Página de doutrina Batista Calvinista. Cremos na inspiração divina, na inerrância e infalibilidade das Escrituras Sagradas; e de que Deus se manifestou em plenitude no seu Filho Amado Jesus Cristo, nosso Senhor e Salvador, o qual é a Segunda Pessoa da Triunidade Santa

sexta-feira, 29 de novembro de 2013

Estudo sobre a Confissão de Fé Batista de 1689 - Aula 53: Dízimo e ofertas - parte 2

 

 Por Jorge Fernandes Isah


 

O argumento mais usado para não se dar o dízimo e ofertas é de que há pastores e igrejas que nada fazem para a obra de Deus, mas antes usam o dinheiro para o seu próprio benefício, muitos deles nitidamente carnais, ligados a tantos outros pecados como a ostentação, a vaidade, orgulho, soberba e megalomania. Isto é um fato, mas o que ele representa na totalidade da igreja? E, por haver homens corruptos e apóstatas, a palavra de Deus é anulada? E a sua vontade também? Claro que não. O problema é que muitas igrejas negligenciam a fiscalização de como os recursos são empregados, deixando-os por conta de uns poucos. Sabemos que há bodes na igreja, e deixar as galinhas aos cuidados dos lobos é insano e estúpido. A não participação de muitos membros nas decisões eclesiásticas, a sua recusa em participar até mesmo das reuniões deliberativas, a omissão e o descaso para com a obra de Deus, faz com que alguns poucos se sintam "livres" para agirem conforme os seus corações corruptos e infiéis. Mas isso, em nada, anula a ordem divina, nem faz daquele que dizima fielmente um tolo. O problema está em onde se dizima e qual a doutrina do dízimo é defendida. A maioria das igrejas, infelizmente, utilizam-no como instrumento de ganância, fraude e sucesso pessoal, aplicando uma doutrina espúria e antibíblica a um princípio que é nitidamente revelado na Escritura. Tem-se de estar atento, pois se os nossos recursos são desviados para fins que não sejam santos, também somos cúmplices dos criminosos.
Outro ponto escuso, e que deve ser repreendido, é o de muitos ter o dízimo como uma espécie de barganha com Deus, no sentido de que se faz um “negócio” com o Senhor; ao dar-se, espera-se receber, o que fere vergonhosamente o princípio de que damos o dízimo porque Deus nos deu primeiro, e não porque nos retribuirá por darmos. A fé bíblica, e não a fé casuística, é o motivo pelo qual devotamos o dízimo, como uma oferta de agradecimento ao Senhor por tudo quanto nos deu, tem dado e dará. Qualquer conceito que se apresente fora disso não passará de heresia e blasfêmia e apostasia.

Alguns textos para meditar
- II Co 9.1-13: "E digo isto: Que o que semeia pouco, pouco também ceifará; e o que semeia em abundância, em abundância ceifará. Cada um contribua segundo propôs no seu coração; não com tristeza, ou por necessidade; porque Deus ama ao que dá com alegria".
- I Coríntios 16.1-2: "Ora, quanto à coleta que se faz para os santos, fazei vós também o mesmo que ordenei às Igrejas da Galácia. No primeiro dia da semana, cada um de vós ponha de parte o que puder ajuntar, conforme a sua prosperidade, para que não se façam as coletas quando eu chegar".
- Mt 23:23: "Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas! pois que dizimais a hortelã, o endro e o cominho, e desprezais o mais importante da lei, o juízo, a misericórdia e a fé; deveis, porém, fazer estas coisas, e não omitir aquelas".

Algumas Perguntas
- Podemos dizer que aquele que não dizima e oferta está em rebeldia contra Deus?
- Por que não devo dizimar?
 - A minha preferência pelas ofertas, antes de obediência aos princípios bíblicos, não seria uma forma de “despistar” e contribuir com menos do que deveria dar?
 - O dízimo não é um sinal de fé? Pois a Bíblia diz que sem fé é impossível agradar a Deus?
 - Por que penso que a minha oferta, sem fé, agradaria ao Senhor?
- E como aplicar o princípio de que a oferta deve ser segundo a prosperidade de cada um?
 - Ou seja, no dízimo temos um percentual fixo, 10%, e no caso das ofertas, se tenho sido abençoado com muito, não devo dar proporcionalmente? Muito além dos 10%?
 - Não estaria aí a distinção e os motivos pelos quais o NT refere-se às ofertas e não aos dízimos, já que este era claramente definido e não precisaria de novas definições?

Notas: 1- Aula realizada na EBD do Tabernáculo Batista Bíblico
2- Para mais explicações, ouça o áudio da aula em Aula 64. Dizimo II.MP3

Estudo sobre a Confissão de Fé Batista de 1689 - Aula 52: Dízimos e ofertas


Por Jorge Fernandes Isah



Sabemos que a vida cristã é, sobretudo, uma vida na qual devotamo-nos a servir, servir a Deus, à igreja, ao irmão, e ao próximo. O servir está ligado diretamente à humilhação e sujeição do crente, tanto a Deus, como à igreja, como ao irmão e ao próximo. Muitos pensam que o servir está limitado a algumas questões, mas quase sempre não incluímos em seu rol o auxílio ou ajuda financeira. O ponto em que estudaremos agora parece-me estar diretamente ligado ao conceito cristão de servir, humilhar-se e sujeitar-se: o dizimar e o ofertar, o tem toda a relação com submissão e, não somente a Deus, mas ao próximo também. Porém, antes de entrarmos nessa questão, vamos caminhar um pouco, do ponto de vista bíblico e histórico, sobre a questão do dízimo.

1) Primeiramente, o que é o Dízimo? E, o porquê do Dízimo?

Bem, a palavra dízimo, originária do hebraico "asar", deriva da palavra "dez" e também significa "ser rico". O princípio básico do dízimo está em se reconhecer que Deus é o Senhor de todas as coisas, inclusive dos nossos bens, sejam quais forem as posses, das quais somos mordomos, guardiões e beneficiários diretos. De forma que, ao dizimar, testemunhamos em reconhecimento, honra e louvor a Deus, a quem tudo pertence.

Era destinado ao sustento dos sacerdotes e levitas que tinham uma função religiosa, mas também social [cuidavam da educação e eram responsáveis pela distribuição do bens aos necessitados].

2) Onde aparece, pela primeira vez, a prática do Dízimo?

Em Gn 14.20 cf Hb 7.4-10: Abrãao dá a Melquisedeque, sacerdote do Senhor, o dízimo de todos os bens conquistados em Quedolaomer.
[Penso que uma das coisas que desagradou a Deus foi o fato da oferta de Caim não ter sido proporcional aos 10%, no que Abel fez corretamente. Mas isso é uma inferência, apenas uma especulação, mas que bem pode ser verdadeira].
“Ouvindo, pois, Abrão que o seu irmão estava preso, armou os seus criados, nascidos em sua casa, trezentos e dezoito, e os perseguiu até Dã. E dividiu-se contra eles de noite, ele e os seus criados, e os feriu, e os perseguiu até Hobá, que fica à esquerda de Damasco. E tornou a trazer todos os seus bens, e tornou a trazer também a Ló, seu irmão, e os seus bens, e também as mulheres, e o povo. E o rei de Sodoma saiu-lhe ao encontro (depois que voltou de ferir a Quedorlaomer e aos reis que estavam com ele) até ao Vale de Savé, que é o vale do rei. E Melquisedeque, rei de Salém, trouxe pão e vinho; e era este sacerdote do Deus Altíssimo. E abençoou-o, e disse: Bendito seja Abrão pelo Deus Altíssimo, o Possuidor dos céus e da terra; E bendito seja o Deus Altíssimo, que entregou os teus inimigos nas tuas mãos. E Abrão deu-lhe o dízimo de tudo” [Gn 14:14-20].
Abraão deu o dízimo ao sacerdote em agradecimento a este ou a Deus? Em honra deste ou de Deus? Claro que Melquisedeque era merecedor de honra, mas, primeiramente, Abraão o fez como agradecimento e reconhecimento por Deus ter-lhe dado vitória sobre os seus inimigos e resgatado a Ló e seus bens.

3) O dízimo não era somente dos frutos da terra? Se era, por que temos de dar dinheiro em espécie?

Em Deuteronômio 14:22-29, Deus estabelece a forma de como será recolhido o dízimo:
“Certamente darás os dízimos de todo o fruto da tua semente, que cada ano se recolher do campo. E, perante o SENHOR teu Deus, no lugar que escolher para ali fazer habitar o seu nome, comerás os dízimos do teu grão, do teu mosto e do teu azeite, e os primogênitos das tuas vacas e das tuas ovelhas; para que aprendas a temer ao SENHOR teu Deus todos os dias. E quando o caminho te for tão comprido que os não possas levar, por estar longe de ti o lugar que escolher o SENHOR teu Deus para ali pôr o seu nome, quando o SENHOR teu Deus te tiver abençoado; Então vende-os, e ata o dinheiro na tua mão, e vai ao lugar que escolher o SENHOR teu Deus; E aquele dinheiro darás por tudo o que deseja a tua alma, por vacas, e por ovelhas, e por vinho, e por bebida forte, e por tudo o que te pedir a tua alma; come-o ali perante o SENHOR teu Deus, e alegra-te, tu e a tua casa; Porém não desampararás o levita que está dentro das tuas portas; pois não tem parte nem herança contigo. Ao fim de três anos tirarás todos os dízimos da tua colheita no mesmo ano, e os recolherás dentro das tuas portas; Então virá o levita (pois nem parte nem herança tem contigo), e o estrangeiro, e o órfão, e a viúva, que estão dentro das tuas portas, e comerão, e fartar-se-ão; para que o SENHOR teu Deus te abençoe em toda a obra que as tuas mãos fizerem”. 
Um dos argumentos mais usuais, atualmente, de que o dízimo foi prescrito para a igreja, é afirmar que ele era recolhido apenas na forma de grãos, carne, leite e outros frutos da terra. Acima, temos que a prática de vender o que se havia produzido e entregá-lo ao lugar escolhido por Deus [um local distante que impossibilitasse o transporte de gado e dos frutos da terra, p. ex.] na forma de dinheiro, foi estabelecido na própria palavra. Então, a bobagem de que você deve dar o dízimo na forma de frutos ou gado não é verdade. Pois, qual de nós vive da terra? Qual de nós planta e vive apenas daquilo que se planta? Ou cria-se gado e subsiste-se apenas dessa fonte? Ninguém! Por que? Não vivemos em uma sociedade rural, como os judeus viviam no período veterotestamentário. A sociedade israelense era basicamente rural. Mesmo nas cidades, havia a prática de se trocar um produto pelo outro: trigo por carne, azeite por roupas, etc. Quase tudo era produzido artesanalmente e, por isso os produtos eram a moeda corrente da época. No contexto geral, se tirava a décima parte de tudo e entregava-a, anualmente, no Templo.
Hoje, como a maior parte dos produtos são industrializados e produzidos em larga escala, o dinheiro é a melhor forma utilizada para se vender ou adquirir algo; o sistema de trocas não é funcional, por vários motivos [a distância, por exemplo]. Vivemos em uma sociedade cosmopolita, e todos nós trabalhamos e recebemos em dinheiro, por isso, aventar a hipótese de que teremos de pegar esse dinheiro, ir a um supermercado ou armazém, comprar abóboras, trigo e toucinho para levar à igreja, é simplesmente estúpida. Agora, se alguém vive exclusivamente da terra, sem negociar, comprar ou vender, se ela produz tudo o que precisa para viver, roupas, alimento, etc, produzindo para si própria, sem utilizar-se do comércio para manter suas necessidades, ela pode pegar parte do que ela produz e entregar como forma de dízimo. Acontece que ninguém vive assim; nós não produzimos o calçado que usamos, nem as roupas que vestimos, nem mesmo o arroz e a carne que comemos, tudo o que dispomos para a nossa subsistência, para suprir as necessidades, e, até mesmo para o nosso conforto, origina-se do dinheiro que ganhamos e desembolsamos para custear esse dispêndio. A própria obrigatoriedade de se pagar os impostos [sem os quais o ruralista perderá a sua terra e os seus bens] implica na necessidade de comercialização, venda de produtos e o recebimento respectivo do seu valor em espécie. 
A Escritura, então, encarrega-se, em sua sabedoria, de destruir esse falso argumento, malignamente colocado como prática bíblica.

4) O verso mais famoso sobre o dízimo é Ml 3.8-11. Mas ele fala apenas do dízimo?

“Roubará o homem a Deus? Todavia vós me roubais, e dizeis: Em que te roubamos? Nos dízimos e nas ofertas. Com maldição sois amaldiçoados, porque a mim me roubais, sim, toda esta nação. Trazei todos os dízimos à casa do tesouro, para que haja mantimento na minha casa, e depois fazei prova de mim nisto, diz o SENHOR dos Exércitos, se eu não vos abrir as janelas do céu, e não derramar sobre vós uma bênção tal até que não haja lugar suficiente para a recolherdes. E por causa de vós repreenderei o devorador, e ele não destruirá os frutos da vossa terra; e a vossa vide no campo não será estéril, diz o SENHOR dos Exércitos”.
Não! Fala também de ofertas. Ou seja, fala que o servo de Deus deve dizimar e ofertar. Não é uma questão de escolha entre um e outro; ou uma questão terminológica, de que um substitui o outro como sinônimos ou aplicados em épocas diferentes, sendo pactos diferentes, dispensações diferentes ou alianças diferentes, mas uma questão de reconhecer a ambas. A Bíblia trata das duas formas, onde elas não se excluem. As ofertas não são um conceito neotestamentário, mas verotestamentário. Elas não surgiram como substitutas do dízimo na nova aliança, implicando na extinção daquele, mas ambos caminham lado a lado, dentro daquele padrão de sujeição, louvor e glória a Deus por tudo o que ele é, mas também nos dá. 

5) A ideia da extinção do dízimo não remete a uma descontinuidade entre o AT e o NT?

Não há descontinuidade do AT e NT [a Bíblia é um livro só, não dá para dizer que a Igreja deve seguir apenas o NT, pois o que está revelado no AT apenas se faz mais claro no NT. Se dizemos que apenas o NT é a revelação, desprezamos o próprio Deus que se revelou primeiramente no AT. Para mim, a melhor forma de interpretação, se um princípio válido no AT prevalece no NT, é a sua expressa anulação ou renúncia; caso contrário, o princípio subsiste e não foi revogado.
Então, penso que o dízimo, ao não ser abolido expressamente no NT, é atual. Por exemplo, a circuncisão estabelecida por Deus em Gn 17.23-27 [logo, antes da Lei Mosaica] é combatida veementemente por Paulo em várias passagens, em suas epístolas. Temos então uma grande diferença, pois, enquanto a circuncisão é combatida e mesmo proibida, como algo ineficiente, já que Deus fez de judeus e gentios um só povo [e o próprio Paulo diz que judeu não é todo o que é de Israel, os circuncidado na carne, mas os da descendência de Isaque, os circuncidados no coração - Rm 9.6-7]. 
Como não há nenhum versículo no NT que expressamente abrogue o dízimo, e este me parece o melhor método para interpretar as Escrituras, de que aquilo que não foi explicitamente anulado no texto continua prevalecendo, ele conserva-se intacto como revelação e prática para toda a igreja. 

6) Por que Jesus, Paulo e os demais apóstolos não falaram ou confirmaram o princípio do dízimo e sim das ofertas?

Penso que o princípio do dízimo não oferecia problemas de entendimento para a igreja. Ele era claramente delineado em sua forma e essência, além de ser de conhecimento geral. Já as ofertas não são claramente especificadas no AT. Talvez, por isso, especialmente Paulo se preocupou em dar contornos objetivos ao ato de ofertar, e não se deteve nos dízimos que eram praticados de maneira corrente e sem dubiedade.
Veja bem, não temos aqui uma nova regra, que impõe à igreja a oferta e exclui o dízimo. A questão é muito mais de foco, de ajustar e colocar em seu devido lugar aquilo que não está claro e pode ser incluído entre as “sombras” que se dissipam diante da luz. O ensino à igreja é de que as ofertas são tão importantes quanto ao dízimo. Mas alguém, dirá: “isso é colocar um fardo ainda maior sobre os nossos ombros!”. Bem, o Senhor nos diz que não nos será dado carregar o que não podemos suportar. E se entendemos que o dízimo e ofertas é um fardo, não o fazemos segundo o princípio estabelecido por Paulo, de tê-lo como medida do amor e de nossa prosperidade.
No Sermão do Monte, o Senhor Jesus eleva a um nível ainda mais superior os princípios estabelecidos na Lei, de forma que a nossa incapacidade de cumpri-la se torna mais patente e evidente. Então, não basta matar, mas até mesmo o odiar é pecado. Não basta adulterar, mas cobiçar na mente a mulher alheia é pecado. Parece que a Escritura também estabelece um nível superior ao cristão? No sentido de dizimar e ofertar? Não. Creio que a prática de ofertas era negligenciado entre os judeus, e o que temos é a sua afirmação, assim como descrito no AT, como prática para todos os santos em todos os tempos.
Se atentarmos para toda a Escritura e não apenas em algumas de suas partes, veremos que a exigência da igreja se torna ainda maior do que aquela aplicada à nação de Israel. Somos chamados, após a doutrina da oferta ser explicada em seus pormenores, a não somente dizimar, mas a também ofertar, como prova do amor e da gratidão que devemos a Deus. Muitos se especializaram em distorcer o ensino bíblico e afirmar que a nova aliança ou o pacto da graça [e não vou entrar no mérito da questão, mas deixar claro que não há um pacto de obras, pois a salvação é somente pela graça de Deus, através da obra salvadora e redentora do Senhor Jesus, tanto no AT, desde Adão, como no NT, e até hoje] aboliu qualquer exigência em relação ao dízimo, e muitos chegam ao extremo de dizer que nem mesmo as ofertas fazem parte do novo acordo pactual. Chega-se mesmo a dizer que a obra de Deus deve ser custeada com o suor de uns poucos, no sentido de que devem se conformar em trabalhar sem qualquer expectativa de retorno financeiro, fazendo-o por abnegação e sacrifício, inclusive, se necessário, com a privação de refeições e um teto para morar. Afinal, Cristo disse que não tinha onde inclinar a cabeça, e qualquer um que se "aventure" ao trabalho pastoral ou missionário deve se convencer de que também está no mesmo nível. Acontece que essa é uma inverdade, pois como vimos no estudo sobre o sustento pastoral, há uma advertência direta para que a igreja sustente aqueles que laboram na palavra e no evangelismo. O mais interessante é perceber que os defensores desse argumento demoníaco não se dispõem a doar, nem a abrir mão do seu conforto e se integrar ao rol daqueles que devem viver apenas da fé, na esperança de que o Senhor mande cair do céu o maná e as codornizes que os alimentarão. Na verdade, eles defendem um discurso que nada tem de bíblico, e de prático, pois não se dispuseram a experimentá-lo a fim de que ficasse comprovada a sua eficácia. 

Não podemos nos esquecer também de que, na igreja primitiva, vendia-se tudo e depositava o total do valor aos pés dos apóstolos; e de que todos tinham tudo em comum [At 2.42-47; 3.32-37].
E é aqui, neste exato ponto, que voltarei à introdução sobre este assunto. Não seria essa atitude, a dos primeiros cristãos, um caso de sujeição, de se humilhar, preferindo-se ao outro ao invés de si mesmo? Para que serviram aquelas ofertas, que representavam o todo do que os nossos irmãos tinham? Para o sustento dos necessitados. Para o sustento da igreja. Para que os apóstolos e discípulos pudessem espalhar a mensagem do Evangelho, o "ide!" ordenado pelo Senhor. Isso não é sujeição, em amor? Isso não é preferir o outro ao invés de si mesmo? E, também, confiar na providência divina? O que você pensa a respeito? O que tem a dizer sobre o assunto?
Lembremo-nos daquela senhora que, no templo, deu tudo o que tinha, duas moedas. Ela simplesmente não tirou duas moedas de muitas, mas colocou ali todo o seu sustento. Enquanto os outros deram do que lhes sobravam [mesmo sendo muito dinheiro], ela abriu mão de tudo o que tinha [Mc 12:41-44].
E de Zaqueu, que deu metade dos seus bens aos pobres [Lc 19:1-10].

Pense nisto...

Notas: 1- Pontos não abordados no texto são discutidos na aula, e, outros aqui expostos são melhor explicados.
2- Aula realizada na EBD do Tabernáculo Batista Bíblico
3- Baixe o áudio desta aula em Aula 63 Dizimo.MP3

sábado, 31 de agosto de 2013

Estudo sobre a Confissão de Fé Batista de 1689 - Aula 51: Objeções ao sustento pastoral


Por Jorge Fernandes Isah


Analisemos alguns questionamentos comumente formulados pelos defensores da não autoridade pastoral e do não-sustento pastoral que, via de regra, fazem variações do mesmo tema, resumido-o em três perguntas/afirmações, as quais encontram-se numeradas e entre "aspas":

1) "Apenas os Levitas tinham o direito de serem sustentados pelo restante do povo de Israel, porque a tribo de Levi, na qual estavam todos os levitas, não receberam parte da terra de Israel, dada por Deus. Logo, eles não tinham onde plantar, caçar, etc, especialmente porque ficavam por conta dos cuidados no Templo. Como não há mais levitas, desde a època apostólica, não há porque sustentar qualquer ministério em nossos dias. Esse padrão foi extinto, e não houve continuidade na igreja primitiva".

Resposta: 1Co 9:1-16:
Interessante como Paulo se utiliza de vários princípios do Antigo Testamento para validar o sustento do seu ministério. Ao contrário daqueles que fazem uma "separação" entre o AT e o NT, Paulo fundamenta-se e se baseia no AT para validar um princípio que era negligenciado pela Igreja de Corinto, o desprezo que tinham para com ele e Barnabé, de forma que eles, corintios sustentavam os demais apóstolos [ao menos é o que parece afirmar o apóstolo, no verso 12], excluindo-o. Justamente ele que foi quem plantou aquela igreja, discipulou-a, e contribuiu como nenhum outro para o seu crescimento. Portanto, essa ideia de que os Testamentos, em algum sentido, se anulam, é falsa e equivocada, pois o próprio Paulo se encarrega de lançar por terra essa distorção ao fazer uso do AT para defender-se diante dos corintios como alguém que também era merecedor do seu cuidado e do zelo.

2) "Paulo diz que ele tinha o direito de ser sustentado, mas de que abriu mão desse direito, portanto, o ministro do evangelho também deve fazê-lo".

Resposta: Mais do que simplesmente negar o auxílio que porventura os corintios pudessem dar-lhe, Paulo diz que a negligência deles para com ele não o impediu de continuar pregando, discipulando e encaminhando-os nas santas veredas de Cristo, pois Deus havia suprido as suas necessidades através de outras igrejas. Paulo novamente confirma que o seu ministério é tão apostólico como o dos demais apóstolos, e a prova era de que Deus havia suprido as suas necessidades por mãos de outros irmãos [V. 9-10]. Ele assevera ainda mais fortemente essa questão após citar Dt 25.4, dizendo que o referido verso fala exatamente deles, e por causa deles foi escrito. Ora, o fato de Paulo abrir mão desse direito, e temos que ele o faz para não pôr impedimento ao seu ministério junto aos corintios [v.12], anula o dever da igreja de sustentá-los? Certamente que não, e é sobre isso que o apóstolo disserta, levando a igreja a refletir: "Se nós vos semeamos as coisas espirituais, será muito que de vós recolhamos as carnais?" [V 11]. Entendo que a irrefutabilidade desse questionamento, em si mesma, é mais do que suficiente para anular qualquer afirmação de que a igreja não tem o dever de sustentar o seu pastor. 

3) "O ministério pastoral é espiritual e não pode ser comparado a um trabalho assalariado, como se Deus tivesse empregados e a igreja fosse uma empresa".

Resposta: A tolice de tal afirmação é tão gritante, e reivindica uma alta espiritualidade que, contudo, não passa de uma apelativa falsa espiritualidade, na qual os seus proponentes não se enquadram, no de serem espiritualmente elevados e prescindirem o próprio sustento, mas de, por não serem capacitados ao ministério, desejar que os ministros vivam de "vento", como a minha avó dizia. Pois bem, Paulo, talvez apercebendo-se de que alguém poderia questioná-lo da mesma forma, já lançou o seu veredito sobre os que assim pensam: se lhe damos as coisas espirituais, não podemos tomar-lhes as carnais? Ora, o que é mais importante? O dinheiro guardado em um cofre, na carteira, despendido com gastos muitas vezes supérfluos, ou usá-lo na propagação do evangelho, no trabalho do discipulado, nos meios necessários para que a mensagem de Cristo se espalhe pelo mundo? Ou seja, o que sou incapaz de fazer, que não tenho por dom, não me impede contudo de poder ajudar aos que o tem, e assim também sou participante na difusão do evangelho. Paulo diz que o fato dos corintios não o sustentarem, e a Barnabé, não tem implicações pecuniárias, visto que sustentavam outros ministros, mas por desprezarem-no; eles não consideravam o trabalho de Paulo digno de ser mantido, conservado, estimulado. A origem do não sustento da igreja de Corinto baseava-se no fato de que o ministério de Paulo, para eles, era sem importância, o que os tornava ainda mais culpados diante do apóstolo e de Deus, agora por ingratidão. Não era questão financeira, pois os coríntios sustentavam a outros, em detrimento daquele que plantou a igreja entre eles, mas sobretudo os amava e continuava a guiá-los nos santos caminhos de Cristo.

Paulo sentencia no verso 14, "assim ordenou também o Senhor aos que anunciam o Evangelho, que vivam do evangelho". Primeiramente, Paulo cita a Cristo, o próprio Senhor, o qual ordenou: " Digno é obreiro do seu salário" [Mt 10.10, Lc 10.7].

É possível abstrair daqui uma série de conceitos, e há aqueles que dirão que a palavra "vivam" não tem relação material, mas apenas espiritual. Bem, qualquer um que não experimentou somente o viver imaterial não pode defender tamanha sandice. O homem é um ser completo, total, e suprimir a parte material dele dizendo que o evangelho, em si mesmo, será capaz de alimentá-lo e vesti-lo, por exemplo, sem que alguém disponha de recursos para isso, é teoria das trevas, planejada no inferno, para destruir não somente a igreja, mas a autoridade de Cristo e da sua palavra. 

Por fim, penso que aquele que não dizima nem se preocupa com o sustento do ministério do seu pastor ou de outros obreiros na proclamação do Evangelho não ama verdadeiramente a igreja, nem Cristo, pois ele morreu por ela, e mais ninguém. 

Assim como ao final do estudo sobre o dízimo, que será a próxima pauta destes estudos, gostaria de perguntar: Por que não dizimar? 

Essa é uma questão que não se cala...

Notas: 1 - No áudio, desta aula, entra-se um melhor desenvolvimento da questão, e outras implicações são nele abordados;
2 - Aula realizada na EBD do Tabernáculo Batista Bíblico;
3 - Baixe esta aula em aula 47c.mp3

sábado, 24 de agosto de 2013

Estudo sobre a Confissão de Fé Batista de 1689 - Aula 50: Objeções à autoridade pastoral


Por Jorge Fernandes Isah



O sustento pastoral não é reconhecido, por muitos cristãos, como consequência de outra negação: a autoridade pastoral. Muitos grupos, e isso cada vez mais tem sido difundido entre os cristãos, se opõem à liderança ministerial, à autoridade pastoral, como se fosse algo antibíblico, uma heresia, e fruto apenas do desejo humano de distorcer e corromper o verdadeiro ensino da Bíblia. Para tanto, utilizando dessa falsa premissa, eles distorcem e interpretam versículos bíblicos que claramente afirmam o contrário. É um exercício de "destruição", de alteração, daquilo que Deus nos comunicou. Muitos argumentos são simplórios, alguns até mesmo risíveis se não fossem tão trágicos, com o nítido interesse de acomodar o pensamento divino ao seu. Interessante que todos eles desprezam a igreja, no seu sentido milenar, no que se contradizem, pois utilizam-se do ensino de outros tantos para justificar suas propostas. Dizem que apenas Cristo é o líder da igreja, que se deve ouvir apenas e somente a ele, que toda a tradição da igreja está equivocada, repleta de paganismo, romanismo e carnalidade quando, para ratificar os seus argumentos, se utilizam da mesma história e de homens históricos, muitos dos quais não escondiam o seu ódio pela igreja. Com isso, penso que há um grave e sério conflito, pois se dezenas de séculos não podem ser usados como validação de doutrinas caras à fé cristã, por que um ou dois podem ser a base da argumentação anti-eclesiástica?

Veja bem, não estou dizendo que toda tradição é válida, não é essa a questão. Mas se o argumento da tradição é descartado por eles como "coisa de homens", por que o que é dito por alguns homens, num período muito mais próximo de nós, deve ser considerado? No fundo, muito de tudo isso que se vê tem por objetivo alcançar as seguintes metas:


1) Desacreditar a Bíblia, como a palavra de Deus infalível, inerrante e divinamente inspirada;

e
2) Desacreditar o próprio Deus.


Há exemplos em profusão nos seus escritos que remetem a ambos os objetivos. Ainda que não sejam claramente expressos, eles encontram-se subliminarmente presentes em suas descrições, e veladamente maquiados à guisa de santidade. Porém, há absurdo ainda maior: são os únicos que conhecem a Deus e portanto exclusivamente aqueles que podem falar em seu nome. Chegam a proferir verdadeiras blasfêmias, acintosamente, como se saídas da boca divina. Na verdade a confusão em que se metem é reflexo de quão incompreensível Deus lhes é. Contudo, sabemos que Deus não é Deus de confusão, e o que eles se prestam é ao papel de destruir a fé cristã quando pensam reescrevê-la. Mas, por mão de quem? É-se possível reescrever o Cristianismo, com todos os seus acertos e erros, sem dizer que ele nunca existiu? E que somente agora alguns iluminados perceberam o que ele foi, e o ressuscitaram? Para isso têm de tornar toda a fé cristã em cinzas, e pensam construir algo a partir delas, sendo que são incapazes de colocar um tijolo que seja sobre o fundamento que já está posto, Cristo. O que acaba por torná-los em construtores de highways que desembocam diretamente no inferno, as quais eles e seus seguidores percorrem insanamente.


É uma vergonha o que está sendo proposto por esse grupo, e chego a dizer que é um descalabro; e de que são os tais lobos cruéis aos quais Paulo se referiu em Atos 17.


Mas para não dizer que estou sendo injusto, e de que não apresento provas do que eles propõem, analisemos alguns trechos. Primeiro, falemos da autoridade pastoral. Eles argumentam:


"A distinção antibíblica clero/leigo tem causado tremendos danos ao Corpo de Cristo. Tal distinção prova uma ruptura na comunidade dos crentes por classificá-los como cristãos de primeira e de segunda classe. A mentira de que alguns cristãos são mais privilegiados do que outros quanto a servi ao Senhor"[1].

É mesmo, cara-pálida? Aponte-me quais são os tremendos danos ao Corpo de Cristo! Descreva-os, dizendo o porquê de serem danosos. E, primeiramente, defina o que é o Corpo de Cristo. As inferências do autor são meramente especulativas, sem respaldo, e sem descrever detalhadamente como ocorrem. Nada além de um ataque gratuito, sem base bíblica e sem factualidade. Palavreado inócuo capaz de seduzir os ouvidos moucas da verdade, levando-os ao mais sórdido sofisma. Uma ideia que saiu da sua mente candongueira e que encontra acolhida entre muitos outros descabeçados e mexeriqueiros.


As objeções que se seguem, são formuladas a partir de uma distorção, de uma falsa premissa, de que todo pastor ou líder, por natureza, é um salafrário, um bandido, desonesto e, quase, o anticristo. E nada bíblicas, pois partem de inferências humanas e não do texto revelado.

a) "Mas essa distinção entre líderes e comandados não causa ruptura entre a comunidade dos crentes, colocando uns como cristãos de primeira linha e os demais como de segunda linha?"

A pergunta já é formulada de forma capciosa, com a intenção de levar ao engano e levantar a discussão a partir de uma falsa asserção, de que na igreja há líderes e comandados, como se ela fosse uma instituição militar ou corporativa. Não é difícil de entender o que pretendem, pois a igreja muitas vezes é comparada a um exército, formada por soldados que lutam pela verdade e defendem a fé cristã. É também sabido que Deus instituiu lideres na sua igreja, mas que a sua estrutura nada pode ser comparada, em sua essência e forma, a qualquer instituição secular. Nem de longe uma igreja bíblica pode ser igualada a qualquer outro organismo privado ou público. O fato é que está implícito na pergunta a ideia de que um pequeno grupo domina e controla uma maioria que lhe é subserviente. Apelando para o orgulho e individualismo cada vez mais acentuado nas últimas gerações, a ideia é demonstrar que qualquer irmão que se submeta à autoridade eclesiástica não passa de um banana, um capacho, desprezível, um tolo a serviço dos interesses de uma minoria desonesta e opressora. Temos aqui o espírito revolucionário, provavelmente o mesmo que levou satanás a insurgir-se nos céus, e Adão e Eva a caírem no Éden.

E, o que vem a ser cristãos de primeira e segunda linha? Ou o objetivo não é demonstrar que todo aquele que não está em posição de liderança é um reles subalterno? A pergunta, em si mesma, já leva à conclusão equivocada e fraudulenta de que há dois grupos distintos na igreja, e de que eles são antagônicos, quando na verdade a insinuação é apenas fruto da malícia e do dualismo que o diabo sempre tentou impingir ao corpo local [e, por muitas vezes, atingiu o seu intento].

A própria imagem em que Paulo remete a igreja, de que ela é um corpo, seria suficiente para destruir esse argumento falacioso. Por isso ele diz que, ainda que nem todos sejam pés ou mãos ou orelhas ou nariz [mostrando a diversidade dos dons que Deus deu à igreja], ainda assim todos fazem parte do corpo, de forma que sem um deles, por mais fraco que pareça, nenhum é desprezado, e todos são necessários, ao ponto em que diz: "e os que reputamos serem menos honrosos no corpo, a esses honramos muito mais; e aos que em nós são menos decorosos damos muito mais honra... para que não haja divisão no corpo, mas antes tenham os membros igual cuidados uns dos outros" [1Co 12.12-25].

Portanto, na igreja, todos são irmãos, cada um cumprindo o dom que Deus lhes deu, cada um sujeitando-se ao outro, cuidado do outro, auxiliando-o, para que todos sejam um em Cristo, e o primeiro ou maior seja o derradeiro e o menor de todos e o servo de todos; se o modelo é diferente, essa igreja não é bíblica nem obediente aos preceitos divinos, e cabe a toda a igreja entender que o cristão, seja em qual posição esteja, tem de ter em mente que o mais importante é servir a Deus e ao próximo; sabendo que o nosso inimigo não está no corpo, mas fora dele. Logo, o argumento de que há uma ruptura, separação entre líderes e os demais irmãos é mentirosa e, travestida de piedade, produz apenas a má-fé, o dolo e a permanente morte.

Interessante que o apóstolo Paulo, em Atos 20.28, alerta os bispos de Éfeso para que olhem "por todo o rebanho sobre que o Espírito Santo vos constituiu bispos, para apascentardes a igreja de Deus, que ele resgatou com o seu próprio sangue", evidenciando a autoridade que Deus estabeleceu a alguns irmãos, cuja principal missão é o de cuidar dos demais e de si mesmos. Ainda que ele profetizou em relação ao que sobreviria sobre aquela igreja, no futuro, em momento algum ele cogitou desfazer a sua estrutura, pensando: se a coisa toda nem sempre funcionará como deve, por que não substituí-la por outra? Portanto, qualquer pensamento que vise a mudança da ordem estabelecida por Deus implicará em rebelião, em pecado, para aqueles que assim pensarem ou agirem, mesmo que seja fruto da ignorância, mesmo que seja fruto da indução, pois elas, e ainda outras, apenas revelam a carnalidade com que parte dos cristãos não compreendem nem entendem a realidade cristã, buscando uma "segunda" realidade à margem e ao largo da revelação divina.

Infelizmente, esse grupo, o qual se julga cristão, especializou-se em outro tipo de "cristianismo", no qual um membro diz ao outro: Não tenho necessidade de vós [1Co 12.21]; e, se isso não é desprezo ou soberba, poucas outras coisas o podem ser. 

b) "O ofício pastoral rouba do crente o direito de funcionar como membro do Corpo de Cristo, tornando-o em um mero espectador?"

Pergunto: onde está o erro? No ministério instituído por Deus ou no fato de alguns homens o corromperem? É possível, ao cristão, ser um mero espectador?

Há igrejas que se enquadrem nesse padrão moderno de "culto-espetáculo" ou "show-gospel", em que os artistas vão à frente e realizam uma apresentação para uma assistência sempre passiva, pois aplausos, gritos, urros e pulos não a tornam ativa como igreja, nem a fazem igreja, mas apenas em um auditório barulhento. Mas, pegar como exemplo um tipo de igreja que não é bíblico e usá-lo como padrão para toda a igreja não é honesto, antes é uma generalização infantil, burra e ofensiva.

Na vida cristã, assim como o culto cristão, o crente assume o papel de obreiro, de trabalhador, de alguém que se dedica ao evangelho, tratando-o com cuidado, zelo, como um agricultor cuida da seara, lavrando, semeando, adubando, irrigando, colhendo, significando uma vida ativa. Com isso não quero dizer que o silêncio ou o fato de sermos ouvintes, enquanto na escola dominical ou no culto, nos torna em espectadores, pois o Espírito Santo está ativamente agindo em nossa mente e coração, nos ensinando, instruindo e levando-nos à reflexão sobre os propósitos divinos e seus desdobramentos no meio do seu povo. E isso, ainda que possa ser chamado de uma atitude passiva, em nada se assemelha com ela, pois através da meditação sincera na palavra abandona-se o estado de lassidão, de relaxamento e distanciamento de Deus, para a proximidade com ele, em que Cristo vai-se formando, e tornamo-nos cada vez mais santos, assim como ele é santo. É a ação irresistível do Espírito na qual somos regenerados da pecaminosidade ativa, que nos mantém adormecidos para Deus, para a santificação ativa, em que somos despertados para ele [e por ele] e a necessidade de servi-lo, realizando a sua obra. Então, como um cristão pode ser passivo? [Jo 4:35-41; 2Co 5:15-20].

c) "A liderança humana, seja pastor ou bispo, rivaliza com Cristo? No sentido de que o pastor desloca e suprime a direção de Cristo? No sentido de que, o propósito eterno de Deus é impedido pelo ministério pastoral?"

Este é provavelmente o maior de todos os absurdos dito por esse grupo. De que a liderança humana pode, em algum momento, se igualar ou exceder à liderança de Cristo. De que pastores e bispos podem ser "a cabeça" ao invés de Cristo. De que há competição, disputa, entre a liderança humana e a de Cristo. Isso é de uma infantilidade, e também de um descaramento tão grande, que somente uma mente completamente distorcida e que odeia o evangelho pode produzi-la. Veja bem, o próprio fato de comparar qualquer homem com Cristo já é um acinte, um absurdo. Ao dizer que um líder, seja ele quem for, pode competir com Cristo, igualá-lo ou mesmo superá-lo [e este é o significado de "rivalizar"] faz de Cristo, no mínimo, um cabeça débil. Nada nem ninguém rivaliza com Cristo; nada nem ninguém pode obstrui-lo. Ele é o Filho eterno e supremo. A ideia, que acabam por transmitir, é a de que Cristo não é suficientemente soberano ou poderoso, e de que os seus intentos podem ser anulados ou impedidos pela vontade e ação de homens; eles querem enfraquecê-lo, desacreditá-lo, por meio de comparações estúpidas e ilícitas. O princípio da pergunta já é, em si mesmo, à luz da Escritura, autor-refutável. E a sequência a torna ainda pior. Como alguém pode deslocar ou suprimir a direção de Cristo? O que, em linhas gerais, eles querem novamente afirmar é a fragilidade que pensam Cristo possuir, mas já que ele é o Senhor, Soberano, cujo poder controla tudo e todas as coisas, sem o qual nada veio a existir, podemos aludir a um completo desconhecimento, pois não sabem nem têm noção ou reconhecem os méritos de quem falam. Então, como alguém pode resisti-lo ou deslocar o seu senhorio? Seria o mesmo que dizer que, pelo desejo de alguém, ele deixasse de ser Deus ou estivesse impedido de sê-lo. Se essa não é uma heresia, assim como o teístas relacionais a proclama com sua aparente piedade, o que é?

O intuito não é outro senão tentar ferir a soberania divina e colocá-la em xeque diante do poder humano. E esse homem seria tão poderoso a ponto de impedir o eterno propósito de Deus. Há uma nítida e evidente exaltação do homem comum, e a inferiorização do homem perfeito. Vejam a que ponto, para defender o seu raciocínio doentio, eles descem cada vez mais baixo ao abismo da afronta e rebeldia a Deus. Ou seja, quanto mais distantes da verdade, mais mentiras são necessárias para conservá-la distante. E a única associação possível, visto o ministério pastoral ser instituído pelo próprio Deus, é apelar para a sua desqualificação afim de inabilitar os dons dados pelo Espírito.

Diante de toda a bobagem e infantilidade propagada por esses inimigos, o que mais salta aos olhos é o desprezo a Deus e à igreja. E o que temos já não são meninos inconstantes, como Paulo descreve em suas cartas [à despeito da autoridade que eles tanto atacam, mas tão intensamente buscam para si mesmos, como únicos juízes da igreja; algo que satanás, como acusador que é, faz de dia e de noite diante do trono de Deus], mas meninos birrentos e barulhentos que se arvoram em sábios, e ao se fazerem surdos à voz do evangelho, combatem-no com o que de pior a obstinação ao pecado pode produzir, de mais danoso e trágico para si mesmos e para os incautos que os seguem.

Mais detalhes, sobre o assunto, poderão ser ouvidos na segunda parte do áudio da aula.


Notas: 1- As inquirições, a partir de pressupostos falaciosos, apresentadas aqui podem ser encontradas nas quase 300 páginas do livro de Frank Viola , O paganismo cristão, e em postagens repetidas pelos seus asseclas web afora, um amontoado de baboseiras pretensamente históricas e exegéticas, dignas de risadas [e, penso, de trazer mais tristeza do que desdém].

2- Aula realizada na EBD do Tabernáculo Batista Bíblico
3- Baixe este áudio em Aula 47b - Autoridade Pastoral III.MP3

Estudo sobre a Confissão de Fé Batista de 1689 - Aula 49: Autoridade e sustento pastoral - parte 3




Por Jorge Fernandes Isah


Na semana passada, deixei dois textos para os irmãos meditarem a respeito do sustento pastoral mas, fazendo algumas pesquisas sobre o tema, cheguei à conclusão de que antes das pessoas objetarem o sustento elas objetam a autoridade pastoral e o próprio pastorado. Julguei melhor retornar ao tema e analisarmos as objeções que eles colocam, como, por exemplo, a de que a Bíblia, em momento nenhum, estabelece ou autoriza qualquer liderança na igreja. 

Na verdade, os pressupostos deles é que estão errados, pois partem do axioma de que não há liderança ou autoridade pastoral para, somente depois, irem às Escrituras, tomarem os versículos e darem toda uma interpretação diversa daquela que o texto enuncia; ao ponto de ensinarem que, quando a Bíblia fala que pastores, presbíteros e bispos devem ser honrados dentro da igreja, eles os colocam não como pertencentes a um corpo local, mas como homens que exercem este ministério em qualquer outro lugar, menos na igreja. É como se o pastor tivesse um chamado de Deus não para guiar o seu rebanho, mas para apenas e tão somente evangelizar os incrédulos, trazendo as ovelhas perdidas ao Evangelho e abandonando-as. 

O fato é que a própria Escritura designa uma função específica para aqueles que anunciam e preconizam as "Boas-Novas" aos perdidos, a qual é a de evangelista, e também a de missionário. É claro que essas funções ou ministérios se misturam, de forma que o pastor deve também evangelizar assim como o evangelista pode pastorear, mas é importante ter em mente que a função pastoral está voltada especificamente para o trabalho de apascentar e guiar o rebanho de Deus, ainda que o pastor o seja onde estiver.

Analisaremos alguns pontos da lista de objeções dos detratores do ministério pastoral, e deixaremos as objeções ao sustento pastoral para a próxima aula. 

A primeira colocação, que tem um caráter muito mais danoso e pérfido é o de incluírem o ministério pastoral no rol das heresias. Os irmãos sabem o que vem a ser heresia? Claro que sabem! Mas o significado da palavra heresia é escolha ou opção. No sentido teológico ela aponta para alguém que escolhe um desvio de doutrina ou algo que se opõe à verdade claramente revelada na Escritura; é uma visão equivocada, distorcida, corrompida daquilo que Deus revelou em sua palavra. Portanto, ao ver deles, quando uma igreja ou denominação [que em muitos casos o simples fato de ser igreja ou denominação já a torna em produto do anticristo ou diabólico] reconhece a liderança de um pastor, presbítero ou bispo, ela se enquadraria no grupo daqueles que desprezam a verdade, logo, é herética. O nível de ataque se revela frontalmente contra toda a igreja e toda a tradição da igreja e ao que a Bíblia revela. 

A primeira pergunta que eles não querem responder, e que responderemos, é: o que é um pastor?

É interessante notar que há uma verdadeira frente de ataque ao ministério pastoral por parte de grupos que odeiam toda e qualquer forma organizada de igreja. Eles chegam às raias da irresponsabilidade e da calúnia ao colocarem que a igreja não passa de uma tradição humana e, como tal, guiada por homens [não no sentido como a entendemos, formada por homens que são instrumentos de Deus na realização da sua obra], mas, ao assim procederem, querem dizer que não há nada divino nela, e se não há, a conclusão é lógica, o espírito da igreja tem a procedência maligna. Contudo, estranhamente, eles se apegam a escritos e ditos de homens que se organizam em grupos para defenderem suas ideias. Ora, por que a igreja milenar é um conceito falso, mas suas organizações muito mais recentes, cujos líderes são indivíduos que impõem, de certa forma, seus ensinamentos a outros homens, não é? Se igualmente formam um corpo de doutrina, e são doutrinados e doutrinadores? Uma pergunta que os líderes e seguidores desse movimento dos “sem-igrejas” não querem responder, um tanto por má-fé e orgulho e presunção, e outro tanto por ignorância mas também orgulho e presunção; porque os princípios que os norteiam são meramente especulativos, inferências, as quais não são moldadas pelo texto bíblico, mas tentam força-lo a calar-se no que diz e a dizer o que não diz. O que me leva a concluir que o espírito que os norteia não procede de Deus e tem origem no inimigo do homem, ao qual consideram um amigo, ainda que inconscientemente. 

Mais vergonhoso ainda é que as suas críticas partem exatamente da experiência, ou melhor, de um tipo de experiência fragmentada daquilo que veem na sociedade ou foi dito dela, daquilo que a falsa igreja se esmera em exibir, como se fosse a totalidade da igreja ou como se todas as experiências estivessem contidas nela. Criam um estereótipo no qual colocam todas as denominações e todas as organizações eclesiásticas como se fossem uma, numa espécie de unidade indistinguível. Desta forma, torna-se mais fácil associar os erros e desvios e pecados da falsa igreja e a doutrina espúria do falso evangelho como se fossem todas uma mesma concepção, guiadas pela mesma doutrina e motivação. É a arte de confundir para iludir, de espalhar uma mentira esperando que ela se torne verdade. Não dá para esquecer que a igreja é alvo do inimigo desde o princípio, e ele “levantou” muitos dos seus servos, e ainda os levanta, não para coibir o erro ou denunciá-lo [e muitos incautos se iludem com essa falsa piedade], mas para fazer parecer que toda a igreja está corrompida e que apenas alguns “iluminados” conhecem-na verdadeiramente e estão aptos a julgá-la. Mas, de onde vem a sua autoridade? Quem a outorgou?

Os ataques são autocontraditórios ao acusar-nos exatamente daquilo que eles mesmos fazem e não percebem fazer. Eles partem do princípio de uma autoridade, não investida por Deus, mas por cada um deles, uma autoridade ou muitas autoridades humanas, cujos pensamentos são endossados por um grupo cada vez maior de pessoas que não percebem estarem sendo fisgadas pela mesma rede que julgam denunciar: o grito em alto e bom som de que nenhuma liderança é bíblica, mas, afinal, como eles convivem com seus líderes? Ou apenas eles seriam bíblicos? 

Muitas de suas afirmações não são somente desrespeitosas e ofensivas, mas atentam à soberania de Deus, à autoridade de Deus sobre a igreja; e não poucos são unitaristas, combatendo a Trindade, de forma que fica evidente o propósito dos seus ataques à autoridade eclesiástica, o que é algo muito maior do que simplesmente aparenta ser: querem a desagregação da igreja e a demolição da fé cristã. Porque mantendo o homem afastado da igreja, que chances ele tem de estar próximo de Deus? [1]. Como o Senhor Jesus disse, éramos ovelhas sem pastor, sem direção, e é o que esses “cristãos” desejam perpetrar. 

Devemos notar que, apesar de haver uma pequena diferença entre os termos pastor, presbítero e bispo, em linhas gerais, a Bíblia os trata como aquele homem capacitado por Deus e designado pela igreja para cuidar, zelar, apascentar e proteger o rebanho do Senhor, buscando aquelas que se encontram desgarradas e trazendo-as para o aprisco, não abandonando-as, mas cuidado delas. Dentro deste contexto, a referência máxima do que significa “pastor” está em João 10, quando o Senhor se nomina "o bom pastor"; mas será o Senhor o único pastor? Será que Deus não instituiu na igreja homens que fossem responsáveis por preservar o seu ensinamento? Que guiassem o seu povo no Evangelho? E que guardassem a sã doutrina? Não há exemplos deles na Escritura?

Apontarei alguns versículos que tratam do tema, com uma pequena explicação. Quem desejar saber mais sobre o assunto, ouça o áudio desta aula, onde todos estes e outros pontos são abordados com maior exatidão. 


Em Ef 4.11, Paulo diz que Cristo deu “uns para apóstolos, e outros para profetas, e outros para evangelistas, e outros para pastores e doutores”, para edificação do corpo. Ele deu à igreja pessoas as quais qualificou para o aperfeiçoamento e induzindo ao bem e à virtude os santos.

Atos 20.28: É Deus quem constitui os bispos para apascentar o rebanho de Deus;

1Tm 4.14: O presbítero ordenava, através da imposição de mãos, o ministro pastoral;

At. 14.23: Os anciãos eram eleitos pela igreja [assim como foi a igreja quem elegeu Matias para o lugar de Judas no apostolado];

At 16.4: Não somente os apóstolos, como querem parecer alguns, mas também os anciãos tinham a incumbência de estabelecer decretos e normas para as igrejas;

Tt 1.4: Os presbíteros eram estabelecidos de cidade em cidade;

Tt 1.5-9; 1Tm 3.1-10: Tinham de atender a certas qualidades para serem líderes na igreja, sem as quais, ninguém podia ser candidato ao episcopado.

Notas: [1] Com isso não estou afirmando que todos na igreja estão próximos de Deus. Sabemos que há o joio, e de que o joio foi semeado pelo inimigo, mas fora da igreja, como a Bíblia diz e já estudamos, o homem não está sob a proteção divina.
[2] Aula realizada na EBD do Tabernáculo Batista Bíblico.
[3] Baixe o áudio desta aula em   Aula 47b - Autoridade Pastoral III.MP3

quarta-feira, 24 de julho de 2013

Estudo sobre a Confissão de Fé Batista de 1689 - Aula 48: Autoridade e Sustento Pastoral - Parte 2



Por Jorge Fernandes Isah


Continuando o nosso estudo sobre a biblicidade da autoridade e do sustento pastoral, primeiramente, façamos um esclarecimento: Não sou pastor, seminarista, nem recebo salário da igreja da qual sou membro.

Segundo, muitos dirão: "Veja quantos pastores profissionais existem, que sugam tudo o que podem dos fiéis, extorquindo-os com falsas promessas de bênçãos enquanto se empanturram de dinheiro, gastando-o da forma mais mundana possível, em bens materiais e suntuosidade". Reconheço, é verdade. Há muitos líderes que "vendem" o Evangelho, tratando-o não menos que um produto rentável. Mas isso representa dizer que todos são mercenários? Que estão buscando o que lhes é próprio ao invés da glória de Deus? Não! E a despeito de todos os falsos mestres (os quais estão sob a ira de Deus), a Bíblia exorta a igreja a suprir as necessidades dos que pregam a palavra.

Terceiro, nossa igreja é pequena e de poucos recursos; auxiliamos o nosso pastor em seu sustento, contudo, ele trabalha secularmente seis dias por semana, 10 horas por dia, para suprir as necessidades de sua família. E percebo que se ele fosse um pastor de tempo integral dedicado à igreja, tanto os membros como os trabalhos evangelísticos seriam fortalecidos.

Quarto, não quero generalizar, mas, normalmente, os que atacam o sustento pastoral são aqueles que se acham dignos de serem crentes, desde que não tenham de sacrificar nenhuma parte dos seus bens. De certa forma, o que move os "mercadores da fé" é o mesmo que os move: a avareza, o amor ao dinheiro.

Quinto, há os que tentam espiritualizar o que não é espiritual. O Evangelho de Cristo é espiritual, porém, proclamado fisicamente pelo pregador, pela impressão de Bíblias (por mãos incrédulas, muitas vezes), em suma: por meios humanos. Tentar provar que a pregação do Evangelho não é trabalho (seja remunerado ou não) é contradizer o próprio tratamento dado à questão por Jesus (Jo 4.38, 5.17), e Paulo (1Co 3.8, 15.58; Cl 1.29; Hb 6.10).

Feito os esclarecimentos, analisemos alguns versículos que tratam do assunto:

1) "Quem jamais milita à sua própria custa? Quem planta a vinha e não come do seu fruto? Ou quem apascenta o gado e não se alimenta do leite do gado?" (1Co 9.7).

O que o apóstolo está dizendo? Aqueles que pregam o Evangelho que vivam do Evangelho (1Co 9.14). Paulo reinvindica o direito de ser sustentado em seu ministério pela igreja. Como afirma: "Ou só eu e Barnabé não temos direito de deixar de trabalhar?" (1Co 9.6). Provavelmente os coríntios acusavam Paulo de "mercadejar" o Evangelho, de procurar o benefício próprio, de pregar o Evangelho por motivos mundanos. Porém, revela-lhes que tanto ele como os demais apóstolos têm o direito de terem o sustento para si e suas famílias, e de que essa responsabilidade cabe à igreja (1Co 9.4-5). Não é o que parece ao afirmar "Esta é minha defesa para com os que me condenam" (1Co 9.3)? E "Digo eu isto segundo os homens?" (1Co 9.8). Ao que arremata: "Ou não diz a lei também o mesmo?" (1Co 9.8).

Paulo prossegue a argumentação protestando que, aquele que lavra e debulha (ou seja, aquele que trabalha), lavra e debulha com esperança de ser participante (1Co 9.10). E continua: "Se nós vos semeamos as coisas espirituais, será muito que de vós recolhamos as carnais?" (1Co 9.11). O apóstolo declara que esperava colher muito menos dos coríntios do que lhes tinha dado, mas ainda assim, esperava obter o necessário para a sua subsistência.

A sequência à qual Paulo expõe o seu pensamento é extremamente lógica, e impossível de não entendê-la, a menos que seja lida com premissas falhas. É o que muitos dirão, justificando-o com o v. 12: "Se outros participam deste poder sobre vós, por que não, e mais justamente, nós? Mas nós não usamos deste direito; antes suportamos tudo, para não pormos impedimento algum ao evangelho de Cristo".

Atentamos que o verso fala de um "direito" que o apóstolo possuía, o qual era o de ser mantido pela igreja. Porém, diante das dúvidas levantadas pelos coríntios, e da própria resistência da igreja em ajudá-lo, ele não "usou" esse direito, para que a descrença dos coríntios não aumentasse, e fosse "impedimento" para a proclamação do Evangelho. Dizer que Paulo censurou os ministros que são sustentados pela igreja é distorcer completamente o sentido daquilo que ele próprio diz.

Resumindo: Paulo não pregava o Evangelho por causa das recompensas, por aquilo que a igreja iria lhe dar; ele pregava o Evangelho por amor a Cristo e aos eleitos (2Tm 2.10), contudo, esperava que, como igreja, os irmãos suprissem as suas necessidades.

2) "Outras igrejas despojei eu para vos servir, recebendo delas salário; e quando estava presente convosco, e tinha necessidade, a ninguém fui pesado" (2Co 11.8).

Qual de nós, vendo o irmão em necessidade, vira-lhe as costas? Foi o que os coríntios fizeram em relação a Paulo. E ele os exorta com tristeza, sabendo que negligenciaram o seu compromisso para consigo; porém com o nítido objetivo de não somente apontar-lhes o erro, mas de levá-los ao arrependimento e correção. Senão, por que tocar no assunto?

Há quem entenda que Paulo está condenando os que recebem salário, como alguém que é "pesado" à igreja, um usurpador (ao contrário, o que ele diz dos coríntios é que suas atitudes eram usurpadoras, eles é que "roubavam" dos macedônios ao receber o Evangelho de graça, sem nenhum sacrifício).

É claro que há casos e casos. Aqueles que se utilizam da posição de liderança no ministério para o enriquecimento, a abastança material, o deleite carnal, o consumismo desenfreado, e o apego sórdido ao dinheiro (seja pastor ou não) comete pecado, e é injusto. Em outras palavras, quem age assim sequer é convertido. Porém, o fato de muitos agirem desta forma (e, infelizmente, parece que o pastoreio se tornou num novo "toque de Midas" o qual transforma tudo o que põe a mão em ouro), não representa que o princípio da subsistência ministerial seja antibíblico.

Novamente, Paulo escreve aos coríntios dando-lhes "um puxão de orelhas", entre outras coisas dizendo que eles deveriam agir e viver como igreja. Havia muita divisão entre eles, muito sectarismo; e para a sua tristeza, especialmente por que plantara a igreja, eles o desprezavam em detrimento aos falsos apóstolos (2Co 11.1215) os quais, certamente, eram os que o caluniavam junto ao povo.

Ele defende-se de que, em nada é menor do que os demais apóstolos e, portanto, tem o mesmo direito que os demais tinham, inclusive o de viajar com sua família, como Pedro fazia (2Co 11.5). Mesmo solteiro, Paulo reivindica esse direito, o de constituir uma família e poder viajar com ela no seu ministério.

Temos de entender que o fato de Paulo pregar de graça aos coríntios, e os coríntios o receberem sem se preocupar com as suas necessidades, é motivo de glória para o apóstolo e de "desglória" para a igreja de Corínto, ainda que isso não os impediu de serem abençoados pela pregação do Evangelho. É o que ele diz: "Pequei, porventura, humilhando-me a mim mesmo, para que vós fôsseis exaltados, porque de graça vos anunciei o evangelho de Deus?" (v. 7).

À frente, no capítulo 12, vem-nos a confirmação: "Pois, em que tendes vós sido inferiores às outras igrejas, a não ser que eu mesmo vos não fui pesado? Perdoai-me este agravo... Eu de muito boa vontade gastarei, e me deixarei gastar pelas vossas almas, ainda que, amando-vos cada vez mais, seja menos amado" (2Co 12.13,15 - grifo meu). Parece-me que Paulo coloca os coríntios em pé de igualdade com as demais igrejas, a não ser pelo fato dele não ter sido "pesado" a ela. Em outras palavras, os coríntios estavam numa posição "inferior", em débito, por não terem com essa beneficência demonstrado "amor" ao apóstolo. É assim que Paulo os retrata: enquanto o seu amor por eles aumentava a ponto dele se sacrificar para pregar-lhes o Evangelho (o que implica em passar necessidades), a igreja de Corinto não se dispunha a auxiliá-lo em seu sustento, como prova de amor.

No fim das contas, o que importa é isso: o amor a Cristo e Seu Evangelho, o que resulta em obediência. 

Apêndice: De certa forma, o mesmo sectarismo que Paulo aponta entre os coríntios, vemo-lo hoje. A Igreja está tão dividida, inclusive pelos que pregam unidade, pelos sem "placas" nem "nomes", pelos que se julgam filhos "exclusivos" de Deus, pelos que se consideram "libertos" mas estão presos ao pior farisaísmo existente, e acabam por se esquecer do principal: pregar o Evangelho de Cristo crucificado (1Co 2.2).

Perdemos tempo com "outros" evangelhos, e negligenciamos o que realmente importa. Com isso, não quero jogar para "debaixo do tapete" os problemas da igreja, muito menos pregar o evangelho ecumênico. Longe de mim cometer estes pecados. Mas, se ao invés de gastar o precioso tempo de que dispomos tentando "corrigir" os erros de outras igrejas e denominações, preocupássemos conosco, nossos irmãos e igreja certamente estaríamos "salvando" a nós mesmos e aos nossos queridos... Um minuto! Não confunda uma frase hiperbólica com salvação de verdade, a qual apenas o nosso Senhor Jesus Cristo é capaz de realizar. Quero dizer é que, nos preocupamos em "salvar" os outros (pelo menos nos enganamos com essa idéia), quando na verdade o nosso objetivo é "revelar" o quanto estão errados e desviados do caminho; e assim nós mesmos acabamos nos desviando do caminho, substituindo o amor pelo legalismo, a mera acusação, e a autoexaltação. E, por favor, não confundam essa declaração com a condenação à disciplina bíblica, pois a disciplina é atributo da igreja, do corpo local, e não de irmãos isolados que falam por si só, como se fossem a própria voz de Deus (estes, se forem eleitos, são alvos da disciplina divina).

Deus levantará segundo a Sua santa vontade irmãos que farão o trabalho apologético, defendendo a fé bíblica apontando o erro daqueles que são antievangelho, e mesmo dos cristãos que "deslizaram" em um princípio ou outro. Mas, infelizmente, o que acontece é que, de uma hora para a outra, a maioria se arrogou e arvorou apologista, e saiu "atirando" para todos os lados, como uma metralhadora descontrolada.

Enquanto isso, sorrateiramente, o diabo planta dentro do corpo local suas heresias, mas como nossos olhos estão voltados para os erros alheios (de outras denominações e outros irmãos denominacionais, cuja disciplina não está ao nosso alcance), permitimos que a nossa omissão e desleixo corrompa-nos também.

O pior é que muitos nem sequer participam do corpo local, acreditando num cristianismo solitário e individualista, numa clara rebeldia aos princípios bíblicos que dizem defender. No fundo, se consideram superiores e melhores do que os mandamentos de Cristo; e sentam-se confortavelmente em suas torres de observação, desprezando-a, ridicularizando-a, pois sequer passa-lhes pela cabeça submeter-se à autoridade com que o Senhor investiu-a.

São "livres" para bater à vontade, contudo, esquecem-se de que, caso sejam eleitos, a mão disciplinadora de Deus está sobre eles. Se não forem, não há disciplina, mas a condenção eterna os aguarda.

A melhor forma de se pregar o Evangelho de Cristo é pregando o Evangelho de Cristo, e não combatendo o antievangelho. Qualquer um pode combater (pois nem mesmo argumentos precisa-se ter, apenas vontade, disposição), mas poucos são capacitados a viver o Evangelho, pois para isso é preciso ser convertido por Cristo, regenerado e lavado no Seu sangue.

A melhor forma de se lutar contra a fraude e a heresia é expondo a verdade bíblica. De nada adianta refutar a heresia se não se obedece aos mandamentos do Senhor, e assim fazendo-o, demonstra não amá-lO (Jo 14.15) e, "em vão, porém, me honram, ensinando doutrinas que são mandamentos de homens" (Mc 7.7).

Portanto, é urgente que antes de se entrar numa "caça às bruxas", que se viva o Evangelho, testemunhando a Cristo nosso Senhor. Fim do apêndice. 

Finalizando, transcrevo mais uma vez as palavras do apóstolo Paulo: "Os presbíteros que governam bem sejam estimados por dignos de duplicada honra, principalmente os que trabalham na palavra e na doutrina; porque diz a Escritura: Não ligarás a boca ao boi que debulha. E: Digno é o obreiro do seu salário" (1Tm 5.17-18); porque "se alguém também milita, não é coroado se não militar legitimamente. O lavrador que trabalha deve ser o primeiro a gozar dos frutos. Considera o que digo, e o Senhor te dê entendimento em tudo" (2Tm 2.5-7).

Timóteo ouviu.

E, nós?

Nota: 1- Aula realizada na EBD do Tabernáculo Batista Bíblico 
2 - Baixe este áudio em Aula 47 A.MP3
 
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