013

Exposição de Atos 18: "Estou limpo do seu sangue"

Pr. Luiz Carlos Tibúrcio

AVISO
Infelizmente, como já disse anteriormente, o áudio da pregação está sendo precedido por uma propaganda em que produtos variados são anunciados, colocada pelo 4Share, e com a qual não temos nenhuma responsabilidade. Como a hospedagem de nossos áudios é feita no 4Shared, gratuitamente, não temos como retirá-las. Entendemos a necessidade deles, e esperamos que os irmãos e amigos que nos ouvem compreendam e exercitem a paciência.

Cristo os abençoe!

Baixe esta mensagem em VOICE201.MP3

sábado, 25 de maio de 2013

Exposição de Atos 17: "Libertos para servir ao Deus Vivo"

Pr. Luiz Carlos Tibúrcio

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Exposição de Atos 17: "O Deus desconhecido"

Pr. Luiz Carlos Tibúrcio


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segunda-feira, 1 de abril de 2013

Estudo sobre a Confissão de Fé Batista de 1689 - Aula 42: A humanidade, o homem como imagem de Deus




Por Jorge Fernandes Isah



Dando continuidade ao nosso estudo sobre o esboço da declaração de fé do T.B.B, trataremos hoje do tópico "Humanidade". 

Abramos nossas Bíblias em Gn 1.27, que diz: "E criou Deus o homem à sua imagem; à imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou". 

Primeiro, o que você entende pela expressão "imagem e semelhança de Deus" ou o "Imago Dei"? Se somos a imagem de Deus, não quer dizer que sejamos iguais a Deus em tudo. A imagem, ainda que reflita o ser, não é o ser, mas a aparência do ser como representação, como imitação, mas muito mais do que isto, o fato de sermos imagem divina quer dizer que Deus imprimiu em nós algo de si mesmo, deixando claramente marcas do que é, do que nos deu ser, e do que podemos vir a ser, imprimindo em nós traços, características, que nos remetem a ele, e de quem somos herdeiros. É o que ele nos revela, ao tomar do pó da terra, uma massa sem vida, e nela, pelo seu sopro, trazer à vida [Gn 2.7]. O homem é sobretudo e de forma geral, criatura divina, formada e conformada à sua vontade, carregando em si aspectos do Criador, de maneira que se não fosse por ele não existiria, nem seria o que é. É como se Deus tomasse uma página em branco [o barro] e imprimisse nela letras, palavras e frases que a dessem sentido. É ele  portanto quem nos dá significado, e por quem existimos de fato. Ao contrário do que o materialismo e a antropologia moderna dizem, o homem não é fruto o acaso, nem fortuito, mas a imagem do ser divino, sem o qual seria impossível e não subsistiria. 

A forma que Deus nos deu, de carregarmos alguns de seus atributos, como mostra da sua bondade e misericórdia, são os que chamamos de comunicáveis, os quais Deus nos transmitiu; contudo, há atributos que são inerentes ao ser divino e portanto intransferíveis, os quais somente ele tem e mais ninguém, pois há somente um Deus, e são eles que o tornam quem é. Logo, se somos imagem, somos naquilo que temos em comum com ele, sem que sejamos ele. A capacidade de amar, ser justo, o raciocínio, a bondade, a ira, etc, são alguns dos que compartilhamos, que nos tornam humanos e sem os quais seríamos qualquer outra coisa, ou não seríamos. 

É-se possível meditar no fato do que vem a ser a humanidade, uma questão que é debatida há séculos por teólogos, filósofos e antropólogos, gerando muitas dúvidas e disputas. Uns pontuam que ela seja todo o homem, corpo, alma e espírito. Outros, com os quais me identifico, acreditam que ela está reservada na alma sendo o corpo apenas o receptáculo no qual a humanidade se manifestará. Dizem que esta é uma posição radical, que rompe com a integralidade do ser humano, fazendo uma distinção forçosa entre corpo e alma, e que não espelha a verdade bíblica. Entendo que a alma é o centro da razão, da emoção, e tudo o que compõe a humanidade; e o próprio fato da Bíblia asseverar que este corpo será ressuscitado no Dia do Senhor, mas de que será um novo corpo, conformado à imagem de Cristo, já nos dá mostras de que não é ele o que nos torna em humanos. Por isso, há aqueles que dizem ser esta posição dicotômica, com a qual não concordo, mas como não é, propriamente o tema do nosso estudo, deixarei para discuti-la em outro lugar, mais adequado e apropriado [1]. Certo é que Deus nos deu algo que nos faz parecidos com ele, e que não pode ser o corpo, pois Deus é Espírito; e sem ele não seríamos humanos.  

Contudo, não podemos esquecer de que esses atributos foram corrompidos pelo pecado; e pelo pecado de um todos os homens pecaram [Rm 5.12]; de forma que os atributos comunicados por Deus são sombras do que eram em Adão, o primeiro homem. Apenas Cristo, o homem perfeito, detém a humanidade perfeita e santa, e é nele e pelo seu poder, que seremos semelhantes a ele, naquele glorioso dia, em sua santa e perfeita humanidade. Se morremos em Adão, somos vivificados por Cristo [1Co 15.20-22].

Com isso, não estou a dizer que está tudo perdido, que temos de nos resignar a não manifestar os atributos maravilhosos com os quais o Criador nos agraciou, porque somos pecadores, e, em nossa miséria, não produziremos nada de bom. Não! Cristo veio exatamente resgatar no homem aquilo que se perdeu no Éden, aquilo que ele nos deu e jogamos na lata de lixo estupidamente;  ele veio restaurar e implementar, pela ação do Espírito Santo, nova mente, novo coração, novo espírito, capacitando-nos a ser como ele é. Claramente, esse é um processo, que culminará no novo homem, eternamente imaculado. Não acontecerá da noite para o dia, pois dividimos duas naturezas que se digladiam e opõem-se: a carne e o espírito. Paulo nos alerta da luta constante que há entre elas, e, temo dizer que, na maioria das vezes, a primeira sairá vitoriosa. Mas o esplendor da segunda vitória, ainda que parcamente, se apresenta como uma esperança viva e alentadora no futuro que se avizinha: jamais o pecado nos fustigará e exercerá domínio sobre nós, pois teremos a humanidade daquele que jamais pecou. Nada disso por mérito próprio, mas por Deus que é quem atua tanto o querer como o fazer em nós, por sua infinita bondade, misericórdia e amor. 

A nossa responsabilidade é grande, pois mesmo sendo pecadores e falhos, somos luz e objetos de observação atenciosa do mundo, que nos julgará em cada deslize, em cada desacerto, em cada infração, em cada pecado, representando blasfêmia ao nome do Senhor. Se nos é dado o Mestre, aquele ao qual não somente devemos seguir mas imitar, não podemos nos imiscuir de fazê-lo; e ao não fazê-lo, deliberadamente nos colocamos no rol dos que não amam a Deus, pois não cumprimos os seus mandamentos; rejeitamos o discipulado e nos tornamos em cristãos dissimulados, quando não traidores e negadores da verdade. 

Ora, amar significa ser fiel, ainda que muitos digam-se amorosos mas infiéis. A infidelidade pode acontecer e acontecerá, mas nunca pode se transformar em um meio de vida, em um "modus operanti", do qual não nos arrependemos e rejeitamos. O amor é provado pelas boas obras, por aquilo que fazemos, e dizê-lo sem praticá-lo é o mesmo que não dizer... A fé sem obras é morta [Tg 2.17]  Ninguém se convencerá de que amamos verdadeiramente se demonstramos o desamor com nossos atos. Assim é a vida cristã, a busca incessante, tenaz, pela santidade; e estando ela plena e completamente manifestada em Cristo, não há outro a seguir e imitar. Devemos ser como ele, ainda que não sejamos, mas na certeza de que um dia seremos. Devemos obedecê-lo, em ensinamentos e prática, para assim sermos como ele. E é esta esperança que nos moverá a caminhar e trilhar a estrada que esculpiu em nossa natureza maligna, e nos afastará definitivamente de cair dos penhascos, de atolarmos na lama e sucumbirmos à morte no pântano da transgressão. Podemos até nos aventurar aos abismos e, ao perder-se o equilíbrio, prestes a se lançar na perdição, somos seguros e impedidos por aquele que não permitirá a nossa ruína e desgraça. Mas jamais, deliberadamente, devemos fazê-lo como "provocação", como se estivéssemos a tentá-lo, pois, pode ser que não sendo eleito, não haja mão que nos sustente e nos impeça de alcançar o que procuramos teimosamente: a desgraça total e final!

Neste ponto, farei um aparte. O conceito do "salvo uma vez, salvo para sempre", tem a ideia falsa e distorcida e capciosa de que isso acontece porque o homem "autorizou" Deus de preservá-lo da condenação. Ora, essa visão é abominável! O homem, do qual o salmista diz não proceder bem algum e em quem reside apenas a imundície [Sl 53:1-3], como seria capaz desejar e almejar algo tão santo quanto a preservação do pecado e da condenação? Apenas os tolos acreditarão no som da própria voz, a dizer-lhe: "foi por seu mérito, de mais ninguém!". A esse orgulho foi que caíram Satanás, seus anjos, Adão e Eva, e todos nós. A preservação é algo que foge ao nosso alcance e poder, pois, em nós mesmos, qual abrigo teríamos? Abrigar-nos no mal? Apenas aquele que tem o lugar seguro, que é Rocha e Castelo Forte pode resguardar-nos e proteger-nos de nós mesmos, levando-nos, cada vez mais, a sermos semelhantes ao seu Filho Amado. E é nele que buscamos refúgio, fugindo de tudo aquilo que pode nos levar a voltar ao próprio vômito. E, lembre-se, tudo isso somente é possível porque Cristo, o Verbo, encarnou-se, fez-se homem e morreu na cruz em nosso lugar, tornando o impossível em possível: levar-nos à estatura do homem perfeito que ele é. 


Por isso, também, não há como aceitar a ideia antinominiana daqueles que arvoram uma graça miserável, de que quanto mais pecar, mais se revela a graça divina. A esses, como o apóstolo disse, não restam nada, apenas a inevitável perdição. O salvo deve ter aversão ao pecado, odiá-lo com o máximo de forças de que tem. Qualquer intimidade com ele significará morte, e morte eterna. Com isso, o que se pode concluir é que o homem está impossibilidade de, por si mesmo, restabelecer e restaurar-se do seu estado caído e pecaminoso. 



Mas, sobre a salvação, falaremos na próxima aula.

Notas: [1] Esta posição formulei-a no texto publicado no Kálamos, que se intitula "O pecado que Cristo não levou";
[2] Aula realizada na E.B.D. do Tabernáculo Batista Bíblico;
[3] Baixe o áudio desta aula em Aula 42.MP3
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