Pr. Júlio César de Salles
Todos os dias são especiais, e hoje é um dia especial para a irmã Mônica e a irmã Graça, que comemoram mais um ano de vida. Vamos honrar as irmãs, e prometo não demorar muito...
Em Provérbios 16.2: “Todos os caminhos do homem são puros aos seus olhos, mas o Senhor pesa o espírito”... O Senhor pesa o espírito... Provérbios 16.32: “Melhor é o que tarda em irar-se do que o poderoso, e o que controla o seu ânimo do que aquele que toma uma cidade”. É interessante que a palavra espírito nas Escrituras não apenas significa um ser superior a nós, mas também os intentos do coração, as atitudes, a tendência e a disposição do mais íntimo do nosso ser. Em 1 Tessalonicenses 5.23, o apóstolo Paulo diz: “E todo o vosso espírito, e alma, e corpo, sejam plenamente conservados irrepreensíveis para a vinda de nosso Senhor Jesus Cristo”. E a palavra espírito não significa somente uma entidade espiritual, uma tendência do coração de cada um de nós, mas, também, significa um ensino enganoso e nocivo. Em 1 João 4.1-3, lemos: “Amados, não creiais a todo o espírito, mas provai se os espíritos são de Deus, porque já muitos falsos profetas se têm levantado no mundo. Nisto conhecereis o Espírito de Deus: Todo o espírito que confessa que Jesus Cristo veio em carne é de Deus; todo o espírito que não confessa que Jesus Cristo veio em carne não é de Deus; mas este é o espírito do anticristo, do qual já ouvistes que há de vir, e eis que já está no mundo”. Então, vemos o amado apóstolo João ensinando aos crentes que, por trás de cada palavra tem uma intenção, que por trás de todo pensamento há uma tendência, há uma atitude, há um espírito. E, nós como homens não sabemos de todos os fatos, mas a palavra de Deus nos diz no Salmo 139 que Deus sonda os corações. Vamos dar uma olhada no Salmo 139, irmãos, porque hoje, ali fora, nos espera uma mesa farta... Versículo 1: “Senhor, tu me sondaste, e me conheces. Tu sabes o meu assentar e o meu levantar; de longe entendes o meu pensamento”... o meu pensamento... Irmãos, Deus sabe tudo o que cogitamos em nosso espírito. A palavra de Deus fala que Ele é onisciente, que Ele é onipresente...
Nós vimos hoje na Escola Dominical, muito bem ministrada pelo pr. Luiz Carlos, mostrando a deidade de Cristo, sendo 100% Deus e 100% homem... e no versículo 23, o salmista continua: “Sonda-me, ó Deus, e conhece o meu coração; prova-me, e conhece os meus pensamentos. E vê se há em mim algum caminho mau, e guia-me pelo caminho eterno”. Deus conhece, Ele sabe da intenção do nosso ser; e lá em Pv 16.2, vimos que Deus pesa o espírito, Ele pesa as nossas intenções.
Para nós que somos homens e falhos, não sabemos de todos os fatos, algo lindo que Deus deixou para a igreja, um dom maravilhoso que Ele nos deu como dádiva, pois nós corremos o risco de errar por falta de entendimento, mas o Senhor, através do Espírito Santo deixou-nos um dom: o discernimento de espírito... Vamos para 1 Coríntios 12.10: “E a outro a operação de maravilhas; e a outro a profecia; e a outro o dom de discernir os espíritos”... discernimento de espírito... O dom de discernir os espíritos é a capacidade dada pelo Espírito Santo distinguir doutrinas, atitudes ou intenções das pessoas.
Como foi muito bem exposto na Escola Dominical, nós não sabemos o intento, mas Deus nos premiou com esse dom, de saber... não descobrindo o pensamento dos outros, porque isso é impossível para nós, mas como o apóstolo João nos disse, sabemos discernir o espírito por trás de cada palavra. Esse dom nos faz conhecer, mesmo antes das palavras serem esclarecidas, a atitude de um irmão, de um líder, de alguém que se aproxima.
Em Atos, 5.1-4, sabemos que Pedro tinha esse dom; ele percebeu a mentira que estava sendo tramada por um casal, a história de Ananias e Safira: “Mas um certo homem chamado Ananias, com Safira, sua mulher, vendeu uma propriedade, e reteve parte do preço, sabendo-o também sua mulher; e, levando uma parte, a depositou aos pés dos apóstolos. Disse então Pedro: Ananias, por que encheu Satanás o teu coração, para que mentisses ao Espírito Santo, e retivesses parte do preço da herdade? Guardando-a não ficava para ti? E, vendida, não estava em teu poder? Por que formaste este desígnio em teu coração? Não mentiste aos homens, mas a Deus”.
Portanto, aqui o apóstolo Pedro desenvolve esse dom, sob o poder do Espírito Santo de Deus, de mostrar qual era o intento, qual era o peso do espírito daquele homem, qual o pensamento daquele homem e daquela mulher, o propósito do seu coração.
Em Atos 16.16-18, Paulo foi capaz, perspicaz em discernir um intuito maligno por trás de palavras supostamente piedosas: “E aconteceu que, indo nós à oração, nos saiu ao encontro uma jovem, que tinha espírito de adivinhação, a qual, adivinhando, dava grande lucro aos seus senhores. Esta, seguindo a Paulo e a nós, clamava, dizendo: Estes homens, que nos anunciam o caminho da salvação, são servos do Deus Altíssimo. E isto fez ela por muitos dias. Mas Paulo, perturbado, voltou-se e disse ao espírito: Em nome de Jesus Cristo, te mando que saias dela. E na mesma hora saiu”. Paulo coloca aqui em prática esse dom. Sabemos, pelo contexto, que os comerciantes obtinham vantagens, lucros com essa pessoa, que parecia estar elogiando o apóstolo Paulo, falando que ele anunciava o caminho da salvação. Estão vendo irmãos? Parecem palavras boas, que elogiam, mas havia nas palavras da adivinha um tom de sarcasmo, havia uma outra intenção. E Deus usou a Paulo para pesar esse espírito, e discernir nela o sarcasmo, e de que ela estava endemoniada.
Em Galátas 2.11-12, Paulo utilizou-se novamente desse dom do Espírito Santo (o qual pode ser usado também entre nós), para entender uma atitude falha de Pedro, que estava com uma intenção errada, o qual havia mudado de postura quando viu chegar os crentes de Jerusalém, da parte de Tiago: “E, chegando Pedro à Antioquia, lhe resisti na cara, porque era repreensível. Porque, antes que alguns tivessem chegado da parte de Tiago, comia com os gentios; mas, depois que chegaram, se foi retirando, e se apartou deles, temendo os que eram da circuncisão. E os outros judeus também dissimulavam com ele, de maneira que até Barnabé se deixou levar pela sua dissimulação. Mas, quando vi que não andavam bem e direitamente conforme a verdade do evangelho, disse a Pedro na presença de todos: Se tu, sendo judeu, vives como os gentios, e não como judeu, por que obrigas os gentios a viverem como judeus?”.
Irmãos, aqui vemos Pedro com uma atitude errada, pois ao chegarem os bispos de Jerusalém, afastou-se dos gentios; e Paulo, usando do discernimento de espírito, arguiu Pedro quanto ao que estava acontecendo, porque não comia mais entre os gentios como antes, e seu procedimento era condenável. Portanto, até mesmo entre nós tais fatos acontecem, e exatamente por isso, Deus tem dado esse dom para a Igreja, o que tem sido bom para nos auxiliar, nos alertar e edificar-nos.
Em Lucas 20.19, lemos que Jesus respondia às pessoas no nivel dos seus pensamentos, na intenção do espírito, Ele como nosso supremo Pastor foi alvo de algumas “pegadinhas” por parte dos fariseus e saduceus: “E os principais dos sacerdotes e os escribas procuravam lançar mão dele naquela mesma hora; mas temeram o povo; porque entenderam que contra eles dissera esta parábola”... Versículo 21: “E perguntaram-lhe, dizendo: Mestre, nós sabemos que falas e ensinas bem e retamente, e que não consideras a aparência da pessoa, mas ensinas com verdade o caminho de Deus. É-nos lícito dar tributo a César ou não?”. Fica claro que, por trás dessa pergunta, desse discurso, havia um espírito enganador, pois eles queriam prender ao Senhor, e através desse tipo de questionamento, esperavam enganá-lO, para O prenderem.
Versículo 23: “E, entendendo ele a sua astúcia, disse-lhes: Por que me tentais? Mostrai-me uma moeda. De quem tem a imagem e a inscrição? E, respondendo eles, disseram: De César. Disse-lhes então: Dai, pois, a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus. E não puderam apanhá-lo em palavra alguma diante do povo; e, maravilhados da sua resposta, calaram-se”... admirados da resposta, calaram-se... Se observarmos os discursos do Senhor, as conversas do nosso Salvador, vai-nos mostrar que Ele muitas vezes respondia ao nível das intenções, em vez de responder somente ao nível das palavras. Jesus, sendo 100% homem e 100% Deus, pesava o espírito, sempre respondendo ao padrão dos pensamentos.
Em Lucas 20.27-40, temos: “E, chegando-se alguns dos saduceus, que dizem não haver ressurreição, perguntaram-lhe, dizendo: Mestre, Moisés nos deixou escrito que, se o irmão de algum falecer, tendo mulher, e não deixar filhos, o irmão dele tome a mulher, e suscite posteridade a seu irmão. Houve, pois, sete irmãos, e o primeiro tomou mulher, e morreu sem filhos; e tomou-a o segundo por mulher, e ele morreu sem filhos...”. Ora, vejam o emaranhado em que desejam pegar a Jesus... Igualmente os sete não tiveram filhos, e morreram.
Versículo 32: “E por último, depois de todos, morreu também a mulher. Portanto, na ressurreição, de qual deles será a mulher, pois que os sete por mulher a tiveram?”. Sabemos que os saduceus não criam na ressurreição. Mas aqui, usando de sarcasmo, um espírito de malícia, através das palavras, inquiriam a Jesus, buscando apanhá-lO, astutamente.
Versículo 34: “E, respondendo Jesus, disse-lhes: Os filhos deste mundo casam-se, e dão-se em casamento; mas os que forem havidos por dignos de alcançar o mundo vindouro, e a ressurreição dentre os mortos, nem hão de casar, nem ser dados em casamento. Porque já não podem mais morrer; pois são iguais aos anjos, e são filhos de Deus, sendo filhos da ressurreição”. Algo interessante é que os saduceus não criam na ressurreição, não criam em anjos, nem em espíritos sobrenaturais, eram totalmente céticos, e gostavam de uma poligamia. Eram sacerdotes impostos pelos homens, pelos indumeus, e agradava-lhes a poligamia. E estavam a espreita, a fim de pegar Jesus; mas o Senhor, conhecendo o ardil dos seus corações, respondeu-lhes tudo, de uma só vez; primeiro, ao dizer-lhes que no céu não se casam, nem se dão em casamento (v.35). Segundo, que os homenbs serão como os anjos, e de que, no céu há anjos (v.36). Terceiro, que os mortos hão de ressuscitar: “E que os mortos hão de ressuscitar também o mostrou Moisés junto da sarça, quando chama ao Senhor Deus de Abraão, e Deus de Isaque, e Deus de Jacó” (v.37)... O Deus de Abrãao, o Deus de Isaque, o Deus de Jacó... Então, esse termo, sabemos que é um termo de eternidade de Deus, e de que há ressurreição nos céus. E Jesus calou-os, porque o Senhor pesa o espírito.
Irmão, devemos discernir o espírito por trás das palavras, saber a intenção dos nossos colegas de trabalho; porque às vezes matamos as pessoas, mas as vezes elas perguntam com a intuito de ouvir do Deus verdadeiro também. Devemos saber desenvolver esse dom do discernimento do espírito.
O nosso último exemplo está em Lucas 18.18-23, temos outra pessoa aproximando-se do nosso Mestre e Salvador, com o objetivo de manipular, de enganar ao Senhor: “E perguntou-lhe um certo príncipe, dizendo: Bom Mestre, que hei de fazer para herdar a vida eterna? Jesus lhe disse: Por que me chamas bom? Ninguém há bom, senão um, que é Deus. Sabes os mandamentos: Não adulterarás, não matarás, não furtarás, não dirás falso testemunho, honra a teu pai e a tua mãe. E disse ele: Todas essas coisas tenho observado desde a minha mocidade. E quando Jesus ouviu isto, disse-lhe: Ainda te falta uma coisa; vende tudo quanto tens, reparte-o pelos pobres, e terás um tesouro no céu; vem, e segue-me. Mas, ouvindo ele isto, ficou muito triste, porque era muito rico”. Esse moço, no versículo 18, começou manipulando a Jesus, elogiando-O, dizendo: Bom Mestre! São como aquelas pessoas que se aproximam de nós e dizem: “Oh! Gente boa!”, mas lá no fundo, no íntimo delas, o pensamento é: “Ô crente chato!”. Aquele príncipe chegou elogiando ao Senhor, mas o Senhor, sabendo a sua intenção, esse falso elogio, replicou-o: “Porque me chamas de bom?”... Que balde de água fria ele recebeu, irmãos... “Ninguém há bom, senão um, que é Deus”. Jesus reconheceu o seu intento; Jesus enxergou a falência da alma humana.
Esta mesma passagem é descrita em Marcos 10.21, onde o evangelista escreve que o Senhor, mesmo sabendo do propósito dele, mesmo após jogar-lhe um balde de água fria o amou: “E Jesus, olhando para ele, o amou”... o amou... Apenas neste Evangelho achamos este trecho; e Jesus, mesmo julgando, amava.
Irmãos, temos de tomar cuidado com esse dom, mesmo quando Deus nos dá o discernimento no momento de saber se o ensino é verdadeiro, se o ensino é falso, quais as intenções dos colegas de trabalho para comigo; em qualquer lugar onde estivermos não se deve jamais deixar de amar as pessoas. O Senhor conhecia a falência da alma humana; e devemos saber que aquela pessoa que se aproxima de nós com o pensamento de crítica, com palavras de duplo sentido... os irmãos já viram pessoas que se utilizam do duplo sentido das palavras?... Mas, muitas vezes, essas pessoas estão morrendo interiormente, por dentro; mas ainda assim, Marcos descreve que: “E Jesus, olhando para ele, o amou”.
Esse dom é de grande valor para a igreja... Em Atos 20.29-30, Paulo falando aos bispos de Éfeso diz: “Porque eu sei isto que, depois da minha partida, entrarão no meio de vós lobos cruéis, que não pouparão ao rebanho; que de entre vós mesmos se levantarão homens que falarão coisas perversas, para atraírem os discípulos após si”. Até mesmo debaixo do ministério dos apóstolos, penetravam pessoas na igreja com duplo sentido; e se debaixo do ministério dos apóstolos entravam esse tipo de pessoa, quanto mais hoje. E isso irmãos, não falo apenas de nós líderes, dos pastores, mas cada crente deve buscar de Deus o discernimento.
Em Atos 17, os crentes de Béreia confirmavam nas Escrituras, de bom grado, tudo o que lhes era dito; eles não acreditavam no que lhes diziam prontamente, antes examinavam as Escrituras.
Em 2Pedro 2.1, o apóstolo Pedro, após ter aquela experiência de aprendizado com Paulo, que lhe chamou a atenção quanto ao seu erro; agora, ele nos alerta: “E também houve entre o povo falsos profetas, como entre vós haverá também falsos doutores, que introduzirão encobertamente heresias de perdição, e negarão o Senhor que os resgatou, trazendo sobre si mesmos repentina perdição. E muitos seguirão as suas dissoluções, pelos quais será blasfemado o caminho da verdade”. Vejam irmãos, que não podemos ser “vaquinhas de presépio”. Vaquinha de presépio é quando alguém fala, e sem discernimento, aceitamos prontamente o que ela disse. Não. Devemos ser criteriosos com as coisas de Deus, pedindo sabedoria a Ele. Tiago, nos diz em sua carta: “E, se algum de vós tem falta de sabedoria, peça-a a Deus, que a todos dá liberalmente” (Tg 1.5). Então, poderemos discernir o espírito por trás das palavras; e buscar a sabedoria de Deus, para que a igreja não seja assaltada por falsos mestres, por falsos irmãos.
Nós, como líderes, muitas vezes, ficamos perseguindo desnecessariamente crentes piedosos, enquanto outros estão com intentos malignos contra o ministério de Deus. Quantas vezes criticamos um irmão, e vejo que não temos um padrão para julgá-lo. Algo maravilhoso é quando um irmão novo na fé tem intento para aprender, para auxiliar-nos, buscando em Deus ajudar-nos, mas... havia um pastor que montava uma pregação para os que faltavam aos cultos, e elas, como sempre, não iam ao culto, enquanto o pastor descia o cajado. E os que assistiam, não eram santificados; pois, precisavam de outra palavra, de outra unção, que lhes edificasse o espírito.
Na segunda-feira, comunicavam àquele pastor que os irmãos para os quais ele havia pregado, além de não irem ao culto, riam-se dele. Então, ele teve o entendimento, e prometeu não mais pregar assim; e não mais perturbar desnecessariamente os crentes piedosos.
No domingo seguinte, ele pregou sobre a graça de Deus. Ele ensinou as Escrituras, ele compartilhou a palavra de Deus. E na segunda-feira, os faltosos queriam saber o teor da pregação no culto do dia anterior. E foi-lhes informado que o pastor havia participado à igreja a palavra de Deus, e que não falou nada sobre eles... Se debaixo do ministério dos apóstolos entraram os falsos irmãos, quanto mais hoje.
Irmãos, nós podemos agradecer a Deus, e saber enxergar o intento de cada coração, saber enxergar as necessidades reais da vida do próximo; mas somente exergaremos com o discernimento que o Espírito Santo nos dá. Porque não sabemos todos os fatos, e julgamos, muitas vezes, desnecessariamente, e, às vezes a pessoa está pedindo socorro, e vamos a ela com um machado, e acabamos por matá-la.
O Dr. Lloyd-Jones disse que o maior problema de um bêbado não é a bebida, mas o fato de estar em rebeldia contra Deus. E só com esse discernimento, com esse dom que Deus nos dá... que é um dom, vamos falar a verdade, nós não somos oniscientes como o Senhor Jesus; mas somente com esse dom podemos enxergar a falência espiritual de cada um; e assim, tanto a igreja como nós, serem edificados para a glória de Deus.
Sermão pregado em 15 de Junho de 2008, no T.B.B.
*Todos os versículos são transcritos da Bíblia Almeida Corrigida e Fiel da SBTB (ACF)
Nenhum comentário:
Postar um comentário