Página de doutrina Batista Calvinista. Cremos na inspiração divina, na inerrância e infalibilidade das Escrituras Sagradas; e de que Deus se manifestou em plenitude no seu Filho Amado Jesus Cristo, nosso Senhor e Salvador, o qual é a Segunda Pessoa da Triunidade Santa

sábado, 13 de agosto de 2016

Esboço de Pregação em Salmos 91.1-4: "No esconderijo do Altíssimo"



Jorge Fernandes Isah


INTRODUÇÃO

- O Pastor Luiz pregou sobre os versos 1 a 3, na última quarta-feira. 
- Darei continuidade, hoje, a este belo, profundo e glorioso Salmo.
- É um texto no qual o salmista demonstra a confiança, esperança e certeza, do crente, em Deus. 
- Trata também da fidelidade e cuidado divinos para com os seus, em meio a um mundo louco e desordenado pelo mal. 
- É um Salmo cheio de promessas de bênçãos para o povo de Deus. 
- Meditemos, então, no verso 4: 


"Ele te cobrirá com as suas penas, e debaixo das suas asas te confiarás; a sua verdade será o teu escudo e broquel"
Ele te cobrirá com as suas penas, e debaixo das suas asas te confiarás; a sua verdade será o teu escudo e broquel.
Salmos 91:4
Ele te cobrirá com as suas penas, e debaixo das suas asas te confiarás; a sua verdade será o teu escudo e broquel.
Salmos 91:4
Ele te cobrirá com as suas penas, e debaixo das suas asas te confiarás; a sua verdade será o teu escudo e broquel.
Salmos 91:4
 


DESCEU DOS ALTOS CÉUS PARA NOS ABRIGAR

- Existe uma ideia disseminada, entre os cristãos, de que somos nós a procurar e irmos até o Criador, enquanto ele permanece estático em seu trono nos aguardando. 
- Este é um conceito totalmente equivocado, de uma interpretação desleixada e pouco fiel ao que nos é revelado pelas Escrituras.
- Pelo contrário, o salmista nos mostra a verdadeira realidade: é Deus quem desce dos altos céus para abrigar, proteger e salvar os seus filhos.
- Foi o que Cristo fez ao encarnar-se, viver, morrer e ressuscitar por suas ovelhas. Sim, Cristo morreu pelo seu povo, para ajuntá-lo debaixo de suas asas poderosas e remidoras. 
- Como filhotes indefesos e incapazes de se defenderem a si mesmos, Deus é quem nos recolhe, dando-nos proteção e segurança. 
- A comparação que o salmista faz é exatamente esta: precisamos da proteção divina, porque somos frágeis, inúteis até mesmo para garantir a nossa segurança. 
- Às vezes, também, somos ingratos ao não reconhecer nele o nosso protetor. Porque ele, em incontáveis momentos, não nos deixa sequer perceber o perigo em que estamos, nos livrando muito antes de podermos dar conta da existência da ameaça (a sua misericordiosa providência). Nesses casos, sequer notamos a sua proximidade, mas ele está lá, nos guardando, sem que sintamos o seu livramento preventivo. 
- Por isso devemos ser gratos a cada momento, pois Deus não somente age naquilo em que vemos ou percebemos, mas também no que não vemos nem percebemos.
- Ele nos poupa dia a dia, manhã a manhã.
- O que reputamos como sorte ou esperteza nada mais é do que a sua santa providência; o escape que ele nos dá.
- Nada é por nosso mérito! Nada pode ser creditado na conta humana. Se o fazemos, somos ingratos; e arrotamos uma independência ou autonomia impossível e louca.


 UM PARALELO COM MATEUS 23:34-38

- Jesus, nos versos anteriores, ataca os fariseus e escribas e sacerdotes, por não entrarem no reino dos céus, e ainda tentavam impedir de entrar aqueles que estavam entrando (v. 13).
- Ele profere os sete "Ais" contra os líderes judeus. 
- A condenação que lança sobre eles é justa, pois Cristo conhece os corações e destinados daqueles homens pérfidos, mentirosos e carnais. Ele lhes aponta a maldade e o desejo de morte que têm. 
- Jerusalém, literalmente, quer dizer "cidade de paz", mas ela se torna uma cidade de guerra, a guerra contra Deus, contra o bem, acolhendo os romanos pacificamente, seus pecados sem resistência, e se torna em cidade de morte, escombros e destruição, quando em 70 d.c. é destruída por Tito. 
- No verso 34 em diante, ele fala com pesar da descrença de Jerusalém. Mas seria toda a cidade? Haveria em si o desejo de salvá-la, mas ele não podia porque os seus habitantes o rejeitavam?
- É claro que não. Há um problema soteriológico em se entender a vontade divina como restringida pela vontade humana, de maneira que Deus estaria atado, preso, em sua vontade infinita e benigna aos anseios do homem limitado e mau. Este é o equívoco, a conclusão lógica, de se seguir a premissa do livre-arbítrio, como algo possível ao homem dominado pelo pecado. 
- O Cristo, também, não pode ser separado em suas duas naturezas. A Bíblia indica uma unidade na pessoa do Filho, não uma dualidade, por isso, dizer que foi apenas o Cristo-homem a falar sobre a impiedade de Jerusalém, ainda que seja um resposta, não me parece a mais acertada. 
- Talvez, estivesse se reportando à aliança com Davi, o rei que a conquistou para o povo de Deus, o mesmo povo que negava o Filho e sua salvação. 
- Pode ser, ainda, que ele esteja se referindo aos israelitas que, sob as ordens de Tito, seriam massacrados e dizimados em meio à destruição romana da cidade, inclusive do Templo. 
- Não há como negar a tristeza do Senhor ao profetizar que a cidade de Davi seria aquela a primeiro perseguir os seus discípulos, matando-os cruelmente. Assim não aconteceu apenas consigo mesmo, crucificado injustamente; mas com Tiago, irmão de João, "os filhos do trovão"; posteriormente com Estevão, e tantos outros assassinados pelo ódio dos filhos do diabo (At 7.54-60; 8.1, p. ex.).
- Uma cidade que pecou gravemente (Lm 1.8).
- Dela partiam ordens para outras cidades a fim de prenderem os servos de Cristo (At. 9.2).
- Por isso, se tornará em uma cidade deserta; e o povo de Deus foi dispersado pelo mundo (diáspora). 
- O certo é que não dá para não comparar esta passagem com o presente Salmo; e se ter em mente que Cristo, muito mais do que desejaria fazer é capaz de ir além e cuidar diligentemente do seu povo, ao abrigá-lo sob as suas asas redentoras. 
- Contudo, o mesmo Deus que protege e liberta o seu povo é o mesmo que julgará e condenará o ímpio. 
- E Deus é injusto?



ortanto, eis que eu vos envio profetas, sábios e escribas; a uns deles matareis e crucificareis; e a outros deles açoitareis nas vossas sinagogas e os perseguireis de cidade em cidade;
Para que sobre vós caia todo o sangue justo, que foi derramado sobre a terra, desde o sangue de Abel, o justo, até ao sangue de Zacarias, filho de Baraquias, que matastes entre o santuário e o altar.
Em verdade vos digo que todas estas coisas hão de vir sobre esta geração.
Jerusalém, Jerusalém, que matas os profetas, e apedrejas os que te são enviados! quantas vezes quis eu ajuntar os teus filhos, como a galinha ajunta os seus pintos debaixo das asas, e tu não quiseste!
Eis que a vossa casa vai ficar-vos deserta
Mateus 23:34-38
Portanto, eis que eu vos envio profetas, sábios e escribas; a uns deles matareis e crucificareis; e a outros deles açoitareis nas vossas sinagogas e os perseguireis de cidade em cidade;
Para que sobre vós caia todo o sangue justo, que foi derramado sobre a terra, desde o sangue de Abel, o justo, até ao sangue de Zacarias, filho de Baraquias, que matastes entre o santuário e o altar.
Em verdade vos digo que todas estas coisas hão de vir sobre esta geração.
Jerusalém, Jerusalém, que matas os profetas, e apedrejas os que te são enviados! quantas vezes quis eu ajuntar os teus filhos, como a galinha ajunta os seus pintos debaixo das asas, e tu não quiseste!
Eis que a vossa casa vai ficar-vos deserta
Mateus 23:34-38
Portanto, eis que eu vos envio profetas, sábios e escribas; a uns deles matareis e crucificareis; e a outros deles açoitareis nas vossas sinagogas e os perseguireis de cidade em cidade;
Para que sobre vós caia todo o sangue justo, que foi derramado sobre a terra, desde o sangue de Abel, o justo, até ao sangue de Zacarias, filho de Baraquias, que matastes entre o santuário e o altar.
Em verdade vos digo que todas estas coisas hão de vir sobre esta geração.
Jerusalém, Jerusalém, que matas os profetas, e apedrejas os que te são enviados! quantas vezes quis eu ajuntar os teus filhos, como a galinha ajunta os seus pintos debaixo das asas, e tu não quiseste!
Eis que a vossa casa vai ficar-vos deserta
Mateus 23:34-38
OS MÉRITOS DO FILHO

- A resposta à pergunta anterior é: Não!
- Porque somente pelos méritos do seu Filho o homem será salvo e livre da condenação, mas, sobretudo, da inimizade com Deus. 
- Jerusalém já estava condenada ao não ouvir e aceitar o Senhor, tal qual as Escrituras nos diz em João 3.17-19.
- Os homens preferiram a escuridão e as trevas, e elas os destruíram em sua incredulidade. 
- Mas, temos uma grande promessa: Deus nos cobrirá, protegerá e guardará em suas asas.
- Apesar de Jerusalém, amada e um dia restaurada, aquela geração cética rejeitou a proteção do Senhor, acreditando-se capaz de manter a auto-segurança. 
- Em campo aberto, em meio as trevas, sem ter como serem guiados na verdade, sucumbiram à própria pretensão e arrogância. Na autossuficiência não quiseram ver o que lhes era impossível: seriam presas fáceis para si mesmos e seu orgulho.
- Certa vez, em uma conversa, perguntei: Qual o maior resultado da obra redentora de Cristo? A pessoa respondeu-me: "livrar-nos do inferno!" Ao que retruquei: Sim, e não. A maior obra de Cristo foi livrar-nos de nós mesmos!
- E pouco pensamos nisto, pois como afirmou Agostinho (não com estas palavras), o que somos além de pecado e morte?
- O pecado tem uma característica ilusória de fazer o homem acreditar que o bem é mal e o mal é bem. De encobrir suas falhas; de exaltar os seus vícios, sobretudo, o desejo de sangue e morte. 
- Ao rejeitar o Justo, o Santo, o Redentor, está-se condenado; porque quem nega o Filho não tem o Pai, e está entregue à sua própria natureza destruidora. 
- Aos seus eleitos, ele os abrigou. Assim como abrigou o salmista. 


VOLTANDO AO SALMO 91


"A sua verdade será o teu escudo e broquel" (v.4)

- Usando de imagens e metáforas, Deus se revela um guardião do crente, um guerreiro disposto a dar a sua vida por cada um de nós (novamente, foi o que Cristo fez na cruz). 
- Ele não somente nos abriga em suas asas, mas nos protege duplamente. 
- Escudo e broquel (um escudo menor que vai junto ao corpo) nos dá a ideia de uma defesa reforçada, inexpugnável, na vigilância insistente e incessante de Deus. 
- Ele não somente nos protege, mas nos protege com armas poderosas, eficientes e imbatíveis. 
- Nada poderá nos destruir ou atingir. 
- Nada poderá nos separar do amor de Deus em Cristo (Rm 8.35, 37-39).
- Estas são promessas divinas, as quais não podemos negligenciar. Cabe-nos, unicamente, ansiar por uma vida santa e vivê-la. 
- Se somos realmente filhos de Deus, nada, nem o pior inimigo, Satanás  nós mesmos, vencerá esta batalha. Pois ela já foi ganha, alcançada e vencida por Cristo, que a levou a termo por nós. E se realiza e realizará em nossas vidas. Portanto, somos vitoriosos e vencedores nele, por ele, e para ele.


CONCLUSÃO

- Por tudo isto, devemos ser constantemente gratos a Deus, pois como servos inúteis, servimos para a sua glória, pelo poder com o qual nos chamou, nos predestinou, nos restaurou e santificou por todo o sempre. 
- Não nos esqueçamos de agradecer, ainda mais uma vez, pelas infinitas e incontáveis bênçãos.
- A ele, Deus eterno, santo e justo, honra e glória!

Nota: Pregação realizada no Tabernáculo Batista Bíblico, em 03.08.2016

segunda-feira, 16 de maio de 2016

A Verdadeira Adoração em João 4.22



Jorge Fernandes Isah


[Esboço]

“Vós adorais o que não sabeis; nós adoramos o que sabemos
porque a salvação vem dos judeus”


A)  INTRODUÇÃO:
O fato dos samaritanos adorarem o que não conhecem, indica-nos elementos de uma falsa adoração, e da verdadeira. Levando a conclusão de que nem todo o tipo de adoração pode ser considerada como verdadeira, e nem todo o culto a Deus glorifica-o, pois está voltando para um ídolo, para uma imagem distorcida do verdadeiro Senhor, e, portanto, não pode ser reconhecida como louvor a ele. Por outro lado, é-nos apresentado como adorar, da forma correta.

B)  O QUE É ADORAÇÃO?
A palavra adoração tem o significado de “veneração”, “de curvar-se perante”, algo ou alguém. No AT é comumente utilizada a expressão “shaha”. No NT é expressa pela palavra “proskyneo”, significando “beijar a mão”, “adorar” e “fazer reverência a” e, algumas vezes, também pela palavra “sebomai”. Outra expressão grega para adoração é “latreuo”, significando “venerar publicamente”, “ministrar”, “servir”.
Porém, a adoração tem como princípio ou propósito fundamental estabelecer, instituir, um relacionamento entre homens e Deus. Ela nunca será uma mera teoria ou doutrina sem aplicação. A adoração é essencialmente prática, em uma atitude de reverência, cujo adorador se entregará de corpo e alma ao ofício, ao serviço, de estar inteiramente ocupado por e com Deus. É a integral, completa e total, uma ação de graças, para o Senhor a quem devemos tudo; e em tudo ele deve ser louvado, adorado.


C)  A FALSA ADORAÇÃO:
O que você, meu irmão e irmã, compreende por adoração a Deus?
        É o ato de se curvar diante de uma imagem?
Respondam, irmãos, sim ou não?
Ou repetir frases como em um mantra ou ladainha?
Sim ou não?
Ou extravasar, como um louco ensandecido (rolar no chão, urrar ou imitar um animal, afastar a consciência), emoções e sentimentos de forma irresponsável, tendo um comportamento leviano e que em nada agrada a Deus?
Sim ou não?
Ou apresentar-se em um formalismo desinteressado, preso em uma rotina, repetitiva e enfadonha, da leitura da Escritura, ou na oração, em que não haja real significado, sem comunhão e relacionamento com Deus?
Sim ou não?
Ou, ainda, promover atividades sem reverência, temor, e nitidamente com vias de satisfazer a carne e não agradar o Espírito?
Sim ou não?
Por causa da queda e do pecado, o homem perdeu o real sentido de adoração, e, especialmente, nos dias de hoje, a igreja parece perdida em meio a muitas formas de adorar a Deus, porém, em sua maioria, elas apontam muito mais para uma adoração ao homem, no sentido de que a adoração, mais do que louvar a Deus, se estabelece como uma satisfação dos anseios humanos.
Infelizmente é possível ver, na maioria das igrejas, uma disposição à diversão, à distração, à satisfação da assistência com coisas e atitudes nada santas, cuja finalidade é, de alguma maneira, fazer com que a assembleia se sinta suficientemente confortável, e dentro de uma visão positivista e pragmática sinta-se bem, e queira, nas próximas vezes, voltar àquele lugar que tanto o entreteu.
Não raro de se ver práticas que negam a reverência ao Senhor, onde o pior do homem se apresenta na forma de um culto irracional, pagão e carnal, onde a vazão é para os sentimentos desenfreados, a balbúrdia e o caos.
Muitos cristãos demonstram pouco ou nenhum conhecimento de Deus, ao entregarem-se as práticas insanas, despropositadas, típicas dos pagãos e idolatras, no qual se inclui a autoidolatria.
Qualquer tentativa de substituir ao Deus bíblico, na forma de religiosidade ou secularismo, é entregar-se ao plágio ou a impostura, na qual uma cópia tenta se fazer autêntica, real, quando apenas é uma tentativa de validar algo falso, um substituto incapaz de suprir a perfeição existente somente no Deus verdadeiro.  
Não é raro ouvirmos que determinada igreja não agrada a sicrano e beltrano por que lá ele não se sente bem. Ao ser inquirido sobre os motivos pelos quais a igreja não o satisfazer, se ouve as mais esdrúxulas opiniões:
- O lugar é muito frio. O louvor é chato, não tem instrumentos, e eles cantam aqueles hinos da época da minha avó. Afinal, gosto de um louvor mais “quente”.
Em boa parte das vezes, o que esse crente quer é apenas e tão somente que a igreja seja uma extensão do mundo, e o mesmo apelo que as músicas seculares têm em sua alma, ele a quer sentir ali, como se fosse algo feito para Deus, mas que é exclusivamente para si mesmo, para o seu deleite, e satisfação egoísta.
Também se ouve o testemunho de outros cristãos que não se conformam com uma igreja que pregue o evangelho e trabalhe para a obra do Senhor, e onde não haja atividades extras e à margem do evangelho: uma pelada santa, uma rave santa, um churrasco santo, ou outra coisa colada à expressão santa, a qual é necessária para legitimar, numa tentativa louca, o profano em sacro, como se elas fossem o alicerce, o fundamento, da vida cristã
Sabemos o que não é adoração, mas estamos cônscios do que ela realmente seja ou representa?


D)  A VERDADEIRA ADORAÇÃO:
O alvo do crente é a adoração verdadeira ao Deus verdadeiro, e qualquer coisa diferente disso não é adoração. O Senhor merece toda a nossa honra e louvor, e não o fazer, ou fazê-lo equivocadamente, significará a incompreensão e o desconhecimento de quem ele é e de quem nós somos. Ninguém pode se arvorar a ser adorado sem incorrer em usurpação da glória divina; e ninguém ficará impune a isso.
Sendo assim, listarei três aspectos fundamentais da verdadeira adoração:
1)   Como disse anteriormente ninguém poderá adorar, em espirito e em verdade, se não for resgatado, regenerado por Deus. Em João 4, o Senhor Jesus tem um diálogo revelador com uma samaritana. Os irmãos sabem que judeus e samaritanos tinham uma rivalidade histórica, ao ponto de se considerarem inimigos naturais. A parábola do “bom samaritano” (Lc 10.33), deixa claro que, aos judeus daquela época, a atitude do viajante de socorrer o judeu ferido, era algo impensável.

Portanto, o fato de um judeu, o Cristo, conversar com uma mulher samaritana, era algo igualmente estranho, para não dizer inadmissível.

[Fazer um rápido apanhado desta passagem, para chegar
ao ponto principal]
        A parte mais importante do nosso estudo, refere-se aos versos 21 e 24, nos quais o Senhor diz:
“Disse-lhe Jesus: Mulher, crê-me que a hora vem, em que nem neste monte nem em Jerusalém adorareis o Pai.
Vós adorais o que não sabeis; nós adoramos o que sabemos porque a salvação vem dos judeus.
Mas a hora vem, e agora é, em que os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e em verdade; porque o Pai procura a tais que assim o adorem.
Deus é Espírito, e importa que os que o adoram o adorem em espírito e em verdade”.

        Ora, a ideia que se tem é a de que Cristo estava negando a adoração naquele monte e em Jerusalém, como algo falso; mas não é isso. A expressão “verdade” aqui não se contrapõe à mentira ou falso, mas a uma atitude efetiva, real, completa. Ele não nega a validade de se adorar em Jerusalém e no monte, como uma forma terrena, asseverando uma adoração celestial, não negando aquela, mas afirmando esta.
Conhecedor de todas as coisas, ele sabia que, em breve, a adoração, como os judeus a conheciam, estava prestes a se inviabilizar, pois seriam espalhados pelo mundo, seu Templo seria destruído, e, a partir de então, não haveria mais Jerusalém como o lugar de adoração, mas ela se daria em qualquer local, em qualquer parte do mundo.
        Ele faz uma distinção entre a adoração terrena e a celestial, no sentido de não estar mais limitada a um lugar, a uma forma, ainda que se realize em lugares e dentro de uma ordem, mas na efetivação do louvor dirigido ao Pai na plenitude do Espírito, seja aqui ou acolá, seja por uma ordem religiosa ou não.
        Contudo, o cerne da questão está não na adoração em si mas em quem se adora, pois a adoração tem como princípio ou propósito fundamental estabelecer, instituir, um relacionamento entre homens e Deus. Ele afirma textualmente que os samaritanos adoravam o que não sabiam, não conheciam, e de que a verdadeira adoração era a devotada ao único salvador, o Cristo. Não é possível qualquer forma de adoração se o Cristo não for o centro, o alvo, do louvor e da ação de graças. Sem ele qualquer forma de veneração é não apenas falsa, mas repulsiva e afrontosa a Deus. Mesmo os incrédulos louvam, à sua maneira, a Deus; e por não o conhecer, erram, e sua adoração é uma perversão da verdade.
        Todos os homens deveriam, em princípio, reconhecer o verdadeiro louvor a Cristo, sem o qual nenhuma adoração é possível, é real. Sem ele, ela não passará de uma farsa, de um engodo; negá-lo é não ser adorador, mesmo que se suponha um. Estando o homem em pecado, em inimizade com Deus, nenhuma adoração é aceitável, antes é rejeitada por ele.
        Então, é necessário ao homem ser transformado por Deus, ter os seus pecados perdoados, para adorar corretamente. Sem a regeneração, pelo arrependimento e a fé; sem a mente de Cristo; sem a comunhão com o Espírito, nenhuma adoração é verdadeira, apenas uma cópia distorcida e maligna do louvor santo.

2)   Deus só pode ser adorado se a alma do homem estiver apenas nele.
Engana-se quem acredita que pode “acender uma vela para Deus e outra para o diabo”, como os antigos diziam. O coração tem de estar apenas focado no Senhor, sem distrações, sem subterfúgios, sem esquemas que visem dividir a sua glória entre ele e os ídolos. Novamente, o erro dos samaritanos era não conhecer a Deus, mas também dividir a adoração com outros deuses (2 Rs 17.28-41). A adoração requer completo e íntimo relacionamento com o único a merecê-lo: O Senhor!
Quando nos entregamos às paixões, sejam elas quais forem, o futebol, o trabalho, a esposa ou esposo, os filhos, a ideologia, criamos um ídolo, e fazemos dele objeto de veneração. Qualquer coisa, pessoa ou entidade, que ocupe o lugar exclusivo de Deus no coração, é a negação de todo o bem e favor divinos, e um desvio da alma na direção da ingratidão. Adorar outro ídolo é não reconhecer o bem recebido, o favor concedido; é traição, a forma mais profunda de adultério, de infidelidade, a qual é entregar-se a alguém ou algo ilegítimo, quando a entrega deveria ser ao legítimo detentor de adoração.
Apenas Deus deve satisfazer o coração do homem, e somente ele o pode.
3)   A adoração está intimamente ligada ao conhecimento divino.
Quanto mais o conhecemos, mais somos capazes de adorá-lo. E só o conhecemos, principalmente, pela sua revelação especial, as Escrituras Sagradas. Aprouve a Deus revelar-se de duas maneiras aos homens:

a)   Pela Criação, na qual podemos ver a grandiosidade do Senhor, capaz de fazer um universo maravilhoso, diversificado, belo e funcional. O poder de Deus fica patente nas obras da sua mão. Podemos perceber a sua bondade e generosidade em cada aspecto da criação.

b)   Pela revelação especial, a qual Deus se faz conhecer em detalhes. Nela podemos compreender muitos dos seus atributos que não ficam evidentes na Criação, tais como o amor, a misericórdia e a sua graça derramada sobre o seu povo.
c)   Através da oração reconhecemos em Deus o pai cuidadoso, que não somente nos ouve, mas nos conforta, fortalece, e nos molda à semelhança do seu filho Amado.
Portanto, sem o conhecimento de Deus, e o desejo entranhável de conhece-lo mais e mais, não há comunhão, nem intimidade, muito menos é possível haver adoração.

4)   Sendo a lei de Deus a sua vontade expressa para o homem, não há como adorá-lo sem observar os seus mandamentos.
O Senhor Jesus disse:
Aquele que tem os meus mandamentos e os guarda esse é o que me ama; e aquele que me ama será amado de meu Pai, e eu o amarei, e me manifestarei a ele” (Jo 14.21).

O amor é também uma forma de adoração. Se atentarmos para o ensino bíblico veremos que tudo em nossa vida deve estar direcionado para o louvor e a glória de Deus. A obediência é nos colocar em posição de submissão e dependência a Deus, pois quanto mais íntimos do Senhor, mais reconhecemos a nossa fragilidade e insuficiência, e somos atraídos por sua benignidade, pelo seu amor. Como o amor é prático e não apenas uma construção teórica, amamos quando nos entregamos completamente ao alvo do nosso amor; então, obedecemos porque o amamos, e o amamos porque somos obedientes.

No Salmos 100, o autor nos remete a mais algumas verdades acerca da verdadeira adoração.
“Celebrai com júbilo ao SENHOR, todas as terras.
Servi ao Senhor com alegria; e entrai diante dele com canto.
Sabei que o Senhor é Deus; foi ele que nos fez, e não nós a nós mesmos; somos povo seu e ovelhas do seu pasto.
Entrai pelas portas dele com gratidão, e em seus átrios com louvor; louvai-o, e bendizei o seu nome.
Porque o Senhor é bom, e eterna a sua misericórdia; e a sua verdade dura de geração em geração”.
Este Salmo encerra uma doxologia, uma exaltação a Deus, iniciada no Salmo 93, em que hinos de louvor são escritos com a finalidade de glorificar o Senhor pelo que ele é, pelos seus feitos, revelando a sua soberania sobre toda a Criação, o seu amor e fidelidade para com os seus filhos, e o temor a que lhe devem todos os homens.
Neste Salmo temos um chamado à adoração por parte do escritor, como demonstração de gratidão a Deus, e consequência do conhecimento que o povo de Israel, especificamente, tinha.
As palavras chaves aqui são:
- Celebrar;
- Servir (com alegria);
- Gratidão.
E o louvor deve compreendê-las.
[Um rápido apanhado de cada versículo, destacando estes pontos, mas também o fato do salmista afirmar que todo o louvor se deve ao fato de Deus ser Deus, e, portanto, merecedor, somente ele, de adoração]


E)   CONCLUSÃO:
Por fim, o texto em Isaias 6: 1-3, mostrando como os serafins adoram o Senhor, com reverência e temor, ao ponto de, diante dele, esconderem os rostos e os pés, significando que mesmo os anjos eleitos, os quais são santos e limpos de todo o pecado, não se consideram dignos de se apresentarem diante do Deus santo, santo e santo. Somente Deus é santo em si mesmo, enquanto os anjos, também puros, são santos pela entrega total a Deus, e pelo serviço especial a ele.
O louvor deles é na medida exata do ser de Deus; da compreensão precisa de quem ele é, quem são os anjos, e qual a forma adequada de adorá-lo: deslumbrados, arrebatados, pela santidade e glória de Deus.
E são elas, especificamente, a santidade e a glória de Deus, os reais motivos para adorá-lo. 

Nota: Sermão pregado no T.B.B. em 16/05/2016, no culto dominical. 
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